sábado, 30 de abril de 2016

O SIGNIFICADO DE MOCÓ



O meu amigo Carbajal Gomes, administrador do Bar Caldeira, centro antigo de Manaus, perguntou-me sobre o significado de Mocó, pois estava desejoso em saber porque colocaram o nome de um reservatório de águas de “Reservatório do Mocó”, uma edificação centenária, construído pelo governador Eduardo Ribeiro.

Prometi pesquisar e publicar na minha página do Facebook e do BLOGDOROCHA.


A palavra Mocó é de origem tupi significado “bicho que rói” – o bichinho Mocó é sem cauda, de pelagem cinzenta, um pouco maior do que o Preá – ele é muito usado como alimento no Nordeste.

O poeta e escritor Simao Pessoa, em seus escritos, gosta de chamar a sua casa de “Mocó” – pois esse termo é utilizado na gíria como esconderijo, local secreto para guardar algo – muitos falam “mocozar”, referindo-se ao ato de esconder desses pequenos mamíferos.

Alguns historiadores amazonenses escreveram que, naquele local existia um pequeno igarapé, conhecido como “Igarapé do Mocó”, onde o presidente da província José Lustosa da Cunha Paranaguá (1882-1884) toma as primeiras medidas para a captação de água para a cidade de Manaus.

O igarapé foi aterrado e, em 1897, o local ficou conhecido como “Bairro do Mocó” – o reservatório de águas foi iniciado no governo do Eduardo Ribeiro (1890-1896) e inaugurado em 23 de setembro de 1899 (um ano antes da morte do governador) – em decorrência disso, foi chamado de “Reservatório do Mocó”.

O animalzinho Mocó é muito encontrado em áreas pedregosas do Piauí até Minas Gerais – ele também é domesticável, em decorrência disso, pode ser que tenha sido trazido para Manaus, habitando a Vila Municipal, dando nome ao Igarapé do Mocó ao Bairro do Mocó e ao Reservatório do Mocó.

É isso ai.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

JUAN, O ARGENTINO-PERUANO.


Na década de oitenta conheci o Juan, um cara folclórico que se considerava um legítimo argentino, porém, somente era chamado pelos manauaras do centro da cidade por “Peruano”, servindo de zombaria por todos, em decorrência de “pegar corda” e responder com palavrões, provocando risos por onde passava.

Eu e os meus irmãos Rocha Filho e Henrique Martins gostávamos de reencontrar, nos finais de semana, com os nossos colegas de infância e dos novos moradores da Rua Igarapé de Manaus – o local era o Bar do Amadeu (depois Bar da Sogra), um casario antigo que ficava na esquina da Rua Huascar de Figueiredo com a Avenida Joaquim Nabuco.

Por lá conheci o Juan, um corretor de imóveis que servia de “bobo da corte” para todos que frequentavam aquele lugar, pois o tempo todo a turma se dirigia a ele e, na gozação, falavam:

- Fala, Peruano!

Ele entornava um copo de cerveja, levantava os óculos, respirava fundo e soltava o verbo, babando de raiva:

- Soy argentino, da Tierra Del Fuego! Peruano é a puta que los pariu!

Dizem que ele veio morar no Brasil ainda muito jovem, no entanto, nunca deixou de falar o “portunhol”, o que sempre serviu para os manauaras chamá-lo de peruano, pois todo e qualquer cidadão, independentemente do país de origem (do idioma castelhano) é assim conhecido.

O Juan sempre gostou de falar mal do Brasil, da nossa cidade e dos manauaras – reclamava de tudo e de todos:

- Essa ciudad es una merda, muy caliente, escrota e nada presta!

Ai o pessoal mandava bala:

- Volta pra tua terra, peruano fodido!

- Peruano es el caralho! Soy argentino, porra! – respondendo na bucha

Todos riam da resposta do Juan – ninguém esquentava com ele, na realidade, era provocado a todo instante, pois a galera queria mesmo era tirar onda com o pretenso argentino.

Apesar de tudo, ele era nosso amigo de copo - jogávamos “porrinha” (um jogo de azar, de palitos de fósforo), sempre valendo cerveja – ríamos juntos das brincadeiras e das provocações.

Num certo sábado, o Juan convidou a turma para saborear um peixe frito em sua casa – ele morava numa vila situada na Rua Igarapé de Manaus (próximo a Rua Lauro Cavalcante) – seria tudo por sua conta, acho que era o aniversário dele.

Um amigo nosso, o baixinho Neno, avisou a todos:

- Cara, sou vizinho do Juan, a mulher dele é braba no balde, ela veio lá de Maués, uma legítima índia saterê-mauê – bate no Juan toda vez que ele chega bêbado em casa! Tô fora, mermão!

Mesmo sendo avisada, a galera foi em peso à casa do Juan - chegando lá, a mulher apareceu à porta vestida de um camisão, bobe na cabeça e uma vassoura na mão – o Juan foi o primeiro a apanhar, dispersando o resto da cabocada na base da vassourada- esse fato serviu de gozação por um tempão.

Na última Copa do Mundo de Futebol fui até a Rua Santa Isabel, no bairro da Praça XIV, para tirar algumas fotografias, pois aquela rua é uma das mais animadas, premiadas e enfeitadas de Manaus.

Para minha surpresa, encontrei o Juan por lá – ele disse que tinha comprado uma casa e morava fazia alguns anos naquele local, mas estava a fim de vendê-la, pois em toda copa de mundo a rua virava um inferno e todos gostavam de encher o seu saco.

Falei-lhe:

- Poxa, camarada (deu vontade de chamá-lo de peruano, mas mordi a minha língua), aqui tudo é festa, a rua fica bonita, com animação total entre os vizinhos!

Ele respondeu:

- Porra nenhuma, Roxita! Fica una multidão aqui em frente de mi casa, quando apareço na janela, todos gritam “peruano, peruano, peruano” – entonces digo “soy argentino, de Tierra Del Fuego, caralho” – ai eles respondem “é tudo a mesma mierda” - tengo que llevar todo esto até a copa acabar!

Faz alguns meses entrei numa “LanHouse” que fica bem frente ao “Shopping Popular dos Remédios”. Sabe quem eu encontrei por lá? É isso mesmo, o argentino-peruano Juan! Ele falou que gostava daquele lugar, pois podia tomar grátis una água geladinha, um cafezito ou um chazinho de erva-doce, além de ficar no ar condicionado e fazer contatos com seus clientes pela internet.

