sábado, 31 de março de 2012

O PIRA NOSSO DE CADA DIA

Fui convidado por um amigo paraense para participar de uma Piracaia (peixes no braseiro), foi uma grande festa e, comi até me lambuzar do meu prato predileto – para quem não sabe, esta palavra tem no radical o pira = peixe, na língua tupi - o evento é realizado a noite sob o calor de uma fogueira, onde todos comem peixes com limão, farinha e sal, pode-se comparar levemente a um piquenique da cidade – vamos, então, conhecer vários significados de alguns palavras que contém o nosso glorioso pira nosso de cada dia.  

Pacu, Aracu e Pirarucu são alguns dos peixes da Amazônia em que o nome termina como “cu”, servindo de gozação para com os amazonenses, na realidade, refere-se à cor vermelha, portanto, a tradução literal para o português será a seguinte: peixe com manchas avermelhadas – simples, não?

Piracema (sair peixe) – é a época de desova em que os grandes cardumes de peixes arribam para as nascentes dos rios, existindo muita fartura, no entanto, o governo protege muitas espécies, com a lei do defeso.

Piracuí (farinha de peixes) – obtido a partir do peixe assado ou cozido, sendo desfiado e torrado no forno -, o mais utilizado é o Acari-Bodó; servindo para fazer deliciosos bolinhos e, como ingrediente para sopas, massas e farofas.

Piraíba (peixe que não presta) – é o maior peixe de couro do Brasil, chegando a medir três metros e pesar acima de 150 quilos – corre a lenda na Amazônia que ele come crianças e ataca os adultos, além de provocar a hanseníase, por isso, os peixes de couro não possuem valor para os ribeirinhos.

Piranha (corta a pele) - conhecidos como carnívoros, extremamente vorazes, com dentes numerosos e cortantes, demonstrando predileção especial por animais sangrentos, tornando perigosos nos rios ou lagos onde vivem.

Piracicaba = (peixe deslizando) - lugar que, tendo uma cachoeira ou qualquer outro acidente natural, impede a passagem do peixe, sendo, assim, excelente pesqueiro.

Pirarucu (peixe vermelho) - da bacia amazônica, com comprimento de até 2,5m e pesando até 80 kg,  o maior peixe de escamas do Brasil, a língua é usada para ralar o guaraná e a escama para lixar unhas; a carne fresca, salgada ou seca, é muito apreciada, chamado de o  “Bacalhau da Amazônia”.

E o pirão? Alguns podem achar que é um peixe grande! Ledo engano – é uma papa obtida com a mistura da farinha de mandioca e do caldo de peixe, serve como acompanhamento do prato principal (ex. Caldeirada de Tambaqui).

O pira nosso de cada dia. É isso ai.

quinta-feira, 29 de março de 2012

IGARAPÉ DO MINDÚ




Lembra do Rio Tietê, em São Paulo? Claro que sim, ele está sempre  na mídia! E o Igarapé do Mindú, em Manaus? Claro que não, não o vi e não ouço falar! – assim responderão os mais jovens - O nosso esquecido e poluído Mindú, nasce em áreas de florestas preservadas do bairro Cidade de Deus, nas proximidades do Jardim Botânico Municipal, na zona leste, são vinte e quatro quilômetros percorrendo a área urbana.

Ele é o principal igarapé de Manaus, cortando toda a zona leste da cidade, passando pelas ruas/avenidas Paraíba, Recife, Djalma Batista e Constantino Nery, juntando-se ao Igarapé dos Franceses (este corta diversos conjuntos habitacionais da Constantino Nery), formando a Cachoeira Grande (São Jorge), depois, se junta ao Igarapé do Franco, formando o Igarapé de São Raimundo, desaguando, em seguida, no glorioso Rio Negro.

Os mais velhos o conhece perfeitamente, pois era ele que banhava o famoso balneário do “Parque Dez de Novembro”, com águas límpidas, translúcidas e geladas, enquanto, os mais novos apenas vêem um igarapé poluído que passa ao lado do shopping Millennium e do Parque dos Bilhares.

Apesar da poluição em toda a sua extensão, foi criado o Parque Municipal do Mindú, surgiu através de um movimento popular dos moradores do entorno, para proteger o habitat do Sauim-de-Manaus, um primata que é hoje considerado o mascote da cidade de Manaus.

Tirei as fotografias hoje, na foto-colagem mostra parte do P10 até o Parque dos Bilhares, aparecendo toda a mata ciliar preservada, muito verde, mas, ninguém tem a coragem de meter o pé na água, pois é poluição total.

Para refletir:

Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...
Águas escuras dos rios
Que levam
A fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...
 (Guilherme Arantes – Planeta Água).
Igarapé do Mindú - ainda poderemos salvá-lo, basta boa vontade e respeito à água e a vida! É isso ai.

quarta-feira, 28 de março de 2012

FLAGRANTE DO “EXTRESSO 171”



O “Expresso de Manaus”, um projeto de mais de cem milhões de reais, lançado em 2002, na administração municipal do Alfredo Nascimento, foi projetado, segundo os idealizadores “para dotar a cidade de um moderno sistema de transporte urbano de passageiros, de primeiro mundo, com ar-condicionado, perfeitamente adequado às condições típicas de uma metrópole tropical, com viagens mais rápidas e confortáveis para os usuários, veículos mais fáceis de operar sem stress dos motoristas e melhor qualidade do ar, devido aos reduzidos níveis de emissões” – passados dez anos, o sistema é uma das maiores dores de cabeça dos administradores da PMM e, pesadelo para os usuários do sistema e motoristas em geral.


