domingo, 26 de fevereiro de 2023
DENÚNCIA DO BLOGDOROCHA SOBRE O ABANDONO DO GRUPO ESCOLAR SALDANHA MARINHO SURTE EFEITO NA ÁREA FEDERAL
sábado, 25 de fevereiro de 2023
LEMBRANÇAS DE UM PASSADO DISTANTE PARTE V
Por José Rocha
Eu deveria ter uns nove ou
dez anos de idade, morava na Rua Igarapé de Manaus, era um domingo de manhã
cedinho, resolvi sair do barraco para pegar umas mangas no “Quintal do Dural”,
avistei no meio da rua um jornal em forma de uma bola, corri e dei uma bicuda
no papel. Ai, ai, ai, ai, ai!
O meu dedão ficou todo
arrebentado, com a unha do dedão do pé direito suspenso apenas por um pedaço de
pele, cai no chão "morrendo de dor!"
Um vizinho, amigo de meu
pai, prestou os primeiros socorros e mandou avisar ao meu genitor. Falou que
aquilo era uma pegadinha da molecada da rua: colocaram uma pedra dentro do
jornal, ficou todo arrumadinho, com a intenção de pegar um otário que nem o
escriba aqui.
Pois bem, o meu velho pegou
uma tesourinha de cortar unhas, passou álcool para desinfetar, cortou umas
peles e puxou a unha na maior. Meu Deus!
Fui à Lua e voltei vendo
milhões de estrelas! Para completar, colocou um chumaço de algodão untado de
uma mistura de resina chamada de goma-laca e álcool etílico, que ele usava para
envernizar os seus violões (luthier).
Era um santo remédio, mas
doía até a alma!
Depois de estabilizado, fui
ajudado a caminhar tipo um Sacy, pulando com uma perna só.
Ao chegar em minha
residência, peguei uma “peia”, como era de costume, pois na rua aprontou, certo
ou errado, em casa, o pau, levou.
Passei uma temporada no
estaleiro até melhorar, na base do “Melhoral” para aliviar a dor geral.
Era vazante do rio, comecei
a dar umas caminhadas pelo campinho de futebol da várzea, de repente, mais do que
repente, pisei num prego enferrujado no mesmo pé arrebentado. Meu Deus!
Alguém arrancou o prego na
maior.
Chegando em casa, os meus
pais falaram:
- Ainda bem que este moleque
está vacinado de antitetânica (uma injeção que previne o tétano).
Vou confessar uma coisa para
vocês: passadas décadas depois, fui até uma UBS e fui obrigado a tomar uma
antitetânica, falei para a auxiliar de enfermagem, uma amiga coroa lá da Cidade
Nova:
- Vou tomar essa aí, pois o
prego do “véio” aqui está enferrujado e não vou querer passar tétano para as
“novinhas” do pedaço.
Ela começou a rir e, falou:
- Ah, é, é, sêo fio de égua!
Enfiou com vontade a agulha.
Respirei fundo e falei-lhe:
- Poxa, maninha, tu não
sabes nem brincar! Eu, hein!
Voltando ao passado. Tive de
voltar à escola, pois já tinha perdido muitas aulas.
O pé de boa era vestido com
sapato e meia preta, o outro, arrebentado, de sandália, com o dedão e o meio do
pé inchados e cheios de algodão, esparadrapos, gases e pomadas.
Eu andava com o pé doente de
lado, pois não conseguia firmá-lo ao chão, tudo doía.
Não deixavam entrar com os
dois pés de sandálias, apenas o doente! Era uma coisa hilária, antigamente.
O problema maior eram os
colegas que gostavam de pisar exatamente no pé doente “só prá fescar”. “Fios de
uma égua!”
Certa vez, comecei a coçar a
cabeça com muita frequência.
Minha mãezinha pegou uma
toalha branca e um pente fino e começou a passar em minha cachola. Doía prá
porra, pois o meu cabelo era pixaim.
Depois de várias sessões de
martírio, ela falou:
- Esse moleque está com
piolhos até o talo!
Largaram o Neocid (um inseticida
em pó, para matar baratas, formigas e pulgas, mas utilizado, indevidamente, no
combate ao piolho na década de 60).
Os piolhos se foram, mas
ficaram as lêndeas (os ovos dos piolhos). Um vizinho trouxe um cortador de
cabelos manual e “pelou no zero” com ajuda, também, de uma navalha.