Antes de terminar a nossa conversa, entrou um senhor de paletó e gravata, parecendo um advogado, o cara quando avistou o Juan foi logo dizendo com a sua voz possante:

- Fala, Peruano!

O Juan levantou os óculos, respirou fundo e soltou o verbo, babando de raiva:

- Soy argentino, de Tierra Del Fuego! Peruano é a puta que los pariu!

O advogado, o dono do estabelecimento, as funcionárias, eu e o próprio Juan e todos que estavam no local demos uma gargalhada geral! Continuava tudo igual como antigamente!

O argentino-peruano Juan pode ser encontrado todo santo dia naquela lan house e na Praça da Polícia – ele gosta de parar nas esquinas das ruas para papear – a cada instante passa uma pessoa e grita:

- Fala, Peruano!


A resposta vocês já sabem qual é, né?! É isso ai. 

sábado, 23 de abril de 2016

FIGURAS DOS CINEMAS DE MANAUS


Como tive o privilégio de viver a cidade de Manaus quando terminava no Boulevard Álvaro Maia e, por gostar do passado da minha cidade, irei escrever, de uma forma bem resumida, sobre algumas pessoas ou lugares daquele tempo bom, com o tema figuras dos cinemas.

Dona Yayá

Dona era um termo muito utilizado para substituir “Senhora” e, Yayá, um tratamento dado na época da escravidão para as meninas e moças.

A Dona Yayá era uma “senhora moça”, ou seja, uma mulher não muito jovem que gostavam de usar maquiagem em excesso para parecer mais nova. Na realidade, essa senhora foi uma guerreira, esposa de um empresário do ramo de salas de exibição cinematográficas, em Manaus, na qual permanecia em todas as sessões, sem exceção, fizesse sol ou chuva,na entrada do Cinema Avenida (atual Lojas Bemol), na Avenida Eduardo Ribeiro.

Ficava sentada em uma poltrona de palinha,no hall de entrada e, na maioria das vezes, encostada num gradil próximo a catraca, observando a tudo e a todos– vez e outra tentava seduzir um transeunte a assistir uma película cinematográfica:

- Entre, o filme é ótimo! É colorido!

O que mais chamava a atenção de todos era a sua indumentária, um tanto extravagante para a época e, com o seu perfume francês e a sua postura de madama da alta sociedade - sempre estava com um abano em suas mãos e, pela utilização, em excesso, de maquiagem, abusando no batom e ruge na cor arroxeada, cabelos pretos longos, com os cílios pintados e as sobrancelhas bem fininhas.

Na minha adolescência, dificilmente entrava no Cine Avenida, mas, passava por lá todos os domingos à tarde, pois gostava de perambular pela enigmática e bonita Avenida Eduardo Ribeiro – parava por uns instantes para admirar os cartazes dos filmes e, ficava olhando para aquela senhora extravagante, parecida com a Mortícia, personagem da “Família Addams” – sem imaginar que um dia, quase meio século depois, iria escrever sobre ela e aquele ambiente maravilhoso.

Peixeiro do Juizado de Menores

Ele ficava na portaria dos cinemas Guarany e Polythema, vestido impecavelmente com camisa comprida, calça na goma, cinturão e sapatos brancos, chapéu tipo Panamá, além de um colete preto com letras garrafais escrito nas costas “JUIZADO DE MENORES” – não permitindo a entrada de menores para assistirem a filmes proibidos para a sua idade.

Fora esse nobre trabalho vespertino e noturno, passava todas as manhãs pela Rua Igarapé de Manaus e adjacências com um tabuleiro de peixes na cabeça, exercendo um brioso “bico”, chamando a atenção com o seu estrondoso grito:

- Peeeiiixeeeiiirrro!Tenho Tambaqui, Sardinha e Pacu na baaabbbaaa!

Ele era um senhor da cor branca, careca, estatura mediana e bastante forte - não me lembro do seu nome, acho porque a molecada, incluindo o escriba aqui –não gostava nem um pouco dele, pois tratava a todos com muita grosseria na entrada dos cinemas.

Ele detestava ser chamado de “Peixeiro” quando estava exercendo a sua autoridade de censor, pois se achava o máximo do judiciário – era exatamente o momento de dar o troco no cabocão - que adorava barrar os menores, sedentos em assistir a cenas mais picantes.
Tomavam certa distância e, gritavam:
 - Peeeiiixeeeiiirrro! – acompanhado de um palavrão. 

O cara ficava babando de raiva, respondendo com outro palavrão, saindo em disparada atrás da molecada, sem chance de pegar algum!

Faz alguns anos avistei um cara parecido com o “Peixeiro do Juizado de Menores” dentro de um ônibus – estava com a mesma roupa branca e um colete do juizado de menores -juro que viajei no tempo pretérito e, deu uma vontade danada de gritar:

- Peeeiiixeeeiiirrro!

Fiquei apenas rindo e lembrando aqueles tempos bons!

O Lanterninha Farias

Quando iniciava uma sessão de cinema, o interior ficava numa escuridão total, entrando em ação o Farias, o Lanternina do Cine Guarany – ajudando assentar as pessoas que chegavam atrasadas, pois com a sua lanterninha sabia perfeitamente onde existiam cadeiras vazias.

Ele era um cara que tinha uma grande cabeleira, tirando a todo instante do bolso um pente da marca “Flamengo” para penteá-la – usava sempre um enorme óculo de sol, acho que se inspirava em algum ator de cinema das antigas – além de ter um vozeirão daqueles e falava pelos cotovelos – parecia com aquele comediante famoso, o “Zé Bonitinho”.

Tinha também outras funções, como apaziguador de brigas e insultos entre a molecada, principalmente dos “maus elementos” que ficavam num mezanino conhecido como “Poleiro”, pois gostavam de jogar tudo o que tivesse em suas mãos no pessoal que ficava embaixo, alguns deles até cuspiam na maior – quando eram pegos pelo bedel Farias, eram expulsos do cinema.

