Trabalhei numa grande
empresa de revenda de eletroeletrônicos, situada na Rua Marechal Deodoro,
centro de Manaus - certo dia, apareceu por lá um grande empresário de
Manacapuru, ele fez uma enorme compra de camas, colchões, criados-mudos,
ventiladores, ar condicionados, geladeiras tipo frigobar, abajures, espelhos e
televisores – imaginem o que ele iria montar, é isso mesmo, um Motel em Manacá
– o empresário ganhou um bom desconto e ainda foi brindado com um financiamento
para pagar em doze suaves duplicatas.
Ele ficou empolgando e caído
pela vendedora que o atendeu e, como forma de agradecimento, convidou toda a
galera da loja para a inauguração do “Hotel” disfarçado, pois um motel nunca
fora bem visto pelo pároco e pelos mais velhos moradores do interior.
Segundo ele, seria servido
um jantar especial: – Guisado de Tracajá, Sarapatel e Pirarucu no leite da
castanha da Amazônia, além de algumas caixas de cerveja - tudo seria por sua
conta.
Num sábado, uma turma viajou
cedo da manhã, enquanto outra seguiu após o expediente - desde as duas da tarde
que o “mé” rolava solto, depois, chegaram uns caboclos da região, se enturmaram
e começaram a derrubar as ampolas, encheram a cara, foram embora sem pagar
nenhuma, tudo bem, não tinha problema, pois tudo era “zero oitocentos”.
Notei que o empresário estava
afim da vendedora gostosona, mas ela não dava a mínima para o sujeito – ela
começou a amostrar as asinhas para o meu lado, naquela época eu não dispensava
nada, pegava até gripe.
O velho ficou impaciente,
serviu o jantar com uma cara feia e, no final fez as contas e detonou:
- O “Traca” e o “Piraca” é por minha conta, porém, as bebidas vocês devem
pagar.
Tomei um puto do susto,
quase que vomitava o bicho de casco na hora, peguei um pouco de folego e falei:
-
O senhor falou lá Manaus que tudo era por sua conta!
Ele respondeu na maior cara
de pau:
- O jantar, meu filho, aqui é um comércio,
quem é que vai dar bebidas de graça por ai, talvez em casamentos ou
aniversários, não é o caso por aqui, quero agora a “babita” aqui na minha mão!
E agora, José? O bicho
pegou!
Fizemos a cota, quase deixa
a negada na lisura, ainda bem que era final de mês, tínhamos recebido a nosso
salário. Deu para pagar a conta, depois, fomos para o Clube do Flamengo, curtimos uns embalos de sábado à noite.
Não engoli direito aquilo, foi uma pura sacanagem do velho, ele tinha um sotaque diferente, não era filho
de Manacapuru, pois o povo de lá é gente boa.
Propus fazermos outra conta
no domingo de manhã, primeiro, compramos as passagens de ônibus, deixamos toda
arrumada as nossas bagagens, o lance era beber e comer até minutos antes da
saída do ônibus e “sair à francesa”
-, deu tudo certo.
Na terça-feira, bem cedinho,
o velho apareceu para cobrar a conta, todos foram chamados a falas pelo Gerente Geral - até explicar que “nariz de porco não servia para tomada”,
pegamos uma baita chamada “no saco”,
ainda tivemos que fazer um vale no financeiro para pagar a conta - o pior, o
velho multiplicou a conta por dez, jurou de pés junto que nos consumimos tudo
aquilo, somente para sacanear de novo.
O problema era a vendedora
que deu um fora no malandro, inclusive, ele fez cena e ainda queria cancelar
parte das compras, somente não foi efetivada, pois na última hora a coitada aceitou jantar com ele.
Outro detalhe: as doze
duplicatas foram pagas somente com a pressão do advogado da empresa - nas
minhas andanças por Manacapuru, evitava passar pela frente do Motel daquele empresário
pilantra. É isso ai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário