sábado, 9 de maio de 2020

DIVERSÃO DOS JOVENS NO INÍCIO DA DÉCADA DE OITENTA: PEGA

No início da década de oitenta os jovens manauaras gostavam de fazer “pega” (corrida de automóveis e motocicletas) no entorno do Teatro Amazonas.
Os mais malucos gostavam de fumar um “dirijo” e tomar alguns goles de Whisky para ficarem mais exaltados, explosivos, sem medo de tudo nem de nada, outros faziam isto por pura diversão e emoção.
Muitos tinham grana e possuíam os seus próprios carrões, outros menos abastados eram mecânicos e donos de oficinas de carros. Ainda tinham aqueles que emprestavam dos amigos ou roubavam dos pais para detonarem todo numa tarde de domingo.
A concentração começa na cabeceira da Avenida bem em frente ao Ideal Clube. Desciam em alta velocidade, faziam curvas fechada na José Clemente, queimando pneus, circundavam a Praça de São Sebastião, entravam pela Dez Julho e voltavam para o mesmo local.
A maioria sempre foi praticada por homens acompanhados de belas mulheres conhecidas como “mascotes”.
Os expectadores ficavam a postos bem na esquina da Rua José Clemente. Tudo era puro a gasolina misturado com adrenalina. Exibicionismo e malabarismo. Gritavam indo à loucura quando o carro capotava. Todos saiam correndo para tirar o motorista preso as ferragens e colocar com os próprios braços o carro em pé. Muitas mortes ocorreram naquele lugar.
A polícia chegava, a porrada comia no centro. Todos corriam a avenida abaixo. Multa a torto e a direita. Reclamação geral. Muita gente presa e carros rebocados. Ricaços e pobres metidos a besta tudo no mesmo saco. Era uma loucura total.
Quando os meganhas estavam no local o silêncio era total. Bastava virar às costas para o povo começar a voltar devagarzinho e a gritar: - Pega, pega, pega! Os motores davam início ao roncar e as motos a acelerar. O “Pega” voltava com tudo iniciando novamente.
O meu amigo Lamego, quando jovem morava na Rua Doutor Machado esquina com a Rua Tapajós, ele pegava o carro de seu pai para fazer pega, um legítimo Maverick GT , preto ano 1975 , seis cilindros, uma fera, esportivo com o motor V8 302 de 197 cavalos, voava pela avenida.
A Polícia voltava, acalmava, ia embora e tudo começava.! Pense numa loucura.
Com o tempo a corrida envolvia toda a extensão da Avenida Eduardo Ribeiro, como escreveu a nossa amiga Dinari Guimarães "Exista a Roleta Russa quando eles esperavam os sinais de trânsito fecharem para acelerar. Começava no Ideal Clube e terminava no Relógio Municipal. Eu assistia tudo do Edifício Cidade de Manaus".
A foto em preto em branco é do Jornal A Crítica, edição de abril de 1980, com a seguinte manchete “A CORRIDA DA MORTE AMEAÇA A PRAÇA”.
O texto foi o seguinte:
“Os filhinhos de papai” dirigindo automóveis e motocicletas, estão colocando em risco a vida dos transeuntes e dos motoristas que circulam na Praça de São Sebastião, a qualquer hora do dia e da noite, promovendo corridas e também se estendem pelas ruas circunvizinhas ao logradouro. A denúncia foi feita a este jornal, na tarde de ontem, por um grupo de moradores que residem na Praça de São Sebastião, solicitando que o DETRAN e Companhia de Trânsito da Polícia Militar exerçam um policiamento rigoroso naquela praça, para coibir esse abuso.
Tempos depois o “pega” fora totalmente proibido naquele local. Para compensar a prefeitura e o governo do estado promoveram a corrida de Karts, com pneus de guia e muita sinalização. Foi muito bom, mas o povo queria mesmo era “pega”. A cidade foi crescendo e essa loucura foi sendo praticada nas grandes avenidas mais afastadas do centro.
Passados mais de quarenta anos ainda existem o “Pega ou Racha” em Manaus, geralmente de madrugada nas Avenidas Timbiras, Efigênio Sales, Torres e Turismo e na Ponte Rio Negro.
Atualmente, são bem mais organizados entre os participantes, pois utilizam as mídias sociais para dificultar a ação dos infratores. Dizem que o Brasil é o quarto, perdendo apenas para os Estados Unidos, Japão e Arábia Saudita.
Pois bem, o filme é o mesmo: passados todos esses tempos a motivações dos jovens continuam as mesmas. A atração pela velocidade e adrenalina, ostentação de veículos potentes, apostas em dinheiro ou dos próprios carros, além de envolver mulheres, festas, disputas pessoais e mortes prematuras dos jovens.
Ainda bem que eu era apenas um mero expectador e não um corredor. Estou vivo e com boa memória para poder contar essas histórias aos jovens de hoje. Pega!

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