O cinema era frequentado por um grupo especial formado pelo Jeremias, Mococa e outros rapazes alegres, que davam em cima da molecada – o Farias sempre ficava de olho nessa turma que aproveitava a escuridão para alisar os marmanjos e praticarem “otras cositas más”.
Muitos anos depois (bote anos nisso), reencontrei o Lanterninha Farias, no Bar Caldeira e no Bar Mangueira (centro antigo de Manaus, pois ele morava por aquelas mediações) – conversamos muito sobre o nosso saudoso Cine Guarany, lembrando e sorrindo dos velhos e bons tempos que não voltarão jamais!
Certa vez, ele me presenteou com algumas revistas de pescaria – fiquei surpreso em saber que, além do cinema, o camarada adorava também fisgar uns peixes nos nossos Rios Negros e Solimões!
Ele não gostava de senta-se em uma cadeira principal de uma grande mesa que fica, até hoje, no Bar Caldeira, pois, segundo a tradição, todo aquele que ali se abanca por um bom tempo, falecerá precocemente.
Pois bem, o Farias resolveu fugir daquele agouro e, doravante, passou uma temporada enchendo “a cara” debaixo de uma árvore frondosa, no Bar Mangueira - por lá ficou, bebeu,chorou e contou muitas histórias do seu amado Cine Guarany, falecendo ano retrasado!

Jaú Mão Boba

O Jaú era um deficiente visual que pedia esmolas no Cine Guarany – era um senhor bem moreno, com os cabelos brancos, usava uma bengala de madeira e ficava com duas moedas antigas (patacas) na mão direita, fazendo barulho para chamar atenção das pessoas.

Antes de começar um filme no Cine Guarany, fazia uma grande fila para a compra de ingressos na bilheteria – era o momento certo para o Jaú pedir de um a um a sua esmolinha:

- Uma esmola para o ceguinho, uma esmolinha, por favor!

Quando era um macho, o Jaú mantinha certa distância, porém, quando era uma fêmea, ele chegava bem pertinho, tocando às vezes nos seus seios ou no traseiro, sendo sempre repelido por elas, com um empurrão e alguns palavrões – ele se defendia, pedindo desculpas e falava que era cego.

Todos ficavam na dúvida se o cara era realmente um cego, pois se desviava perfeitamente dos machos e, sempre se esbarrava, maliciosamente, nas mulheres.

Eu nunca tinha uma moeda para dar-lhe de esmola, pois o meu dinheirinho era sempre certinho para o ingresso ao cinema e, para a merenda na saída, de uma sanduíche de cachorro quente e um copo de suco de maracujá ou de caju.

Enquanto estava na fila, ficava a observar o comportamento daquele senhor estranho que, no futuro, ousaria em escrever um pouquinho a seu respeito!

Com o tempo, os cinemas do centro fecharam, deixando apenas no cantinho da minha memória a figura da “Dona Yayá”, do “Peixeiro do Juizado de Menores”, do “O Lanterninha Farias” e do “Jaú Mão Boba”.

É isso ai.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

SECOS & MOLHADOS

O CAOS DA POLÍTICA

No meu Estado do Amazonas alguns Prefeitos estão presos e outros poderão sê-lo por corrupção e outros crimes - o Governador e seu vice foram cassados pelo TRE-AM, por abuso de poder, mas continuam no poder. Em Brasília, a Presidenta não esta governando, podendo ate perder o cargo brevemente - o Vice-presidente se comporta como já fosse o Presidente, porem pode cair também por decisão do STF. Os Presidentes do Senado Federal e da Câmara Federal são citados em vários casos de recebimentos milionários de propinas e não são julgados pelo STF. São quase cinqüenta parlamentares federais citados na Operação Lava Jato (incluindo alguns Senadores) podendo chegar a trezentos com as novas delações em curso! Os membros da corte do STF estão sendo imparciais e desacreditados por parte da população! Os vermelhos estão sendo incitados a baixar o pau em coxinhas, caso percam o poder, por outro lado, os verdes oliva estão caladinhos e arredios em seus quartéis! E o povo brasileiro sofrendo e assistindo a tudo isso pela televisão!

A PRESSA DO ZOIDE

O Direito a Vida esta elencado no art. quinto da nossa Carta Magna, sob dois prismas, sendo um biológico, traduzido no direito a saúde, na vedação de pena de morte, na proibição do aborto, dentre outros e, no segundo, com um sentido mais amplo, traduzido no direito material e espiritual mínimo e necessário a uma existência condigna (proporcional ao valor) a existência humana.
Depois dessa introdução, um tanto acadêmica, vamos ao que interessa, com uma piadinha, para não fugir a regra:
No interior dos ovos (ou bagos) de um cabocão de Manaus, morava um espermatozóide, conhecido pelos seus pares pela alcunha de Zoide, um deficiente físico, por ter nascido sem a sua calda, uma nadadeira, fundamental, para vencer a todos e conseguir fecundar a Dona Ovoide.
O cara era bom de papo, um idealista por natureza, pois apesar das suas mínimas chances, o safado do Zoide tinha um sonho de um dia fecundar um ovulo e, contribuir para o nascimento de um curumim manauara.
Pois bem, conseguiu convencer aos seus pares, em torno de cinco milhões de espermatozóides (eu queria saber quem foi o cientista que contou) que seria o cara certo e único a entrar na única abertura "a perseguida" da Ovoide (a famosa foda nuclear) e, nessa união, transformar-se-iam em zigoto (a célula-ovo, a fase inicial do ser humano).
Numa certa manha duma sexta-feira, o patrão acordou com o famoso "Tesão do Mijo" e a patroa estava num bode daqueles! 
Houve um abalo geral: interno e externo, deixando em alerta geral o Zoide e os seus milhões de seguidores.
O lance foi o seguinte: todos entraram no papo fuleiro do Zoide e, resolveram fazer uma "barreira humana", empurrando o fodido para pegar "de primeira" a virginíssima Ovoide, mesmo que significasse a morte de todos eles!
Os batimentos cardíacos aumentaram com a respiração ofegante e os gemidos explícitos - prenúncios de uma gozada total - o batalhão ficou a postos - colocaram o Zoide "na cara do gol" - quando o líder gritou:
- Atenção, soldados! O homem la de cima esta prestes a gozar! Façam uma barreira e deixe o Zoide à frente do batalhão - vamos empurrá-lo até a "boca do macaco", deixando o nosso escolhido detonar a fêmea; numa boa! A prioridade total e exclusiva é para o Zoide, apesar de ser um deficiente físico, foi escolhido em assembléia geral nessa fodelancia toda!
Dito e feito: milhões de espermatozóides empurraram o Zoide para o destino final: a fecundação da Ovoide!
Segundos depois, ouviram o Zoide, desesperado, gritando:
- Parem, parem de me empurrar! Eeee pppuuunnnhhheeetttaaa!
O Zoide, o idealista e, mais cinco milhões de seguidores, morreram na mão!
Moral da Historia?
Fica a cargo de cada um dos senhores! 

