domingo, 27 de junho de 2021

VIAGEM A PARINTINS

   Cidade de Parintins - uma das viagens preferidas do Zé Mundão era rumo         à cidade de Parintins, município do Baixo Amazonas, para brincar de boi-bumbá.            Foram tantas, que perdeu a conta, viajando sempre de barco regional.                      A mais marcante aconteceu quando serviu de cicerone a um sansei (filho de filho     de japonês), legítimo paulistano do famoso bairro oriental da Liberdade. A turma     do Zé gostava de marcar ponto no Boteco União, onde a galera fazia a concentração todo o final de semana. Certo dia apareceu por lá um sujeito vendendo passagens para o Festival Folclórico de Parintins, o caboclo era bom de gogó, tanto que conseguiu vender para a maioria do grupo. Era uma turma muito divertida, nada       de violência, somente curtição nos botecos e nos clubes da cidade. O Zé então trabalhava numa empresa japonesa. Falou com seu superior e solicitou cinco dias, para compensar nas férias, para ir ao festival. Dois dias antes, seu chefe recebeu     a ligação de um amigo de infância, cujo sujeito desejava ir a Parintins, num barco regional,  a fim de conhecer as belezas da Amazônia, percorrendo o rio Amazonas. Que sorte, o Zé Mundão foi escalado para acompanhar o japonês. Ficou pouco receoso,  pois viajaria com um bando de cachaceiros e gozadores. Agora, no meio daquela turma, um nisei todo metódico, certinho, não iria dar certo. Além do mais,     o cicerone teria que se comportar ao máximo, pois o japa poderia falar para seu superior sobre suas peripécias durante a viagem, que, afinal, não seria nada bom    na empresa.  O japonês chamava-se Genésio, nome esquisito para um descendente do povo do sol nascente. Ele era jovem e um pouco descolado. Desde quando chegou, o Zé notou que ele tinha bastante bala na agulha, pois, rapidinho a empresa conseguiu uma casa em Parintins para acomodar o sujeito, posto que não havia mais vagas nos hotéis ou pousadas na cidade. Além disso, providenciaram lugar num camarote especial, para ele assistir no Bumbódromo as três noites de festival. Por ser o cicerone, o Zé foi contemplado com essas regalias. O barco saiu à noite    no Porto de Manaus, o Roadway. Nele conseguiram pequeno espaço, onde foram atadas as redes de dormir, guardaram as bagagens e o Zé Mundão fez                      a apresentação do japonês à turma. Todos já estavam na área de lazer, tomando “água que passarinho não bebe”. Para sua surpresa, o japonês foi logo                   se enturmando, começou a contar algumas piadas, estava solto, mas bebia somente um “Chá Mugicha”, pois, segundo o mesmo, sua religião não permitia nem pensar em bebida alcoólica. Lá pelas tantas da noite, a turma já estava “Pra lá de Bagdá”,     o japonês colado numa cabocla e dando aquele amasso na cunhantã e, de vez      em quando, dava altas gargalhadas. Pasme, estava dançando pouco desajeitado     as toadas de boi, além de ter aberto a carteira e pago todas. O Zé ficou desconfiado daquele chá que ele tomava na boca de um longo cantil em couro, tipo espanhol.      A missão do Zé, todavia, era ficar na cola dele e cuidar de sua integridade física. Ainda assim, foi dormir, deixando o japonês virando bicho na área de lazer do barco. Quando acordou, às nove da manhã, e olhou para o lado, viu o japa dormindo juntinho com a cabocla, na mesma rede. O segurança ficou a pensar:                  “Esse ai não tem nada de tímido, bota é no toco!”. Recomeçou a movimentação       no barco, com umas pessoas correndo para os banheiros, outras se acomodando nas imensas mesas para o café da manhã, e algumas já começavam os trabalhos no bar. Muitas mulheres já estavam a postos na área de lazer, para pegar aquele bronze. O DJ Tubarão detonava uns flashbacks, enquanto a banda de forró-boi       se preparava para mais uma apresentação. Enfim, o dia prometia muitas emoções. A viagem de barco de Manaus a Parintins dura em torno de dezoito horas, com direito ao café da manhã e o almoço, tendo o vendedor de passagem assegurado que seria servido um café regional com dez itens. A turma do Zé foi conferir:         pão, bolacha de motor, café, leite, Nescau, manteiga, queijo coalho, banana, mamão        e abacaxi. Após forrar a pança, a corriola foi para a área de lazer, onde observou que o japa já tinha descartado a namorada, mas já tomava o misterioso chá               de Mugicha no cantil e dava em cima de uma Raimunda (mulher mais feia que       um processo, mas com um corpo escultural ou, em outra definição, feia de cara, mas boa de bunda). Soltava o japonês sonoras gargalhadas, dançava desajeitado            o “dois pra lá, dois pra cá” e, bem melhor, abrira a carteira, começando a pagar cervejas para a negada. Zé aumentou sua desconfiança sobre aquele chá.            Antes do almoço, o Zé foi até à cozinha, onde se preparava um cozidão de carne. Com aquela água na boca, pediu e foi gentilmente atendido com um copo do caldo, porém, quando deu o primeiro gole, viu um enorme cabelo.                                       Como já tinha tomado todas, deu um grito: 

