CARRÃO DOS SONHOS
José Rocha
Num belo sábado de sol,
decidi que era um ótimo dia para exercitar minhas pernas e minha capacidade de
sonhar acordado. Lá fui eu, pela Avenida Djalma Batista, quando me deparei com
uma concessionária de veículos tão luxuosos que até o ar lá dentro era
importado. Resolvi entrar, não para comprar, mas para dar uma de turista em
terra de carrão.
Ao entrar, vi um carro tão
brilhante que quase precisei de óculos escuros. Era um veículo que só os
"Top das Galáxias" poderiam comprar, ou seja, não eu. Um vendedor,
todo engomadinho e com um sotaque de paulista do interior, veio ao meu encontro
como se eu fosse o "Barão do Bitcoin". Ele sorriu tanto que eu quase
pedi para ele me passar o contato do dentista dele.
- Bom dia, senhor! Posso
ajudá-lo?
- Oi, quanto custa para dar
uma espiadinha? - perguntei, só para ver a cara dele.
- Claro, fique à vontade! Se
precisar de algo, estou por aqui. - ele respondeu, já calculando a comissão que
não iria ganhar.
- Esse carro é o da minha
lista de "coisas para comprar quando eu ganhar na loteria". Quanto
custa?
- Ah, esse pequeno milagre
da engenharia? Com um desconto especial de cem mil reais, sai por apenas
quatrocentos e sessenta e nove mil!
Comecei a fazer as contas em
voz alta: meu carro velho vale uns nove mil... Se eu vendesse a alma, talvez
conseguisse mais uns sessenta mil emprestado no ‘Banco Tamborete da Praça’,
para pagar em sessenta suaves prestações. E os outros quatrocentos mil? Bom,
quem sabe na próxima vida eu reencarne como filho do Elon Musk.
- O senhor está brincando,
né? - ele perguntou, já sem esperanças.
Antes que eu pudesse
responder, ele saiu de fininho, provavelmente pensando em me mandar para Marte
com um foguete da SpaceX.
E como diz a escola de samba
Mocidade de Padre Miguel:
“Sonhar não custa nada
O meu sonho é tão real.
Estrela de luz
Que me conduz
Estrela que me faz sonhar”
E assim, meu amigo, um
carrão daqueles só mesmo no país dos sonhos!
Observação: Texto corrigido
pela Inteligência Artificial (IA) e fotografia estilizada gerada pela IA da
Microsoft Copilot Bing.
ITACOATIARA, A CIDADE DA
PEDRA PINTADA
A cidade de Itacoatiara, a
terceira mais populosa do Amazonas, com mais de cem mil habitantes, tem um nome
indígena devido à descoberta de uma pedra pintada com inscrições em tupi, daí
ser conhecida como a Cidade da Pedra Pintada (ita = pedra / coatiara = pintado,
gravado, escrito). Anteriormente chamada Serpa em homenagem a Nossa Senhora do
Rosário de Serpa, foi posteriormente renomeada com seu nome original.
Localizada a cerca de 267 quilômetros por rodovia (AM-10) de Manaus, faz parte
da Região Metropolitana de Manaus.
Tenho um carinho especial
por Itacoatiara e já compartilhei muitas fotos antigas e atuais em nosso
BLOGDOROCHA, disponível em http://www.jmartinsrocha.blogspot.com/.
Lembro-me da minha primeira
visita a essa bela cidade quando tinha cerca de dezenove anos. Na época,
trabalhava em uma empresa de importação em Manaus e fiz amizade com o pessoal
do setor de câmbio do London Bank, na Rua Guilherme Moreira (atual Top
Internacional). Eles estavam organizando uma excursão para passar um final de
semana em Itacoatiara, e eu aceitei imediatamente.
Viajei com meu compadre
Klinger, conhecido como “Peninha”, um excelente intérprete da música popular
brasileira, principalmente do samba-canção, e meu amigo Kleber, um talentoso
músico que tocava violão maravilhosamente bem. Formamos um grupo muito unido e
aproveitamos ao máximo o final de semana prolongado. Foi uma experiência
animada e inesquecível, e guardo com carinho as lembranças da minha primeira
vez na cidade, incluindo algumas fotografias tiradas lá e durante nossa
passagem pelo Rio Urubu.
