sexta-feira, 29 de maio de 2015

A BICHARADA DENTRO DO CARRO


O SAPO CURUCU - Existe uma ponte de concreto dentro do Conjunto dos Jornalistas, ela passa pelo Igarapé dos Franceses, ligando dois blocos de apartamentos – ainda tenho um por lá, onde moram a minha filha e a neta. Essa ponte já caiu várias vezes – na primeira vez, demorou muito para a Prefeitura fazer outra e, provisoriamente, foi feita uma de madeira. Certa vez, quando estava atravessando, um pedaço de tábua se desprendeu e fez um rombo no assoalho do meu fusquinha 75. Num certo domingo, estava me dirigindo à casa da minha sogra, no bairro da Glória, quando um sapo-cururu escalou a perna da minha então esposa, que carregava no colo a minha filha mais nova. Foi um “Deus nos Acuda”, pense num sufoco total, pois mesmo ainda em movimento, a mulher abriu a porta do carro e se jogou na rua, juntamente com a minha filha! E pior de tudo: o sapo cururu não queria sair de lá, nem com nojo! Esse medo de sapo por parte da patroa foi passado para a minha filha e, por tabela, para a minha neta – ela tem cinco anos e gosta de remexer a minha mochila, mas quando falo que lá dentro tem um sapo-cururu, ela para na hora!

A GALINHA VOADORA – Conheci uns corretores de seguro que mantinham uma apólice com uma empresa em que trabalhei tempos atrás. Certa vez, eles pegaram a Estrada AM-070 (Manaus-Manacapuru), para fazer uma vistoria num sinistro. Pois bem, no meio da estrada, eles foram surpreendidos com o baque no para-brisa de uma galinha, ela tinha pulado de um barranco bem alto. O estrago foi grande, pois além de quebrar o vidro, bateu na porta traseira, conseguindo abri-la, indo parar quilômetros atrás! O perito que vinha no banco de trás do carro não morreu por puro milagre, pois o galináceo passou rente a sua cabeça. Um objeto de dois quilos e meio quando bate num automóvel que se desloca com oitenta km por hora, pesa mais de uma tonelada! Credo!

ACARI-BODÓ – Tenho um amigo, ele é aposentado da Defensoria Pública – certa dia, resolveu passar lá na Feira da Panair, para comprar alguns bodós, farinha de aurini, limões, cheiro verde, tomates e pimenta de cheiro, pois estava a fim de matar a saudade de uma “Caldeirada de Bodó”. Na volta, resolveu parar lá no antigo Bar Caldeira, para bebericar e jogar conversa fora com os intelectuais. Papo vem, papo vai e, acabou esquecendo os bodós que estavam na mala do carro. Para quem não sabe, os cascudos devem ser consumidos imediatamente após a morte, devido ao rápido processo de deterioração e ao odor insuportável que provoca. Depois de dois dias, ele resolveu sair com o carro, quando sentiu o estrago feito – para ter uma ideia, até os pneus fediam – lavou, escovou, passou aromatizante e, nada! Passou um mês sentindo fedor de acari-bodo podre!   


OS CARNEIRINHOS         – Tenho um amigo, ele é Despachante Aduaneiro e, gosta de frequentar os botecos de Manaus. Certa vez, foi tomar uns goles num bairro distante (ainda não existia a lei seca), ele tinha mania de comprar tudo o que lhe ofereciam em mesa bar. Apareceu um sujeito vendendo dois carneirinhos e, resolveu comprá-los para presentear a sua esposa (que presentão!). Depois de ficar de “saco cheio” de tanto os carneiros fazerem “mé”, colocou os animais dentro do carro e rumou para a sua mansão. Colocou o som no volume máximo, mas o “mé” dos carneirinhos ganhava. Soltou os bichos no jardim e foi dormir, digo, tentou dormir, pois bichos passaram o resto da noite fazendo “mé”, deixando acordado também a sua mulher, os filhos e até a empregada! A mulher deu-lhe o ultimato: - Ficou doido, homem! Pode levar de volta esses carneirinhos, agora mesmo, ou vou passar uns dias na casa da mamãe! Ele passou toda a manhã à procura do vendedor, ao qual devolveu os carneirinhos e não quis nem saber do dinheiro de volta!