– Caramba, se aqui no copo tem um cabelo, imagine dentro da panela,                deve ter uma peruca! 

Em resposta, a cozinheira correu atrás dele para dar-lhe uma panelada!            Depois dessa, ficou proibido de almoçar. Nada falou para o japoca sobre o ocorrido, que desceu, sentou à mesa e almoçou numa boa. Comeu que nem um lutador        de sumô, mas deve ter engolido, sem notar, alguns cabelos. Em seguida, continuou tomando aquele chá, com uma cara de quem estava pra lá de Hiroshima. Deitou-se na rede, roncou e soltou puns para todos os lados, parecia um kamikaze matando todo mundo de risos. Como já estivesse desconfiado, Mundão resolveu cheirar         o cantil do samurai, quando tomou o maior susto, por isso, gritou: 

– Caracas, isso aqui nunca foi um chá, tá parecendo com saquê! 

Voltou para sua galera, falou da bebida do japoca e tudo o mais. Concluindo,         era um cara muito diferente de seus pares, mulherengo, cara de pau, beberrão          e mão aberta. Finalmente, chegaram à terra dos parintintins, a famosa Ilha Encantada, ocasião em que o Zé correu para acordar o visitante: 

– Acorda, acorda, acorda samurai do saquê! 

Ele respondeu ainda meio sonolento: 

– A corda é minha e a rede também! 

O Zé insistiu: 

– Não é isso não, acorda, abre os olhos, japoca, chegamos à terra do Boi-Bumbá. Ele deu um pulo, desatou a rede, arrumou tudo, estava prontinho para mais três dias de festa. Zé pensou com seus botões: “O bicho vai pegar, vai ser uma loucura,         eu e esse japonês vamos botar Parintins de cabeça para baixo!”                              Os dois se separaram dos amigos e se alojaram numa casa de uma vereadora      de Parintins, com direito a suíte, com ar condicionado, duas camas, banheiro, aparelho de som, televisão e bastante mordomia, bem diferente dos anos anteriores, quando o Zé ficava hospedado nos barcos, passando um sufoco danado.                 O prefeito da cidade era um sujeito alcunhado de Carbrás, empresário maluco, pois o poder subiu-lhe à cabeça, tendo sido um desastre sua administração, tanto que seu mandato foi impugnado tempo depois, sofrendo o famoso impeachment.             A vereadora que hospedou os dois, estava há seis meses sem receber os salários, simplesmente porque o prefeito não repassava as verbas, garantidas                       por lei, ao Poder Legislativo. Todos estavam sofrendo nas mãos daquele insensato.

O japonês Genésio tinha grana saindo pelo ladrão, tanto que resolveu bancar todas as despesas nos três dias em que estiveram hospedados, como forma                     de agradecimento pela estada e pela situação do Zé, sempre bastante braba.    Estava também hospedada lá uma caboquinha linda, vinda da vizinha cidade          de Juriti, interior do Pará. O japoca, como sempre, frágil no amor, sofreu logo uma paixonite pela cunhã, tanto que o cara resolveu não mais tomar seu famoso chazinho. Mudou do saquê para a água, o que o amor não faz! A primeira mudança dele foi afastar-se da turma do Zé Mundão. O negócio dele passou a ser tomar sorvetes e andar pela cidade de mãos dadas com sua cunhã poranga (a mulher mais bonita da tribo) de Juriti. Então, Zé deixou o japonês de lado, pois,                     a caboquinha tornou-se a cicerone. Foi com sua turma assistir à festa dos visitantes e, no dia seguinte, assistiu a primeira noite do festival nas arquibancadas (onde fica a galera que não paga ingresso), mesmo tendo à sua disposição as credenciais para entrar em qualquer parte do Bumbódromo. Retornou de madrugada, e resolveu dormir no chão, na sala de estar, debaixo de imensa mesa colonial, para não atrapalhar a noite de amor do japoca com sua cunhã. Lá pelas nove da manhã,         a dona da casa acordou o Zé: 

