terça-feira, 29 de setembro de 2015

AU BON MARCHÉ


Au Bon Marché (Bom Mercado) - Os srs. Lifsitch & Russo, importadores e negociantes a retalho, de artigos para senhoras, são estabelecidos à Rua Municipal, 67. Os sócios da firma são os srs. Simon Lifsitch e Louis Russo, ambos nascidos na Rússia, mas que residem no Brasil há muitos anos. O sr. Russo acha-se em Paris, onde faz as compras para a firma; e o sr. Lifsitch dirige a casa em Manaus, a qual é uma das mais conhecidas nesta cidade, para confecções para senhoras e crianças, vestidos, modas, perfumes, maletas e sacos de viagem, binóculos, chapéus de sol, sobretudos etc.

Os sócios têm larga experiência do mercado parisiense, que visitam alternadamente todos os anos; e têm sempre em seu estabelecimento as últimas modas, editando um bom catálogo de seus artigos. A vitrina do estabelecimento, no canto das ruas Municipal e Joaquim Sarmento, ostenta sempre grande número de artigos finos e artisticamente dispostos, os quais são freqüentemente substituídos por outras novidades.
Os sócios falam fluentemente várias línguas; e no estabelecimento fala-se correntemente, além do português, o francês, o alemão e o russo.




Fonte:
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300g47g41.htm

sábado, 26 de setembro de 2015

FLUTUANTES – ONTEM E HOJE


Nasci na Santa Casa de Misericórdia, o meu primeiro lar foi um flutuante (casa de madeira apoiada em enormes toras, próprias para flutuar na água), no igarapé de Manaus, onde passei parte da minha infância e carrego boas recordações daquele tempo bom – atualmente, os flutuantes estão restritos a “pontões” (posto de gasolina) e locais de lazer e prática de esportes.

O local onde morei era um braço do rio - parte de um conglomerado de residências, conhecido por Cidade Flutuante (com a maior concentração de casas situada detrás da Rua Barão de São Domingos). O processo de ocupação do leito do rio foi iniciado quando do declínio do fausto da borracha, que ocasionou a falência dos seringalistas, e levou uma multidão de seringueiros a ficarem sem eira nem beira.

Não tendo onde morar, a solução inicial foi a construção de casas sobre as águas da orla do rio Negro e, claramente, pelos igarapés que cortavam a cidade de Manaus. As habitações construídas sobre troncos submergíveis, tornando-as assim flutuantes, possuíam os assoalhos e os cômodos de madeira, tendo a cobertura, em grande maioria, feita de palha.

O sufoco era total, pois tinham que recorrer às lamparinas, candeeiros e lampiões para iluminação dos cômodos - um martírio, pois não podiam usar nenhum aparelho eletrodoméstico em casa. O café era torrado e pilado dentro da habitação e fervido num fogareiro à lenha; as roupas eram passadas com ferro de engomar a carvão e a comida era cozida num fogão a lenha, com tudo manual, típico de uma casa de ribeirinhos da Amazônia.

Na vazante, a família levava alguns meses para limpar toda a área externa, pois ficavam muito lixo espalhado pelo chão, como garrafas de vidro quebradas, latas enferrujadas, tábuas com pregos etc., por isso, o eu vivia sempre com cortes nos pés e muitas feridas pelo corpo.

Os banhos eram feitos em cacimbas ou camburões de metal, com água de beber sendo filtrada em potes, bilhas e filtros de barro. Existia uma grande vantagem: caso o caboco tivesse algum problema sério com o vizinho, bastava pegar o machado e cortar a corda principal que amarrava o flutuante à beira rio, ou colocar uma amarra num barco regional, pedir para ser puxado e mudar-se para o outro lado do rio. Como a minha família era benquista por todos os vizinhos, nunca precisamos sair do local onde morava.

Durante a enchente, o balneário ficava a altura da janela do nosso flutuante, bastava pular dentro do rio e tomar banho nas águas refrescantes, pois ainda não havia poluição em demasia, apesar dos moradores despejarem dejetos de privadas diretamente no igarapé.

Os barcos regionais ancoravam no flutuante, oferecendo a preço acessível peixe, leite, queijo, farinha e outros produtos regionais, além de tábuas e palhas para a manutenção da casa. O flutuante servia de base para muitos pescadores amadores e banhistas - alguns achavam que aquilo era um cancro, uma vergonha para os habitantes da terra firme, mas foi exatamente ali que passei de forma muito feliz a minha infância.