PARA RELAXAR

Isso tudo é golpe ou não é?
Você é a favor ou contra o impedimento?
Sim, Sim; Não, Não
Não Sou a Favor Nem Contra, Muito Pelo Contrário!
Também não concordo, nem discordo, muito pelo contrário!
Na verdade, sim, mas sinceramente, não.
Concordo plenamente com quem discorda que em minha opinião está em cima do muro.
Sabe de uma coisa, não estou nem ai, vou abrir uma cerveja de litrão
e assistir tudo pela televisão.
Eu, hein!

SE GRITAR PEGA LADRÃO!

Escrevo sempre com um pouco de irreverência e gozação e, por meio das minhas brincadeiras, digo o que penso da realidade política dos nossos pais. Lembro-me de tempos atrás quando falávamos que somente "ladrão de galinha" ia preso e que os criminosos de "colarinho branco" ficavam rindo da nossa cara e curtindo a vida numa boa, isso esta mudando, pois nunca na historia desse país, vi tanta gente graúda presa - falta construir (sem fraudar a licitação) uma cadeia para abrigar somente políticos, empresários e outros bacanas corruptos. Se gritar pega ladra, não fica um, mermao!

RENOVAÇÃO TOTAL NA POLÍTICA

Eu sei que é impossível, mas prego a renovação total dos quadros políticos brasileiro, com a saída de cena dos velhos caciques, os profissionais (aqueles que começam vereadores e chegam ate Senador e Ministro). Saiam os pastores (as) e padres (que voltem a pregar em suas igrejas), professores (voltem a lecionar), apresentadores de programas de fuleiragem (vixe, vixe), médicos (tanta gente morrendo e essas caras na politica). Os apresentadores e levantadores dos bois Garantido e Caprichoso (devem brigar la na Arena de Parintins e não no parlamento). Os catitas, ratos e ratazanas do erário publico, eles devem ficar quatro ou oito anos não no parlamento ou no executivo mas na cadeia publica. Aqui na política Baré, que peguem o beco os netos e bisnetos (os tataranetos, podem), os Lins e Tribulins, os Bragas e Pragas. e os Nicolaus da vida e outros lalaus. Renovação total -  devem dar lugar para os mais jovens e começar a fuleiragem do zero!

NEM COM NOJO

Depois da centésima idêntica resposta: "Nem com nojo de pitiu de bodo", uma senhorita da voz bonita e muita educada, telefonou-me (não era ligação gravada, coisa rara):
- Bom dia, senhor! As mns que enviamos para o Sr eram para responder SORTE, para participar dos sorteios de cem mil reais, porem, com as suas constantes respostas, a Cia com o intuito de estreitar o relacionamento com o seu cliente está entrando em contato para entender o significado das suas respostas.
Respondi: E que eu sou da região amazônica e, alem da língua portuguesa, falo também o "Amazonês", um dialeto entendido somente pelos manos e manas do Amazonas!
Ela respondeu: - Muito bem, então, traduza para o português “Nem com nojo de pitiu de bodo".
Respondi: Significa que, não entrarei "nessa jogada" de vocês nem fodendo, pois posso ser doido, mas não sou leso.
A jovem desligou o tel na minha cara, em compensação, nunca mais me mandaram essas mns de pegar otario! Nem com nojo. Eu, hein!

INTERROGAÇÃO

O Deputado Paulo Maluf (PP-SP) e sua esposa Sylvia Maluf podem ser presos na Suíça por terem roubado no Brasil e, no Brasil estão soltos. Por quê?
A mineradora Samarco (da Vale SA) deve 20 bilhões de reais em uma ação judicial por danos ambientes – até o momento não pagou nem os 2 bilhões requeridos para a implementação do plano de recuperação ambiental. Por quê?
O artigo 80 da Constituição Federal determina que, “em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.” Deixa entender: O Deputado Cunha (PMDB-RJ), caso permaneça na presidência da Câmara Federal poderá chegar a Presidência da Republica. Por que o homem não caiu até agora?
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, determinou que Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, acate o pedido de impeachment do vice-presidente Michel Temer. Isso configura conflito de competência de poderes?

FURO DE REPORTAGEM FURADA!

Sintonizei a Rádio Tiradentes, para me inteirar sobre a decisão da Desembargadora Socorro Guedes, Presidente do TRE-AM, com relação a acatar ou não o pedido de execução do acórdão ingressado pelo Eduardo Braga (PMDB) para afastar do cargo o governador José Melo (PROS).
O dono da emissora falou “alto e em bom tom” que tinha uma fonte fidedigna dentro do tribunal – que a decisão já tinha sido tomada, faltando apenas informar ao público e publicar no diário eletrônico, acatando o pedido pelo afastamento do chefe do executivo estadual.
Em seguida, entra no ar o radialista e apresentador do programa “Manhã de Notícias”, o Marcos Santos, perguntando ao Ronaldo: - E, agora, como fica? – A Assembléia Legislativa terá um prazo de trinta dias dar posse ao novo governador e, nesse ínterim, o Estado do Amazonas será governado pelo Josué Neto! – respondeu o advogado e empresário. O Marcos Santos saiu com essa: - Parabéns governador Josué Neto! Parabéns governador Eduardo Braga!
Horas depois, para evitar a descontinuidade do serviço público e seguindo a legislação eleitoral, a presidente Socorro Guedes mantém o governador e o vice no cargo até que todos os recursos contra à cassação do mandato sejam julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No dia seguinte, às oitos horas, liguei o rádio na mesma emissora, quando o dono da emissora estava pedindo todas as desculpas possíveis ao governador Melo e aos seus eleitores!
Pois é, esse furo de reportagem foi uma tremenda furada!

PREFEITO DE MERDA!

Os cariocas devem estar em "Guerras" com o seu prefeito, o "Paes" - o cara chamou a cidade de Maricá de uma merda de lugar! Depois, foi a televisão pedir desculpas aos seus eleitores! Sacanagem!
Segundo a Wikipédia: "O município de Maricá também é conhecido por suas propriedades rurais – chácaras e grandes fazendas –, muitas delas ricas em conteúdo histórico. O trem também já passou pela cidade – ainda hoje se encontram resquícios daquela época, como estações, trilhos, um túnel e uma ponte no bairro de Inoã, com a inscrição da Estrada de Ferro Maricá"..

AMAZONENSE FILHO DE CEARENSE

Nunca fui ao Ceará, apesar do meu pai e avos paternos serem de lá, porém, a vontade ainda reina! Dizem que, os amazonenses que visitam o Ceará, gostam de mostrar que são daqui: levam Tambaqui e assaram na praia, gostam de jogar dominó ouvindo toadas dos bois de Parintins e, adoram falar o Amazonês. Quando chegam a Manaus, começam a falar o Cearancês: Fala, Macho! Diabéisso?O caba é morto dentro das calça! O bicho é lesado! Rai te lascar!