– Meu filho, deixei à sua disposição uma cama com ar condicionado e tudo o mais,      e você resolve dormir no chão, embaixo da mesa! 

O dorminhoco pediu desculpas, prometendo que não repetiria mais aquilo, todavia, promessa feita mas não cumprida! Na noite seguinte, Zé chegou calibrado                 e novamente dormiu no chão, agora do corredor da casa. Na segunda noite            de festival, Zé ocupou um camarote com o japonês e sua namoradinha, mais            a vereadora e seu marido. O problema maior para o Zé foi que todos que estavam    lá eram evangélicos, rolava somente água mineral, sucos e refrigerantes, sem chance dele tomar uma cervejinha. Então, bateu uma saudade danada da sua turma de bagunceiros e cachaceiros, que estava lá nas arquibancadas. Naquele ano rolou uma grande rivalidade entre os “levantadores” de toadas (cantores):                  Júnior, do Caprichoso e o David, do Garantido. Umas das toadas que o Zé mais curtiu foi o Vento Norte, composição do amigo de infância Ariosto Braga e do José Cardoso. A letra é esta: 

O vento norte / Que seduz minha razão / Assobia, e me banha de emoção / O amor errante / Paixão distan te / Azul é sempre cor de navegante / Vento que vem             / Balançar canaranas no rio / Vento que traz / A saudade de quem já partiu... 

Do lado do Garantido, sempre emocionou ao Zé a toada Vermelho,                         do Chico  da Silva: 

A cor do meu batuque / tem o toque, tem o som / da minha voz / Vermelho, vermelhaço / Vermelhusco, Vermelhante / Vermelhão. / O velho comunista se aliançou / Ao rubro do rubor do meu coração / He! Ho! He! Ho!                                 No terceiro dia, foram visitar pela manhã a Vila Amazonas, a comunidade distante da sede uns vinte minutos de barco, local banhado pelo rio Amazonas e pelo Paraná do Ramos. A vila ficou conhecida devido a imigração japonesa e a produção industrial de juta, uma fibra vegetal introduzida pelo senhor Ryota Oyama.                Lá se instalaram em torno de vinte famílias de koutakusseis (estudantes da escola japonesa Kokushikan) participantes do Projeto de Exploração da Mata Amazônica, mas que foram expulsas do local, em decorrência da Segunda Guerra, pois o Japão era inimigo do Brasil. Na visita, encontraram apenas um imponente prédio abandonado, que serviu de moradia para o mega empresário português J. G. Araújo. Nada mais lembrava que ali moraram centenas de japoneses, tudo fora destruído pela insanidade da guerra. À noite, antes de irem ao Bumbódromo, o japonês convidou o Zé para o jantar numa churrascaria no centro da cidade. Na realidade, ele queria desabafar um pouco, quando fez a seguinte declaração: 

– Zé Mundão, na verdade, eu queria ser igual a você e seus colegas, tentei, mas não deu. Sou um japonês muito tímido e a minha criação foi muito rígida, tive que dar duro muito cedo para ajudar nos negócios da família. Meu pai ganhou muito dinheiro, montamos uma grande transportadora em São Paulo, com várias filiais     no Brasil. Esta experiência está sendo bastante gratificante para mim, sinto-me livre e em paz. Estou muito orgulhoso de ter conhecido a Amazônia e sua gente, principalmente, você! 

Zé quase chora com a sinceridade do japonês, assim os dois tornaram-se amigos    do peito. Inclusive, o Genésio propôs levá-lo de avião para Manaus, seria seu convidado para passar alguns dias no Tropical Hotel, mas o convidado recusou.    Deu um sincero abraço de despedida no novo amigo, e seguiu para o Bumbódromo, para se reencontrar com sua turma. Ele e os amigos voltaram de barco                     para Manaus, e nunca mais o Zé Mundão viu o “samurai do saquê”,                         nem teve notícias dele, restaram-lhe somente as lembranças de sua                      melhor                         viagem          de             barco                 a                  Parintins.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

SEGUNDA SEM LEI

O segundo dia da semana é considerado o primeiro no calendário.