A administração atual de Manaus promoveu uma licitação, onde ganharam as mesmas empresas, apenas mudaram o nome de fantasia, foram adquiridos mais oitocentos ônibus, houve um aumento da tarifa, porém, os ônibus velhos (cacarecos) continuam “rodando” e infernizando a cidade.

As fotografias mostram a falência desse sistema, os ditos “ônibus de primeiro mundo” estão vencidos, mas, continuam na ativa, dando pane mecânica a todo o momento – hoje, a da linha 300 (T-3 Centro) deu o famoso “prego” na Avenida Constantino Nery, bem em frente a Padaria  Cintia, no bairro da Chapada,  no horário do rush do meio-dia, provocando um tremendo engarrafamento, após os passageiros saírem, a cobradora ficou folheado um jornal e, o motorista atou uma rede, abriu a porta para entrar um vento, pegando no sono em seguida  – uma cena hilariante!

Dizem por ai que, a única esperança para o transporte de massa da cidade de Manaus, será a implantação do “Monotrilho e do BRT”, com investimentos de mais de um bilhão de reais! Mais um “Extresso 171” do futuro!

Leia a postagem abaixo sobre o atual sistema de transporte coletivo de Manaus: http://jmartinsrocha.blogspot.com.br/2011/10/o-sistema-de-transporte-coletivos-de.html  


terça-feira, 27 de março de 2012

PRÉDIO DA ESQUINA DA RUA DA INSTALAÇÃO COM A AVENIDA SETE DE SETEMBRO


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A fotografia em preto e branco é do Hueber & Amaral, deve ser do inicio do século passado, mostra o prédio original e, a colorida foi tirada por mim, cem anos depois, aparecendo a imponência da sua fachada. Poucos edifícios antigos se salvaram, este é uma rara exceção.

segunda-feira, 26 de março de 2012

COMUNIDADE DO LIVRAMENTO



Tirei esta fotografia na grande cheia do Rio Negro, ocorrida em 2009. Aparece uma grande árvore, cheia de curumins da Comunidade Nossa Senhora do Livramento, zona rural de Manaus, na margem direita do Igarapé do Tarumanzinho. Lembra a minha infância, quando tomava banho em igarapés não poluídos.

A comunidade foi fundada em 1973, por um grupo de trabalhadores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, ganhou este nome em decorrência da escola que foi incendiada por pessoas que se diziam donas das terras ocupadas.

Para chegar até lá, o viajante deve se dirigir até a Marina do David (por detrás do Tropical Hotel), pegar um barco tipo “A Jato” e, curtir durante vinte minutos a beleza da nossa Amazônia. 


domingo, 25 de março de 2012

CANTORA CELESTINA MARIA


Nasceu na cidade de Manaus, em 06 de Abril de 1941, foi registrada como Raimunda Celestina dos Santos Oliveira, a mais velha de dezoito irmãos, filha de Aprígio Farias dos Santos e Francisca Patriarca dos Santos – além do dom para cantar, ela é poetisa, compositora, parteira, escritora e mediúnica.

Vem de uma família de músicos, o seu pai era violonista, assim como três dos seus irmãos; o Patriarca, cantor e violonista, fez o maior sucesso no Tropical Hotel de Manaus, onde se apresentou durante vinte e três anos seguidos; o Peteleco da Viola e Nonato da Viola, sendo o primeiro, um dos vencedores do Festival da Canção de Itacoatiara (FECANI) - a estrela Celestina, com apenas cinco anos de idade, começou a cantar e encantar.

O seu pai por ser natural do Estado do Pará, levava toda a família para passar temporadas em Breves, alguns dos irmãos da Celestina nasceram por lá, eles ficavam em constantes idas e vindas entre aquela cidade e Manaus.

Ao se apresentar pela primeira vez na Rádio Difusora, em 1958, com dezessete anos de idade, recebeu do Josué Cláudio de Souza e Ismael Benigno, o nome artístico de Celestina Maria, passou uma temporada fazendo parte do “cast” daquela emissora e, depois, seguiu para a Rádio Rio Mar, era a época de ouro da rádio amazonense.

Ainda muito jovem, com apenas dezenove anos, casou com o protético Raimundo de Azevedo “Baixinho”, foram trinta e quatro anos de convivência. Durante todo esse tempo, a Celestina foi praticamente impedida pelo marido de cantar, mesmo assim, foi um das pioneiras a se apresentar, em 1985,  no programa “Carrossel da Saudade”.

Para sobreviver com dignidade, teve de trabalhar muito e, ajudar ao marido a criar os seus filhos, fez um curso de “Parteira”, na Legião Brasileira de Assistência (LBA), foi assistente do Dr. Lúcio Machado e do Dr. Gil Machado, no Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Manaus e, trabalhou também na Cruz Vermelha, em Belém, ajudando a colocar muitos brasileirinhos no mundo.

