quinta-feira, 17 de outubro de 2019

CHICO GOMES: O REI DO QUEBRA-QUEIXO DE MANAUS


Ao passar pela Avenida Eduardo Ribeiro com a Rua Barroso, parei para conversar com o meu velho amigo Francisco José Gomes, mais conhecido como “Chico do Quebra-Queixo” - um trabalhador que completara sessenta anos de profissão, vendendo o mesmo produto pelas ruas de Manaus.

O quebra-queixo possui vários significados, porém, o que estou me referindo é um preparado de caramelo com castanhas do Brasil, duro que nem uma pedra e, cortados em pedaços com uma espátula de metal, com o tamanho de acordo com o bolso do freguês (o menor custa três reais).

Ao colocar na boca, o gosto é indescritível, uma delícia, mas, gruda na arcada dentária de tal forma que, quem não tiver paciência poderá quebrar os dentes, a dentadura e até o queixo!  

Conheço o Chico desde quando eu estudava no Colégio Barão do Rio Branco, situado na Avenida Joaquim Nabuco, quase em frente ao Hospital da Beneficente Portuguesa – faz muito tempo, não é mesmo? 

Naquela época, eu e meus irmãos éramos todos curumins e, o Chico era um rapazinho que já trabalhava para ajudar a sua família.


Todo santo dia rodava os colégios Dom Bosco, Brasileiro e Barão – na hora da merenda, colocava o seu tabuleiro bem em frente ao meu colégio, vendendo essa guloseima que era feita pelos seus pais.

Aliás, essa é uma tradição que vem do seu avô, que passou para o seu pai e, aos quinze anos, o Chico já fazia os seus doces, e, este já passou para a sua filha, que possui a sua própria banca de venda de quebra-queixo na Galeria Espirito Santo.

Do produto da venda desse doce, ajudou os seus pais e irmãos mais novos, tirou o seu próprio sustento, constituiu família, criou os filhos e ainda dá para ajudar na educação dos netos.

Ele está com 72 anos idade, em plena forma física, vive sempre alegre e satisfeito, pois apesar de não ter completado o ensino fundamental, abraçou esta profissão que lhe dá um bom rendimento diário.

Por ter trabalhado durante muitos anos nas portas dos colégios, muitos moleques que compravam a sua guloseima naquela época, passam, ainda hoje, pela sua banca para comprar este doce; alguns são professores, doutores, políticos e até empresários.

Ele não esquece os seus nomes, tanto que ainda lembrou o meu nome (José), dos meus irmãos (Rocha, Henrique e Graciete) e até do papai (Rochinha do Violão), pois ele também vendia pela Rua Huascar de Figueiredo e Igarapé de Manaus.

Lembrou, também, do meu colega Roberto Telles, um dos filhos do Doutor Conte Telles (um famoso médico que morava na Huascar).

Ficou famoso em Manaus, tanto que gosta de mostrar aos clientes e amigos, um recorde de uma matéria de página inteira, feita pelo Jornal Diário do Amazonas, em 2006, com o título “Chico Gomes: O Rei do Quebra-queixo de Manaus”.

Pelo visto, algumas tradições ainda persistem em nossa cidade, ainda bem! Parabéns ao nosso querido amigo Chico Quebra-queixo. É isso ai.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O AÇUDE (REPRESA) DO BARÃO DE LEOPOLDO



No perímetro entre as ruas Tapajós/Leonardo Malcher/Ramos Ferreira, existia um barão, dono de todas aquelas terras, doadas pelo Império Brasileiro – ficou famoso por edificar uma das mais belos casarões do século dezenove e, por construir um açude (represamento de água), distribuindo o precioso líquido, gratuitamente, aos moradores de todo aquele entorno.


O seu nome oficial era Coronel Leonardo Marques Brasil, conhecido como Barão de São Leopoldo, conseguiu esse título em decorrência de ser filho de um homem rico e influente no Império – fazia parte da elite amazonense, ganhando muitas terras onde é hoje o Estado de Roraima.


Em Manaus, foi agraciado com muitas terras, principalmente, no antigo bairro de São Sebastião, onde construiu a Chácara de São Leopoldo, onde funcionou o Instituto Benjamim Constant, na Praça 5 de Setembro (atual Praça do Congresso, como é conhecida pelos manauaras).


