sexta-feira, 27 de abril de 2007


MOEDAS
Todo santo dia eu ia comprar pão na Padaria Modelo, na Avenida Joaquim Nabuco com a Rua José Paranaguá; numa dessas idas e vindas, deparei com uma loja que estava vendendo moedas antigas, foi uma paixão a primeira vista, comprei de imediato a minha primeira pataca de 40 réis. O meu dever diário de comprar pão passou a ser prazeroso, pois todo dia passava em frente da loja e ficava admirando as moedas, não tinha condições financeiras para adquiri-las, ficava apenas babando. Tive que vender picolé, bombons, bolhinhas e gibis para sustentar os meus hobbys: assistir filmes no Guarany e colecionar moedas. Infelizmente tive que vender toda a minha coleção; mato a saudade visitando o Museu de Numismática, no Centro Cultural Palácio Rio Negro, na Avenida Sete de Setembro, no centro de Manaus.

História das Moedas do Brasil:
Houve tempo em que a moeda brasileira era realmente valiosa e até doce. No início da colonização, pouco se falava em dinheiro por aqui: o reduzido comércio interno era feito na base de trocas e por isso era mínima a circulação de moedas. A unidade monetária usada era o real português, mas a primeira "moeda" brasileira de fato foi o "açúcar", que em 1614 passou a valer como dinheiro, por ordem do governador Constantino Menelau. O valor da arroba (15 kg) de açúcar branco foi fixado em 1.000 réis, o do mascavo em 640 réis, e o das outras espécies em 320 réis. Só os funcionários da administração portuguesa é que recebiam salários em moeda sonante. O dinheiro vinha de Portugal, mas sua origem verdadeira era a Espanha, muito mais rica em reservas metálicas devido à maior abundância de ouro e prata em seu império colonial. Houve até uma época – durante a dominação de Portugal pela Espanha, de 1580 a 1640 – em que a moeda utilizada na Colônia brasileira era o real hispano-americano, cunhado em Potosi (Bolívia). Havia moedas de 8, 4, 2, 1 e meio reales, que correspondiam respectivamente a 160, 80, 40 e 20 réis. Em 1624, a Holanda ocupou o nordeste brasileiro; sob seu domínio foi realizada a primeira cunhagem de moedas em território nacional. Quadradas, pequenas, feitas em ouro e prata, surgiram em Pernambuco, em 1645. Serviam principalmente para pagar os soldados holandeses aqui estabelecidos. Expulsos os holandeses, em 1654, e já restaurado o reino de Portugal, voltou a valer na Colônia sua política monetária. A partir de 1669, moedas de prata portuguesas passaram a circular no Brasil, carimbadas com um sinete real, nos valores de 80, 160, 320 e 640 réis. A confusão de vários tipos de moedas, com diversas origens e valores instáveis, persistia, mas não tinha grande importância, pois no período colonial, comerciava-se pouco: o mercado interno era muito pequeno. A maioria da população era composta de escravos e colonos livres: os primeiros não podiam comprar nem vender, por sua própria condição social, enquanto que os colonos recebiam seus pagamentos em mercadorias.