Cantou também nas rádios Barelândia (AM), com o Mestre Angico do Cavaco; em Abaetetuba (PA) e Paraíba do Norte/Campina Grande (PB), porém, somente aos trinta e sete anos foi quando tirou a sua carteira da Ordem dos Músicos do Amazonas.

Com a morte do seu marido, ocorrido em 1995, voltou com força total aos palcos, conseguindo, após os sessenta anos de idade,  gravar o seu primeiro CD, intitulado “Seguindo as Voltas do Mundo”, com o apoio do jornalista Sebastião Assante, na época Secretario de Cultura de Manaus, no projeto “Regatão Cultural”.

O segundo CD foi a “Quarta Cultural”, uma coletânea, contou com o apoio da Thereza Brandão, proprietário do Restaurante São Francisco, no bairro de Educandos – o terceiro foi “Boleros Inesquecíveis” e, acaba de lançar o quarto, chamado “Celestina Maria – Meu Glamour”, com 17 músicas inéditas, sendo todas de sua própria autoria.

Ela adora participar de festivais de musicas, foi quarto lugar no Festival da Canção de Itacoatiara, em 1997, com a música “Imigrante Clandestino”, além de ter tirado o primeiro lugar como a “Melhor Intérprete de Poesia”, com a composição poética “Flor de Liz”. Foi muita aplaudia no 2o. Festival de Música do Amazonas (FAM), com a sua composição "Droga Maldita".

A Celestina Maria está completando 70 anos de idade, mãe de três filhos, quinze netos, sete bisnetos, com mais dois a caminho - está com todo o gás, não pensa nem um pouco em se aposentar, continua se apresentando nos festivais de musica, no programa Carrossel da Saudade, além dos bares Caldeira, Chão de Estrelas, Cipriano, ET Bar, Gestinha e, onde for convidada.

Ela possui o seu próprio estilo em se vestir, algumas pessoas acham que ela é um pouco extravagante. Gosta de confeccionar as suas próprias roupas, abusando um pouco nos colares, brincos, anéis e pulseiras, além da maquiagem,  mas, o mais importante é sentir-se bem com a sua indumentária e consigo mesma.

Não esconde de ninguém o seu gosto por um batuque, um culto aos orixás, uma herança dos seus ancestrais. Adora o nosso carnaval e, já desfilou pela Escola de Samba Sem Compromisso, no Grupo Especial, em 2009.

Ela almeja um dia viajar pelo mundo afora, com uma parada no Rio de Janeiro, pretende ir até o Morro da Mangueira e, visitar a sua escola de samba querida e cantar algumas das suas composições para os sambistas cariocas. Pretende também conhecer os Estados Unidos, principalmente, as cidades de Orlando e Miami (Califórnia) e, cantar para os gringos.

Para finalizar, a Celestina Maria está escrevendo o livro “Minha Vida, Minha História”, com poesias e orações. Quem desejar contratá-la para shows ou adquirir os seus CD’s, deve ligar para os números 92 9180-3963 e 92 8184-3835.

Vamos curtir um pouco da voz da Celestina no Youtube http://www.youtube.com/watch?v=bBpZd95Diw4.  Aplausos, ela mereçe! É isso ai.

Fotografias:
1. Celestina  - Virada Cultural (PMM);
2. Cantoras Nazare Lacute, Beth (filha da Celestina) e Celestina - Bar Caldeira (J Martins Rocha).

sábado, 24 de março de 2012

CHURRASQUINHO DE GATO


Apesar de estarmos em crise, dois ramos nunca param de crescer, um é o alimentício e, o outro é o de medicamentos, pois necessitamos nos alimentar diariamente e, estamos sempre adoecendo – com relação ao primeiro, a venda de comidas de rua cresce numa projeção geométrica, tudo em nome da pressa e da falta de grana, sobressaindo o nosso churrasquinho de gato de cada dia, a salvação da lavoura dos estudantes e dos trabalhadores do comércio.

Onde existe grande movimentação de pessoas, lá são encontradas as barraquinhas de churrasco de bichano, pode conferir nas saídas de fábricas, faculdades, escolas e cursos, estádios de futebol e de esportes, grandes igrejas e templos evangélicos, centro da cidade em zonas comerciais, perto de academias e clubes, próximos a bares, praias movimentadas, hospitais e grandes clinicas – ninguém resiste aquele cheirinho de churrasco, com apenas dois reais, farinha e água, o caboco enche o bucho!

O trabalhador pega um chute no traseiro, leva a conta de uma empresa do Distrito Industrial, com parte da grana do FGTS monta o seu próprio negócio, manda fazer uma churrasqueira com rodinhas, em inox, adquire espetos, um conjunto de facas, saleiros, isopor para água mineral, cervejas e refrigerantes, recipientes para a farofa, arroz e vinagrete, carne tipo alcatra passada no amaciante da Maggi, frango e toscana – pronto, agora basta muita força de vontade e escolher o local ideal e, faturar aos tubos!

