Dormi muito na Praça da
Igreja de Manacapuru, perdi as contas, certa vez amanheci dentro de um
fusquinha, fui acordado por uma cabocla com um filhinho no colo, abri o vidro,
ainda estava sonolento e dando aquele bafo de onça, ela me falou que era uma
mãe solteira, da vida, porém, queria tornar o seu filho um cristão, pediu para
eu ir até a Secretaria da Igreja e falar para o padre que eu era o pai da
criança, pois somente assim ela poderia batizar o seu filho, ela chorava, o
menino também, apesar da minha negativa, ela insistia.
O meu coração é mole e, sem
contar as consequências, aceitei fazer a encenação – cheguei à igreja,
despenteado, a roupa toda suja da farra do dia anterior, os olhos de ressaca,
dando aquela dose de mil no padre, ele me ouviu pacientemente, mas não entrou
no meu papo fajuto.
Com a negativa do padre, a mulher começou a chorar, o
menino também, fiquei todo desconcertado, ainda tive que pegar uns quinze
minutos de sermão do padre, para completar, para a remissão dos meus pecados, o
padre me mandou rezar uns cem “Pais Nosso” e umas duzentas “Aves Maria”.
Apesar de tudo, o padre
entendeu a minha intenção, pois eu queria somente ajudar - já pensou no buraco
em que eu iria me meter, poderia começar a pagar pensão alimentícia ainda muito
novo, fui muito inocente.
Mas, valeu, ele aceitou
batizar o curumim no domingo seguinte.
Ela ficou muito agradecida pelo meu
gesto e me convidou para ser o padrinho, agradeci gentilmente o convite, falei
que não era daquela cidade e que iria viajar para outro Estado, tirei pela
tangente, chega de rolo pro meu lado. Eu, hein!
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