sexta-feira, 15 de outubro de 2010

JARAQUI, O JARACA PARA OS MANOS DE MANAUS


O Jaraqui tem um nome complicado, conhecido no meio científico como “Semaprochilodus”, para os meus manos caboclos é apelidado simplesmente por “Jaraca”!

Por ser o peixe mais abundante e barato no Estado do Amazonas, o mais abastados falam que é comida somente de pobre! Puro preconceito! Alguns deles comem Jaraqui e arrotam Bacalhau!

É mano velho, não troco o meu Jaraca por nada, para matar a saudade fui ao templo do peixe, o Restaurante Galo Carijó, situado na esquina da Rua dos Andradas com a Rua Pedro Botelho, centro antigo de Manaus. O estabelecimento estava lotado, assim mesmo fiz logo o meu pedido: Jaraqui frito com os acessórios (baião de dois, farinha ova, tucupi, pimenta murupi, limão, sal e azeite de oliva).

Fiquei na espera de uma mesa, um olho no peixe e outro no “Felis cattus domesticus” (se bobear o gato leva!). Assumi a primeira mesa que desocupou, fiquei naquele martírio, esperando o meu manjar. Dois senhores se aproximaram e pediram para sentar à mesa, concordei gentilmente; começaram a falar sobre negócios, com sotaque de nordestino, o papo envolvia muita grana nas transações; tinha que ouvir aqueles indivíduos fanfarrões.

A garçonete veio ao meu encontro e perguntou: - Eles estão com você? O pedido também é Jaraqui? Antes de responder que não, um deles foi logo detonando: - Não gosto desse peixe, amazonense é que come isso ai (com ar de desprezo), quero um Tucunaré bem grande. Fiquei engasgado antes de o jaraca chegar; pensei com os meus botões: – Dou uma dura nesses palhaços ou me mudo de mesa? Optei pela segunda opção.

O meu peixe estava saboroso, enquanto comia olhava para os forasteiros, notei que um deles estava envergonhado da declaração infeliz; talvez o Tucunaré estivesse entrando quadrado; quem sabe na próxima vez irá fazer o seguinte pedido: - Um Jaraca com baião de dois, por favor! Não sou amazonense, mas comi o jaraqui e não saio mais daqui, nem com nojo de pitiú!

Olha o peixe ai minha gente!
Curimatã, Piranha Preta e Jaraqui
Traz o Tambaqui
Pra comer com Farinha e Tucupi
Venha logo!
Embarca nesse grande canoa
Que acordou o sapo
Um cantor de lagoa
Larga a batida do som Play Tecno
E vem dançar o Jaraqui Psicodélico

Elon Veleiro

Na terra do Jaraqui
Ninguém me contou
Eu mesmo vi
Sinal da globalização suicida
Um curumim Baré
Comendo Yakissoba com Hashi
No lixo da Feira, Nossa Senhora!
Da Aparecida

Marcos Santos


Foto: J Martins Rocha

3 comentários:

Unknown disse...

hmm adorei sua narrativa sobre os forasteiros ridículos, gostaria de reproduzir seu texto e foto no meu blog, poderia autorizar, estarei infornando seus créditos. att, Mara.

salazarius disse...

Bom texto!! Tive o prazer de conhecer o poeta Elon Veleiro!! Jaraqui Psicodélico com farinha do Uarini alucinógena!!

Flaic disse...

Como bom amazonense, o Jaraca faz parte do meu cardápio, frito com baião é realmente o manjá dos deuses. Quanto aos forasteiros, quem não respeita nossa cultura, não merece o meu respeito, eles se acham sábios, mas a maior ignorância dessas pessoas é acharem que todo lugar tem que ser igual ao dos mesmos.