Vamos fazer uma projeção: trabalhando 25 dias por mês, vendendo em torno de 150 espetos diariamente, ao preço de R$ 2,00, o faturamento bruto mensal será de R$ 7.500,00 – um bom negócio para um trabalhador que ganhava mil reais no Pólo Industrial de Manaus.

Conheço um churrasqueiro de gato que se enquadra perfeitamente no exemplo acima, ele possui a “matriz” na esquina Rua José Clemente com a Rua Lobo D´Almada, vende um miau da melhor qualidade, possui uma clientela fiel, tanto que já abriu várias “filiais” em paradas de ônibus do centro; está ganhando muita grana e, chegou a comprar no ano passado, uma camionete S10 “zerada”.

Os churrasqueiros de miau mais famosos de Manaus estão localizados nos conjuntos Eldorado e Dom Pedro – eles possuem uma grande variedade de churrasquinhos, disponibilizam aos clientes até o “Menu”, com mesas e cadeiras de plástico para comodidade da clientela.

Nestes locais, já observei muitos bacanas pararem os seus carrões, abaixam um pouquinho o vidro para fazer o pedido, eles não gostam de se misturar com a gentalha e, muito menos de aparecer comendo um puro churrasquinho de gato – a grande maioria encomenda para viagem, um serviço top, tipo “Drive-Thru Baré”!

Certa vez, um vendedor gaiato de churrasquinhos colocou uma placa no seu estabelecimento, com os seguintes dizeres: “Gato Siamês, da melhor qualidade, criado na ração, nunca comeu um rato!”. É mole!  


A minha amiga Conceição da Chapada, uma vendedora de churrasquinho de Felis cattus, modernizou a sua banca, comprou uma churrasqueira à gás, tipo "no bafo", faz o maior sucessor com a turma que vai malhar à noite na Academia Atlética - no último show do Rei Roberto Carlos, foi até a Arena Amadeu Teixeira, vendeu trezentos miuazinhos, faturou oitocentos contos e, de quebra ouviu toda as musicas interpretados pelo cantor. 

A fotografia da postagem foi tirada de um churrasqueiro de miau, ele tinha uma banca no finado Estádio Vivaldo Lima, neste dia, o caboco estava cheio da água-benta, era despedida, pois foi o último jogo antes da demolição. 


Pois é, mano velho - dou o maior valor a um churrasquinho de gato, apesar do perigo de uma infecção intestinal, fazer o quê! É isso ai.

sexta-feira, 23 de março de 2012

VAI UM BODOZINHO AI, MANINHO!


O Liposarcus pardalis, conhecido popularmente como Acari-Bodó, simplesmente Bodó para os manos do Amazonas – é o patinho feio na preferência dos consumidores e pescadores, mas, 
dou o maior valor, o seu sabor é inigualável, além do seu nome está ligado a alguns fatos interessantes da minha vida.

Muitas pessoas não gostam nem um pouco dele, em decorrência do seu aspecto esquisito, bastante feio, parece de outro planeta, além do mais, o bicho é chegado a se alimentar de tudo o que aparece pela frente, não faz cerimônia, até merda ele come, na maior.

Na minha infância, ele sempre estava presente a nossa mesa, era sempre detonado assado na brasa ou na forma de “Caldeirada” (cozido com tucupi, tomate, cebola, pimenta de cheiro e azeite de oliva) e também como “Piracuí” (tupi
è pira = peixe + cuí = farinha). Os meus filhos nunca tiveram a coragem de comê-lo, preferem os peixes nobres da água doce (Tambaqui/Tucunaré), puro preconceito, somente porque ele é feião, come fezes e, nada mais!

Ele não tem escamas, possui uma puta de uma carapaça, você pode cometer uma gafe se pedir ao peixeiro um Bodó “ticado” (cortes com a faca, a partir da cabeça até o rabo, para detonar as espinhas). Somente pode ser preparado quando ainda estiver vivo, mesmo após o corte do rabo e parte do corpo, o de cujus ainda continua se mexendo!
Um Bodó morto exala um fedor insuportável – um amigo comprou uma dúzia na “Feira da Panair” (antigo aeródromo dos aviões anfíbios da Panair do Brasil), colocou na mala do carro e esqueceu-se de tirá-los, passou o final de semana trancado, na segunda-feira, quando entrou no carro notou o estrago que ele fez, foi uma semana de fedor, ficou entranhado. Dizem os especialistas que se forem tiradas as vísceras e conservado em gelo na temperatura de 20 graus, poderá ser comercializado até em doze dias.

O Igarapé de Manaus foi o local onde eu nasci, curti muito as enchentes e vazantes, o local era navegável, o Rio Negro invadia o seu leito e ia até a Rua Ipixuna; na seca, gostava de pescar um bodozinho, metia a minha mão nos buracos onde ele se escondia, sempre ficam dois, talvez um casal, não sei, - um era bastante grande, não fazia resistência, agora, o pequeno era brigão, não se entregava fácil.

O meu pai tinha um amigão do peito, o nome dele era Abdias, era conhecido pela alcunha de “Bodó” – pense numa figura, o cara era amolador de ferramentas no Mercado Adolpho Lisboa, nas horas vagas era polivalente: biriteiro, palhaço e cozinheiro.