Atualmente, os flutuantes instalados na região do Tarumã, na orla de Manaus, servem de restaurantes, bares, para curtir o Rio Negro e prática de esportes, principalmente do Stand Up Paddle (SUP), uma modalidade similar ao surf, onde o praticante utiliza um remo.

Segundo dados da Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental, existem 94 flutuantes cadastrados, sendo 61 deles de postos de gasolina (pontoes) – todos eles devem obedecer às normas de segurança e ao cumprimento das legislações ambientais.

Os proprietários dos flutuantes-restaurantes procuram convencer os clientes a não jogarem lixos no rio; fazem coleta seletiva, aproveitamento do óleo de cozinha, para o fabrico de sabões, além do tratamento de esgotos, filtrando a água dos banheiros através de biodigestores, com a tecnologia ultravioleta para a eliminação de bactérias.

Os flutuantes mais procurados são os seguintes: Peixe-Boi, Abaré, Da Tia, Sedutor e Vitória Régia, no Tarumã e, Flutuante do Leão, no Puraquequara - existem outros tantos, mas, diferentemente da minha infância, a preocupação ambiental é muito forte, pois a fiscalização é severa.

Nos que moramos em Manaus, temos o privilegio de ter um imenso e bonito rio passando no quintal das nossas casas, o majestoso Rio Negro – essa relação com o rio e a natureza sempre foi um constante - curtir muito os flutuantes de outrora, hoje, quem se deleita são os meus filhos e, no futuro, serão os meus netos. É isso ai.

Fontes:
Zé Mundão (projeto de um livro)

Jornal Diário do Amazonas, edição de 20 de Setembro de 2015.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

AVENIDA GETÚLIO VARGAS


Localizada no centro de Manaus, com início na Rua Tarumã e término na Rua Floriano Peixoto, sendo considerada uma das mais bonitas da cidade.

Apesar da cidade de Manaus ser um pingo no “oceano” de mata da Amazônia, não é uma cidade muita arborizada, o que é muito lamentável, refletindo a falta de sensibilidade dos administradores públicos para com o meio ambiente.

Esta avenida, contrastando com as demais, possui o privilégio de esbanjar verde em toda a sua extensão – faz alguns anos, foi feito um estudo pelos técnicos da Prefeitura de Manaus, sobre o efeito da arborização no clima da cidade, foi constatado que há uma diminuição em torno de dois graus centígrados, inclusive beneficiando a Avenida Joaquim Nabuco.

O canteiro central foi, recentemente, totalmente reformado, foram colocados ladrilhos hidráulicos e uma iluminação especial em todas as árvores (prejudicando o sono dos passarinhos!) – muitos jovens e estudantes gostam de ficar sentados nos canteiros ao redor das árvores.

Esta  Avenida é a principal via de passagem dos milhares de ônibus, no sentido centro/bairros; apesar das toneladas de gás carbônico jogados pelas descargas dos veículos, o impacto é minimizado pelas dezenas de árvores do local.

Ainda muito jovem foi morar nesta avenida, na Vila Paraíso, ainda estão na minha memória os bailes do Sheik Clube e Bancrevia; os Bares Alex e Garfo de Ouro; os  cinemas Polytheama e Guarany; as brincadeiras de patinetes; a boate Porão; o prédio da CANTEL (a primeira empresa de telecomunicação de Manaus); o Tacacá da Dona Hilda; da Escola de Samba Unidos da Getúlio; da Escola Preparatória Dinâmico, do Nestor Nascimento e das peladas na quadra do Colégio Estadual.