Os pagãos antigos reverenciavam esse dia como dedicada a Lua, por isso que em espanhol é chamada de Lunes.


A segunda-feira, dizem alguns que é o pior dia: ressaca, preguiça, malhar, trabalhar, estudar e por ficar bem longe da sexta! 


Por outro lado, existe uma galera que adora esse dia, também conhecida como SEGUNDA SEM LEI.


A minha amiga a Socorro Papoula, comentou que no dia seguinte a morte do cantor Cauby Peixoto, participou de uma rodada de cervejas, sob a coordenação do publicitário Luiz Cláudio Glomier, no Bar do Cipriano, na Rua Ferreira Pena, para ouvir as músicas do finado e reunir a galera na conhecida “SEGUNDA SEM LEI”;


O meu saudoso amigo Jokka Loureiro, que era considerado o Rei do Peixe Frito, do bairro de São Raimundo. Ele saía todos os dias à noite para tomar umas e outras e, paquerar a quengas – com exceção das segundas-feiras, quando levava a Dona Mara para um programa a dois “Pode chover canivetes, mas, na segunda é o dia da patroa, pois é a SEGUNDA SEM LEI" falou certa vez.


Muitos jovens motoqueiros arruaceiros gostam de se reunir em praças, avenidas desertas e outros lugares distantes, para fazer pega, beber, fumar dirijo e fugir da batida policial - é a “SEGUNDA SEM LEI”;


Alguns clubes, bares e restaurantes possuem um público cativo nas segundas, onde rola muito rock maneiro, MPB das boas, sem cover artístico nem entrada, com a cerveja mais barata do que os outros dias da semana e petiscos mais encontra – é a famosa “SEGUNDA SEM LEI”;


Nas redes sociais existem grupos de amigo que combinam para jogar futebol, pedalar, correr e praticar outros exercícios físicos, eles se encontram somente na “SEGUNDA SEM LEI”.


Os mais antigos manauaras gostavam de assistir filmes no Cine Guarany e Polytheama, do gênero “Western”, conhecidos como “Bangbang”, onde a violência imperava, com mocinhos e bandidos montados em cavalos mandando tiros para todos os lados – era a imperdível “SEGUNDA SEM LEI”;


Faz algum a tempo a Televisão Band passava alguns filmes desse gênero: Ninho de Cobras, 1970, com Kirk Douglas – A Marca da Forca, 1968, com Clint Eastwood – O Dólar Furado, 1965, com Giuliano Gemma - Três Homens em Conflito (1966) - Era Uma Vez no Oeste (1968) - O Vingador Silencioso (1968) - era chamado “CINE SEGUNDA SEM LEI”.


Até mais ver na SEGUNDA SEM LEI. 

É isso ai.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

ISAAC BEN (EMÉRITO) SABBÁ.

 

O Isaac Benayon Sabbá nasceu na cidade de Cametá, no Estado do Pará,  no dia 12 de fevereiro de 1907, falecendo em Manaus, em 22 de março de 1996 – foi um judeu serfatitas (francês) de família humilde que se tornou  um empresário visionário e multimilionário na Amazônia e, apesar de todo o capital acumulado foi uma pessoa simples, muito família, um humanista  e benemérito.

Em suas empresas de beneficiamento de produtos regionais absorviam uma grande mão de obra de mulheres operárias, dando-lhes todas as garantias trabalhistas, fornecendo refeitórios dignos, consultórios médicos e odontológicos de alta qualidade, excelentes residências para os operários, segurança e bem-estar aos trabalhadores, som ambiente no chão de fábrica e salário digno – coisas muito raras naquela época.

Na inauguração da Refinaria Isaac Sabbá, declarou à imprensa: “Proporcionamos também a valorização do homem da região amazônica, dando-lhes oportunidade de trabalho especializado e remunerado, e sentimo-nos envaidecidos em dizer que esta Refinaria está operando com 90% de técnicos e operários da região”.