Todo careca pegava “melo”
(cascudo) na cabeça. Era praxe. Primeiro, peguei dos meus irmãos mais velhos,
depois, dos colegas de rua e, por final, dos coleguinhas do Colégio Barão do
Rio Branco.
Fiquei um bom tempo com
medo, não de piolhos, mas de ficar careca e pegar “melo” no corredor polonês.
Eu, hein!
Quando completei doze anos
de idade, fomos morar na Vila Paraíso (atual, Villa Pê, para os íntimos), na
Avenida Getúlio Vargas.
Quando foi interligado a
ladeira de Rua Tapajós com a Avenida Leonardo Malcher, os mais audaciosos
desciam de patins e patinetes de rolimãs do início da ladeira, numa velocidade
muito louca até a subida da Leonardo.
Lembro do “Kaverna”, ele
descia de patins de cabeça para baixo, pois era o melhor esqueitista de Manaus.
Era nosso ídolo.
Fui “na corda”, pois a
galera falava que somente quem “era macho” tinha coragem de descer lá de cima.
Não deu outra: desci de
patins e ainda dei uma embalada com os pés para pegar mais impulso, quando
estava no meio da ladeira, uns maus elementos jogaram vários tijolos ao mesmo
tempo, fiquei desiquilibrado e o patins foi para um lado e desci com a cara no
chão por vários metros.
Fiquei em carne viva, desde
a testa até o dedão do pé. Meu Deus! Um vizinho, gente boa, levou-me até o meu
barraco.
Era um domingo e os meus
pais estavam em casa.
A primeira coisa que fizeram
foi dar-me uma peia, pois como era de costume “na rua aprontou, certo ou
errado, em casa, o pau, levou!”
Depois, fui direto ao
banheiro. Ai, ai, ai, ai. Ai!
Ao sair daquele martírio,
passei por uma sessão de “Merthiolate”, um composto químico que continha
mercúrio, com propriedades antifúngicas e antissépticas, mas que “ardia até a
alma”. Meu Deus!
Por falar em remédios
antigos, lembro do “Melhoral Infantil”, para dor de cabeça, gripes e
resfriados.
Ele era docinho, gostosinho,
mas, quando a minha mãe inventava de tomar junto com “O Chá de Alho e Limão” a
coisa toda mudava de feição. Tomava na base da “porrada”, se vomitava, repetia
“até eu engolir tudo de uma vez”. Pense.
O outro, lembro muito bem,
era o famoso “Biotônico Fontoura”, um medicamente oral que fornecia ferro e
fósforo para curar a minha anemia e, também, para a abrir a fome.
Este último, não, pois eu
comia feito uma draga.
Vocês sabiam que eu gostava
deste remédio? Sim, senhor!
Ele continha alto grau de
álcool em sua fórmula e eu ficava doidão com uma colher, imaginem duas!
Tinha, também, uma tal de
“Emulsão Scott”, um terror das criancinhas desde 1830!
Um famigerado óleo de fígado
de bacalhau.
Fedia que “só o caralho” e
dava vontade de vomitar na hora. Pegava “peia”, mas não abria a boca nem com
nojo de pitiú de bodó!
Dias desses, estava com um
grupo de amigo “da melhor idade”, quando comentamos sobre esses “remédios” de
nossa infância e o quanto aprontávamos.
Mostrei-lhes as marcas do
passado: joelhos, canelas, pés, braços e mãos todas com marcas pretas, apesar
de eu ser preto!
Foram raladuras que
detonavam a pele, a carne e iam até o osso! Ai, ai, ai, ai!
Guardo essas marcas físicas
e gosto de lembrar e escrever delas, pois são lembranças de um passado
distante.
É isso aí.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2023
PROFESSOR LÁZARO DO CURSINHO EINSTEIN DE MANAUS
Na década de setenta, um
grupo de jovens professores da rede estadual de ensino, descobriram um grande
filão na área educacional e, resolverem montar, em Manaus, um curso
preparatório para o concorridíssimo vestibular da antiga Universidade de Manaus
(UA), era o Pré-vestibular Einstein, na Rua Barroso, depois, Rua 24 de Maio,
centro, dirigido pelo Waldery Areosa, na área de Física e Matemática; o Ordival "Índio", de História e Geografia e do nosso querido Lázaro,
de Língua Portuguesa e Literatura, uma figura que tinha uma forma toda especial
de lecionar.
Os dois primeiros foram
sócios por muito tempo, formando, tempo depois, o Curso Objetivo, atual
Uninorte/Grupo Ser Educacional, uma imensa universidade de graduação e
pós-graduação, com ramificações em todo o Brasil e no exterior.