Nesta avenida morou o ilustre Armando Soares (na foto do Portal A Crítica, aparece a viúva do Armando, a Dona Lourdes), proprietário do Bar do Armando; morou por lá o mais famoso Delegado de polícia de Manaus, chamado de Delegado do Diabo; encontramos o Bar Cinco Estrelas, do Charlie Stones; a Glacial, a melhor sorveteria de Manaus; a Policlínica Gilberto Mestrinho; vários restaurantes, com especial atenção ao Scarola, encontramos diversas cyber café e lan houses; pela proximidade do Largo de São Sebastião, existem diversos hotéis e agências de viagens; o SESI levantando a saúde para todos; lojas de confecções; lotéricas; lojas de fitness, enfim, encontramos de tudo por lá


Viva a nossa Avenida Getúlio Vargas! Viva! 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

BLOGDOROCHA: RIO NEGRO - DRAUZIO VARELLA

BLOGDOROCHA: RIO NEGRO - DRAUZIO VARELLA: Drauzio Varella Rio Negro - O rio Negro nasce na região pré-andina da Colômbia e corre ao encontro do Solimões, logo abaixo de Manaus, ...

terça-feira, 22 de setembro de 2015

HAJA CALOR, EM MANAUS, QUARENTA GRAUS!


Pois é, mano velho, dizem que a culpa é de um fenômeno denominado de El Nino (aquecimento do Pacifico, não permitindo a formação de ventos e chuvas na região da Amazônia). Imaginem o estrago que teremos quando esse menino crescer!

Quer mais? Então toma essa: ainda existe a tal da La Nina (diminuindo a temperatura do Oceano Pacifico), ocasionando resfriamento de 2 a 3 graus, BEM LONGE de Manaus!

Quer moleza? Vá encher uma laje, em pleno meio dia de Setembro!

Sou caboco de Manaus, do miolo derretido de tanto calor, pode me deixar lá no Deserto do Saara que não vai fazer nenhuma diferença!

Os meios de comunicação informaram que, ontem, foi o dia mais quente dos últimos noventa anos! É mermo, maninho? Não senti nadinha, ontem! Tudo normal para um caboco manauara!

Dizem que o clima em Manaus é de apenas duas estações: Verão (quente) e Inverno (chuva e quente). Sei, não. Acho que temos as quatro estações: Verão, Quente, Mormaço e Calorão!

O caboco e a cabocana estavam no “rala e rola”, em pleno mês de setembro, com o ventilador no máximo – ela fala: - Amorzinho, fala alguma coisa bem quente aqui no meu ouvido! Ele sussurrou: - Manaaauuus, Manaaauuus! O tesão acabou na hora!

Uma turista paulistana estava visitando o nosso Mercado Adolpho Lisboa, a mulher quase desmaia de tanto calor, pois estava fazendo 40 graus, na sombra! Correu para hotel, fechou a conta e, voltou para Sampa, chegando lá, estava fazendo 36 graus! Ele falou: - Troquei seis por meia dúzia! O Brasil está um inferno de quente, gente! 

O negócio é o seguinte: No mês de Setembro, em Manaus, o coitado do urubu voa com uma asa e se abana com a outra!

Outra coisa: O caboco que aprontou nessa e, for direto para o Inferno, não vai sentir nada, parente!

O bom de tudo isso é o seguinte: Chifre não se cria em Manaus: Derrete na hora!


A cidade de Manaus possui o maior per capita de consumo de cerveja do Brasil. Motivo: o calor que derrete os miolos, provoca secura na gargante, provocando muita sede, mas, muita sede na cabocada! Eu hein!

Charge: Rafael Froner

domingo, 20 de setembro de 2015

EDIFÍCIO DA LOBRAS


Existe, em Manaus, um prédio comercial que fez história na nossa cidade, conhecido, atualmente, como “Edifício da Lobras”, na esquina das avenidas Eduardo Ribeiro e Sete de Setembro.

No final de século dezenove, com o “boom” da borracha, os cofres públicos bamburravam com os impostos advindos da comercialização do “ouro branco” – sendo possível embelezar a cidade Manaus, com o aterramento do Igarapé do Espírito Santo e a criação da mais famosa artéria de Manaus, a Avenida Eduardo Ribeiro (uma homenagem ao Governador Eduardo Ribeiro).



No inicio do século vinte, foi construído uma bela casa no cruzamento da Rua Municipal (atual Avenida Sete de Setembro), para abrigar uma loja especializada em moda feminina, conhecida como “Madame Marie”, depois, substituída pela “Loja Adolfina”.

Tempos depois, inauguraram uma loja do tipo atual de “Tudo por 1,99”, era conhecida, naquela época, como “Loja 3.900” que depois “subiu” para “Loja 4.400”.




Na noite de 15 de Agosto de 1961, houve um grande incêndio, destruindo completamente a loja mais popular de Manaus, a “Loja 4.400”, afetando todo o quarteirão.