Nos finais de semana, ele ia para a nossa casa/flutuante, a minha avó não gostava nem um pouco dele, pois foi ele quem incentivou o papai a começar a beber pinga, além do mais, por ser católica fervorosa, considerava o amigo do meu pai um puro “sapato do diabo”, quando ele chegava, ela fazia o sinal da cruz e dizia: - Lá vem o Satanás, vou passar o dia fora de casa! O cara vestia uma bata da minha mãe, pintava os lábios, coloca uma peruca e um corpete (sutiã), se transformava na cozinheira “Bodó do Igarapé de Manaus”, é mole!

Ele não era gay, gostava mesmo era da sacanagem e de frescá, passava o dia todo tirando saro com todo mundo; contava piadas, colocava no máximo o som do rádio, preparava a batida de limão, fazia o almoço, jogava eu e os meus irmãos dentro d’água, dando o famoso “caldo” na molecada, enfim, ele era o cara mais divertido do pedaço. Os meus pais passavam todo o domingo sorrindo das travessuras do amigo.

A minha amiga Celestina é sexy, digo, sexagenária -, faz bastante tempo que ela é viúva, ela diz que ainda dá no tranco, só pensa naquilo! Atualmente, está sem namorado, pois o seu “carcará”, partiu para a cidade de Boa Vista, em Roraima, arranjou uma índia macuxi e, não voltou mais para Manaus - certo dia um “caboco” gozador chegou próximo a um amigo meu e mandou ver: - Tu tens coragem de detonar a Celestina? Ele respondeu: - Te esperou, sou capaz de comer até cabeça de Bodó, imagine a Celé! Cruz credo, mano velho!

Existe em Manaus uma banda chamada “Os Tucumanus”, gravaram uma música chamada “Acari Bodó”, composição do Maurício Pardo e Denilson Novo, a letra é mais ou menos assim: "Acari Bodó/Bodó Bodó Bodó/Maniva utilíssima/H2O, H2O/Farinha utilíssima/ H2O, H2O/Misture tudo isso e faça um pirão/Êeeee refeição...Acari Bodó Bodó Bodó Bodó Bodó Bodó Bodó/É só levar ao fogo brando e esperar ferver/Mas não se esqueça, mexa, mexa, mexa/E pronto!

A última vez que eu provei do Bodó, foi no ano de 2009, no Festival Folclórico de Parintins, foram três dias brincando de boi, curtindo a cidade e dando com força no bodozinho. No último dia da festa, a cozinheira do barco onde eu estava alojado, fez uma "Panelada de Bodó", só em pensar dá água na boca – comi tanto que cheguei a passar mal!

Em junho, se Deus permitir, irei novamente a Parintins, vou comer Bodó que nem um doido. Vai um Bodozinho ai, maninho!
Sebastião Assante Outro dia passando pelo Mercado da Manaus Moderna acabei comprando só meio litro da farinha de peixe feita da carne de Bodó. Vocês acreditam que curti uma semana. Comi de vários jeitos. Bolinho como tira-gosto, fiz escondidinho e, ainda sobrou para omelete do café. Foi uma farra. Saboroso, principalmente com azeite de oliva, prensado a frio e 1% no máximo de acidez. Uma delicia...
Graca Silva Alem de saborosa a farinha de Bodó (piracuí) é fonte de cálcio!
Paulo Alves Alves Olha já então maninho, pense em uma iguaria boa, isso só tem aqui em nossa terra.

Foto:  J Martins Rocha - Parintins/AM

quinta-feira, 22 de março de 2012

DETALHES DO CENTRO CULTURAL PALÁCIO RIO NEGRO




Um dos poucos que restaram da "Manáos Belle Époque". Foi a sede do governo do Amazonas, tinha o nome original de "Palacete Scholz", um barão da borracha. Teve o nome alterado para Palácio Rio Negro em 1918 após autorizada a compra pelo governador do Amazonas, Pedro de Alcântara Bacellar.
Em 1997, o Governo do Estado, em virtude de sua beleza arquitetônica e valor histórico, o transformou em Centro Cultural Palácio Rio Negro, com espaços abertos a recitais de música erudita e instrumental, exposições, lançamentos de livros, dança e teatro, além de outras atividades culturais. É isso ai. 

Foto: J Martins Rocha

quarta-feira, 21 de março de 2012

BANDA MUSICAL AMAZONENSE “OS TUCUMANOS”


Sou um cabocão amaradão em tucumã, manos! Quando ouvi alguém comentar que existia uma banda regional chamada “Os Tucumanos”, fiquei curioso em conhecer o som dos caras.

A banda foi lançada em 2007, cheguei a conhecer o vocalista Clóvis Rodrigues, um jovem da melhor qualidade, ele gosta de frequentar aos domingos o “Bar do Caldeira”, no centro antigo de Manaus.

No dia 11 desse mês, eles se apresentaram no Largo de São Sebastião, finalmente, pela primeira vez, tive a oportunidade de ver esses jovens talentosos.