É isso ai.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

AS FURADAS DO ZÉ MUNDÃO


As coisas mudaram para o Zé, ao sair da adolescência, quando surgiram os bailes em clubes, as piscinas artificiais e os shows de artistas locais e de outras plagas. Imaginem um caboclo surubim, ou seja, liso, mas cheio de pinta! Era o próprio Zé Mundão! Trabalhava muito, ganhava uma merreca no emprego e um monte de contas para pagar. Não tinha escapatória, o negócio era furar (entrar sem pagar) nos clubes para se divertir.

O Zé, apesar de ser torcedor do Fast Clube, gostava de frequentar o Atlético Rio Negro Clube, mesmo não sendo sócio dependente, porém, adorava nadar na piscina. Às vezes, misturava-se entre os só- cios e entrava pelo portão principal. Quando era barrado pelo porteiro, a única solução para entrar era escalar as árvores laterais e, assim, entrar no clube na maior caradura.

Outra vez, ao pular do mais alto do trampolim, Zé deu um impulso, tentou saltar de cabeça, mas caiu de barriga na piscina. Além da dor, sofreu a gozação dos sócios! Ficou com tanta vergonha, que não voltou mais a frequentar aquele lugar!

O clube de coração era o Nacional Fast Clube, conhecido como Rolo Compressor, nele, tinha grande admiração pelos jogadores, principalmente dos irmãos Piola.

 Para assistir aos jogos, dava uma “pernada” até o Parque Amazonense, na Vila Municipal; sem grana para comprar o ingresso, a solução era subir em árvores existentes ao redor do estádio ou partir para “furar” (a estratégia era aguardar o início da execução do Hino Nacional, quando os guardas ficavam em posição de sentido, para pular o muro).

Quando foi inaugurado o Estádio Vivaldo Lima, conhecido carinhosamente como Tartarugão, não tinha brecha para ele entrar sem pagar, o único jeito era comprar o ingresso mais barato, para a geral. Daí, pular para a arquibancada, onde podia assistir com mais comodidade a partida de futebol.

Num jogo de casa cheia, estavam em campo o Rio Negro e o Nacional, os times com mais títulos no Amazonas. Para esse jogo, o Zé pegou corda de seu colega, o Rogério português, nacionalino doente.

 A partida estava empatada em 2x2, placar que beneficiava o Barriga Preta (como era conhecido o Rio Negro), então, eles escalaram a parte detrás do placar (que era manual) e, num descuido da pessoa responsável, alteraram o jogo para 3x2 em favor do Leão da Vila (o Nacional).

Foi um alvoroço geral nas torcidas e no campo de futebol, com aplausos, vaias e xingamentos de todos os lados. Os guardas da PM foram até o local para averiguar o autor daquilo, quando, então, foram informados de que alguém da torcida do Leão tinha feito a alteração.


Os dois, com medo e arrependidos do que fizeram, correram em disparada para o portão de saída. Depois dessa, deram um bom tempo sem irem ao Vivaldão. 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O BATIZADO


Dormi muito na Praça da Igreja de Manacapuru, perdi as contas, certa vez amanheci dentro de um fusquinha, fui acordado por uma cabocla com um filhinho no colo, abri o vidro, ainda estava sonolento e dando aquele bafo de onça, ela me falou que era uma mãe solteira, da vida, porém, queria tornar o seu filho um cristão, pediu para eu ir até a Secretaria da Igreja e falar para o padre que eu era o pai da criança, pois somente assim ela poderia batizar o seu filho, ela chorava, o menino também, apesar da minha negativa, ela insistia.

O meu coração é mole e, sem contar as consequências, aceitei fazer a encenação – cheguei à igreja, despenteado, a roupa toda suja da farra do dia anterior, os olhos de ressaca, dando aquela dose de mil no padre, ele me ouviu pacientemente, mas não entrou no meu papo fajuto.

Com a negativa do padre, a mulher começou a chorar, o menino também, fiquei todo desconcertado, ainda tive que pegar uns quinze minutos de sermão do padre, para completar, para a remissão dos meus pecados, o padre me mandou rezar uns cem “Pais Nosso” e umas duzentas “Aves Maria”.