Em seu lugar, foi construído o prédio das “Lojas Brasileiras”, conhecida nacionalmente como “LOBRAS”, um empreendimento da família Goldfard de São Paulo, uma organização que chegou a ter 63 lojas espalhadas pelo país.

Com o fechamento do grupo “Mappin” nos anos 90, o mercado brasileiro de lojas de departamentos entrou em pânico – a família Goldfarb resolveu encerrar as atividades das Lojas Brasileiras, dedicando-se somente as “Lojas Marisa” – ao qual permanece até os dias atuais.

O Edifício Lobras é composto, atualmente, da Loja Mariza (térreo) e cinco andares com salas comerciais. É isso ai.

Fotos:



https://www.facebook.com/zeluizgonzaga - (poeta e escritor da empresa Banzeiro Poético)

BLOGDOROCHA: IMPORTADORA SOUZA ARNAUD

BLOGDOROCHA: IMPORTADORA SOUZA ARNAUD: Ao longo da minha vida profissional, passei até o momento por seis empresas, no entanto, a que mais marcou a minha vida foi a “Importadora ...

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O COLECIONADOR DE RELÓGIOS DE PULSO


Tenho um amigo de longas datas – tive o privilegio de conhecê-lo no bairro da Gloria, na época da lisura, mesmo assim, sempre foi um cara extremamente elegante e, sempre adorou colecionar relógios de pulso, um hobby caro, porém, contentava-se, naquela época, com modelos baratos e réplicas - partindo tempos depois, para os mais caros, quando começou a melhorar de vida.

Na sua juventude, gostava dançar nas famosas “Manhã de Sol”, do Oberon Clube (Gloria) e São Raimundo Clube, vestido de camisa comprida de fio elani,  calça branca e sapato de couro bicolor, sempre ostentando um lindo relógio de pulso.

Muitos anos depois, tornou-se um empresário forte na área de alimentação, tendo uma excelente estabilidade financeira, tornando possível levar a frente o seu hobby juvenil: colecionador de relógios de pulso.

Chegou a possuir sessenta relógios em sua coleção, o suficiente para usar durante dois meses seguidos, com um relógio a cada dia, sem repetir um modelo.

Certa vez, ele mostrou-me um relógio (não sei se era réplica) que era ofertado pelo Hitler aos seus comandantes, com um fundo falso, onde era colocada uma capsula de cianureto, para eles se suicidarem caso perdessem a guerra.

Ele tinha também um relógio Cartier, avaliado em quinze mil reais – ele ganhou numa brincadeira – um famoso lutador amazonense (do bairro da Alvorada) é amigo do seu filho mais novo – ele falou que se ganhasse uma luta nos EUA, o relógio ficaria de presente e, caso perdesse, teria que pagar pelo valor avaliado – o colecionador aceitou e ganhou.

Houve um assalto em sua residência, os meliantes levaram todos os relógios de sua coleção, incluindo o que estava em seu pulso – foram momentos difíceis, mas, superado o trauma anos depois.

Como todo bom colecionador, voltou a adquirir novos relógios, pois viaja muito a negócio, o que o permite encontrar muitas lojas especializadas e contatos com outros colecionadores – compra também através de sites.

Na semana passada, tive um encontro com ele e, para minha surpresa, falou que tinha desistido de colecionar relógios de pulso, bem como, estava colocando a venda toda a sua coleção – não falou o motivo, mas uma coisa eu tenho certeza, ele está muito bem financeiramente e sua empresa vai “de vento em popa”.

Esse hábito de colecionar objetos remota à época pré-histórica, sempre esteve ligado a satisfação de juntar artigos que nos deliciam – com relação a relógios tem um duplo prazer: construir uma coleção agradável e poder perfeitamente usá-los.


Já fui colecionador de moedas antigas e até hoje lamento em ter vendido a minha coleção, dessa forma, acho muito difícil o meu amigo desistir de sua coleção de relógios de pulso. É isso ai. 

domingo, 13 de setembro de 2015

O ANIVERSÁRIO


Ao levantar de madrugada, para ir ao banheiro, abrir a minha página do Facebook e, para a minha surpresa, continha várias mensagens de aniversário na minha linha do tempo, um sinal de que o dia do meu aniversário prometia.