Mas, que diabos esses caras tocam? Pense numa salada que deu certo, eles embolam o rock com funk, beiradão e fusion. Muito dançante, com as letras musicais recheadas de criticas sociais, da nossa caboquice e do nosso dia-a-dia.  Gostei quando eles criticam a utilização exclusiva do “Estádio General Ozório” pelos estudantes militares, deixando de fora o povão.

As músicas “A Boca da Caboca” e “Acaribodó” valem a pena curtir! Sem falar no “Churrasco de Gato”, “Vô Mermo” e “Palafitas”!

No site http://www.ostucumanus.tnb.art.br/ eles se definem como “uma banda de som regional experimental, com identidade musical mutante, composta de brasilidade, balanço e rock´n roll, é enchente e vazante, é política da consciência e do desdém, é criticidade e é frescagem, trata-se de um ser autêntico, pávulo, idealista e inusitado”. Mandaram ver!

Os Tucumanos já divulgaram as suas músicas em outra cidades, fizeram shows no Centro Cultural São Paulo, na capital paulista e nas cidades de São Bernardo do Campo e Ribeirão Preto.

Os integrantes atuais da banda são os seguintes: Clóvis Rodrigues (vocal) – Denílson Novo (guitarra) – Miquéias Pinheiro (Baixo) e Omar Guedes (Pelado) na Bateria. Para contatos: telefones 92 8172-0032 e 9111-0550 e E-mail tucumanus@gmail.com

Vamos curtir um pouco a música “Serpenteia” http://www.youtube.com/watch?v=REZzaQ_gjlw&feature=player_embedded – É isso ai.

terça-feira, 20 de março de 2012

FLAGRANTE DA PRAÇA DA SAUDADE


Esta belíssima e histórica Praça foi construída em 1865, durante anos e anos foi sendo desfigurada – com a ideia e apoio do saudoso Senador Jefferson Péres, o logradouro público foi fechado em 2008 e, passou por um profundo processo de revitalização, voltando aos moldes do que era antigamente,  foi inaugurada em 2010, com investidos na ordem de R$ 2,7 milhões de reais.

Para os senhores terem uma ideia, o projeto de restauração buscou ser fiel ao original, incluindo pistas com pedras de carranca e Miracema; iluminação com postes no estilo republicano e bancos em estilo francês, lixeiras em ferro fundido, bancas de revistas, cabines telefônicas e espaços gastronômicos, além do paisagismo, com plantio de mudas de mini-ixórias, alamandas, palmeiras, açaizeiros, boungainvilles, oitizeiros e pau-pretinho.

Passados dois anos da sua reinauguração, o local está abandonado pelo poder publico municipal – com as lâmpadas queimadas, na sua grande maioria; o piso está soltando; os jardins estão clamando por manutenção e, falta a presença da Guarda Municipal.

A fotografia acima foi um flagrante em que presenciei hoje, mostra um jovem gaiato que, após arrancar um banco da praça, colocou-o debaixo de uma árvore frondosa, deitou e, começou a folhear uma revista, tudo na maior cara-de-pau e desrespeito ao bem público!    

Reclamar para quem? Nada posso fazer para mudar o quadro, apenas divulgar nas mídias sociais e, quem sabe chegue ao conhecimento das autoridades (in) competentes. E isso ai. 


segunda-feira, 19 de março de 2012

CENTENÁRIO DA RESIDÊNCIA DA DONA CHLOÉ LOUREIRO


Recebi um e-mail de uma leitora anônima do nosso blog, versa sobre um belo imóvel que fica na Avenida Eduardo Ribeiro: “Olá Rocha, este ano, uma antiga casa que fica na Avenida Eduardo Ribeiro, com entrada pela Rua 10 de Julho, irá completar 100 anos, esta residência morou o nosso ex-governador Aristides Rocha, após sua morte, fora comprada pela família do Dr. Thales Loureiro e sua esposa Chloé Ferreira Souto Loureiro. É uma belíssima residência que está fechada, sendo mantida apenas por um caseiro; da época de Aristides Rocha esta casa deve ter muito a contribuir com a história. Fica a dica”.


Realmente, o imóvel é belíssimo, muito imponente, está bem conservado, com os jardins bem cuidados, possui dois pavimentos, com escadas na lateral direita  e, garagem com detalhes em madeira, saída pela Rua 10 de Julho - imagine como deve  ser o interior, com certeza, deve ser uma maravilha!

O entorno é muito arborizado, dizem que as árvores que ficam bem em frente ao prédio foram plantadas pela Dona Chloé, sendo que uma delas foi envenenada recentemente, teve que ser cortada pelo Corpo de Bombeiros.

Faz gosto passar pela Avenida Eduardo Ribeiro e, ficar admirando aquela obra de arte tão bem conservada pela família Loureiro, pois as fachadas das residências no inicio do século passado eram trabalhadas com esmero, faziam um trabalho artístico nos seus frontispícios, ficava, realmente, uma obra de arte.