A MESMICE TODO DIA


Abro os jornais, ligo o rádio ou a TV, entro no Facebook, whatsapp e outras mídias sociais, nos bares e botecos, nas esquinas de ruas, nos carros, nos ônibus e nos táxis, nas lan houses, nas feiras, mercadinhos e supermercados e, até nas igrejas – lá estão eles, não tem como fugir! Socorro! Estou tendo até pesadelos com isso tudo: Lava Jato, Moro, Lula, Aécio Neves, Dilma, STF e seus juízes, Petrobrás, Delação Premiada, Odebrecht e outras empresas citadas na LJ, Marcelo e outros executivos presos, PT, PMDB, PSDB e outros, Senador Delcídio e outros, Deputado Cunha e Outros, Policia Federal, Japonês, Milhões de Dólares Desviados, Contas no Exterior, Lavagem de Dinheiro & Outros Roubos e Desvios! Não agüento mais! Tô Fora! Não quero mais saber dessas notícias! Tô de saco cheio! Não leio, não dou mais ouvidos e não falo mais sobre isso! Ponto Final

domingo, 10 de abril de 2016

O ZÉ MUNDÃO - I PARTE


J. Martins Rocha
1ª. Edição
2014

2
Autor:
Rocha, J. Martins, nasceu em Manaus, em 1956, capital do Estado do Amazonas, formado em Administração de Empresas, pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), atua como pequeno empresário do ramo alimentício e, editor do BLOGDOROCHA, uma página na internet voltada para a cidade de Manaus, a Amazônia e a sua gente.
Contatos:
Celular: (92) 9153-7448
E-mail: jmsblogdorocha@gmail.com
Página Internet: BLOGDOROCHA
www.jmartinsrocha.blogspot.com

3
Introdução
O livro surgiu em decorrência de centenas de postagens que publiquei no BLOGDOROCHA – no endereço eletrônico www.jmartinsrocha.blogspot.com - na qual edito desde 2006 – não sou jornalista, historiador ou pesquisador, mas, escrevo para o blog de forma amadora sobre a minha cidade, principalmente, da Manaus antiga e das décadas em que desfrutei das suas belezas, encantos, monumentos, praças, cultura, músicas e gastronomia - bem como, da contribuição cultural, social, educacional e econômica por parte das pessoas que aqui vivem ou viveram.
O personagem Zé Mundão foi criado, casualmente, nas postagens do BLOG, onde me permitia escrever contos e causos a vontade sobre a infância, adolescência, vida adulta e na idade feliz dos meus irmãos, amigos, colegas e, sobre a minha também.
Vários amigos e leitores aconselhavam-me a reunir os escritos num livro, não aceitando de imediato a sugestão, pois não me achava preparado suficientemente para tal empreitada. Recentemente, fui condensando as postagens e, consegui terminá-lo, contando com a ajuda e incentivo de muitas pessoas e colaboradores. 
Escrevi de uma forma leve, cômica e irreverente, misturando realidade com ficção, tendo como pano de fundo a cidade de Manaus e o interior do Estado do Amazonas. Este é o meu primeiro livro, uma obra simples, com os erros e acertos de um iniciante, mas, espero que ele cumpra a sua missão: elevar o estado de espírito das pessoas que o lerem.

4
Dedicatória:
Aos meus pais Rocha e Neli (in memoriam) 
Aos meus filhos, Alexandre, Amanda e Adriana.
Aos meus netos, Victor e Eduarda.
Aos meus amigos e familiares.

5
O Zé Mundão nasceu na Santa Casa de Misericórdia, na década de cinquenta, quando veio ao mundo, estavam batendo as dozes badaladas dos sinos da Igreja de Sebastião, exatamente no dia do aniversário do Presidente Juscelino Kubitschek; os seus familiares ensaiaram em chamá-lo pelo prenome do mandatário maior da nação, mas, ao ser batizado na Igreja dos Remédios, recebeu na pia batismal o nome de José, em homenagem ao seu avô, um cearense que veio para a Amazônia coletar o látex. O seu primeiro lar foi um “flutuante”, uma casa de madeira apoiada por duas enormes toras, própria para flutuar na enchente do Rio Negro, no Igarapé de Manaus.
Para não fugir da exceção, por ser um filho e neto de uma família de cearenses, passaram-no a chamá-lo de Zé, um diminutivo carinhoso de José - era o mais novo de todos os irmãos, o caçula queridinho da família; os seus irmãos mais velhos eram conhecidos como Zé Galinha, Zé Pacú e, a única mulher, foi batizada de Maria José, também chamada de Zezinha, tinha que ter Zé no meio de qualquer maneira.
O local onde morava o Zé era um braço do rio e, fazia parte de um conglomerado de residências conhecido como “Cidade Flutuante” (com maior concentração das casas por detrás da Rua Barão de São Domingos) – o processo de ocupação do leito do rio foi iniciado em decorrência do declínio do fausto da borracha e, com a falência dos seringalistas, levou uma multidão de seringueiros a ficarem sem eira nem beira, não tinha onde morar, a solução foi iniciar a construção de suas casas sobre as águas da orla do Rio Negro e pelos igarapés que cortavam a cidade de Manaus.
As habitações eram construídas sobre troncos de árvores, tornando-as flutuantes, com os assoalhos e todos os cômodos de madeira, tendo a cobertura, na sua grande maioria, feita de palhas - os que tinham mais recursos cobriam com folhas de zincos.
Formavam um imenso conglomerado de casas, era tão grande que chegou a ser uma “cidade” dentro da própria cidade de Manaus, com mais de 2.000 casas e aproximadamente 12.000 habitantes.
Neste local existia além de moradias, todo tipo de comércio: estivas, ferragens, restaurantes, gabinetes de dentistas, consultórios médicos, drogarias, oficinas mecânicas de consertos de motores marítimos, vendas de borrachas, castanhas, jutas, couros e peles de animais; qualquer atividade que tinha em terra, também tinha na cidade flutuante!
Alguns achavam que aquilo era um cancro, uma vergonha para os habitantes da terra firme, mas, foi exatamente onde o pequeno Zé passou de uma forma muito feliz a sua infância.
Morar em um flutuante tinha os pontos negativos e também positivos. A família do Zé era discriminada pelos moradores que moravam na parte de cima da Rua Igarapé de Manaus, pois se achavam superiores aos pobres moradores de flutuantes.
A grande maioria das famílias das ruas Huascar de Figueiredo e Lauro Cavalcante, pertencente à classe média, com belíssimas residências, tinham preconceitos ainda maiores – algumas falavam que eles moravam no “bodozal” (na lama, onde se reproduzem o peixe Acari Bodó).
Na enchente, a família e os animais de criação (gatos e galinhas) ficavam “ilhados”, com acesso a terra somente por uma pequena tábua, onde o pequeno Zé sofria muito para passar, com risco de queda dentro de rio. Com a água batendo seis meses,