Tive alguns contratempos pela manhã e parte da tarde, porém, tudo mudou quando bati o ponto no Bar Caldeira "Oficial", centro antigo de Manaus, onde pude encontrar com os meus irmãos José Rocha Martins eHenrique Martins, além de muitos amigos de boteco, para celebrar o dia natalício.

Fiquei muito agradecido aos meus amigos Cruz (um forte empresário do ramo de panificação) e do Carbajal Gomes (administrador do Bar Caldeira), por não me deixarem pagar nenhuma “cevada”, ficando tudo por conta deles, incluindo também os tira-gostos. 

Lá pelas tantas, comecei com a gaiatice: - Meus braços, vocês estão fazendo, hoje, cincoenta e lá porrada de anos! Minhas pernas, vocês estão também fazendo, hoje, cinquenta e caqueradas de anos! E você, bilau, se não estivesse morto, estaria completando, hoje, cincoenta e lá vai um monte de anos!

O meu mano Henrique falou que assinava a minha ficha para entrar numa agremiação masculina, denominada “Clube da Azulzinha”, o famoso “VIAGRA” – andam falando por ai que foi lançado nos Estados Unidos a versão Plus, constando de duas pílulas, sendo uma para levantar a moral do velho, com a segunda para ele lembrar para que serve aquilo, pois o camarada vai esquecendo tudo com a idade avançada. Eu, hein!

Teve até os “Parabéns!", do Carequinha, tocado e cantado pelo meu amigo Papaco AmoreSambaPapaco – gostei daquela parte “Chegou a hora de apagar a velinha...” – assoprei as “SEXYgenárias” Celestina Mariae a Jumara Whitaker! Hehehehe

Fiquei feliz com uma caricatura feito por um profissional do ramo, que juntamente com mais outros dois, foram contratados pelo Carbajal para fazer o desenho dos frequentadores do bar - fiquei ainda mais feliz, quando o Carbajal mostrou-se um folheto do bar, onde consta o meu nome por ter escrito a história do Bar Caldeira.

Hoje, bem cedinho da manhã, fui “forrar o bucho”, tomei uma sopa de mocotó no mercado municipal da Avenida Djalma Batista, depois, passear com o cachorro Nino e com a minha Duda, além de muita água, guaraná e sucos, para curar os excessos do meu aniversário. É isso ai.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

D. PEDRO I E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

As tropas do Napoleão Bonaparte ameaçavam invadir Portugal, por ter apoiado a Inglaterra – com medo, o rei D. João veio para o Brasil, com a sua família e muitos nobres, contando com a proteção armada dos navios ingleses.

Primeiro, desembarcou na Bahia, era o ano de 1808 - indo depois, para o Rio de Janeiro, onde ficou em definitivo, instalando a sede do seu governo.

Os ingleses forçaram o D. João a abrir os portos brasileiros a nações amigas – na realidade, abriu somente para a Inglaterra, que inundou o mercado brasileiro de produtos “Made in England”, acabando com o monopólio de Portugal.

Criou o Banco do Brasil, instalou tribunais de justiça, fundou a Academia Militar e da Marinha, o Jardim Botânico, a Biblioteca Nacional, dentre outros.

Em 1815, elevou o Brasil a Reino Unido a Portugal, passando de colônia para sede, uma situação incomum para os portugueses.

Em 1820, houve uma revolução vitoriosa em Portugal, onde foi criado a Cortes de Lisboa, com o objetivo de recolonizar o Brasil, reconquistando os antigos privilégios comerciais da burguesia portuguesa.

Em 1821, D. João VI foi obrigado a voltar a Portugal, para não perder o seu trono, deixando no Brasil, o seu filho D. Pedro, o herdeiro da Coroa.

As  Cortes tomaram varias medidas para enfraquecer a autoridade de D. Pedro, indo contra aos interesses econômicos de grandes empresários brasileiros – estes apoiaram o príncipe para que ele desobedecesse as ordens vinda de Portugal.

As Cortes desejavam que D. Pedro retornasse a Portugal, para acabar totalmente com a sua autoridade no Brasil e, em 9 de janeiro de 1822, D. Pedro declarou solene: Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico.

Com essa decisão, nenhuma determinação de Lisboa seria executada sem que recebesse o “Cumpra-se” de D. Pedro.