Apesar de tudo, o padre entendeu a minha intenção, pois eu queria somente ajudar - já pensou no buraco em que eu iria me meter, poderia começar a pagar pensão alimentícia ainda muito novo, fui muito inocente.


Mas, valeu, ele aceitou batizar o curumim no domingo seguinte.

Ela ficou muito agradecida pelo meu gesto e me convidou para ser o padrinho, agradeci gentilmente o convite, falei que não era daquela cidade e que iria viajar para outro Estado, tirei pela tangente, chega de rolo pro meu lado. Eu, hein!

domingo, 10 de maio de 2015

O EMPRESÁRIO PILANTRA



Trabalhei numa grande empresa de revenda de eletroeletrônicos, situada na Rua Marechal Deodoro, centro de Manaus - certo dia, apareceu por lá um grande empresário de Manacapuru, ele fez uma enorme compra de camas, colchões, criados-mudos, ventiladores, ar condicionados, geladeiras tipo frigobar, abajures, espelhos e televisores – imaginem o que ele iria montar, é isso mesmo, um Motel em Manacá – o empresário ganhou um bom desconto e ainda foi brindado com um financiamento para pagar em doze suaves duplicatas.

Ele ficou empolgando e caído pela vendedora que o atendeu e, como forma de agradecimento, convidou toda a galera da loja para a inauguração do “Hotel” disfarçado, pois um motel nunca fora bem visto pelo pároco e pelos mais velhos moradores do interior.

Segundo ele, seria servido um jantar especial: – Guisado de Tracajá, Sarapatel e Pirarucu no leite da castanha da Amazônia, além de algumas caixas de cerveja - tudo seria por sua conta.

Num sábado, uma turma viajou cedo da manhã, enquanto outra seguiu após o expediente - desde as duas da tarde que o “mé” rolava solto, depois, chegaram uns caboclos da região, se enturmaram e começaram a derrubar as ampolas, encheram a cara, foram embora sem pagar nenhuma, tudo bem, não tinha problema, pois tudo era “zero oitocentos”.

Notei que o empresário estava afim da vendedora gostosona, mas ela não dava a mínima para o sujeito – ela começou a amostrar as asinhas para o meu lado, naquela época eu não dispensava nada, pegava até gripe.

O velho ficou impaciente, serviu o jantar com uma cara feia e, no final fez as contas e detonou:

- O “Traca” e o “Piraca” é por minha conta, porém, as bebidas vocês devem pagar.

Tomei um puto do susto, quase que vomitava o bicho de casco na hora, peguei um pouco de folego e falei:

- O senhor falou lá Manaus que tudo era por sua conta!

Ele respondeu na maior cara de pau:

 - O jantar, meu filho, aqui é um comércio, quem é que vai dar bebidas de graça por ai, talvez em casamentos ou aniversários, não é o caso por aqui, quero agora a “babita” aqui na minha mão!

E agora, José? O bicho pegou!

Fizemos a cota, quase deixa a negada na lisura, ainda bem que era final de mês, tínhamos recebido a nosso salário. Deu para pagar a conta, depois, fomos para o Clube do Flamengo, curtimos uns embalos de sábado à noite.

Não engoli direito aquilo, foi uma pura sacanagem do velho, ele tinha um sotaque diferente, não era filho de Manacapuru, pois o povo de lá é gente boa.

Propus fazermos outra conta no domingo de manhã, primeiro, compramos as passagens de ônibus, deixamos toda arrumada as nossas bagagens, o lance era beber e comer até minutos antes da saída do ônibus e “sair à francesa” -, deu tudo certo.

Na terça-feira, bem cedinho, o velho apareceu para cobrar a conta, todos foram chamados a falas pelo Gerente Geral - até explicar que “nariz de porco não servia para tomada”, pegamos uma baita chamada “no saco”, ainda tivemos que fazer um vale no financeiro para pagar a conta - o pior, o velho multiplicou a conta por dez, jurou de pés junto que nos consumimos tudo aquilo, somente para sacanear de novo.

O problema era a vendedora que deu um fora no malandro, inclusive, ele fez cena e ainda queria cancelar parte das compras, somente não foi efetivada, pois na última hora a coitada aceitou jantar com ele.