Foi aluno deles, conseguindo
ser aprovado, em 1978, no curso de Administração. depois de muitos anos depois,
voltei a estudar Direito (inconcluso), na Uninorte.
O professor Lázaro seguiu
por longo tempo a “carreira solo” , formando um bom tempo depois, o Colégio e
Pré-vestibular Camões.
Ele era muito querido pelos
seus alunos, pois apostou na descontração como uma excelente forma pedagógica
de ensinar.
A grande maioria dos
brasileiros possui uma grande dificuldade em absorver os ensinamentos da língua
portuguesa, faço parte dessa massa, mesmo assim, com um ano de aula do
professor Lázaro, consegui passar no vestibular.
Ele lecionava contando
piadas, gesticulando bastante e chamando até palavrões. A turma ia ao delírio
com as suas aulas, ela deixou de ser maçante, para tornar-se prazerosa.
Foi o responsável em colocar
muita gente na UA, pois motivava aos jovens a estudarem com mais afinco. O
sucesso imediato do cursinho foi em decorrência do seu excelente desempenho e
carisma, sem sombra de dúvidas!
Tinha um pequeno defeito de
fábrica: era um apreciador inveterado de uma “loura gelada”, aliás, de várias e
diversas, tanto que servia até para motivos de zombaria por parte dos alunos.
Passou um bom tempo
abstêmio, chegando a frequentar e presidir a irmandade dos Alcoólicos Anônimos
do Porto de Manaus.
Segundo o artista plástico
Inácio Evangelista, ele foi muito amigo do Lázaro, os dois secaram muito bar em
Manaus e, foram também irmãos do AA.
Certa vez, o Inácio me
contou uma proeza dos dois, foi mais ou menos assim: num belo sábado caliente
de Manaus, os dois amigos se encontraram no "Canto do Fuxico"
(esquina da Avenida Eduardo Ribeiro e da Rua Henrique Martins), o Inácio propôs
uma caminhada até a esquina da Rua José Clemente, chegando lá, resolveram pegar
a esquerda e pararam bem em frente ao bar da Dona Maria e do Adriano Cruz.
Resolveram tomar um guaraná
Baré, papo vem, pago vai, pediram outro guaraná, papo vem, papo vai, tomaram o
terceiro guaraná, antes de pedir o quarto, o Inácio propôs o seguinte:
- Companheiro Lázaro, está
fazendo um calor danado, que tal tomarmos somente um copo de cerveja? -
perguntou na brincadeirinha para o professor - se colar, colou!
- Companheiro Inácio, faz
logo o pedido, aproveita e pede dois maços de Hollywood e Tira-Gosto de Queijo
Bola com Salame, manda o Adriano separar uma dúzia de ampolas véu de noiva, eu
não sou homem de tomar somente uma, estou até o pescoço com a porra desse
guaraná, vamos secar o boteco, Companheiro Inácio! - respondeu na maior - quem
manda cutucar Onça com vara curta!
- Paranananam, paranananam -
Ó abre alas que eu quero passar, eu sou da lira não posso negar! Vou-me embora
para Pasárgada, lá sou amigo do rei, lá tenho a mulher que eu quero, na cama
que escolherei!
Os dois companheiros passaram
a tarde bebendo, cantando e declamando, estavam “mais felizes do que pinto no
merda”!
Depois da bebedeira, os dois
ainda foram abrir os trabalhos no AA, não deu outra, foram expulsos pelos
estivadores, embaixo de socos e pontapés.
O Lázaro fechou o Curso
Camões e foi para Boa Vista (Roraima), continua lecionando e dirigindo um
cursinho, não sei se ainda é apreciador de suco de cevada.
Parabéns ao professor e,
muito obrigado pelos seus ensinamentos.
É isso aí.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023
ESCOLA DE SAMBA DRAGÕES DO IMPÉRIO HOMENAGEIA BOSQUINHO POETA
Release
Escola se apresenta às 2h da manhã do dia 18 de fevereiro na Passarela do Samba_
Uma trajetória de superação. É assim que a história de vida do professor, administrador, empresário e escritor João Bosco Rocha, o Bosquinho Poeta, será contada na Passarela do Samba no Carnaval de Manaus, em 2023.
A homenagem será realizada pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Dragões do Império, cuja apresentação ocorre na madrugada do dia 18 de fevereiro, às 2 da manhã, pelo Grupo de Acesso A do Carnaval de Manaus.