As Cortes de Lisboa continuaram adotando medidas para enfraquecer D. Pedro, o que culminou com uma reação política a essas medidas, quando em 7 de Setembro de 1822, em São Paulo, foi proclamado por D. Pedro, a independência do Brasil.

Ao retornar a cidade do Rio de Janeiro, em 1 de Dezembro de 1822, D. Pedro foi aclamado imperador e coroado como D. Pedro I.

Fonte: História do Brasil – Um olhar crítico – Gilberto Cotrim – Editora Saraiva










sábado, 5 de setembro de 2015

ZÉ MUNDÃO - VIAGEM A MAUÉS

Uma das praças de Manaus que o Zé mais gosta, para passear e encontrar os amigos para o bate papo, é a Praça Heliodoro Balbi (em homenagem ao advogado, político, professor e fundador da Academia Amazonense de Letras), conhecida também como Praça da Polícia (em decorrência da instalação da corporação militar no Palacete Provincial). Nela existe um belíssimo coreto em arquitetura art nouveau, construído com as colunas advindas do Teatro Amazonas. Ali, na sua infância, Zé assistia aos domingos a retreta da banda de música da Polícia Militar. A rodada de bate-papo com amigos e intelectuais geralmente acontece no Café do Pina e, esporadicamente, num banco bem embaixo de linda e imensa árvore, conhecida por mulateiro. Trata-se do local de encontro dos membros do movimento cultural e literário de renovação das letras, conhecido por Clube da Madrugada. O Café do Pina, antigo Pavilhão São Jorge, está localizado dentro do complexo da praça, mas seu lugar original ficava na rua Floriano Peixoto, bem em frente ao Cine Guarany. Zé frequentava aquele lugar desde sua infância, pois, ao sair do cinema, adorava tomar uma média (café com leite e pão com manteiga) e, admirar o proprietário, senhor Pina, um português que tratava todas as pessoas, independente de idade, com a saudação carinhosa “alô jovem!”. No espaço atual, conhecido popularmente como Republica Livre do Pina, gosta de tomar um “pingado” aos sábados e jogar conversa fora.

Um dia, sentou-se na escada da Rotunda (monumento circular, construído pelo prefeito Araújo Lima, em 1929), quando apareceu seu amigo do peito, Bené Sonson, um sujeito que, quando toma “umas e outras”, gosta de ouvir somente músicas das antigas do “Reiberto”, e fica o tempo todo reproduzindo o chavão: – Sou o Bené, caboco de Maués! Me respeite! O cabrito quando é bom, não berra! Será que ela é a bacana? Nesse encontro, ele estava com aquele “bafo de cevada” e resolveu torrar a paciência do amigo: – Meu compadre, eu te conheço faz um tempão, mas, me diz uma coisa, por que o teu apelido é Zé Mundão? Começou o Zé: – É um apelido de infância, eu gostava de girar um globo de plástico e falava o tempo todo que iria conhecer o mundo inteiro! Para Zé Mundão foi um pulo. – E ai, quantos países o amigo conheceu? – Nenhum! Praticamente não saí de Manaus toda minha vida! Conheço apenas o Rio de Janeiro e algumas cidades do nosso interior. – Poxa, então o apelido deve ser mudado para Zé Manaus! Só vou te chamar assim de agora em diante! Explicou Mundão: – Acho muito difícil mudar agora, Sonson, pois apelido quando pega, não tem sacristão que mude! – Meu compadre, por falar em interior, estou indo para Maués no próximo final de semana para a Festa do Guaraná. Vamos nessa? O barco sai à noite de sexta-feira lá do rodo, convidou o amigo. – Tô dentro, Sonson! Na sexta vou te aguardar no porto às seis, acertou o Zé. – Combinado, Zé Mundão, digo, Zé Manaus! Hehehehehe!

Conforme o combinado, o Zé se mandou para o roadway (o cais flutuante construído pelos ingleses no início do século passado), comprou sua passagem para um barco regional (fabricado de madeira). Seu cicerone, Sonson, não deu o ar da graça, e Zé, como já estava com a passagem comprada, resolveu viajar sozinho sem eira, nem beira para Maués. Este município fica a 367 quilômetros de Manaus, no Médio Amazonas, entre os rios Madeira e Tapajós, conhecido nacionalmente como “A terra do guaraná”. Seu nome é uma homenagem à nação Maué (tupi = papagaio curioso e falante), e o turismo é muito forte naquela região, em decorrência das belas praias e da realização da Festa do Guaraná e do Festival de Verão.

