Os bondes elétricos
prestaram um grande serviço à mobilidade urbana em nossa cidade, porém, com o
inicio da Segunda Guerra Mundial, os ingleses que administravam a geração de
energia elétrica e os bondes, começaram a ter problemas para atender a contento
a população, o que motivou o seu declínio e o surgimento dos primeiros ônibus
para suprir essa lacuna.
Com o início da guerra
(1939), os ingleses tiveram muitas dificuldades em importar peças de reposição
para os bondes e para as subestações de geração de energia elétrica,
ocasionando apagões prolongados na cidade e deixando parados alguns bondes,
revoltando a população.
Os bondes que sempre foram
bem limpos, reluzentes e conservados, porém, na década de quarenta começaram a
aparecer com os bancos quebrados e rasgados, sendo abandonados aos poucos pelos
ingleses – eles alegavam que estavam tendo prejuízos financeiros, não
sendo possível conservá-los e, muito menos, adquirir novos elétricos.
A população começou a se
revoltar com essa precariedade, inclusive provocaram o incêndio de um deles.
Diante de tantos problemas
nesse sistema de transporte, em 1951, o governo do estado resolveu encampar a
companhia inglesa, por iniciativa do governador Álvaro Maia, provocando uma
grande indignação por parte deles, vindo diretamente da Inglaterra até Manaus o Mr. Booth, dono da empresa Manaos Tramways, com o intuito de reverter a situação,
não sendo aceito os seus argumentos.
O governo do estado não
fez os investimentos necessários para a revitalização dos bondes, bem como,
demonstrou um péssimo gerenciamento do sistema, sendo obrigado a desativar, em
definitivo, a circulação dos bondes em Manaus.
Os bondes ainda serviram
por um bom tempo para transporte de cargas para a sub-usina da Cachoeirinha (no
final da Sete de Setembro, atual Eletrobras Manaus Energia).
O governador Plinio Coelho
(PTB) em campanha política para o governo prometeu a volta dos bondes, no
entanto, conseguiu apenas reativar uma linha, em 1957, sendo desativada em
seguida.
Lamentamos, profundamente,
pela falta de sensibilidade dos governantes em não manterem para as novas
gerações de manauaras, pelo menos uma linha regular de bondes elétricos – como
escreveu Jefferson Péres “A fim de preservar algo inseparável da memória da
cidade” - algumas cidades brasileiras assim o fizeram, constituindo motivo de
orgulho e respeito aos seus antepassados, além de servir como fonte de divisas com
o turismo – a exemplo dos bondinhos de Santa Tereza, no Rio de Janeiro.
Em 1940, surgiram alguns
ônibus de madeira não oficiais (piratas) para suprir, em parte, a deficiência
de transporte público dos bondes elétricos – eram apelidados pelos manauaras
como “Pirata”, “Perna- de-Pau” e “Periquito da Madame”, uma alusão as
marchinhas de carnaval da época.
Esses ônibus
foram comprados pelos ingleses, para abafar a concorrência e, posteriormente, deixados
ao relento até apodrecerem.
Nesse mesmo ano, os
automóveis de luxo começaram a circular em Manaus, eram de chapa brancas (do
governo), de aluguel (pertenciam às garagens Avenida e Esportiva) ou de
particulares (classe alta) – eram importados dos Estados Unidos, da marca Ford,
Chevrolet, Buick, Packard, Studebaken e Cadillac, além dos ingleses Austin e
Standard (acessíveis à classe média).
Na primeira fotografia antiga,
na esquina das avenidas Eduardo Ribeiro e Sete de Setembro, aparecem um bonde e
um ônibus, além de carros estacionados no primeiro plano (possivelmente um
Austin e um Studebaker) e vários deles bem meio da avenida (provavelmente são
de aluguel da Garagem Avenida).
Depois, surgiram novas
empresas de ônibus, pois esse sistema de transporte popular caiu no gosto dos
usuários, devido serem mais espaçosos, atendendo linhas onde os bondes não
passavam e, não tinham problemas com falta de energia (que deixavam os
bondes parados), além de serem mais baratos.
Atendiam, inicialmente, os
bairros de Cachoeirinha e Educandos, posteriormente, para os demais bairros,
onde houvesse ruas que lhes possibilitasse a circulação.
Os primeiros ônibus tinham a carroçaria em base de madeira, com
cobertura de zinco, montados em chassi de caminhão – eram montados
artesanalmente na Rua Wapés, no bairro da Cachoeirinha – tinham os nomes de
Progresso, Brasil, Radiant, Monte Ararate, Torino, Girassol, Santa Helena, dentre
outros.
Os ônibus entraram para
valer com o fim da circulação dos bondes, ocorridano final da década de
quarenta.
Em 1957, foi criado no
governo do Plinio Coelho, a “Sociedade de Economia Mista Transportamazon” (não
oficializada e desativada na década de 60), com a compra inicial de 10 ônibus e
mais 15 veículos no ano seguinte.
A empresa “Viação Sul
Americana”, sediada na cidade de Belém (PA) começou a fabricar um tipo de
ônibus muito estranho, pois tinha um formato do dirigível “Zeppelin” – eles
circularam naquela cidade e, também em Manaus – a carroceria era de madeira,
ferro e flandres, pintados externamente na cor de alumínio, com o interior
forrado em couro e os bancos acolchoados.
Alguns veículos tipo
Kombi, da Volkswagen, foram transformados em lotação, sendo chamados pelos
manauaras de “Expresso”.
Os ônibus de madeira que
ficaram na história da cidade, foram os pertencentes à empresa “Ana Cássia”, de
propriedade do empresário Cirilo Anunciação, conhecido pela alcunha de “Batará”
–tinha a maior frota de veículos, além de provocarem o maior número de
acidentes.
Os primeiros ônibus de
ferro a circular na cidade vieram da fábrica “Marcopolo”, em São Paulo – aqui
receberam o nome de “Hilariante”, apelidado pela rapaziada por “Rabo Quente”,
em decorrência do superaquecimento da parte traseira (descarga vertical),
impossibilitando aos mais afoitos a pratica de “morcegar” (carona sem pagar).
Apesar de todo o progresso
dos dias atuais, com milhares de ônibus e outros veículos circulando pela
cidade, os saudosistas ainda desejam alcançar um dia, a volta dos bondinhos
elétricos na área história da nossa Manaus. É isso ai.
Fonte:
Blog:
Livros:
Manaus 1920-1967 A Cidade do Céu e Dura em Excesso.
José Aldemir de Oliveira
Evocação de Manaus: como eu a vi ou sonhei. Jefferson
Péres
Manaus, amor e memória. Thiago de Mello
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