As Alas contam a história de vida do poeta manauara, que nasceu no bairro Praça 14, em uma família de 11 irmãos. Filho de dona Matilde e do seu Aurélio, Bosquinho passou por muitas dificuldades até se tornar empresário e Poeta, mas sempre foi um sonhador.“
"Desde menino, eu contemplava as estrelas, o firmamento e ficava maravilhado com as obras divinas. E eu sempre fui um romântico, apaixonado por Roberto Carlos, que fazia versos à minha amada.
Tudo isso despertou em mim o desejo de tornar-me um escritor”, conta Bosquinho.
O Poeta também relembra o início de sua trajetória de trabalho. “Por vir de uma família numerosa, cedo tive que ir à luta para ajudar no sustento da família. Fui vendedor de jornais, de flores, office boy e, naquilo que pude, ajudei meus pais e meus irmãos”.
A escola levará 11 alas para a Avenida e as fantasias estão sendo vendidas pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Dragões do Império pelo número 92 99625-4004.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023
60 ANOS DO BAR DO ARMANDO & A BICA
Por José Rocha
Era o ano de 1963, quando o
português Armando Dias Soares (1935-2012), alugou da Prelazia do Alto Solimões, um casarão construído
no início do século vinte, situado na Rua Dez de Julho, 593, centro de Manaus,
onde foi morar com a sua esposa, a Dona Lourdes Soeiro Soares.
Na parte defronte, abriu um
pequeno negócio, conhecido naquela época como venda de “Secos & Molhados”,
tais como: conservas, azeite português, pães, jabá, bolachas, farinha, pirarucu
seco etc.
Possuía o nome de fantasia “Mercearia
Nossa Senhora de Nazaré”, uma homenagem a Maria, mãe de Jesus, pois o Armando e
sua esposa eram devotos, como a maioria dos portugueses, após uma famosa aparição
e milagre ocorridos em Portugal.
Com o passar do tempo, a
bodega começou a vender cervejas estupidamente geladas, o que lhe rendeu muita
fama na cidade, tornando um lugar muito frequentado pelos boêmios de Manaus,
forçando o Armando a transferir a sua família para outra casa na Avenida
Getúlio Vargas, pois o espaço estava pequeno para tanta gente.
O sucesso foi tão grande que
chegava a vender em torno de quatrocentas grades de cervejas por semana. Era
uma loucura, aumentando ainda mais com aquele famoso marketing do “boca-a-boca”,
inclusive, atraindo a presença dos advogados, juízes e funcionários do Tribunal
de Justiça, situado na Avenida Eduardo Ribeiro.
O Armando Soares fez uma adequação
do espaço para acomodar mais gente: afastou o balcão para dentro, onde foi
possível abrigar mais boêmios, notando que seria mais vantajoso, economicamente, parar com a venda de secos e molhados e entrar direto com a venda de cervejas,
bebidas destiladas, tira-gostos de pernil e queijo bola.
Em 1967, fui morar com a
minha família na Rua Tapajós, no Beco Paraíso, ano em que comecei a passar por
frente da mercearia. O meu saudoso pai, o luthier Rochinha era frequentador
assíduo do boteco. Certa vez, a Dona Lourdes Soeiro, falou-me:
- O
seu pai era um homem educado, bebia a sua cervejinha bem comportado e era amigo
do Armando, os dois gostavam de conversar bem baixinho, depois, pagava a sua
conta e ia embora sem perturbar ninguém, agora, você, Rochinha filho (referindo-se
ao escriba aqui) bebe e grita feito um maluco, coloca o som alto, perturbando
todo mundo, mas apesar de todos os teus defeitos eu e o Armando gostamos muito de
você!
- Merci
beaucoup – agradeci, gentilmente
- O
quê, caralho! – respondeu, babando de raiva.
Em 1987, frequentava o Bar da Sogra, da Afonso e Conceição Toscano, na esquina da Rua Huascar de Figueiredo e Avenida Joaquim Nabuco. Lembro muito bem, o Toscana mostrou-me uma Ata na qual constava o seguinte “Foi fundada no dia 17.11.87, por Celito, Afonso Toscano, Manuel e Buriti, tendo como presidente de honra o Armando, e atendendo a antigos anseios dos frequentadores do Bar Mercearia N. S. de Nazaré – popular Bar do Armando – a BICA (Banda Independente da Confraria do Armando.....