6
havia o apodrecimento mais rápido das toras de sustentação da casa – era feito um mutirão para a troca das “boias”.
O danado do Zé era vigiado 24 horas por dia, pois corria risco de afogamento, em decorrência disso, ele aprendeu a nadar ainda curumizinho (menino pequeno) - todos sofriam também com o ataque de animais peçonhentos, cobras e jacarés.
Na sua casa não existia luz nem água encanada, o sufoco era total, pois tinham que recorrer a lamparinas, candeeiros e lampiões para iluminar os cômodos - um martírio, pois não podiam ter nenhum aparelho eletrodoméstico em casa - o café era torrada e pilado dentro da habitação e, fervido num fogareiro à lenha; as roupas eram passadas num ferro de ferro de engomar a carvão e a comida era feita num fogão a lenha, com tudo manual, típico de uma casa de ribeirinhos da Amazônia.
Na vazante, a família levavam alguns meses para limpar toda a área externa, pois ficava muito lixo espalhando pelo chão, com garrafas de vidro quebradas, latas enferrujadas, tábuas com pregos, etc. – o coitado do Zé vivia sempre com cortes nos pés e muitas feridas pelo corpo.
Os banhos eram feitos em cacimbas ou camburões de metal, com água de beber sendo filtradas em potes, bilhas e filtros de barro.
Uma das grandes vantagens, era caso o caboco tivesse algum problema sério com o seu vizinho, bastava pegar o machado e, cortar a corda principal que amarava o flutuante a beira rio, colocar uma amara num “barco regional”, pedir para ser puxado e, morar no outro lado do rio – a família do Zé era benquista por todos os vizinhos e nunca precisou sair do local onde moravam.
Na enchente, o balneário ficava na janela do flutuante do Zé, bastava pular dentro do rio e, tomar banho nas suas águas refrescantes, pois ainda não havia poluição em demasia, apesar dos moradores jogarem os dejetos das privadas diretamente no
igarapé. 
Os barcos regionais ancoravam no flutuante do Zé, oferecendo a preços mais acessíveis peixes, leites, queijos, farinha e outros produtos regionais, além de tábuas e palhas para a manutenção da casa – o flutuante servia de base para muitos pescadores amadores e banhistas, era o momento em que os moradores da parte de cima, pediam favor para passar e, respeitavam a pobre família do Zé.
Quando o rio secava, os moradores se reuniam e faziam campos de futebol, tinham a prioridade para formar as equipes e jogar, pois se consideravam os donos da área - os residentes da parte de cima tinham que pedir para entrarem na peleja – os campos
serviam também para inúmeras brincadeiras infantis, além de ser palco para muitas brigas entre a molecada de baixo contra a de cima.
O Zé por morar em contato direto com a natureza, dentro do rio, acompanhando todo o processo de enchentes e vazantes, era um caboclo que tinha mais anticorpos, pouco vulnerável as doenças que acometiam normalmente as crianças “filhinhos de papai” da parte de cima, pois eles não pisavam descalços de jeito nenhum num lugar daquele.

7
Desde bebê, o Zé não foi muito chegado ao leite materno, foi criado à base de “Mingau de Banana Verde” e papinha feita de “Araruta” e “Cremo Gema”, depois, a sua dieta passou a ser direto o peixe; por ser um pobre ribeirinho, não tinha acesso aos produtos industrializados, tudo era natural, fazia também a “dieta da sopa”, ou seja, dava sopa, ele comia, não fazia cerimônia, comia feito uma draga.
Pegou aquelas doenças comuns da sua época, como a “Papeira”, “Catapora” e “Sarampo”, criou bastantes lombrigas no bucho, pegou muita “Frieira e Mijacão”; as suas doenças eram curadas a base de “Mamona”, “Jalapa Pião”, “Copaíba”, “Chá de limão com Melhoral” e “Xarope Caseiro” – o seu genitor era um artesão, em razão disso, os ferimentos eram estancados a base de verniz (uma mistura de álcool com goma-laca) e, pegou muita surra para tomar “Magnésia” (um remédio para limpar os intestinos).
Apesar de todas as dificuldades materiais e, por morar em um flutuante, era um caboquinho feliz, cresceu forte e sadio, começando a aprontar desde cedinho.
Os seus brinquedos eram feitos manualmente por seu pai, um exímio marceneiro, tudo era de madeira, brincava de carrinhos, espada, pião, cangapé e, curtiu todas as brincadeiras que as criançadas de Manaus curtiam naquele tempo: Papagaio de Papel; Caroço de Tucumã, Bolinha de Gude; Boi de Pano, Estátua, Escapole-Bate-Fica, Boca-de-Forno, Queimada, Corrida de Saco, Macaca, Manja, Cemitério e Barra-Bandeira.
Certa vez, no seu aniversário, ganhou de presente da sua madrinha um pequeno “Globo Terrestre” de plástico – mesmo ainda não sabendo ler e a escrever, aprendeu com os seus irmãos mais velhos os nomes e onde ficavam os países - passava horas e horas girando a esfera, parava, apontava com dedo indicador e falava alto:
- Quando eu crescer quero viajar muito, conhecerei Portugal, França, Itália, Alemanha, Japão e os Estados Unidos, aliás, quero conhecer o mundo todo! – falava de uma forma determinada.
De tanto repetir que iria conhecer o mundo todo, foi um passo para a molecada o apelidar de “Zé Mundão”.
Quando ficou mais taludinho, recebeu a missão de esperar o “Padeiro” e o “Leiteiro” na rua e, numa manhã, deixou o pão e o leite escondidos e foi pegar “Mangas” num terreno de um enigmático senhor, conhecido por Durau.
Quando retornou, alguém tinha comido o “bico do pão” e um gato havia derrubado a leiteira e, estava lambendo o leite - a bronca ia ser alta pro Zé, mas, ele era um cara esperto:
- Vou completar o litro de leite com água, não quero nem provar, pois está cheio de pelos do gato, vou ver se o velho engole essa! – pensando rápido numa saída.
Dito e feito, o Zé tomou o “café puro” e ainda teve que explicar que foi ele quem comeu o “bico do pão” – dias depois, falou do ocorrido para o seu irmão mais velho, o Zé Galinha, mas, foi dedurado, pegou uma surra daquelas e ainda ficou um mês de castigo!