Moedas propriamente brasileiras só vieram a surgir no final do século XVII. Salvador era então a principal cidade da Colônia, sua capital e o mais importante centro de negócios. Por isso foi lá que, em 1694, os portugueses instalaram a primeira Casa da Moeda do Brasil durante o reinado de D. Pedro II. As moedas eram cunhadas em ouro e prata, sendo que as de ouro valiam 1, 2, e 4 mil réis. As de prata observavam uma progressão aritmética de valores mais original: 20, 40, 80, 160, 320 e 640 réis. O povo logo lhes deu o nome de patacas, que tinha certo sentido depreciativo, pois ninguém acreditava muito no valor das moedas cunhadas no Brasil. De 1695 a 1702, foram postas em circulação peças de cobre (10 e 20 reis), cunhadas na Casa do Porto e destinadas a Angola, mas aqui introduzidas por determinação régia. Logo deixou de ser vantagem para a Coroa manter a Casa da Moeda em Salvador. Com a descoberta de jazidas de ouro pelos bandeirantes e a intensa exploração das "Minas Gerais", a fabricação do dinheiro foi transferida para o Rio de Janeiro, em 1698, aí se cunhando ouro e prata nos valores já mencionados. Em 1700, a Casa da Moeda mudou para Pernambuco, voltando, porém ao Rio de Janeiro dois anos depois. Em 1714, já no reinado de D. João V, havia duas Casas da Moeda: no Rio de Janeiro e novamente na Bahia. Em 1724 criou-se a terceira, em Vila Rica, que foi extinta dez anos mais tarde. A falta de troco era tanta que o Maranhão chegou até a ter sua própria moeda, fabricada em Portugal. Era feita em ouro e prata, nos valores usuais, e em cobre, valendo 5, 10 e 20 réis. O uso do dinheiro se restringia à faixa litorânea, onde se situavam quase todas as cidades e se realizavam as grandes transações. Nos distritos mineiros, que só produziam ouro e importavam tudo o que consumiam, o próprio ouro, cuidadosamente pesado, funcionava prevalecendo em todo o imenso interior brasileiro. Já as regiões agrícolas apresentavam um sistema econômico peculiar. As fazendas, com suas legiões de escravos, eram praticamente auto-suficientes, produzindo quase tudo que necessitavam. Nelas, o dinheiro mesmo tinha pouca importância. A riqueza era avaliada com base na propriedade imobiliária e o gado era visto como um meio de intercâmbio tão bom como qualquer outro. Até a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, com D. João, em 1808, o valor total das moedas que aqui circulavam não ultrapassava a irrisória cifra de 10.000 contos (ou 10 milhões de réis). O sistema monetário, irracional, complicava-se cada vez mais: chegaram a circular, ao mesmo tempo, seis diferentes relações legais de moedas intercambiáveis. Além disso, ouro em barra e em pó passava livremente de mão em mão, e moedas estrangeiras, algumas falsas, eram encontradas com a maior facilidade.
Ao transferir-se para o Rio de Janeiro, a Corte acelerou consideravelmente o processo econômico. Crescendo a produção e o comércio, tornou-se imprescindível colocar mais dinheiro em circulação. Fundou-se então o Banco do Brasil, que iniciou a emissão de Papel-Moeda, cujo valor era garantido pelo seu lastro, ou seja, por reservas correspondentes em ouro. Entretanto, quando D. João VI retornou a Portugal, levou não só a Corte, mas também o tesouro nacional. Golpe grave: as reservas bancárias da Colônia reduziram-se a 20 contos de réis. No dia 28 de julho de 1821, todos os pagamentos foram suspensos. Passou-se a emitir papel-moeda sem lastro metálico suficiente, ocasionando a progressiva desvalorização do dinheiro. Assim, quando D. Pedro I se tornou imperador do Brasil em 1822, encontrou os cofres vazios e uma enorme dívida pública. A independência brasileira começava praticamente sem fundos. Sob D. Pedro II a situação melhorou um pouco, devido ao aumento da produção industrial, ao café, e à construção de ferrovias e estradas, que permitiam um escoamento mais eficiente das riquezas. A desvalorização, porém, já era um mal crônico e as crises financeiras se sucediam. Só em 1911 – em plena República – é que o dinheiro brasileiro registrou sua primeira alta no mercado internacional. De lá para cá, muita coisa mudou na economia brasileira, inclusive a moeda, que trocou de nome: ao real sucedeu, em 1942, o cruzeiro (e as subdivisões em centavos), que em 1967 se transformou em cruzeiro novo, valendo mil vezes o antigo. Três anos depois, voltou a ser apenas cruzeiro. Em 1986 surge o cruzado, em 1989 o cruzado novo, em 1990, no plano Collor, volta o cruzeiro, em 1993 o cruzeiro real e finalmente em 1994 o real.