Pois bem, o Toscano pediu-me para assinar e colaborar com algumas “ampolas de cevadas” para a fundação da BICA e assim o fiz. Anos depois, tornei-me um “biqueiro”, frequentando, assiduamente, o Bar do Armando e, reconhecido pelo Anchieta, Jomar Fernandes, Manuel Batera, Deocleciano Bentes (Deco) e outros, como sendo um dos fundadores da BICA.
Juro que nem lembrava que havia assinado a Ata de Criação da Bica. Somente ao ler o livro “Bica do Armando”, do saudoso Francisco Cruz (Chicão) e do Simão Pessoa, foi possível comprovar na página 27, onde consta os nomes dos fundadores, incluído o José Rocha.
Recebi em 2003, a minha primeira “Camisa da Diretoria”, um privilégio para poucos. A última que recebi doei para o meu amigo Flávio Grillo Filho, presidente atual do Luso Sportig Club.
Em 2006, o BLOGDOROCHA nasceu dentro do Bar do Armando, ano em que fui motivado pelo "biqueiro" Rogélio Casado, a escrever num diário eletrônico, hoje, fora de moda, mas continuo escrevendo, inclusive este texto é em homenagem ao Armando, seu bar e a BICA, onde tudo começou. Gracias.
Uma das melhores homenagens ao Armando e ao seu famoso bar, foi quando no aniversário de 500 anos do descobrimento do Brasil (22 de abril de 2000), o GRES Reino Unido da Liberdade, fez uma homenagem ao Armando Soares e a BICA, com o tema “Armando Brasileiro”.
“Meu Reino/Soletrando seus versos/De braços abertos/Vejo o céu beijando o mar/Vento forte, navegando rumo à sorte/Terra à vista, enfim aportei/Pau-brasil teu nome reluz/Ilha de Vera Cruz/Um solo que espelha riquezas/Atraía a Coroa em Portugal/Girar, girei/No giro da Coroa me encantei/Minha escola é soberana/Sem igual/Quando o tema é carnaval/Pra festejar 500 anos/Nesta terra, portugueses dão as mãos/ Sou história, costumes e tradições/É o carnaval de rua/Bota a BICA pra zoar/Celestiou em teu olhar/Com Graça e louvação/Sou do Morro, sou boêmio/Salve São Sebastião.
Eu e o meu irmão Rocha Filho, fomos até o Sambódromo de Manaus. Ficamos na concentração para ouvir o “esquenta” da Bateria Furiosa da Reino Unido da Liberdade. Foi muito emocionante.
Neste ano, a Reino foi campeã e, a partir de então, virei a casaca
“Sou Reino Unido da Liberdade Até Morrer”. Olha já, mermão!
O chão de ladrilhos brancos e pretos faz parte do Bar do Armando. Alguns bares tradicionais de Manaus possuem o chão bem trabalhado pelos antigos donos, porém este é dos mais bonitos e enigmáticos. Não sou maçom, mas este chão é o igualzinho ao utilizado por eles dentro do templo maçônico.
É o “Piso Mosaico”, simbolizando que ele deve ser pisado por qualquer pessoa, independentemente da sua raça, credo ou filiação. Por ter duas cores, preto e branco, formando quadrados perfeitos, simboliza a harmonia que deve reinar ente os irmãos, o sair da noite para o dia, das trevas para a luz.
Em homenagem ao chão e aos sessenta anos do Bar do Armando, em noite de inspiração, faço a seguinte canção:
POR ESTE CHÃO
Por
este chão,
pisaram gente famosa, bacana,
pobre
e peão.
Por este chão,
muita gente derramou cerveja, quebrou copos
e
chamou palavrão.
Por este chão,
foi festejado velhos carnavais, aniversários,
futebol
e muita “bebemoração”.
Por este chão,
muitos cantaram, brigaram
e
choraram de emoção.
Por este chão,
muitos beberam e dançaram
muito
samba canção.
Por este chão,
muitos comemoraram 60 anos
de
tradição.
Por este chão,
fincou bandeira o Bar do Armando,
0 Bar do nosso coração
Por este chão...
No dia 10 de abril de 2012, os “biqueiros” ficaram órfãos, um dia triste que marcou a passagem do Armando Dias Soares, para o plano superior. Para muitos, incluindo o escriba aqui, acabou a magia e a graça do bar.
Continuei
a frequentar o Bar do Armando, participando de todos os eventos cultuais e etílicos,
além de ajudar a BICA nas apresentações até antes da Pandemia, quando aconteceu
a minha última apresentação. Valeu! Foi bom demais!
A BICA
se profissionalizou, agora é a vez dos mais jovens. O primeiro apresentador foi
o Manoel Batera, depois, peguei o microfone e mandei ver, agora, passo o bastão
para os profissionais. A vida é assim, sempre renovando!