 Não conheço a história daquele imóvel, mas, conforme a dica da leitora, ele pertenceu ao governador Aristides Rocha. Segundo os historiadores, ele foi um político que, nas eleições de 1924, foi lançado ao governo para dar continuidade ao domínio oligárquico do Rego Monteiro; venceu as eleições utilizando a máquina estatal e as velhas práticas comuns a essa época (nada mudou até agora!); após as eleições, o governador pediu licença médica e afastou-se do cargo, em seu lugar, ficou o seu genro Turiano Meira, culminando com um movimento nacional denominado de “Tenentismo” (insatisfação dos militares), assumindo o poder local o Tenente Ribeiro Júnior. 

 A Dona Chloé Loureiro, matriarca de uma das famílias mais tradicionais de Manaus, foi fundadora da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR), escritora de mão cheia, faz muito sucesso com as suas receitas de bolos e quitutes. Os seus filhos sempre primaram em conservar os imóveis da família, inclusive, mantiveram as fachadas dos antigos prédios comerciais de sua propriedade, apesar de todo o apelo comercial reinante entre a maioria dos empresários do centro antigo de Manaus que, fazem uma verdadeira poluição visual no local.


Com o projeto do governo do Estado, sob a supervisão da Secretaria de Cultura, para revitalização de toda a extensão da Avenida Eduardo Ribeiro, com certeza, não terão nenhum trabalho com o imóvel da Dona Chloé Loureiro, aliás, ele servirá de exemplo para os proprietários dos demais prédios, pois vai fazer cem anos e, continua bonito e muito bem conservado.


Parabéns a família Loureiro, em especial a Dona Chloé, pela conservação do seu belíssimo imóvel que completa cem anos e, pelo exemplo de amor a sua cidade Manaus. É isso ai.

Errata (enviado pela leitora anônima):
 
Aristides Rocha foi senador e não governador, assim que terminou o Tenentismo (em 28 de agosto de 1924) iniciaram-se várias disputas pelo controle político do Estado entre grupos e facções. Com isso Aristides apresentou ao senado federal um projeto pedindo a intervenção Federal no Amazonas, alegando ausência dos poderes Executivo e Legislativo no Estado. O pedido foi aceito, e o mineiro Alfredo Sá foi nomeado ao governo com a missão de acalmar as disputas políticas, feito que conseguiu através da unificação partidária.Outro erro que cometi foi o nome de dona CHLOÉ SOUTO LOUREIRO, o Ferreira foi erro de digitação.

Fotos: J Martins Rocha

 
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DIA MUNDIAL DA ÁGUA



A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou no dia 22 de Março de 1992, um documento denominado “Declaração Universal dos Direitos da Água”, esta data ficou conhecida como “O Dia Mundial da Água”, com o objetivo maior voltado para a reflexão, análise e, principalmente de conscientização da população sobre desperdício e contaminação desse precioso bem.

O Planeta Terra é azul! Com dois terços formados de água, mas, apenas 0,008% do total é potável, próprio para o consumo humano! Estamos diariamente contaminando, poluindo e acabando com a água. Caso continuarmos neste ritmo, no futuro, alguém lá do espaço, poderá dizer “O Planeta Terra é Cinza” – com muita lama, poluição e pouquíssima água!

O nosso país é privilegiado, pois possui em torno de doze por cento de água potável do mundo, sendo que setenta por cento das reservas estão na Amazônia e no “Sistema Aquifero Guarani”, este último é a maior reserva de água doce e potável do mundo, com uma extensão de um milhão e oitocentos mil quilômetros quadrados, abastecendo muitas cidades do Sul-Sudeste do país, porém, está ameaçado com as práticas poluentes da pecuária e da agricultura.

Com relação ao desperdício de água e poluição dos igarapés que passam pela cidade de Manaus, vale a pena ler o texto da jornalista Ellza Souza http://www.ncpam.com.br/2012/03/o-planeta-esta-secando.html

Na cidade de Manaus, o povo pena com o sistema de distribuição de água, com dezenas de bairros sofrendo, diariamente, com a falta de água, apesar de o majestoso Rio Negro passar no quintal das nossas casas.

A concessão foi entregue, em 2000 (leia Amazonino Mendes), a uma empresa francesa chamada “Águas do Amazonas”, esta não fez grandes investimentos, não colocou nenhum tubo de esgoto na cidade, a água é de péssima qualidade, mesmo assim, cobra uma tarifa alta pela água e pelo esgoto, deixando milhares e milhares de famílias sem o precioso líquido.

O Estado do Amazonas está tentando resolver o problema da zona leste da cidade, com a implantação do “Programa Águas para Manaus – PROAMA”, com investimentos de 365 milhões de reais, para beneficiar dezoito bairros. Segundo o Omar Aziz, atual governador do Amazonas, os investimentos poderão chegar à casa de um bilhão de reais, mesmo assim, não dar garantias que vai resolver o problema!

A água é um bem que poderá faltar no futuro, tudo depende de nós, no presente, portanto, vamos usá-la com parcimônia, sem desperdício, tendo todo o cuidado para não contaminá-la, usando racionalmente os nossos aquíferos, lagos e represas, cuidando também com muito amor e carinho do nosso Rio Amazonas e seus afluentes.

Sabendo usar, não irá faltar! É isso.



A Declaração Universal dos Direitos da Água é a seguinte:

Art. 1º - A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.

Art. 2º - A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do Art. 3 º da Declaração dos Direitos do Homem.