terça-feira, 24 de abril de 2007




HOSPITAL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA


O prédio da Santa Casa de Misericórdia de Manaus, data do ano de 1880. Durante longas décadas serviu ao povo amazonense. Segundo o articulista Ribamar Bessa, do jornal Diário do Amazonas, não foram encontradas nenhuma documentação anterior ao ano de 1950, ou seja, não conhecemos a sua história na totalidade.
A Santa Casa, foi o local em que eu nasci, incluindo todos os meus irmãos, meu filho mais velho e, praticamente todos os manauenses que vieram ao mundo até a década de 80.
Tenho um afilhado, o Jair Tupinanbá, no dia em que ele rompeu a bolsa da sua mãe, fui levá-la a pé até o hospital, resolveu dar o ar da graça bem em frente ao Ideal Clube, passei por uma situação muito difícil; por fim conseguimos chegar até o hospital; estava lotado, não teve jeito, o menino nasceu nos corredores.
Eis algumas manchetes do nosso hospital:
KÁTIA BRASILda Agência Folha, em Manaus Gêmeas deixam a cama após 24 anos inertes Era o início dos anos 80, o Brasil vivia sob as brumas do regime militar, não havia internet nem telefone celular, quando as gêmeas Ana Maria e Mariana Castro Beviláqua, de Manaus (AM), então com dois anos, submergiram em um estado de letargia após uma forte febre seguida de convulsão. Para a família, não havia esperança --o diagnóstico dos médicos era de paralisia cerebral. Foram 24 anos deitadas numa cama sem falar nem fazer movimentos com as pernas e os braços. As duas não viram passarem seis presidentes, o fim do comunismo nem a revolução on-line. Mas, agora, as gêmeas voltaram a ter uma vida quase normal. Freqüentam a escola e estão sendo alfabetizadas. Em março de 2003, após um exame neurológico realizado na Santa Casa de Misericórdia de Manaus, elas iniciaram o tratamento da síndrome de Segawa ou distonia responsiva à dopa (DRD, na sigla em inglês). O diagnóstico da síndrome de Segawa causou surpresa à família. "Íamos aos hospitais, e diziam que era paralisia cerebral. Naquele tempo tudo era muito difícil", diz a lavadeira Maria do Socorro Castro Paz, 55, mãe das jovens. A enfermidade que as acometeu é caracterizada por distúrbios de postura e de locomoção motora (leia texto nesta página).Quando o diagnóstico é feito na infância, o que não ocorreu no caso das gêmeas --a doença é conhecida somente desde os anos 70--, a pessoa pode ter uma vida normal, mas deve tomar a medicação de maneira vitalícia, sem interromper a terapia.O tratamento das gêmeas Ana Maria e Mariana Beviláqua começou primeiro na Santa Casa de Misericórdia de Manaus, unidade que faliu neste ano. Hoje, elas são atendidas, a cada três meses, na Fundação Hospital Adriano Jorge, também no Estado.
“Morreu Álvaro Maia à 01h15min da madrugada de 4 de maio de 1969, num apartamento do Pavilhão Santana, da Santa Casa de Misericórdia de Manaus, acometido de infarto do miocárdio na manhã da véspera. Assistiram ao desenlace o médico assistente, Dr. Osvaldo Said, acompanhado pela enfermeira Ruth Helena, pela Srtª. Maria Helena Paiva Monte (prima) e Dr. Erasmo Alfaia (amigo). Imediatamente a notícia se espalhou e começaram a chegar ao hospital os amigos do morto, que foi velado no hall do Palácio Rio Negros desde o alvorecer. O sepultamento de Álvaro Maia se deu ao fim da tarde de 5 de maio, no Cemitério São João Batista, acompanhado por grande massa humana, sentida e emocionada”. (Dados biográficos de Álvaro Maia, de autoria do Dr. Djalma Batista, publicado no livro “Álvaro Maia – Poliantéia – 1984”).
Começa os estudos para reabertura da Santa Casa
Grupo de trabalho instituído para levantar situação física, financeira e funcional da unidade hospitalar apresentará informações parciais a cada semana. Prazo para conclusão dos trabalhos é de 60 dias.
Os 13 profissionais que compõem o grupo de trabalho, instituído junto à Secretaria de Estado da Saúde (Susam) na última sexta-feira, para verificar a atual situação da Santa Casa de Misericórdia e propor soluções para sua reativação, realizaram a primeira reunião na manhã da segunda-feira, 12.
De acordo com o presidente do grupo, médico Arnoldo Andrade, foram criadas quatro comissões temáticas, que começam a levantar informações gerais sobre a Santa Casa a partir da terça-feira, 13.
Os trabalhos serão feitos nos eixos de Administração e Finanças, para conhecimento de dívidas, análise de documentos e situação dos recursos humanos; Infra-estrutura e Patrimônio, para levantamento patrimonial e condições prediais; e Assistência à Saúde, para verificação dos ambientes hospitalares e as possibilidades de funcionamento e novas propostas. Também foi criada a comissão de Apoio, para responder aos questionamentos que não estejam inseridos nas outras três comissões e para dar suporte ao trabalho de todos os profissionais envolvidos.
A conclusão dos trabalhos deverá ser apresentada à Susam no prazo máximo de 60 dias, mas resultados parciais do estudo deverão ser apresentados semanalmente, conforme orientação do presidente Arnoldo Andrade. "Vamos elaborar propostas para curto, médio e longo prazo".
As comissões terão como ponto de partida o relatório preparado pela Susam, em março de 2005. O documento serviu de base para as primeiras propostas que o Governo do Estado apresentou à provedoria da Casa, à época. São dois volumes com mais de 300 páginas, reunindo textos e fotografias sobre as condições físicas e financeiras do hospital naquela data: cerda de R$ 7 milhões de dívidas, a maior parte referente a obrigações sociais e trabalhistas, e estrutura física precária na maioria dos ambientes que compõem os quase 15 mil metros quadrados de área construída da centenária unidade hospitalar.
"Para atualizar as informações vamos aplicar os mesmos instrumentos para o levantamento de dados e seguir o mesmo roteiro", explica Arnoldo. Todos os ambientes da Santa Casa foram visitados pelos membros do Grupo de Trabalho na manhã de ontem, para uma espécie de reconhecimento inicial da área que será avaliada.
A estrutura da Santa Casa conta com dois ambulatórios com 17 consultórios médicos e oftalmológicos, 202 leitos distribuídos em apartamentos e enfermarias da área clínica, cirúrgica e de maternidade, centro cirúrgico com cinco salas, uma UTI em construção e as áreas de apoio tradicionais como lavanderia, laboratórios, cozinha banco de sangue e salas administrativas. "Os ambientes e os equipamentos estão bastante deteriorados, mas os estudos mostrarão o que realmente terá que ser feito para recuperá-los, e o tempo necessário para isso", disse Arnoldo Andrade.
A atual presidente da Santa Casa, Ana Selma Pinheiro, que também integra o grupo de trabalho, afirma que a unidade está se esforçando para evitar que o patrimônio seja ainda mais desgastado. Ela comemora o trabalho de parceria que está sendo feito com o Governo do Estado e acredita que desta vez, uma solução viável será encontrada para a reativação da Santa Casa.
Desde 2005, o Governo sinalizou e apresentou propostas concretas para a reabertura do hospital, fechado no final de 2004, devido a grave crise financeira e administrativa.