Em
2023, o Bar do Armando faz 60 anos. Que Bom! E a BICA faz, no sábado magro de
carnaval, uma justa homenagem a fundação do Bar do Armando, com o “Sessenta na
Bica”.
Existe
uma Marchinha Oficial, composta pelo Rui Machado, Edu do Banjo e Davi Almeida,
com a voz da afinadíssima Márcia Siqueira. Muito legal.
É
mais ou menos assim:
“O Bar do Armando faz 60 anos
E a gente comemora na Bica Sessenta,
Sessenta, na Bica Sessenta sem reclamar.
Não venha, pois, pois, com mimimi
Que é aqui que você vai sessentar”
A minha homenagem ao Bar do Armando é a seguinte:
SÓ NÃO VAI QUEM JÁ MORREU
É FESTA DE SANTO, BOÊMIO
E ATEU
O BAR DO ARMANDO É PATRIMONIO
CULTURAL IMATERIAL
E A BICA COM EMOÇÃO
VAI MOSTRAR NO CARNAVAL
BOTA A BICA
PRA ZOOAR
CELESTIOU
EM TEU OLHAR
BAR DO ARMANDO
60 ANOS DE TRADIÇÃO
NÃO É PARA
QUALQUER
BOTECO, NÃO
SOU DO BAR DO ARMANDO
SOU SESSENTÃO
SOU BOÊMIO E ATEU
SOU DE SÃO SEBASTIÃO
Tantas coisas acontecem e acontecerão neste reduto boêmio, temas de milhares de reportagens e dissertações, muitas histórias e estórias e causos, que daqui a cem anos, algumas pessoas do futuro, irão postar nas mídias sociais como eram os bares tradicionais de Manaus e os carnavais de rua do final do século vinte e do inicio do vinte um.
Num futuro próximo, as mídias sociais publicarão, com certeza, noticias históricas, fotos e muito mais sobre o Bar do Armando e a BICA.
Aparecerão, no futuro, tudo isto, pois o Armando, seu Bar e a Bica fazem e farao parte da história de Manaus.
É
isso aí.
Fografias:
"A fotografia é mais do que um registro. É um bem precioso relacionado a um fato histórico. É um momento da vida que tem um significado naquele instante, mas fica para a posteridade"
terça-feira, 7 de fevereiro de 2023
LEMBRANÇAS DE UMA PASSADO DISTANTE - PARTE IV
Por José Rocha
Saindo da pré-adolescência,
resolvi conhecer e descobrir outros lugares, pois apesar de ficarem próximos a
minha casa, eram distantes em meus pensamentos, lugares nunca vistos e cada vez
que me afastava, mais tinha medo e ao mesmo tempo vontade de explorar, conhecer
e viver a minha cidade.
Nada conhecia além dos limites do Instituto de Educação do Amazonas, o famoso IEA.
Era “a boca da noite” quando resolvi
caminhar rumo ao desconhecido, tinha medo, mas a vontade de seguir em frente
era maior e tudo superava. Ao chegar na esquina da Avenida Ramos Ferreira com a
Ferreira Pena, deparei-me com uma imensa praça, foi amor à primeira vista.
Observei, atentamente, uma piscina retangular, com luzes multicoloridas, e ao seu meio, um imenso chafariz, jorrando muita água e luzes sincronizadas. Ao lado direito, tinha um homem primitivo, em bronze ou ferro, com uma machadinha e, no lado esquerdo, acho que era um atleta, com uma mão indicando para o espaço e outra com a bola na mão.
Na realidade, eu não sabia o
que aquilo significava, era uma obra de arte (estão, hoje, na praça interna do
Museu de Manaus). O que mais me encantava era a piscina cheia, motivação para
dar um pulo dentro d´água, e assim o fiz, era refrescante e notei que outros
moleques estavam tomando banho, também. Tudo bem, apenas não esperava ser
surpreendido por um vigia que me colocou para correr.
Moleque é atrevido e não
pensa nas consequências de seus atos. Por ter sido um ribeirinho que tomava
banho de igarapé na infância, não dispensava um pulo dentro de uma piscina,
mesmo de uma praça e correndo o risco de ser repreendido na base do tapa pelos
seguranças.