Foi Presidente da Associação Comercial do Amazonas – ACA, em 1957, na oportunidade convidou os industriais e comerciais, além do Deputado Federal Pereira da Silva (Pereirinha) para debates sobre a Zona Franca de Manaus, possibilitando a regulamentação – hoje, o Pólo Industrial da Zona Franca de Manaus e o Comércio são responsáveis por empregar mais de vinte por cento      de toda a população e Manaus, graças ao Isaac Sabbá.

Em 1961 recebeu o Título de Cidadão do Amazonas, pela Assembleia Legislativa do Amazonas.

Todos os seus empreendimentos eram guiados por princípios éticos, o sentimento de solidariedade e à consciência de cidadania, frutos da ação daquele homem de hábitos simples e de semblante tranquilo.

Tomou posição de vanguarda  na contribuição do setor privado à solução de questões de interesse público relevante:

ØCedia máquinas e equipamentos da Refinaria (tratores, guindastes e outros equipamentos) às instituições pública, para colaborar  nos serviços de abertura, asfaltamento e manutenção de ruas da cidade de Manaus;

ØContribuiu na construção da Companhia de Eletricidade de Manaus, no Plano Inclinado;

Ø * Ajudava, financeiramente, a CEM para pagamento das folhas de salários dos funcionários, além de atender a liquidação dos compromissos dos seus fornecedores;

Ø * Foi o maior contribuinte para a construção da Sinagoga de Manaus;

Ø * Fundador a acionista do Banco do Estado do Amazonas – BEA, ajudando financeiramente nas horas de aperto;

ØAjudava, financeiramente, os grandes empresários e pessoas humildes, indistintamente. 

     Segundo o filho primogênito, o saudoso Moisés Gonçalves Sabbá: 

“  "Meu pai tinha hábitos muitos saudáveis: ao acordar, ele fazia ginástica e caminhada, tomava banho e vestia um terno branco, descia a Avenida Eduardo Ribeiro dirigindo o seu carro até o escritório ali na Rua Guilherme Moreira, 235, ficava até uma e meia da tarde, ia para casa e deitava numa rede, ficava se embalando e ouvindo música. Depois do almoço fazia caminhadas pela nossa casa, quando dava às quatro horas da tarde voltava para o escritório e ficava até as oito da noite. A noite ia para o Ideal Clube, sentava a porta  do clube e começava a ouvir as pessoas e tomava um café com o porteiro.”                                       

Já com a idade avançada continuava um homem otimista e bem humorado,         com uma mente de um jovem, no entanto, muitos dos seus amigos e admiradores, na medida em que não podiam mais dele obter favores e benesses, foram deixando de visitá-lo e, assim, ele foi-se isolando no seu gabinete de trabalho.

Em sua homenagem existe a Escola Estadual Isaac Benayon Sabbá, no bairro  de São Jorge, a Ponte Isaac Sabbá, na Rua Leonardo Malcher e a FIEAM lançou um livro em sua homenagem.

Esta postagem foi motivada por dois motivos: pelas qualidades deste homem benemérito que ficou para a história da Amazônia e, em particular, da nossa cidade Manaus e, como forma de agradecimento pessoal, pois na minha adolescência, ele abria as portas de sua mansão situada na Rua Monsenhor Coutinho (atrás do Ideal Clube) para receber além dos homens poderosos de nossa cidade, as crianças pobres para lancharem em sua residência, incluindo este escriba aqui e toda a molecada da Rua Tapajós e seu entorno.

É isso ai.

Fontes: Livros "Isaac Sabá", da Etelvina Garcia e "História e Memórias", de Elias e David Salgado.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  


sábado, 12 de junho de 2021

HOSPITAL INFANTIL DR. FAJARDO

 

Está localizado na Avenida Joaquim Nabuco esquina com a Rua Doutor Machado, centro de Manaus. Foi fundado em 19 de dezembro de 1922, chamava-se Casa Dr. Fajardo – Hospital Infantil e ficava na Rua Ferreira Pena, 184, sendo mantida pela Sociedade de Amparo a Maternidade e a Infância de Manaus.

O nome do hospital foi em homenagem ao Dr. Francisco de Paula Fajardo Júnior, médico e pesquisador, nascido no Rio de Janeiro em 8 de fevereiro de 1864. Durante a sua visita a Manaus, ele fez uma expressiva doação de recursos que foi de grande ajuda para a fundação que amparava a as crianças pobres de nossa cidade.

Na esquina da Rua Ferreira Pena e Ramos Ferreira existe uma bela casa, tipo palacete, naquele local foi a primeira sede da Casa Fajardo, onde contava com o trabalho da ordem religiosa das Irmãs Terceiras Capuchinhos.