Outro detalhe: as doze duplicatas foram pagas somente com a pressão do advogado da empresa - nas minhas andanças por Manacapuru, evitava passar pela frente do Motel daquele empresário pilantra. É isso ai.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O ENTERRO

Manacapuru é uma cidade do interior do Amazonas, teve o seu nome originado de uma belíssima flor - Manacá = flor e puru = matizada – chegou ao seu apogeu no auge da industrialização da fibra da Juta, tanto que era uma linda cidade, assim como foi a minha Manaus antiga, chegou a ser conhecida como a “Princesinha do Solimões” - tenho uma relação toda especial com ela, pois viajei centenas de vezes para lá na minha juventude, onde passei poucas e boas nas minhas andanças – uma das que mais marcou foi o sufoco em que passei para participar do enterro de um ente-querido.



Viajei muito em companhia dos meus irmãos Henrique e Graciete e dos amigos Mariza e Chiquinho, eles moravam em Manaus, no bairro da Matinha e tinham parentes em Manacapuru, no bairro da Terra Preta, num conjunto habitacional, onde ficávamos hospedados.

O tio dos nossos amigos era um sujeito muito extrovertido, gostava de fazer pegadinhas e de contar piadas, ele tinha um box no Mercado Municipal - era muito querido por todos os moradores da cidade.

Certo dia, ele passou mal, sendo levado às pressas para o Hospital Militar, em Manaus, ficou uma semana internado, fez uma cirurgia e estava passando bem - a família voltou para Manacapuru para tratar dos negócios do velho.

No domingo seguinte, tínhamos acabado de voltar de Manacá, viemos em companhia da sua esposa e do seu filho mais velho, fomos direto ao hospital fazer uma visita e, para nossa triste surpresa, ele havia falecido no sábado, estava na pedra, pois os dirigentes não conseguirem entrar em contato com a família.

Providenciamos a compra do caixão e a liberação do corpo para ser transladado para Manacapuru, alugamos uma Kombi velha para levar o esquife e a família - fui solidário e voltei com eles para Manacá.

Levamos um tempão para atravessar o Rio Negro, apesar da prioridade para embarcar na balsa - no inicio da estrada furou um pneu, foi trocado, mais adiante, furou outro, pois todos estavam “carecas”.

A família pegou um táxi, o “motora” da Kombi foi junto, levou os pneus para serem consertados na cidade, agora, imaginem quem ficou sozinho com o caixão no meio da estrada – o maluco que vos escreve - o corpo já estava exalando certo fedor, pois estava passando da hora de ser enterrado – pense numa situação complicada, além dos mais, já estava anoitecendo.

Forcei o carro e consegui colocá-lo bem no acostamento, pois poderia haver um acidente fatal, não bastasse o morto que estava na Kombi – fiquei com medo (Quem não ficaria?) - fui até a casa mais próxima, um senhor me serviu café e se prontificou em ficar comigo guardando o caixão e a Kombi. Lá pelas oito da noite chegou o socorro, veio uma Kombi, aparentemente, mais nova, colocamos o caixão no outro carro e seguimos viagem, faltavam somente oitenta quilômetros para chegar a Manacapuru, com a estrada parecendo uma “tábua de pirulito”.

Ao chegar à cidade, uma multidão estava aguardando o corpo, fomos direto para o Cemitério Municipal - para completar, quando estavam fazendo a despedida do morto, deu uma ventania e um forte trovão – a luz foi embora – imaginem a situação, era gente correndo para todos os lados, neguinho gritando de medo – eu fiquei estático, não sabia o que fazer, não via um palmo a minha frente, era uma escuridão total – fiquei na minha e não corri - ainda bem, pois a energia voltou minutos depois - o enterro foi feito às pressas, em decorrência da ameaça de uma chuva torrencial.

Passei a noite na casa da família enlutada, quem disse que dava para dormir, era uma choradeira total - lá pelas quatro da manhã fui avisado que um ônibus iria para Manaus, peguei o buzão na Rodoviária, estava totalmente lotado, segui viagem em pé, assim mesmo consegui dormir todo o percurso - quando cheguei a minha casa, desmaiei de sono, fui trabalhar somente na terça-feira.


Esse enterro foi um sufoco total, mas, quando me vem à lembrança, sinto saudades do meu amigo que se foi, dos colegas de outrora e da nossa querida cidade Manacá. É isso ai.