Aquilo era um misto de prazer,
adrenalina e medo: pulava na piscina, ficava tirando onda no traseiro da estátua do atleta e voltava rapidamente, sendo perseguido
por um segurança que chamava todos os tipos de palavrões e doidinho para me alcançar
e meter-me a porrada, no entanto, nunca chegou a tanto, pois eu tinha “sebo na
canela” e corria feito um louco em direção à Rua Tapajós. Todos os finais de
semana era assim.
Os mais velhos falaram que
existia uma imensa piscina e outra para criança num clube dos grã-finos, fiquei
louco para conhecer, pois estava com o “saco cheio” de ser perturbado pelo
segurança da Praça da Saudade.
Era bem fácil, bastava subir
num pé de uma árvore que ficava ao lado de um banheiro pela Ramos Ferreira,
pular o muro e cair na piscina junto com os bacanas. Pense num “furão”.
Nadar era comigo mesmo, pois
aprendi desde curumim a dar umas braçadas, uma forma de sobrevivência de um ribeirinho
que morava dentro de um flutuante.
Ficava observando a molecada
pulando de um trampolim baixo e os atletas do mais alto, onde davam impulso e
pulavam de cabeça dentro da piscina. Era coisa para poucos, mas o camaradinha aqui
resolveu pular lá de cima. Pense numa audácia do caboco.
Cai de barriga dentro d´água.
Além da dor “morri de vergonha”, resolvendo ir embora e nunca mais voltar, pois
aquilo não era meu lugar. Voltei a frequentar a Piscina do Parque Dez, aos
domingos, na companhia de meu pai e irmãos.
Os anos se passaram e tive a
oportunidade de entrar num avião modelo DC-3, colocado na praça pelo prefeito
Jorge Teixeira, em 1977. para imitar os cariocas que colocaram um igual no Aterro do Flamengo, em 1970. Em 1984, mesmo sob protestos, o pior prefeito de todos os tempos, o Amazonino Mendes, mandou
destruí-lo e vendeu “a preço de banana” para os sucateiros.
Presenciei, também, a
demolição de um prédio que fora construído dentro da praça (Gilberto Mestrinho,
1962), era uma aberração, mas por solicitação do então senador Jefferson Péres,
em 2007, foi ao chão, possibilitando aparecer a fachada do imponente Atlético
Rio Negro Clube.
Namorei na praça, curtir os
shows musicais, festivais de peixes, feiras hippies, parquinho de diversões e
muito mais. Depois de velho, voltei a frequentar a Praça 5 de Novembro (Praça
da Saudade), pós revitalizada, para fazer caminhadas e admirar aquele lugar que
fez parte de minha adolescência e vida adulta.
Depois de longo e tenebroso
inverno, voltei no ano passado ao Parque Aquático do Rio Negro Clube, para
curtir a apresentação da minha “Marujada de Guerra do Boi Caprichoso”, onde fiquei
a lembrar dos tempos bons de minha adolescência. Nunca entrei no Salão dos
Espelhos, quem sabe um dia, né? Uma coisa é certa: ainda vou dar uns pulos na piscina do clube para matar a saudade.
É uma viagem no tempo, com essas
lembranças de uma passando distante.
É isso aí.
Fotos:
Modificada José Rocha
Jornal, 1960, IDD
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
PRÉDIO DA CASA N.S. DA DIVINA PROVIDÊNCIA - TEATRO JUVENIL
Fica na esquina da Avenida Ramos Ferreira, com Rua Tapajós e Travessa Frei Lourenço, pertencente a Ordem dos Frades Capuchinhos (Irmandade de São Sebastião), após o término das atividades teatrais passou a abrigar diversos outros empreendimentos, acolhendo, atualmente, a Universidade Paulista – UNIP.
A Praça Antônio Bittencourt
(Praça do Congresso) era um descampado que vinha até a Rua Tapajós, com o
decorrer do tempo, os frades capuchinos ficaram com uma parte que era conhecida
como Travessa do Congresso, depois, foi mudado o nome para Travessa Frei
Lourenço.
Neste local, construíram o prédio a Casa N. S. da Divina Providência, constituído de um Colégio e do Teatro Juvenil, vide abaixo uma fotografia aérea.
O Catecismo da Igreja Católica define a Divina Providência como as disposições pelas quais Deus conduz a Sua criação em ordem a essa perfeição: “Deus guarda e governa, pela Sua providência, tudo quanto criou, atingindo com força, de um extremo ao outro, e dispondo tudo suavemente. O termo Providência está ligado diretamente às ações de Deus para com a humanidade. Significa que Deus nunca nos abandona e sempre cuida de nós, providenciando tudo o que é necessário para nossa vida, usando de meios que não conseguimos nem imaginar.”