TURMA DE DIREITO DA UNIP/MANAUS.

quinta-feira, 19 de abril de 2007




22 DE ABRIL - DESCOBRIMENTO DO BRASIL
O Descobrimento

Depois de 44 dias de viagem, a frota dePedro Álvares Cabral vislumbrava terra - mais comalívio e prazer do que com surpresa ou espanto
Na terça-feira à tarde, foram os grandes emaranhados de "ervas compridas a que os mareantes dão o nome de rabo-de-asno." Surgiram flutuando ao lado das naus e sumiram no horizonte. Na quarta-feira pela manhã, o vôo dos fura-buchos, uma espécie de gaivota, rompeu o silêncio dos mares e dos céus, reafirmando a certeza de que a terra se encontrava próxima. Ao entardecer, silhuetados contra o fulgor do crepúsculo, delinearam-se os contornos arredondados de "um grande monte", cercado por terras planas, vestidas de um arvoredo denso e majestoso. Era 22 de abril de 1500. Depois de 44 dias de viagem, a frota de Pedro Álvares Cabral vislumbrava terra - mais com alívio e prazer do que com surpresa ou espanto. Nos nove dias seguintes, nas enseadas generosas do sul da Bahia, os 13 navios da maior armada já enviada às Índias pela rota descoberta por Vasco da Gama permaneceriam reconhecendo a nova terra e seus habitantes. O primeiro contato, amistoso como os demais, deu-se já no dia seguinte, quinta-feira, 23 de abril. O capitão Nicolau Coelho, veterano das Índias e companheiro de Gama, foi a terra, em um batel, e deparou com 18 homens "pardos, nus, com arcos e setas nas mãos". Coelho deu-lhes um gorro vermelho, uma carapuça de linho e um sombreiro preto. Em troca, recebeu um cocar de plumas e um colar de contas brancas. O Brasil, batizado Ilha de Vera Cruz, entrava, naquele instante, no curso da história. O descobrimento oficial do país está registrado com minúcia. Poucas são as nações que possuem uma "certidão de nascimento" tão precisa e fluente quanto a carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal, dom Manuel, relatando o "achamento" da nova terra. Ainda assim, uma dúvida paira sobre o amplo desvio de rota que conduziu a armada de Cabral muito mais para oeste do que o necessário para chegar à Índia. Teria sido o descobrimento do Brasil um mero acaso? É provável que a questão jamais venha a ser esclarecida. No entanto, a assinatura do Tratado de Tordesilhas que, seis anos antes, dera a Portugal a posse das terras que ficassem a 370 léguas (em torno de 2 mil quilômetros) a oeste de Cabo Verde, a naturalidade com que a terra foi avistada, o conhecimento preciso das correntes e das rotas, as condições climáticas durante a viagem e a alta probabilidade de que o país já tivesse sido avistado anteriormente parecem ser a garantia de que o desembarque, naquela manhã de abril de 1500, foi mera formalidade: Cabral poderia estar apenas tomando posse de uma terra que os portugueses já conheciam, embora superficialmente. Uma terra pela qual ainda demorariam cerca de meio século para se interessarem de fato.