8
O Zé tinha uma vizinha, a Wanda, ela falava palavrões o tempo todo, foi um passo para aprender rapidinho todo aquele vocabulário - pegou muito “tapa na boca” para perder aquele costume feio, mas, o famoso “sinal com o dedo” ele não deixou de mostrar para as pessoas que o acomodava:
- Tá qui prá ti, sêo leso! – gesticulando e gritando.
Era um hábito comum entre as famílias pobres de Manaus, criarem animais em seus quintais, os mais comuns eram as galinhas, os patos, os papagaios, os macacos de cheiro e barrigudos, os jabutis, os cachorros, os gatos e até porcos - eles eram chamados de xerimbabo (tupi = minha criação) – a família do Zé, inicialmente, criou um cachorro vira-lata, chamado Duque, era considerado o mascote, fazia o papel de segurança da casa, porém, ele pegou a hidrofobia, ficou doido, mordeu o Zé, a Zezinha (irmã) e a sua mãe.
O coitado do Zé pegou diversas injeções dolorosas no bumbum – o seu pai resolveu sacrificar o cão, pegou um terçado para degolá-lo, mas, o animal abaixou a cabeça, chorou aos seus pés e não o mordeu – o homem começou chorar também, deu uns passos para trás, foi embora e, deixou o cachorro morrer com a doença – a família nunca mais quis saber de criar outro cachorro.
Tempo depois, a sua avó paterna, comprou umas galinhas e um galo pedrês (carijó) -os primeiros ovos foram da casca azul, a molecada de casa ficou extasiada, mas ela resolveu guardá-los em cima de uma antiga Cristaleira.
O Zé e seus irmãos escalaram o móvel ao mesmo tempo, com o peso, ela tombou e caiu em cima deles, foram ovos, copos e taças de cristais, xícaras e bules de porcelanas, tudo foi para o chão, com cacos espalhados por todos os lados, ficaram cortados, mesmo assim, pegaram da avó uma bela surra de galho de goiabeira – dias depois, ela resolveu botar o galo e as galinhas na panela, acabando com a festa dos
pequenos.
Foi estudar no Colégio Estadual Barão do Rio Branco, a sua avó o matriculou no primeiro ano forte (o equivalente a segunda série), mas o Zé não sabia ler nem escrever, a primeira tarefa na escola foi fazer uma cópia e, na malandragem, pediu ao seu colega "Nascimento", para fazê-la, o seu confrade era canhoto, pegou o caderno do Zé Mundão, virou na melhor posição e fez a cópia todinha.
O Zé foi entregar o trabalho:
- Fessora Genevova, tai a cópia, tá bonita? – falou todo gabola da vida.
- Vá fazer outra cópia, você fez com o caderno de cabeça para baixo! – dando-lhe aquele ralho.
Não se conteve, chorou que nem um bezerro desmamado, a professora descobriu que ele estava na série errada e o encaminhou para a “Alfabetização” - cobrir as letras foi uma graça para Zé Mundão.
O que ele mais odiava era a “hora da merenda”, pois não trazia nada de casa e ainda
tinha que encarar aquele “leite de soja” que era enviado ao Brasil em decorrência do

9
projeto “União para o Progresso” dos ianques; o jeito era filar a merenda dos meninos do pré-escolar,
Num certo dia, foi pego e levado pela “orelha” até a Diretoria, os seus pais foram chamados à atenção - moral da historia: ganhou uma “Lancheira” novinha em folha, com direito a suco de “Maracujá” e sanduíche de “Pão com Pão”, a partir dai, começou a adorar a hora de merenda, gostava de deixar os seus colegas com água na boca e, nunca mais tomou o famoso "leite de posto"!
Tempo depois, saiu do “flutuante” e vou morar com a família numa “casa de madeira”, na parte de cima - fora proibido de tomar banho no igarapé, mas não tomava jeito, tirava o calção, colocava num arbusto qualquer e pulava pelado dentro d’água, pois não era hábito usar cuecas naquela época.
Era um final de semana, quando o seu “amigo da onça”, o “Nego Mau”, escondeu a roupa do Zé Mundão, o coitado passou a tarde toda dentro do rio, deixou a noite chegar e, correu pelado pela rua até chegar à sua casa, com todos os moradores achando graça daquela cena inusitada e, ainda foi gozado por bastante tempo - mas o cara sabe muito bem dar o troco:
- Vou dá um tempo no tempo, pegarei o escroto do “Nego Mau” e todos os amigos deles que ficaram me gozando! – prometendo uma desforra.
Num sábado à tarde, estava o “Nego Mau” e toda a sua galera estavam tomando banho pelado no rio, como de costume, eles também não usavam cuecas; o Zé foi bem de mansinho e, pegou os calções de todos eles, quando estava bem distante, gritou:
- Ei, ei, Negou Mau, olha aqui, estou com o teu calção e da tua galera, quero ver todo mundo pelado correndo pela rua, sai da água se tu é macho, sai!
Foi um Deus nos acuda, prometeram uma bela sova no Zé, mas, ele não estava nem ai!
À noite, toda a molecada da rua estava à beira do rio, esperando a galera do Nego Mau sair da água – estava ficando tarde, não dava mais para ficar ali naquela situação, não deu outra, todo mundo saiu correndo pelado pela rua em direção as
suas casas, foi uma gozação total.
O Zé ficou uma semana sem sair da sua casa, estava com medo da represália, somente ia à escola escoltado pelos seus pais, mas, um dia o pegaram sozinho, deram a prometida surra nele e ainda tiraram o seu calção e, teve que correr novamente pelado pela rua até chegar a sua casa! Haja gozação!
Ficou mais uma semana hibernando em sua residência, pois estava cansado de servir de chacota pelos colegas de rua.
O Zé Mundão era um grande “perna-de-pau”, jogava uma bola “quadrada”, tanto que era sempre escalado para ficar no gol, além de “brabo” era também um goleiro “frangueiro”.
Passou alguns meses vendendo picolés, bolinhas de gudes, revistas em quadrinhos e fazendo mandado para os outros, tudo para arrecadar dinheiro e comprar uma ”Bola