Todas as terras adjacentes a sua chácara eram de sua propriedade – onde é hoje parte das ruas Tapajós, Leonardo e Ramos Ferreira.


Como podem observar na fotografia aérea do entorno do antigo Instituto Benjamim Constant, tudo ali era uma imensa mata nativa. (irei postar amanhã).


Em 1874, o Barão de São Leopoldo, resolveu contrariar as leis vigentes, que não permitiam um particular represar (fazer açudes) e distribuir, gratuitamente, água potável à população, pois os “aguadeiros” (trabalhadores avulsos que coletavam água em bicas, pagando impostos, para revender aos moradores de Manaus).


Naquela época, no entroncamento da atual Rua Tapajós e Leonardo Tapajós corria um braço do famoso Córrego do Aterro – mandou cercar de pau-a-pique (uma técnica antiga construtiva de entrelaçamento de madeiras verticais fixadas ao solo com vigas horizontais), a fonte de água potável, fazendo uma represa de alvenaria de tijolos, por sua conta e risco.


A Câmara Municipal de Manaus editou uma lei dando o prazo de quinze dias para o Barão retirar a tapagem feita no córrego, porém, não atendeu – a briga foi feia, mesmo com a câmara contando com advogados e a polícia, o Barão não cedia, sendo apoiado pelo povo que recebia água sem nenhum pagamento.


Depois de muita bronca, a câmara municipal mandou postar praças (soldados) do Corpo da Guarnição naquele local, quando o Barão, finalmente, cedeu às pressões e mandou tirar a tapagem da represa.


O açude desapareceu, definitivamente, quando foi construído um bueiro (tubo para a saída das águas, pelo então governador, o Dr. Fileto Pires Ferreira, em 1896 (no mesmo ano da inauguração do Teatro Amazonas), no entroncamento das ruas Tapajós e Leonardo Malcher.


O Barão de São Leopoldo vendeu o imóvel para o governo do Estado do Amazonas - antes de tornar-se o IBC, no local abrigou várias instituições, como o Museu Botânico do Amazonas, uma maravilha criada pelo botânico Joaquim Barbosa, em 1884 e, fechado em 1888 – e o Orfanato, para meninas com idade entre seis e quatorze anos, elas ficavam por lá até os vinte e um anos, recebendo uma educação com base na cultura religiosa.


Funcionou como Colégio Estadual do ensino fundamental (até a 8ª série) e, atualmente, uma parte abriga o IBC - Instituto Benjamin Consta, do CETAM - Centro de Educação Tecnológica do Amazonas e, outra parte foi desmembrada, formado dois colégios do ensino médio e fundamental, com entrada pela Rua Tapajós.


Quando fui morar na Vila Paraíso, com entrada pela Avenida Getúlio Vargas e saída pela Rua Tapajós, tive a oportunidade de presenciar a passagem de um córrego pelo meio da Rua Tapajós, pois era um buraco e não passavam automóveis – alimentavam o que chamamos de “Vala do Beco da Bosta”, na Vila Paraíso.


Naquela época, os mais velhos falavam que aquele córrego vinha de uma nascente das terras de um senhor conhecido como “Baleia”, um criador de porcos e que mantinha uma imensa horta (atualmente, estacionamento do SEBRAE).


Na realidade, esse córrego vem lá do Boulevard Amazonas, onde ainda é possível ver alguns trechos onde o igarapé corre a céu aberto pelas Ruas Comendador Clementino (por detrás da casa do nadador Paulo Rabello) e Silva Ramos (onde mora a famosa tacacazeira Dona Maria Branca, mãe do Nonato Galvão, do Tacacá da Ivete).


Depois de um século e meio, onde um dia fora um fonte de água potável, consumida pelos nossos antepassados, virou um esgoto a céu aberto!


Esta postagem eu dedico a todos os meus vizinhos da Rua Tapajós, Rua Leonardo Malcher e Avenida Ramos Ferreira – é uma passeio na história para valorizarmos mais o nosso passado e o nosso futuro.


É isso ai.


Fonte: Livro Roteiro Histórico de Manaus, Volume I, Mario Ypiranga Monteiro