As fotografias são do interior do Hospital Dr. Fajardo, no antigo prédio da Rua Ferreira Pena, pois somente em 1965 mudou-se para o atual local.

Esta Sociedade recebeu verbas do governo federal, em 1956, para o inicio da construção no local atual, porém ficou abandonado por três anos, comprometendo a sua estrutura em decorrências das fortes chuvas que acometem a nossa região e o forte calor e umidade.

A sua construção foi em forma de U com dois Pavilhões, com sala de operação, salas especializadas em tratamentos dos olhos, ouvidos e gargantas, enfermarias e ala para a comunidade religiosa.

Em 1959, o então Deputado Federal João Veiga, conseguiu a abertura de um crédito especial junto ao governo federal, com um suporte de quinze milhões de cruzeiros para o término da construção, que ficou a cargo da Construtora Pinto Ferreira e Silvestre.

Como pode ver na fotografia antiga, o hospital estava abandonado em 1959, aparecendo a estrutura que ainda continua até os dias atual e os trilhos dos bondes que deixaram de circular em 1956.

Este hospital traz boas lembranças, pois foi onde eu toda a molecada do Igarapé de Manaus e entorno íamos fazer os nossos exames rotineiros, vacinas e internações quando estávamos doentes. Passados alguns anos, levei os meus filhos menores para fazerem tratamentos preventivos odontológicos e vacinação.

Atualmente, o hospital possui 60 leitos sendo 5 de Unidade de Terapia Intensiva, servindo de referencia em cirurgias reparadoras para a região Norte.

No próximo ano completará 100 anos – vamos comemorar, pois é a nossa história.

É isso ai.


Fotos: Câmara Federal


sexta-feira, 11 de junho de 2021

 OS BANDIDOS É QUEM MANDAM NESTE PAÍS.

Infelizmente, estamos cercados, ameaçados e reféns da bandidagem e dos traficantes de drogas.
Para complicar ainda mais, a maioria dos políticos que foram eleitos para nos representar utilizam os cargos para desviar recursos públicos, não chegando até àquele pobre coitado que votou nesses bandidos de paletó e gravata.
Para complicar ainda mais ainda, ainda estamos sofrendo com a cheia do Rio Negro, invadindo a cidade e afetando diretamente a população mais pobre que mora na beira dos igarapes.
Para finalizar, ainda temos um vírus matando muita gente e o governo por pura incompetência e desrespeito ao povo não comprou as vacinas em quantidade para imunizar cem por cento toda a população.
Estou um ano e meio dentro de casa, logo hoje que iria voltar a trabalhar com o meu filho Alexandre Soares, não será possível, pois está tudo fechado por tempo indeterminado.
Os bandidos é quem mandam neste país.
Ulisses Filho Marques, Jersey Nazareno Trindade e outras 17 pessoas
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ISAAC BENAYON SABBÁ, O ETERNO REI DA AMAZÔNIA

O Isaac Sabbá nasceu na cidade de Cametá, no Estado do Pará, no dia 12 de fevereiro de 1907 (faleceu em Manaus, 22 de março de 1996),   o terceiro de sete filhos de Primo Sabbá e Dona Fortunata Sabbá, uma família descendente de judeus marroquinos que migraram para a Amazônia entre 1880    e 1890 – veio para Manaus com 15 anos de idade, construindo um império industrial, sendo eleito, aos 53 anos, pelas revistas internacionais, como o Rei da Amazônia, eternizado com este título, pois jamais será destronado.

Os seus antecedestes eram considerados judeus serfatitas (em hebraico significa francês) – vieram de Marrocos para a Amazônia, com toda a família, prenunciando o desejo permanente de ficar, assegurando o caráter doméstico e gregário da vida judaica, milenarmente presa aos valores culturais e religiosos, como forma    de assegurar a permanência de sua cultura.

O jovem Isaac Sabbá não chegou a concluir o curso ginasial, no entanto, era um leitor voraz de livros e do noticiário de economia da revista Time e de jornais ingleses e americanos, o que teve uma grande importância na sua formação, contribuindo para que aos vinte anos de idade já estivesse familiarizado com o sistema financeiro internacional e com as relações econômicas  dos países industrializados.