Tiradentes nasceu no ano de 1746, na Fazenda do Pombal, em Minas Gerais, propriedade da família. Não há registro da data de seu nascimento, apenas do seu batismo, em novembro daquele mesmo ano. Ficou órfão cedo - perdeu a mãe aos nove anos de idade e o pai aos 11, sendo criado, desde então, por um padrinho, que lhe ensinou a prática da odontologia.
A família não era pobre. Pertencia à nobreza civil, diferente da nobreza concedida por títulos.
Joaquim José da Silva Xavier, todos sabem, praticava a odontologia. E daí seu apelido: Tiradentes. Mas o que poucos sabem, ao contrário do que seu codinome insinua, é que o nosso herói da inconfidência não suportava arrancar dentes. Isso mesmo! Já era um adepto, então, do que se costuma chamar, hoje em dia, de odontologia preventiva. Ou seja, Tiradentes era muito mais a favor de preservar os dentes do que arrancá-los. Além do mais, não se preocupava apenas com os dentes. Preocupava-se também com o resto do corpo, fazendo uso, inclusive, de plantas medicinais, um modismo típico da medicina praticada na Europa do século dezoito.
No caso de Tiradentes, sua recusa em usar métodos terapêuticos agressivos se deve à influência exercida sobre ele pelo seu primo Frei Veloso, na época um grande botânico, que catalogou mais de 2000 plantas no Vale do Paraíba do Sul e organizou o Jardim Botânico, no Rio.
O idealismo de Tiradentes o levou a se envolver de corpo e alma na Inconfidência Mineira (movimento revoltoso ocorrido em 1789, na cidade de Vila Rica, hoje Ouro Preto, a favor da emancipação do Brasil da Corte Portuguesa). Seu envolvimento com a Inconfidência aconteceu após uma viagem ao Rio de Janeiro, em 1787, quando ele entrou em contato com as novas idéias políticas e filosóficas recém-chegadas da Europa. Esses novos pensamentos o influenciaram fortemente. Ao voltar para Vila Rica, em 1788, passou a divulgar em público os propósitos do movimento mineiro. Foi traído por Joaquim Silvério dos Reis, em 1789, quando foi preso no Rio de Janeiro. Ficou confinado numa cela durante três anos e no processo de investigação, conhecido como Devassa, foi interrogado quatro vezes e confrontado com todos que o denunciaram. Assumiu a responsabilidade da conspiração, inocentando os outros co-réus e, em 18 de abril de 1789, ouviu sua sentença de morte. Antes de ser enforcado no campo da Lampadosa - atual Praça Tiradentes - no Rio de Janeiro, disse: "Cumpri a minha palavra! Morro pela liberdade!"
Seu corpo foi esquartejado e a cabeça exposta em Vila Rica. Os outros pedaços foram espalhados pelo caminho, seus bens confiscados e sua memória difamada.
Só em 1822 Tiradentes foi reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira e em 1865 proclamado Patrono Cívico da nação brasileira.
É sabido que, entre os anos de 1786 e 1789, Tiradentes fez várias viagens ao Rio e que, nessa época, já devia estar conspirando em favor da inconfidência. No Rio, além do contato com idéias revolucionárias, se dedicou a muitos projetos de melhoria urbana.
Ele conhecia bem a cidade, seus morros, seus arredores, o povo do lugar, que também o conhecia como dentista prático. Suas habilidades, no entanto, não se limitavam apenas aos da odontologia. Tinha bons conhecimentos de topografia, o que fez com que Tiradentes intuísse grandiosos projetos de melhora urbanística para o Rio.
Documentos datados daquela época possibilitam concluir que o nosso impetuoso alferes idealizou diversas obras para a cidade. São elas:
abastecimento regular da cidade, pela canalização das águas do Rio Andaraí
construção de moinhos aproveitando a canalização do rio e mais os desníveis dos córregos Catete, Comprido, Laranjeiras e Maracanã
construção de um trapiche, isto é, o cais do porto, rudimentar, de madeira, avançando da praia o máximo possível dentro do mar
construção de armazéns para guarda de gado e outras mercadorias que, desembarcadas, ficavam expostas ao sol, à chuva e aos furtos
serviços de barcas de transporte de passageiros do Rio a Niterói (Praia Grande)
Em tempo: 30 anos depois de ter projetado essas melhorias, Dom João VI mandou fazer a canalização do rio, seguindo os planos de Tiradentes e, em 1889, exatamente 100 anos depois, o engenheiro André Paulo de Frontin canalizou as águas da Serra do Tinguá, dentro dos mesmos moldes arquitetados pelo inconfidente.