Também me lembro da primeira
vez que fui ao Festival da Canção de Itacoatiara (FECANI), um evento anual em
setembro que descobre novos talentos musicais da região Norte. Fiquei hospedado
na casa de um casal amigo, Isaac (ou “Louro”, como é conhecido pelos íntimos) e
Nety, que hoje moram em Boa Vista (RR). Tive a oportunidade de conhecer melhor
a cidade, visitar diferentes bairros, fazer novas amizades e explorar a vida
noturna local. Fiquei fascinado com os prédios antigos, já que tenho um
interesse especial por história. Assim como Manaus e Belém, Itacoatiara teve
seu auge durante o ciclo da borracha.
Espero que as autoridades
municipais, em colaboração com o IPHAN, possam revitalizar o centro histórico
da cidade. Imaginem uma Itacoatiara restaurada, com sua beleza única à beira do
Rio Amazonas, e seu povo acolhedor. Seria um destino turístico popular durante
todo o ano para visitantes nacionais e estrangeiros.
A foto acima mostra a
"Praça do Relógio" e uma famosa casa da aviação do início do século
passado. Não tenho certeza se a praça ainda existe, pois faz muitos anos que
não visito Itacoatiara, mas o casarão antigo ainda está de pé, como pude
observar em minhas viagens de barco para Parintins. Estou ansioso para voltar a
Itacoatiara, a cidade da pedra pintada, talvez no próximo FECANI.
Feliz Aniversário, Pedra
Pintada!
CAUSOS DE PESCADOR
Por José Rocha (o pescador
mais sortudo – ou não – do pedaço)
Dizem que pescador que é
pescador tem mais histórias que peixe na rede, e eu não sou exceção. Minhas
pescarias são tão épicas que até o peixe sai da água só pra ouvir melhor.
Numa bela manhã de sol, fui
pescar no Careiro da Várzea, mais precisamente no Lago dos Reis – que de rei
mesmo só tinha o nome, porque peixe que é bom... bom, vamos ao que interessa.
Lá estava eu, sozinho na canoa, quando avistei um Poraquê, o famoso Peixe
Elétrico. Ele estava tão parado que parecia estar carregando a bateria.
Cheguei de mansinho, toquei
no rabo dele e... nada. "Ué, deve estar desligado", pensei. Tentei a
cabeça e também nada. Aí, com a sabedoria de um verdadeiro cientista, peguei na
cabeça e no rabo ao mesmo tempo, esperando aquele choque que faria meu cabelo
parecer um ouriço. E adivinha? Nada! "Esse peixe tá mais pra lâmpada
queimada", concluí.
Coloquei o bicho no banco da
canoa e, com uma faca que cortava até pensamento, abri seu bucho. E não é que
dentro dele tinha três contas atrasadas da Amazonas Energia? O pobre coitado
estava com o fornecimento cortado! Nenhum choque porque o Poraquê estava no
escuro, literalmente.
E não para por aí. Outro
dia, eu e meu comparsa Pedrão estávamos no mesmo lago. Ele jogou a tarrafa, e
ela ficou presa no fundo. "Rocha, a rede tá dançando mais que forró em
festa junina", ele disse. "Deve ter um 'Traca' ou um baile deles lá
embaixo". Sem pensar duas vezes, mergulhei e... surpresa! Não era um
'Traca', mas sim três 'Jacas' – e não estou falando de frutas, mas de jacarés!
Voltei e gritei:
"Pedrão, prepara o tempero que o almoço vai ser crocante!" Puxamos a
rede e os jacarés, que mais pareciam bolsas de luxo em potencial, entraram na
canoa como se fossem convidados de honra.
E assim, meus amigos,
termina mais um causo do José Rocha, o pescador que, se não pega peixe, pelo
menos pega boas histórias.
FACHADAS DAS CASAS
José Rocha
Um amigo me mostrou uma foto
de uma casa antiga e ficou surpreso com a beleza da fachada, perguntando por
que não construímos mais assim. Respondi:
- No final do século
dezenove e até o final da década de 10 do século vinte, as residências das
famílias abastadas e o comércio do centro antigo eram meticulosamente
projetados, com uma equipe de profissionais especializados, muitos deles
europeus, já que Manaus aspirava ser uma "Paris dos Trópicos". Um
exemplo notável é a casa da família Biasi, uma verdadeira joia localizada na
Avenida Eduardo Ribeiro. Até a década de sessenta, ainda éramos capazes de
construir casas belas, bem elaboradas e com jardins, como a Casa da família do
Dr. Arlindo Frota, na Praça do Congresso. Com o tempo, houve uma perda de
apreço estético e passaram a ser erguidas apenas estruturas monótonas, como o
caso de uma loja próxima ao Ideal Clube. Tudo mudou, para pior, é claro.