O barco estava lotado, o único local que o viajante encontrou para armar sua rede foi em frente ao pequeno boteco, onde o movimento de pessoas era intenso. Seu dono colocou uma caixa de som amplificada bem ao lado da rede do Zé, que não conseguia dormir. O único jeito foi enrolá-la numa viga do barco. E dá um tempo no boteco, e toma uma aqui, outra acolá, o tempo foi passando e todos falando alto, rapidinho se faz amizades. O Zé conheceu um sujeito por nome de Gondinho, natural de Maués, que fazia anos não ia a sua terrinha. Ele estava acompanhado do filho, Coroinha, jovem católico, apostólico e romano, além de beldades, duas colegas de trabalho. Fez amizade também com um cara que era o Padeiro (dono de duas padarias em Manaus) e mais quatro pinguços da melhor qualidade. Lá pelas tantas, o Padeiro fez a seguinte declaração: – Fiz a maior leseira! Amanhã será meu aniversário, passei a tarde toda tomando umas e outras lá no bar Caldeira, quando senti a maior saudade da minha terra Maués. Fui para o rodo e entrei no barco com a roupa do corpo, nada avisei para minha família, vai ter uma feijoada amanhã para os convidados lá em casa, como é que eu vou explicar essa minha loucura? O Zé logo procurou consolar o camarada: – Agora não vai dá para consertar nada, estamos navegando a noite no meio da maior floresta do mundo, a única solução será você ligar para a tua família quando chegarmos a Maués e pegar o primeiro avião para Manaus! Por ora, é melhor beber e esquecer. 

A viagem transcorria numa boa, muito forró/brega, com as beldades mostrando aquele visual, o Gondinho contando piadas e o Coroinha enchendo o saco de todo mundo, falando somente de religião. Depois de meia-noite, o Zé Mundão resolveu dormir. Quando chegou ao seu lugar, os pinguços estavam jogando dominó bem embaixo da sua rede, teve que aguentar um bom bocado aquela zoada de pedras na mesa, além daqueles comentários: – Até que enfim tu jogaste a carroça de sena! Gato, não, papai! Capote! Tu fechaste meu jogo, anta! Uma hora depois, a paciência do Zé chegou ao limite máximo, deu uma bicuda na mesa de dominó, gritou um palavrão, mandando os pingunços pra aquele lugar! Somente assim conseguiu, finalmente, dormir. Seis da manhã em ponto, os pinguços ficaram azucrinando: – Zé, Zé Mundão, acorda, acorda, vamos tomar o café da manhã! Pulou da rede, e logo um deles lhe deu um copo de cerveja, o café para eles, para Zé, não! Mesmo assim, ele deu uma golada e uma vomitada em seguida! 

Fazia uma manhã de sol, dava para notar o quanto o rio Maués-Açu é bonito, mas, para o Zé Mundão, o mais admirável de tudo, superando até a beleza do rio, foi ver as beldades de fio dental, pegando um bronze na área de lazer do barco. A galera se reuniu novamente no boteco, e haja suco de cevada; lá pelas dez da manhã, o Padeiro mandou ver: – Até chegar em Maués, tudo será por minha conta, vamos comemorar meu aniversário, macacada! Aí foi graça para o Zé! Nessa altura do campeonato, o Padeiro já tinha esquecido sua mulher, os filhos e até seus convidados. Não estava mais nem aí para a feijoada em Manaus! Chegando às onze e meia da manhã, o barco ancorou próximo da ponta da Praia da Maresia que, nesta época do ano, é o point da galera, com areia branca, água cristalina, 500 metros de extensão, palco armado para shows. Estava apinhada de gente. 