Tiradentes só começou a ser cultuado 98 anos depois de sua morte - sendo considerado herói nacional a partir de 1890. A imagem de mártir e patrono da nação foi construída pelos republicanos que representasse a luta pela ruptura do domínio português.
O mártir está diretamente ligado ao movimento que ficou conhecido como "Inconfidência Mineira". Os historiadores preferem "Conjuração Mineira" já que o que aconteceu em Minas Gerais foi um ato organizado para conquistar a independência do país e não um ato de deslealdade, traição ou infidelidade, que servem para traduzir a palavra inconfidência. Somente sob a ótica dos colonizadores, os "inconfidentes" foram considerados traidores.
cabeça de Tiradentes foi levada do Rio de Janeiro para Vila Rica, em Minas Gerais e ficou exposta num poste em frente à Igreja Nossa Senhora dos Remédios dos Brancos. Na terceira noite, foi roubada e nunca mais foi encontrada.
Tiradentes seguiu carreira militar, ocupando o posto de alferes, palavra que vem do árabe "al-fars", o cavaleiro. Significa o antigo oficial do exército com posto logo abaixo do tenente.

quarta-feira, 18 de abril de 2007


AS ONG´S E A AMAZÔNIAJosé Ribamar Bessa Freire08/04/2007 - Diário do Amazonas
“Temos 7.500 ONGs indígenas, mas para comprarmos o caixão do Galdino [Jesus dos Santos, índio Pataxó assassinado em Brasília] foi preciso pedir dinheiro ao governador. As ONGs deveriam estar aqui prestando contas a esta casa, a casa do Legislativo, de todo esse dinheiro que furtou das sociedades indígenas. Muito obrigado, senhor presidente”.
Este trecho, extraído da fala final de um cacique na sessão de 28/03/2001 de uma Comissão da Câmara dos Deputados em Brasília, pode ser um bom ponto de partida para discutir as expectativas dos índios em relação às organizações não-governamentais na Amazônia, questionar os objetivos dessas instituições e avaliar os seus resultados.
Discussão similar foi feita recentemente pelo filme ´Vale o quanto pesa ou é por quilo´? (2005), de Sérgio Bianchi, que faz uma crítica lúcida e implacável à atuação de algumas ONGs, colocando em xeque o trabalho ´desinteressado´ delas. Ele conclui, com ironia e desalento, que se os recursos destinados a projetos de atendimento aos menores de rua tivessem sido divididos pura e simplesmente entre os destinatários dos benefícios, era possível mantê-los todos, com bolsa integral, nos mais caros colégios particulares do Rio de Janeiro ou São Paulo. Acontece que grande parte da verba é consumida em viagens, diárias, estudos, consultorias, salários, impostos, aluguel, compra de equipamentos, computadores, ar-condicionado, etc
Qual seria o resultado se o montante de recursos financeiros empregados pelas ONGs nas áreas indígenas fosse dividido pelo número de índios? A resposta a essa pergunta é que nutre o sentimento que está por trás da fala citada do cacique. Ele se sente “roubado”, acreditando que os recursos financeiros, captados com o objetivo de beneficiar os povos indígenas, desaparecem no ralo da burocracia e no pagamento a terceiros por serviços prestados. O cacique tem razão de pensar assim?
O seu discurso contém elementos críticos legítimos, mas parece incorrer num erro de avaliação ao generalizar, sem perceber que as ONGs são como o colesterol: há o bom e o mal. É preciso diferenciar as que trabalham com seriedade em parceria com as comunidades indígenas daquelas convertidas em autênticos “gigolôs” de índios. Coincidentemente, essa confusão vem sendo cultivada por setores contrários aos direitos indígenas garantidos pela Constituição de 1988, que colocam todas as ONGs no mesmo saco, quando é preciso diferenciá-las
Segundo Vilmar Berna existem as chamadas “ONGs de combate”, cujo objetivo é organizar e mobilizar os setores interessados para reivindicar melhor qualidade de vida; as “ONGs profissionais”, que vão mais além e montam uma estrutura capaz de elaborar e executar projetos em parceria com governos, empresas e organizações indígenas, usando recursos públicos ou privados destinados a projetos; e até mesmo as denominadas “ONGs de cartório”, criadas para se beneficiarem de isenções fiscais e agregar valor às suas marcas institucionais, “desvirtuando e confundindo a noção de ONGs como organizações que representam os interesses da sociedade civil”.
As cifras indicam que no Brasil existem aproximadamente 250 mil organizações sem fins lucrativos, que movimentam anualmente bilhões de reais e contam com a colaboração de 3 milhões de pessoas. No entanto, não sabemos com precisão quantas dessas organizações atuam na Amazônia, quais são os seus projetos e resultados, de onde vêm os recursos com os quais operam, qual a porcentagem de fundos públicos e de que ministérios saíram, como estão sendo utilizados esses recursos, quantos voluntários prestam serviços a essas entidades etc.
As dúvidas são muitas, sobretudo agora que as ONGs, sempre em expansão, estão na berlinda. Houve até mesmo proposta para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito com o objetivo de investigá-las. Mas as respostas são ainda poucas. Não existem dados confiáveis, nem uma avaliação rigorosa da atuação dessas entidades, que tiveram sua imagem recentemente danificada, sobretudo porque a ausência de informações contribuiu para que se generalizasse, indevidamente, para todas as ONGs, as prática ilícitas de algumas “ONGs de cartório” que serviram de ´laranja´ para desvio de dinheiro público. De qualquer forma, parece legítima a reivindicação do cacique para que todas elas prestem contas do que fazem.
A sociedade começa a cobrar das ONGs maior transparência e visibilidade. Embora o presidente Lula tenha vetado recentemente a exigência de licitação para a escolha de Ongs que prestam serviços à comunidade com o dinheiro público, o ministro Jorge Hage (Controle e Transparência) anunciou em algum momento que estava estudando critérios de seleção para entidades contratadas pela União.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), através de uma Resolução de 1989, criou o Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas (CNEA), com o objetivo de manter em banco de dados o registro de entidades ambientalistas não-governamentais atuantes no país, cuja finalidade principal seja a defesa do meio ambiente. O Cadastro, acessado por órgãos governamentais e não-governamentais, nacionais e internacionais, disponibiliza informações para o estabelecimento de parcerias, habilitação em projetos, convênios e divulgação em geral.
Esse talvez seja o caminho para evitar a proliferação de instituições “pilantrópicas”, permitindo o estabelecimento de parcerias que possibilitem o cumprimento por parte do Estado de suas responsabilidades constitucionais e a garantia de políticas sociais diferenciadas, com ampla participação dos povos indígenas em todas as suas etapas de discussão e execução.
Essas parcerias já vêm se desenvolvendo com instituições criadas pelo próprio movimento indígena como a FOIRN – Federação das Organizações Indígena do Rio Negro, a OGPTB – Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües; a OPIAC – Organização dos Professores Indígenas do Acre e a Vyty-Cati – Associação das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins, envolvendo ainda ONGs como a ATIX – Associação Terra Indígena Xingu; a CCPY – Comissão Pró-Yanomami­­­; a CTI – Centro de Trabalho Indigenista; a CPI-AC – Comissão Pró-Índio do Acre; o Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena e o ISA &ndash! ; Instituto Socioambiental e muitas outras que desenvolvem projetos com os índios.
Na realidade, como sinaliza Hélio Matos, “a imensa maioria das organizações do Terceiro Setor é séria, honesta, não vive de dinheiro público. A maior parte dessas organizações se mantém basicamente pela solidariedade e pelo dinamismo da Sociedade Civil Brasileira, que são também imensos, ao contrário do que prejulgam aqueles aos quais faltam tais sentimentos republicanos e cidadãos