*O BRANCO & O ZÉ MUNDÃO
DE MANAUS*
*Por José Rocha*
Este relato faz parte do meu
livro 'Vila Paraíso', ainda em prelo, que espero um dia publicar.
Meu vizinho Damião, mais
conhecido como Branco, partiu para o andar de cima ontem. A tristeza tomou
conta dos moradores da Vila Paraíso, pois ele era uma pessoa boa e muito amada
por todos. Era alguém que realmente fazia a diferença. Em vez de chorar pela
perda do meu amigo, escolhi contar uma história que vivi com o Branco na nossa
juventude, uma forma de homenageá-lo com sorrisos, não lágrimas.
"A turma do Zé Mundão,
que incluía o Damião Branco, Bola, Bira, Getúlio e Faraó, era o coração do
carnaval. Eles eram parte do bloco Unidos da Getúlio Vargas, onde o Zé tentava
comandar o espetáculo, mas o Mestre Bola, um negão de puro samba no pé e uma
barriga que precedia sua fama, não deixava por menos. 'Zé Mundão, para de
bagunçar o samba, senão vou te ensinar a dançar com uns bons sopapos!' Mas o
Zé, escorregadio que só, retrucava: 'Tudo bem, mas se eu sair, levo a cerveja
do Bira e a turma toda comigo!' Diante dessa ameaça, o Mestre Bola dava uma
aliviada.
No dia do desfile na Avenida
Eduardo Ribeiro, o Zé só encontrava o ritmo após embalar-se com o conhaque
'Padrinho Acrísio', uma bebida tão potente que fazia o guaraná Baré parecer
água.
O Zé e seu Fusquinha '75,
apelidado de 'Suado', eram figuras conhecidas nos recantos mais peculiares da
cidade, mas só se aventuravam quando o dinheiro permitia, pois o Zé era
conhecido por segurar cada centavo.
Numa noite, ele e o Branco
decidiram ir ao bordel, mesmo sem um tostão no bolso, mas a sorte lhes sorriu
com um achado inesperado: um maço de dinheiro no chão do banheiro do Posto
Cinco. Com os bolsos recheados, rumaram para o Piscina Club, onde o Zé se
transformou em um seringalista da belle époque, esbanjando cerveja e churrasco
como se fosse seu último carnaval.
No bordel, o Zé e o Branco
foram cortejados por duas 'donzelas', que logo perceberam que o Zé estava
'armado' financeiramente e começaram a pedir luxos e mimos. Uma delas sugeriu
que fossem para a casa dela, prometendo um ambiente mais confortável. E assim
fizeram: os quatro embarcaram no 'Suado' e seguiram para a Rua da Cachoeira, no
bairro de São Jorge, um local mais tranquilo e abençoado que o altar de uma
igreja.
Antes de partirem, o Branco
sugeriu ao Zé esconder metade do dinheiro sob o tapete do carro, desconfiados
da índole das moças. Num momento de lucidez, o Zé concordou com o conselho do
amigo leal.
Ao chegarem, perceberam que
a casa era muito pior que os quartos do bordel. Mas o que importava era
aproveitar a companhia das moças e gastar o dinheiro que não era deles.
A festa foi interrompida
abruptamente quando alguém bateu na porta com força. A 'princesa' do Zé
alertou: 'É meu marido, e ele é perigoso! Fujam pelo quintal, peguem o carro e
sumam daqui antes que ele os encontre!'
Os dois amigos escaparam por
um triz e, ao conferirem os bolsos, perceberam que todo o dinheiro havia
desaparecido. Então se lembraram do conselho do Branco: a outra metade do
dinheiro estava segura sob o tapete do Fusca. Com os bolsos novamente cheios,
eles tinham agora uma história incrível para contar por muitos anos nos bares
da Vila Paraíso.
Voltando ao presente,
imagino que o Branco esteja rindo lá de cima dessas aventuras que estou
compartilhando. Um abraço, meu amigo Branco, e obrigado pelos bons momentos que
compartilhamos aqui na Terra. Conte essas histórias aí no céu para os malucos
da Vila Paraíso que se foram antes de você, incluindo o Lapinha, Taca,
Nascimento, Deusa, Rocha do Violão, Seu Quirino, Dona Baia, Walder, Boa, Mestre
Álvaro, Ulisses Doido, Durval, Graça e tantos outros."