A primeira missão era forrar o bucho, assim, seguiram para uma peixaria, cujo dono era amigo do peito do Gondinho. Ao chegarem ao estabelecimento, a festa foi total, foram acomodados numa imensa mesa de madeira, posta no quintal, e o pedido foi feito pelo Padeiro: – Quatro tucunarés parrudos, refrigerante para as beldades e um camburão de cervejas para os pinguços & Cia! Tudo por minha conta! Zé Mundão ficou observando o curumim (menino pequeno), filho da cozinheira, que fez um prato de três andares e colocou duas cabeças de tucunaré para o moleque, que comeu tudo e ainda pediu bis. Muito diferente de seus filhos quando eram pequenos, quando sua mulher tinha que fazer “aviãozinho”, a fim de que eles comessem. Um senhor se aproximou e puxou conversa como Mundão, era uma pessoa simples, com voz pousada, um típico interiorano: – Você vai ficar onde, Zé Mundão? – Ainda não sei, mas estou pensando em ficar num hotel ou na casa da prima do Gondinho. Insistiu o recém-chegado: – Se você quiser pode ficar na minha fazenda! – Poxa, muito agradecido pelo convite, mas, já fiz amizade com essa turma e não posso ficar longe deles, agradecendo ao convite. O Zé ficou surpreso com o convite, pois ficou sabendo através do Gondinho que o velho era um fazendeiro, um dos mais ricos de Maués. 

Deixaram a bagagem no restaurante e foram para a Praia da Antártica, a mais famosa e movimentada da cidade, muito arborizada, de areia branca e águas límpidas. Possui o mais lindo pôr-do-sol do Brasil. Então, Zé se lembrou de um amigo baiano, Lúcio, um cantor e compositor que passou uma temporada em Maués, e, inspirado nas belas praias, compôs a bela canção chamada Beira de rio. Com a lembrança, começou a cantarolar a música: Como é bom morar na praia, no lugar que se imagina, viver, numa praia, na beira do rio, me dar arre pios, saber que a sua cabeça, não está nesse lugar, na beira do rio, canta passarinhos, na beira do rio, olha o Sol se pondo, aonde ele se esconde, do outro lado da praia, do lugar que se imagina, oi, oi, oi, Maués. 

Voltaram ao restaurante, pegaram as suas mochilas e rumaram para a casa da prima do Gondinho. Lá chegando, foram bem recepcionados, ela serviu aos visitantes um jantar bem regional, guisado de paca. Porém, que mais chamou a atenção do Zé foi o hábito que os moradores têm de tomarem a todo tempo guaraná em pó, ralado na língua do pirarucu, análogo ao hábito que os paraenses possuem pela cuia de açaí com farinha de tapioca e, os gaúchos, pelo chá mate no chimarrão. Segundo os estudiosos, esse saudável hábito caboclo, aliado à dieta amazônica, que inclui uma alimentação básica de peixes, frutas e verduras, conjugado com exercícios físicos e noites bem dormidas, é a chave para alcançar a longevidade. Tanto que os nativos de Maués conseguem, estatisticamente comprovado, a mais longa vida do país. 

A prima do Gondinho fez a gentileza de passar a roupa do Zé Mundão, pois ele iria assistir a encenação da Lenda do Guaraná. Ela comentou que aos domingos índios saterê-mauê vêm à cidade, para fazer trocas e receber donativos. Num belo gesto, ele doou algumas mudas de roupas para que ela entregasse aos índios. 

Saiu com o Coroinha para dar um rolê pela cidade, mas o religioso o levou direto a igreja. Não teve escapatória, teve de assistir a missa todinha; depois, conseguiu dar um drible nele, pois a praia do Zé era outra, queria beber e ver a mulherada. Voltou altas horas da madrugada e, como não conseguiu atar sua rede, o jeito foi dormir no chão. 

Foi acordado pelas beldades, que o convidavam para voltar com elas para a capital. Ele foi na conversa e, apesar da insistência dos amigos para que ficasse, embarcou de volta para Manaus. Na saída do barco, comentou para as beldades sobre um episódio acontecido há anos, quando um padre foi expulso dessa cidade. No embarque, ele lançou-lhe a seguinte maldição: – Maués, mau és, mau foste, mau serás! 

Quanto ao Zé, apesar das poucas horas em que ali permaneceu, ele gostou muito da cidade, tanto que falou para elas: – Cruz credo, ainda bem que não vingou a maldição desse padre, pois ela é uma cidade mui bela, boa, agradável, de um povo feliz e hospitaleiro. Não possui nada de mau! Oi, oi, oi, Maués!

Trecho do livro (ainda não publicado) "Zé Mundão" J. Martins Rocha