quinta-feira, 5 de abril de 2007

CINE GUARANI

CINE GUARANY

Freqüentava religiosamente o Cine Guarany, de preferência aos domingos, na sessão das 12h45min, passava sempre dois filmes, um de bang bang e outro romano.

Pela parte da manhã, eu e a molecada da Rua Igarapé de Manaus ficávamos tomando banho e pulando da Ponte Romana I, quando dávamos conta do horário já passava das 12h.

Corria até a minha casa, tomava um banho rápido para tirar o cauxi, vestia a minha roupa domingueira; não dava mais tempo para almoçar; saía correndo para assistir aos filmes no saudoso Cine Guarany.

Enquanto estava na fila para comprar o bilhete de ingresso, aproveitava para saborear um famosíssimo sanduíche de cachorro quente, servido com refresco de maracujá.

Ficava observando um mendigo chamado Jaú.
- uma esmolinha para o cego, uma esmolinha, por favor! Conseguia desviar-se dos homens; das mulheres nem tanto, era o famoso mão boba.

Gostava de ficar no lugar de cima, chamado de Poleiro; quando as luzes se apagavam era o momento certo para xingar e cuspir no pessoal que ficava no térreo, algumas vezes pegava alguns cascudos, outras vezes era advertido pelo lanterninha, era tudo diversão!

O sinal sonoro, o barulho dos ventiladores laterais, o fechamento das portas de madeira, a escuridão, a abertura das cortinas, o ataques dos veados em cima da macharada, os gols da rodada e a gritaria da molecada enxotando o urubu, tudo isso marcaram nossa infância.

Estou procurando um filme chamado Cine Paradiso, somente para matar a saudade do Guarany.