Casou com a bela parintinense Irene (Assayag) Gonçalves Sabbá, em 1942. O casal teve cinco filhos: Moisés (primogênito e sócio), Alberto, Mário, Ester e Débora (faleceu antes de completar um ano de idade), dedicando basicamente toda a sua vida a três coisas: a família, o trabalho e a religião.

Em 1922, o jovem Isaac Sabbá, em sociedade com o seu irmão Jacob fundaram a primeira firma, a Jacob & Cia, ficando o Jacob na área burocrática e o Isaac tornando-se um excelente vendedor e com bons conhecimentos de câmbio e comercio exterior – era o início de uma carreira empresarial de um homem de pensamento e ação, voltado para resultados, mas dotado de um profundo respeito ao meio ambiente e aos interesses da sociedade - coisas muita rara de encontrar nos empreendedores dos dias atuais.

Em 1930, depois de refletir sobre as lições do mercado, ocorrido em 1929 com o crack da bolsa de Wall Street, expande os seus negócios com a firma J. Sabbá & Cia, depois associando-se ao empresário Isaac Péres, nascendo a empresa Péres Sabbá & Cia, contando com modernas instalações industriais, a Usina Vencedora, na Ilha de Monte Cristo, com produção e exportação de borracha bruta e lavadas, além de óleo de copaíba, balata e jutaicica – era o início do homem de negócios voltados para o comércio exterior.

O Isaac Sabbá era um homem visionário, descobrindo um nicho de mercado de exportação de borracha, castanha, sorva, couros e peles, cumaru, piaçava, cipó-titica e outros produtos regionais, tendo como novo modelo o fator qualidade (apresentação e embalagem de primeira).

Tornou-se grande exportador de borracha, com considerável lastro financeiro e com credibilidade, conseguindo financiar e pagar antes do prazo a Usina Labor no bairro de Educandos. 

Três anos depois o Brasil declara guerra aos países do Eixo Alemanha-Itália-Japão, impactando os seus negócios, mas nada o esmorecia em continuar com os seus objetivos de expandir as suas empresas.

Com os Acordos de Washington houve a ampliação da produção de borracha, mas limitada a sua venda excedente somente para os norte-americanos, com o Isaac Sabbá perdendo a primazia  da exportação.

Ficou instituído o monopólio da borracha que perdurou alguns anos depois do fim da Segunda Guerra, além da proibição dos Estados Unidos da entrada da castanha do Brasil em seu território, indo de encontro aos sonhos e projetos do Isaac Sabbá. 

Mesmo assim, em 1943, em plena guerra, assumiu o ativo e o passivo da empresa B. Levy & Cia (não foi um bom negócio para o empresário), adquirindo do espólio dezenas de empresas e seringais.

O Isaac Sabá tinha um extraordinária feeling (percepção de uma caminho a tomar para alcançar o futuro). Com o fim da proibição da importação por parte dos Estados Unidos, modernizou a Usina Labor e a Usina Vitória, reconquistando o mercado de castanha, tornando-se o maior exportador deste produto.

Em 1948, Isaac Sabbá torna-se representante da empresa petrolífera peruana Ganso Azul. Com a sua percepção de longo prazo, sentiu que não dava mais para continuar com o negócio da borracha e dedicou a este novo ramo, pois percebeu que ali estava a chave do maior de seus empreendimentos industriais.

Para competir com a força das marcas Shell e Texaco, o Isaac Sabbá ouviu a seguinte sugestão de um dirigente da indústria peruana: “para ganhar competitividade e ampliar o mercado, o Sr. Sabbá deve instalar uma refinaria em Manaus e criar a sua própria marca, passando de distribuidor dos nossos produtos refinados a importador do nosso petróleo bruto”.

Em 21 de junho de 1952, foi fundada a Companhia de Petróleo da Amazônia – Copam. Em 04 de abril de 1953 foi autorizada a instalação e exploração da Refinaria. O seu braço direito foram o Moysés Benarrós Israel e o Moisés Gonçalves Sabbá.

Em 03 de outubro de 1953, o Presidente Getúlio Vargas assinou a lei monopolizando o petróleo, criando a Petrobras, com o refino sendo incluindo, mas sem prejuízo das concessões já realizadas. A Copam foi a última refinaria do setor privado do Brasil.    

Vencendo todos os obstáculos possíveis e imagináveis e surpreendendo a tudo e a todos, em 1956, a Refinaria de Petróleo de Manaus entrou em operação, abastecendo as regiões Norte e Nordeste, provocando a queda dos preços dos derivados.

