Carmelia Esteves de Castro
História local de uma quadra, pequeno trecho de uma Avenida. Suas casas, seus habitantes por cinco gerações. A mudança de feição e a certeza insofismável da ciclicidade da vida.Esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Sete de Setembro (do lado esquerdo), encravado no Cine-Teatro Polyteama, o Bar do Vasconcelos, arena e palco de efervecência política e "pancadaria" dos discentes do vizinho Gymnasio Amazonense D. Pedro II e ele, Vasconcelos, com educação e fidalguia, ímpar, reverteu esse quadro, transformando o Bar em Sorveteria. Ponto de encontro, não somente dos Professores e alunos, mas também, das famílias amazonenses.Tempos depois o Bar-Sorveteria passou para o Adriano (Adriano Ruiz, descendente de espanhóis), assim permanecendo até ser adquirido pela empresa que também comprou o Cine-Teatro. Atualmente, tanto o Bar-Sorveteria quanto o Cinema deram lugar ao CORTEZ, Câmbio e Turismo.O Cine-Teatro Polyteama, cuja bilheteria e porta de entrada se localizava na Getúlio Vargas e as de saída, grandes e largas, para dar vazão aos usuários, para a sete de setembro. Pertencente a Empresa J. Fontenelle, de propriedade do odontólogo Jonas Fontenelle, homem versado nas letras, e famoso como poeta, que além deste espaço, mantinha o Cine Odeon (localizado em área nobre Av. Eduardo Ribeiro para atender a elite) e o Cine Popular (no final da Av. Joaquim Nabuco, próximo a Praça Santos Dumont, voltado para os menos abastados).Subindo a Rua Municipal ainda pelo lado esquerdo (atual 7 de setembro), localizava-se o Colégio Júlia Barjonas, famosa por seus métodos educacionais e que na década de 1950 passou a ser habitada por um dos membros da tradicional família Cohen, que mantinha próximo ao portão, um exuberante "pé" de Bela-da-Noite, que perfumava a rua toda. Vizinha a esta, a residência do Dr. Waldemar Pedrosa, advogado emérito, Procurador Geral da República e posteriormente Senador pelo Amazonas. Ambas as residências deram espaço para o hoje, Edifício Antônio Simões. Mas, antes de virar Edifício, a antiga casa do Dr. Waldemar Pedrosa, serviu de residência do Professor do Instituto de Educação do Amazonas, Alberto Corrêa e posteriormente, pertencendo a um outro proprietário, foi transformada em Restaurante Mexicano, alvo da curiosidade dos vizinhos, pelas pinturas típicas das paredes, música regional mexicana, tocada em alto volume e gastronomia exótica.Na seqüência, a imponente construção em estilo colonial, a residência do Governador do Estado, Dr. Jonathas Pedrosa, pai de seu ilustre vizinho, Waldemar Pedrosa. Construção de dois pisos, edificada na porção mais elevada e central do terreno, também de dois planos, fazendo frente para a Sete e portão dos "fundos", para a Rua Lauro Cavalcante.Após o falecimento do proprietário, o ex-governador, a casa se manteve fechada por um longo período e revitalizada, passou a abrigar um hotel de uma francesa, depois o Colégio Santo Antônio (administrado pelo Professor Alfredo Garcia), após, a sede do Luso Sporting Clube e, em finais da década de 1930, início de 1940, foi transformado no Colégio São Francisco de Assis, cuja Diretora, Dona Barbosinha (genitora do competente médico, Dr. Menandro Tapajós), foi responsável pela formação de centenas de estudantes. Aposentada, Dona Barbosinha, assumiu o Colégio, sua afilhada Leonor, que algum tempo depois contraiu núpcias com o Professor Fueth Paulo Mourão, que exerceu o magistério nas mais tradicionais Instituições de Ensino de Manaus (notadamente, IEA, D. Pedro II, Dom Bosco e Maria Auxiliadora, além de também ter pertencido a Seccional do Ministério de Educação no Amazonas).Sob a direção de Fueth e Leonor, o Colégio São Francisco de Assis, oferecia os serviços de Internato, Semi-internato e Externato. Da primeira categoria, era usuária a ex-Secretária de Educação e Cultura do Amazonas, Professora Emina Mustafá além de outras figuras ilustres da cidade. Desta fase, nascidos aí, os gêmeos Paulo e Dora, Assis, Malu e Mazé. (esta última jornalista destacada e mãe do bailarino internacional, Marcelo Mourão), as noites intermináveis de piano a quatro mãos, no casarão da