Abaixo transcrevo um comentário sobre este filme:

Cinema Paradiso
(Nuovo Cinema Paradiso, 1989)
Por Deivid Cardoso20/04/2004



Uma das coisas mais belas que a vida nos traz são as amizades que conseguimos ao longo dela. Não importa se são entre mulheres, homens, jovens, adultos, ou até entre crianças e adultos, desde que elas sejam verdadeiras. Isso é o que o diretor Giuseppe Tornatore, de Cinema Paradiso, nos mostra, em uma linda história entre uma criança que adorava ir ao cinema e o projecionista do local, que já era uma pessoa mais vivida. Quem é fã de cinema e já assistiu a esse filme sabe do que estou falando. Mas para os que somente o conhecem de nome, ou por ter ganhado o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1989, direi o que acho dessa bela obra.
O filme conta a trajetória desde a infância difícil, passando pelos problemas da adolescência, até a maturidade de Salvatore di Vitto (também conhecido por todos como Toto). O personagem foi interpretado por três atores diferentes: Salvatore Cascio (quando criança), Marco Leonardi (quando adolescente) e na fase adulta Jacques Perrin. A história se passa em uma Itália pós-guerra, na pequena cidade de Giancaldo. Um lugar onde todo mundo se conhece e a única atração restante é o velho Cinema Paradiso, aonde todos vão aos finais de semana para se divertirem um pouco.
Antes das sessões serem passadas ao público em geral, o padre local assiste ao filme da semana em particular para fazer a censura, cortando cenas que ele acha serem desprovidas de pudor. Isso sempre afetou as sessões, pois bem na hora daquele esperado beijo ardente, a cena é cortada para a seguinte, causando um furor entre os espectadores. Foi em uma dessas sessões de corte que o pequeno Toto, àquela época o coroinha do padre, que sempre freqüentava o cinema escondido dele, conheceu o projecionista do cinema, Alfredo (interpretado por Philippe Noiret). Assim, começou a amizade entre os dois, que a princípio não foi das melhores, pois o homem não gostava que o pequeno se metesse em seu trabalho. Também porque a mãe de Toto, que estava sempre à espera de seu marido que nunca voltaria da guerra, não aceitava que seu filho pequeno perdesse seu tempo indo ao cinema.
Por viver em um lar atormentado e ver no cinema sua única forma de esquecer os problemas de sua ainda curta vida, Toto foi perseverante e conseguiu que a amizade de Alfredo fosse conquistada. Agora os dois eram os projecionistas do Paradiso e podiam ver de camarote a alegria de um povo que via no cinema a sua forma de diversão. Tudo corria muito bem, até que um dia a película pega fogo, incendiando todo o cinema e fazendo com que Alfredo, salvo por Toto, ficasse cego, e o Paradiso fosse destruído por completo. Mas um morador local que havia ganhado na loteria e ficado milionário reconstruiu e o batizou de “Novo Cinema Paradiso”. Assim, Toto foi contratado e assumiu o cargo de seu velho amigo.
Os anos se passaram e o menino virou um adolescente cheio de vaidades e se apaixonou por uma moça, mas não foi retribuído. Sendo persistente como sempre, ele ganhou o seu amor. Mas foi por pouco tempo, pois ele teve de servir o seu exército e ela, ir para a faculdade. Voltando do exército, mas vendo que ali não tinha mais nada a fazer sem seu amor por perto, e com o conselho de seu velho amigo na cabeça, foi embora da cidade para tentar uma nova vida, onde veio a se tornar um cineasta, somente voltando trinta anos mais tarde, já amadurecido pela idade e pelas experiências de vida.
Cinema Paradiso não possui somente uma história tocante e de personagens sinceros e bem desenvolvidos. As tomadas são muito bem filmadas e o roteiro foi muito bem escrito pelo diretor e por Vanna Paoli (que foi uma colaboradora), mostrando um ambiente simples, mas ao mesmo tempo rico em personagens, mesmo os coadjuvantes, como o homem que se denomina dono da praça onde o cinema se localiza. A sequência em que os meninos ficam um pouco excitados com uma cena que está passando (isso quando o padre não as censurava mais) também é de uma inteligência rica.
Com um ambiente único e bem filmado, mostrando-nos nas expressões de cada personagem seus mais fortes sentimentos, Cinema Paradiso é uma ode à vida. O filme conta que a vida somente tem um sentido se temos alguma paixão e amizade para compartilhá-la, pois mesmo tendo muitos amores em sua vida, Toto nunca mais esqueceu de seu velho amigo e do Paradiso, que foi demolido para a construção de um estacionamento (essa é sem dúvida a cena mais emocionante do filme). Usando de palavras ditas pelo próprio personagem do filme, eu o descrevo como uma experiência “bela, mas triste”, pois todos nós, amantes do cinema, temos um pouco do Toto em nossos interiores.