A Refinaria Isaac Sabbá foi inaugurada oficialmente em 03 de janeiro de 1957, com a presença do Presidente da República Juscelino Kubistschek, que declarou: “Honra e orgulho que sinto neste momento, como devem sentir os homens que idealizaram, planejaram e construíram esta obra magnífica em plena selva amazônica, dando uma demonstração edificante da força e da capacidade dos brasileiros para os grandes empreendimentos”.

Em 1960, o Isaac Sabbá ganhou projeção no mundo financeiro internacional, com importantes veículos de comunicação das Américas e da Europa destacando o significado econômico dos seus empreendimentos na Amazônia. Aos 53 anos de anos de idade comandava um respeitado complexo industrial com faturamento anual na casa dos cem milhões de dólares.

Era um “Plantador de Indústrias em Plena Selva” e o "Visconde de Mauá Amazônico". Foram dezenas de empresas com a marca Sabbá (refinaria, terminais de petróleo, companhias de navegação, estaleiro, usinas de açúcar, empresas  de exportação, e um elenco de empresas espalhadas pelo Amazonas, Pará e Rondônia, beneficiando borracha, castanha e madeira, produzindo laminados e compensados, extraindo cassiterita e muito mais) que se fossem listadas tomaria duas laudas deste espaço.

No entanto, somente para ilustração, citarei algumas delas: I. B. Sabbá & Cia. Ltda. – Petróleo Sabbá S.A. – Serraria Hore – Serraria Rodolfo – Serraria Itacoatiara – Ciazônia – Curtume Rio Negro – Copam – Fitejuta S.A. – Eletro-Ferro Construções S.A. – Estanave – Compensa – Terminais de Petróleo – Mineradoras etc.

Em 1971, o governo brasileiro desapropriou a Refinaria Isaac Sabá, criando a BR – Distribuidora, sendo incorporada ao patrimônio da Petrobrás e desde 1977, é oficialmente denominada Refinaria Isaac Sabbá, em homenagem ao seu fundador.

O Isaac Sabbá se associou a Shell do Brasil, criando a empresa Petróleo Sabbá. Hoje, constitui-se numa empresa bem sucedida, com o uso exclusivo da marca Shell (aliando-se depois também com a Cosan) em toda a Amazônia, com terminais em Manaus, Belém, São Luís, Teresina e Tocantins, tornando-se o principal negócio da família, recebendo em 2016, o Prêmio Empresa Mais, do jornal O Estado de São Paulo, eleita a melhor empresa do segmento de distribuição e comercialização de combustíveis da região Norte  do Brasil.    

Recebeu muitas medalhas, diplomas e títulos, porém, o mais destacado foi a Ordem do Mérito Industrial CNI – a maior honraria concedida a personalidades e instituições que tenham se tornado dignas de reconhecimento e admiração pelo setor produtivo brasileiro.

Por ter sido um mega empreendedor ganhou projeção internacional, com as Revistas Business Week, Time Magazine, Paris Match, La Nación e outros importantes veículos de comunicação rendendo a este homem com rotina no mundo verde e fascinante da floresta, dando-lhe o título de REI DA AMAZÔNIA.

Atualmente, dispomos de um Parque Industrial e grupos de renome no comércio varejista em Manaus, no entanto, levando em conta o complexo industrial montado pela Isaac Sabbá não tenho duvida de que ele será eternamente o Rei da Amazônia, sendo praticamente impossível surgir outra pessoa que possa destroná-lo.

Esta postagem somente foi possível escrevê-la graças a Senhora Bena Canto e ao Dr. Luiz Eron Castro, que entregaram, gratuitamente, os livros “História e Memória – Judeus e Industrialização no Amazonas”, do Elias e David Salgado” e “Isaac Sabbá, da Etelvina Garcia”, com autorização do Diretor Geral da empresa I. B. Sabbá Ltda., o senhor Isaac Ben Moisés Sabbá, bem como, da Biblioteca do SESC que disponibilizou o livro “Amazônia – Formação Social e Cultural, do Samuel Benchimol”.

É isso ai. 

Fotos: Extraídas do livro "Isaac Sabbá, da Etelvina Garcia"
ANTIGA RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA SABBÁ NA RUA MONSENHOR COUTINHO, 650