Art. 3º - Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.

Art. 4º - O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.

Art. 5º - A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.

Art. 6º - A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.

Art. 7º - A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.

Art. 8º - A utilização da água implica no respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.

Art. 9º - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.

Art. 10º - O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

domingo, 18 de março de 2012

BARCOS REGIONAIS DO AMAZONAS


A Amazônia é entrecortada por rios, onde praticamente todas as cidades e comunidades são separadas por águas, em decorrência dessas particularidades, as estradas são os rios e os Barcos Regionais substituem aos automóveis, levando pessoas e cargas para esse imenso mundo de meu Deus -, por serem feitos na sua grande maioria de madeira e, aliado a outros fatores, tem deixado muito a desejar no quesito segurança.

Observando as fotos do inicio do século passado, verificamos que os barcos eram fabricados em ferro, na época em que o dinheiro corria solto, resultado das vendas da borracha no mercado internacional, depois, com o fim desse monopólio, houve um empobrecimento total da nossa economia, os barcos passaram a ser fabricados em madeira, nos estaleiros de Manaus e Belém.

Os barcos construídos no Estado do Amazonas diferem dos do Pará, pois estes sofrem a influencia do mar, sendo adaptados a essa realidade. Os nossos barcos possuem as seguintes características: são feitos em quase toda a sua totalidade de madeira, com os mais variados tamanhos e tipos, recebendo o nome de “Motor” ou “Recreio”, dependendo da duração da viagem; a grande maioria é do tipo misto, ou seja, transportando ao mesmo tempo cargas e passageiros.
Existe um segmento que utiliza muito os barcos regionais, são os chamados “Barcos de Turismo da Amazônia”, operando na área do Ecoturismo, Pesca Esportiva, Negócios e Eventos, Aventura e o Contemplativo.

Segundo os empresários do setor “A Associação dos Operadores de Barcos de Turismo da Amazônia tem o compromisso com a sustentabilidade, que visa explorar as belezas naturais da Amazônia em conformidade com as necessidades de cada comunidade que nela e dela vive, bem como, mantendo-a preservada para o mundo, além do prazer em dividir a paixão de nossas vidas; a maior maravilha selvagem deste planeta; a inesquecível fonte de cultura e natureza; esta acolhedora parte do mundo chamada Amazonas”.

Na enchente, os barcos regionais viajam dia e noite, na vazante, a coisa toda muda de figura, pois ao anoitecer o perigo é muito grande, existem muitas toras de madeiras boiando nos rios; os bancos de areia aparecem em todo lugar e, em alguns lugares existem as corredeiras, com as pedras colocando em risco as embarcações.

Por serem fabricados em madeira, expõem toda a sua fragilidade, contando ainda com a influência das forças das águas e dos ventos, aliado a um excesso de pessoas e cargas, falta de equipamentos obrigatórios, como barcos salva-vidas e coletes em quantidade e de qualidade e a má distribuição das cargas, tem levado a inúmeros acidentes com muitas vitimas fatais.
Quando um barco vira, a lona serve como uma parede, bem como, muitos camarotes possuem as portas com abertura para fora, impedindo a saída dos passageiros.

Os naufrágios são uma constante, apesar de toda a fiscalização da Marinha do Brasil. Para ser ter uma ideia, nos últimos sete anos, a Capitania dos Portos da Amazônia Ocidental, registrou 607 acidentes com 225 mortes.

Bato palmas para o pessoal do Instituto Federal do Amazonas (IFAM), na pessoa do professor Flávio Soares e dos alunos do curso de engenharia mecânica, Marcos Negreiros Rylo e de tecnologia mecatrônica industrial, Carlos Pereira dos Santos e Hayanne Soares, pelo desenvolvimento de projetos para a inovação da segurança em embarcações.

Eles desenvolveram um projeto chamado “Desenvolvimento de um sistema de estabilização transversal para embarcações regionais da Amazônia” – oferecendo medidas preventivas e de melhorias na estabilidade dos barcos, evitando que os barcos tombem. Os pesquisadores foram premiados pelo Banco da Amazônia e pelo Prêmio Professor Samuel Benchimol.

Existe um politica governamental para incentivar a substituição dos barcos de madeira por aço, porém, será um processo muito lento e oneroso para os donos das atuais embarcações.  Apesar de termos inúmeros estaleiros com capacidade para construírem barcos de pequeno, médio e grande porte, falta ainda estrutura para acesso as inovações tecnológicas e linhas de créditos.

Ventila-se em formar um Pólo Naval, em Manaus, com isto, será possível comprar aço em larga escala, com preço mais competitivo, criação de padrão para embarcações mais seguras, capacitação de mão-de-obra, etc.


Espero que todo esse esforço de pesquisa não fique engavetado, como estão tantos outros trabalhos sérios realizados pelos nossos abnegados pesquisadores e cientistas. Fico na torcida pela implantação pólo naval, da utilização das novas tecnologias e, do aproveitamento dos trabalhos dos nossos pesquisadores.

O nosso Amazonas é imenso, viajar de barco de barco regional é preciso, mas, a segurança deve vir em primeiro lugar. É isso ai.