O prédio foi construído na
década de 50, como um "teatro de palco italiano", supervisionado pelos padres capuchinhos da Igreja
de São Sebastião, com dinheiro público da SPEVEA (depois SUDAM), funcionando
durante os anos 50 e início dos anos 60, formando toda uma geração de atores e
gente de teatro e literatura.
Segundo a Revista Casa D´Itália "Diferentemente dos palcos de arena, por exemplo, o palco
italiano era um espaço retangular, delimitado por três paredes fechadas
(duas laterais e uma de fundos) e uma parede vazada que se abria ao público
através de uma arcada denominada boca de cena" (vide foto abaixo).
Dentro dele funcionava o
Teatro Juvenil, onde passou o Américo Alvarez “O Vovô Branco”, professor Edney Azancoth, José Azevedo, e tantos outros.
Funcionou nos anos cinquenta e sessenta para a apresentação do programa “Tarde Alegre, aos sábados. comandado pelo radialista, diretor e ator Alfredo Fernandes (escreveu: Lágrimas de Brinquedo/Dois Anjinhos de Castigo/Um brinquedo atrás da porta). Depois, passou para os domingos, com "Manhã Alegre e, também, com "Noite Alegre".
O local era utilizado,
também, para solenidades de formaturas, exibição de películas cinematográficas, reuniões, confraternizações etc.
Tive o privilégio de estudar
no Colégio da Divina Providência, depois, participei de reuniões de jovens
católicos, conhecida como “Juventude Franciscana – JUFRA”.
Naquela época, o teatro já
estava abandonado, onde tive a oportunidade de diversas vezes andar pelo palco
e o camarim, além de mexer nas teclas de um velho piano.
Jogava bola com a moleca da
Rua Tapajós e entorno, numa quadra polivalente que ficava ao lado do teatro,
além de assistir aos programas de calouros e artistas nas tardes de sábados (comandado pelo Titio Barbosa), assistia, também, um show chamado "Confusão na Taba", do Clodoaldo Guerra.
No dia 31 de maio de 1981,
foi publicado no Jornal do Comercio, uma moção de protesto pela FITAM – Federação
Independente de Teatro do Amazonas, contra a utilização do Teatro da Divina
Providência para outros fins, que não seja os teatrais.
Era contra a utilização
daquele espaço para práticas de “Roller-Skates” (Patins de Rodas), responsabilizando
a Ordem dos Capuchinhos e o Arcebispado que deixaram levar pelo pecado da Usura.
O Play Center possuía uma super
lanchonete, sofisticada pista de patinação, jogos eletrônicos, restaurante e
Adega Don Paco.
Ficou abandonado por um bom
tempo, servindo, depois, como depósito de uma firma de geladeiras e outros
eletrodomésticos.
Serviu para o “Colégio Einstein”,
depois, “Faculdade Uninorte”, passando um tempo fechado e foi alugado para a
Faculdade UNIP, que está até os dias atuais, englobando, também, o antigo
Colégio da Divina Providência.
Durante longos anos a Dona
Maria (Dona Branca) serviu os seus tacacás bem em frente ao prédio, uma
tradição que até hoje permanece com os seus filhos e netos.
Na fotografia abaixo, clicada por mim, no dia quatro de fevereiro de 2023, aparece o prédio, na atualidade, e, ao fundo, o Luso Sporting Club e o CAUA, da UFAM, ao lado esquerdo está o Zigomar Madeira, morador antigo da Rua Tapajós, uma pessoa que conhece profundamente todas as transformações por que passou o Teatro da Divina Providência.
Atualmente, está todo
descaracterizado, todas as janelas e portas estão fechadas e quem não conhece a
sua história jamais imaginará que ali fora um dia um teatro.
Na minha humilde opinião, o governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa - SEC, possui recursos financeiros e poder para comprar ou alugar o prédio e, ressurgir das cinzas, o Teatro da Divina Providência e entregá-lo para supervisão e manutenção por parte da FETAM - Federação de Teatro do Amazonas, pois àquele prédio fora construído para ser, eternamente, um TEATRO!
É mano velho, este prédio
possuí muitas histórias e faz parte de toda uma geração de manauaras,
principalmente, dos colegas e amigos da Rua Tapajós, Vila Paraíso e
adjacências.
É isso aí.
Fotos:
Manaus Antiga
Moacir Andrade
Revista Casa D´Itália
José Rocha
Fontes:
Jornal do Commercio
Jornal A Notícia
BLOGDOROCHA