10
Oficial” - num belo dia, chega no “Campinho da Várzea” todo gabola, com a bola embaixo do braço e dando ordens:
- A partir de hoje quem manda no time sou seu, o Nego Mau vai para o gol e eu vou para o ataque, quem “frescár” vai para o banco, se não estiverem de acordo, levo a bola, tudo bem?
Todos respondiam:
- Sim, Zé Mundão, você é o dono da bola!
E assim foi por uma semana, pois a redonda caiu num quintal de um velho ranzinza que a cortou em vários pedaços, acabando com o reinado do Zé e, ele voltou novamente para o gol!
A grande maioria dos amigos de Rua do Zé era sapeca que nem ele, dentre os mais famosos estavam o Nego Mau e o Adelson Mau Elemento.
Pela alcunha de Nego Mau dá para se ter uma ideia o quanto ele aprontava, o cara era realmente um malvado, travesso e traquina, era um capeta em forma de guri.
Ele aprontou poucas e boas, era esperto, revelou bem novinho o seu lado empreendedor e, para ganhar dinheiro em cima dos otários, montou nos porões da sua casa o “Matinê do Nego Mau”, passava filmes em caixinhas de sapato, cobrava o ingresso da molecada, aproveitava para ganhar mais algum, vendendo KSuco de Uva com bolacha da Padaria Modelo.
Certo dia, resolveu majorar os preços, com a ânsia de faturar mais alto, um concorrente abriu outro Cine, com mais conforto e com os preços dos ingressos bem abaixo da concorrência, o Nego Mau foi à falência, mas, o capeta não se deixava abater, partiu logo para outro empreendimento, montou no mesmo local o “Circo do Nego Mau”, fez o cenário, figurino, treinou a molecada, formou palhaços, malabaristas e trapezistas.
O Zé Mundão foi um dos artistas do circo, caiu na lábia do Nego Mau, pois ele tinha prometido que somente no final da temporada iria pagar o cachê, falou que era bem melhor ele guardar o dinheiro e pagar a “bolada” no final do ano, o dinheiro daria para comprar uma bicicleta “Monareta” novinha em folha, o sonho infantil de consumo do Zé.
Era tudo brincadeira de criança, mas, o esperto do Nego Mau levava à sério, foram seis meses trabalhando todos os finais de semana, o porão sempre ficava cheio de expectadores mirins, bamburrando na bilheteria.
Quando chegou Dezembro, ele deu uma pernada na molecada, chorou miséria, era um artista, sabia representar muito bem, apresentou uma “contabilidade” fajuta, demonstrou na maior cara-de-pau que os gastos foram maiores do que a receita, - moral da história: prejuízo, nada de grana para o Zé e, o sonho da Monareta ficou para o próximo ano!
Na temporada do ano seguinte o negócio foi diferente, o Zé colocou o Nego Mau contra a parede, exigiu o pagamento no final de cada apresentação, mas, o esperto embolsava sempre a metade da grana dos ingressos e enganava os artistas do circo.

11
O Zé e os seus irmãos, o Zé Galinha e o Zé Pacu, eram conhecidos com “Os Irmãos Borracha”, eram todos trapezistas e faziam contorcionismos.
Com o surgimento de outro picadeiro na rua, o “Circo do Aluísio & Tico”, resolveram debandar geral, cansaram das trapaças e trapalhadas do patrão. Num dia de apresentação, o Zé Mundão estava no trapézio de cabeça para baixo, o Nego Mau contratou o Adelson Mau Elemento para detonar o Zé, o malvado pegou uma baladeira com bolinhas de barro duro, mirou e , acertou bem no “ovo esquerdo” do Zé Mundão, ele caiu de cabeça no chão, o baque na cachola o deixou tantã por bastante tempo.
O Nego era o único filho homem da família, o queridinho da mamãe, mimado pela Dona Nira, ela botava tudo na boquinha dele - andava sempre bem trajado, perfumado, com talquinho no pescoço, era bem alimentado e ganhava brinquedos caros, já era metido à besta desde novinho, não compartilhava nada com os colegas de rua, gostava mesmo era de se mostrar e tirar sarro da cara dos outros.
Ele sempre foi o melhor nas brincadeiras de rua, ganhava sempre na bolinha de gude, na dama, no cangapé e no pião, era muito sortudo e esperto. No futebol, ele era um tremendo “perna de pau”, mas, era na maioria das vezes o dono da bola, o pobre do Zé Mundão era sempre escalado para ficar no gol; gostava da “banheira”, o negócio dele era receber a bola, chutar e correr para o abraço.
Quando o Nego Mau ficou mais taludinho, começou a brechar a mulherada tomando banho pelada, o que lhe rendeu muitos calos na mão direita - gostava também de colocar a “piroca” dentro de uma garrafa, certa vez, ela ficou rígida e não saia mesmo forçando, entrou em pânico e, saiu correndo pela rua, o Zé Galinha foi solidário e ajudou ao amigo, deu uma martelada certeira, foi caco de garrafa e de falo para todos os lados.
O Nego Mau ficou envergonhado e se enclausurou em casa por dois meses, não aguentava mais ser chamado de “Nego Mau, o piroca de vidro!”.
O Nego tinha um amigo chamado Pingo, um moleque franzino, era filhinho de papai, vinha de uma família abastarda, mas, gostava também de aprontar, os dois de vez e quanto se estranhavam – certa vez, o Pingo ficou escondido nos altos do “Solar dos Bringel” e botou para urinar na cabeça da molecada do Igarapé de Manaus, o Nego Mau ao passar pelo local tomou um banho, jurou que iria matar o Pingo de pancada.
Quem bate, esquece! Um dia, o Pingo apareceu na rua com a maior cara dura, o Nego Mau foi o primeiro a correr atrás dele, na correria, o Pingo caiu dentro de um buraco, ficando indefeso, o Nego aproveitou o momento e, jogou uma pedra de barro na cabeça do Pingo, ele simplesmente desmaiou, foi um corre-corre da família.
O Nego Mau correu para a sua casa, entrou de mansinho pelos fundos, tomou um banho e se meteu embaixo dos lençóis e começou a roncar, fingindo que estava dormindo. Levaram o Pingo ao Pronto-Socorro, foi medicado e voltou para casa, depois, os seus familiares foram até a casa do capetinha, chegando lá, a Dona Nira saiu em defesa do filho:
- O meu Nego é um menino incapaz de fazer isso, ele é bondoso e colega de todos da rua e, além do mais, passou à tarde todinha dormindo!
Foi um álibi perfeito.