frente (Paulinho e eu, que saudade! Assis dividindo o teclado comigo ao som de... "um pato / vinha cantando alegremente / quem, quem !... crianças que vi crescer!) e o sonho de Fueth, de construir um prédio de dois andares, em forma de L, homenagem a Leonor. O prédio antigo foi demolido, parte do L foi erguido e o Professor Fueth partiu. O colégio entrou em colapso, fez convênio com a Secretaria de Educação e passou a funcionar como anexo do Pedro II. Depois, alugado, abrigou o Colégio Einsten e depois o INSS. Atualmente um novo "espigão" ocupa o espaço.Ao lado do São Francisco, a Vila Xavier (em homenagem ao médico e proprietário da Vila, Dr. Xavier de Albuquerque). Por aí passaram: Aldagisa Fleury com o marido (na 1ª casa), depois Alegria e Flora Cohen. A família Castro (da Usina de Sal, porque no casarão da frente, do outro lado da avenida, morava o Castro do Guaraná-Brasil e depois Pajé), a Góes, a Vieira (do qual era membro o cirurgião plástico Cláudio Vieira), o Padre Ruas com a mãe (D. Emília), as irmãs Ruiz (Mercedez e Vitória) e...,até mesmo o Cartório Hélio.Na casa ao lado, na Av. 7de Setembro, a Professora de primeiras letas, D. Lydia Facundo do Valle (irmã da D.Yayá, proprietária do Cine Avenida, na Eduardo Ribeiro). Na terceira casa, pertencente ao complexo da vila, na parte externa, residia o Sr. Alcebíades Langbeck e D. Neném.Atualmente, a casa das irmãs Cohen, serve de residência a Carlos Quinzen Rodrigues e o térreo, abriga uma das lojas de sua família (Foto Nascimento). A da Dona Lydia, agora é ocupada pela Madame Joly, de perfumaria. A casa do casal Langbeck, posteriormente habitada por Carlos Aglair e seus descendentes, Evandro Socorro, Auxiliadora e Geraldo, dos quais, "Socorrito" (a teatróloga Beckinha), foi a que me deu mais trabalho. Hoje abriga o "Lima Color", num prédio de 3 andares.Já não mais pertencendo ao "Complexo da Vila", construção erguida por Joaquim de Figueiredo (literato, na época, funcionário do Banco Ultramarino), posteriormente adquirida por D. Libânia Carreira e seu cônjuge Jorge, que mantinha sua residência no primeiro piso e no térreo, uma doceria. Chamada pelos vizinhos de D. Libanita, ministrava aulas de culinária, para as senhoras da sociedade. No momento atual serve de residência a Nelcy Benjamim, que no piso térreo, mantém uma casa de confecções, especializada em Skate.Seguindo pela Sete de Setembro, em direção a Av. Joaquim Nabuco, originalmente, trecho do terreno baldio, da Vila Xavier até o prédio da esquina, era utilizado como depósito de lenha do Sombra; Bar na esquina do lado direito da Sete, foi edificada uma construção de dois blocos. Num, funcionando como Escola de Datilografia (Royalt) e a outra, mais recuada, a residência do Dr. Ademar Thury e sua esposa D. Ilma. Tempos depois, a residência deu lugar a uma outra Loja da Foto Nascimento e a Residência, que durante um período abrigou a Lima Color, encontra-se abandonada, alvo dos grafiteiros.O atual Sombra Palace Hotel, ocupa área, onde originalmente existia um casarão assobradado, sendo que no piso térreo funcionavam diversas lojas e no primeiro andar a residência do genro do Sr.Torres mais conhecido como Sombra. A família era composta pelo patriarca José Loureiro, sua esposa Julia e seus filhos Zeca e Toninho.Da janela do outro lado da Avenida, imagens foram se sucedendo, modificando a paisagem, por onde passaram figuras ilustres (nobres políticos, personalidades locais, nacionais como Martha Rocha, Miss Brasil e Getúlio Vargas, Presidente do País, e internacionais, como Craveiro Lopes, Presidente de Portugal) e a Banda da Polícia Militar, que saindo do Quartel à Praça Heliodoro Balbi desfilava tocando até o Palácio Rio Negro, Sede do Governo, onde uma vez por semana a Bandeira Nacional era hasteada, ao término, no seu retorno, desfilava entoando marchas militares. Alegria da garotada!(*) Carmelia Esteves de Castro é Escpecialista em História pelo CADES-MEC, exerceu Magistério no Colégio Dom Pedro II e IEA e Direção e Vice-Direção no Colégio Comercial Ruy Barbosa e Colégio Comercial São Luiz Gonzaga, respectivamente.Foto: Acervo particular de Maria de Lourdes Archer Pinto.