domingo, 31 de outubro de 2010

BLOGDOROCHA: A SOPA NOSSA DE CADA DIA

BLOGDOROCHA: A SOPA NOSSA DE CADA DIA: "O clima de Manaus é quente é úmido, estamos bem na Linha do Equador, temos somente duas estações durante o ano todo, o verão de Saara e o in..."

sábado, 30 de outubro de 2010

VISITA A MAUÉS, A TERRA DO GUARANÁ


O município de Maués fica a 367 quilômetros de Manaus, no Médio Amazonas, entre os Rios Madeira e Tapajós, conhecida nacionalmente como “A Terra do Guaraná”, o nome é em homenagem a nação Maué (tupi = Papagaio curioso e falante), o turismo é muito forte naquela região, em decorrência de suas lindas praias e da realização da “Festa do Guaraná” e do “Festival de Verão”.

Faz alguns anos, fui convidado pelo meu amigo Benedito SonSon, um legítimo caboclo de Maués, para conhecer a Festa do Guaraná, um grande evento que ocorre sempre no final do mês de Novembro. Marcamos sair de Manaus numa sexta-feira à noite, num Barco Regional (de madeira), no Rodoway (porto flutuante, feito pelos ingleses). O meu cicerone não deu o ar da graça, viajei sozinho, sem beira nem eira.

O barco estava lotado, o único local que eu encontrei para “esticar a baladeira” foi em frente a um pequeno “Boteco”, até aí tudo bem, mas, o movimento era intenso e ainda resolveram montar uma caixa de som amplificada bem no meu lado -, não deu para ficar na Rede de dormir, o jeito foi enrolá-la numa viga do barco.

Fui dar um tempo no Boteco - toma uma aqui, outra acolá, o tempo passa, todo mundo fica falando alto, rapidinho se faz amizades – conheci um sujeito por nome de “Gondinho”, natural de Maués, fazia anos que ele não ia a sua terrinha, fui apresentado ao seu filho, o “Coroinha”, um jovem católico, apostólico e romano, além de duas Beldades, colegas de trabalho do Gondinho; fiz amizade também com um cara que era Padeiro (dono de duas padarias) em Manaus e mais quatro “Pinguços” da melhor qualidade.

Lá pelas tantas, o Padeiro fez a seguinte declaração: - Fiz a maior merda! Amanhã será o meu aniversário -passei a tarde toda tomando umas e outras no Bar dos Cornos, senti a maior saudade da minha terra Maués, entrei no barco com a roupa do corpo, não avisei nada para a minha família, vai ter a maior feijoada lá em casa, como é que eu vou explicar essa minha loucura! Procurei consolar o camarada: - Agora não vai dá para consertar, estamos no meio da maior floresta do mundo, a única solução será você ligar lá de Maués para a tua família em Manaus e pegar o primeiro avião!

A viagem estava transcorrendo numa boa, muito Forró Brega, com as Beldades mostrando aquele visual, o Gondinho contando piadas e o Coroinha enchendo o saco, falando só de religião – lá pelas tantas, resolvi dormir, quando cheguei no meu lugar, os Pinguços estavam jogando dominó bem embaixo da minha rede, tive que aguentar um bom bocado, aquela zoada de pedras na mesa, além daqueles comentários: - Até que enfim tu jogaste a carroça de sena! – Gato, não, papai! - Capote! Tu fechaste o meu jogo, Anta! Por aí vai. Uma hora depois, dei uma bicuda na mesa e mandei todo mundo para aquele lugar! Ufa, consegui, finalmente, dormir!

Seis da manhã em ponto, os Pinguços ficaram me azucrinando: - Rocha, Rocha, acorda, acorda, vamos tomar o café da manhã! Pulei da rede, um dos caras foi logo me dando um copo de cerveja, o café para eles, para mim, não! Mesmo assim, dei uma golada e uma vomitada em seguida! Tô louco, meu!

Fazia uma manhã de Sol, deu para notar o quanto a natureza é bela, o Rio Maués-Açu é muito bonito, melhor ainda, foi ver as Beldades de “fio dental” – a galera se reuniu novamente no boteco, haja suco de cevada; lá pelas dez da manhã, o Padeiro mandou ver: - Até chegar em Maués tudo será por minha conta, vamos comemorar o meu aniversário, macacada! Ai foi graça, papai! Nesta altura do campeonato, o Padeiro já tinha esquecido a sua mulher, dos filhos e dos convidados, não estava mais nem aí para a feijoada de Manaus!


Chegamos às onze e meia da manhã, o barco parou ao lado da Praia da Ponta da Maresia, nesta época do ano é o “point”, com areias brancas, água cristalina, com 500 metros de extensão, palcos armados para shows e gente até o Tucupi! A primeira missão era “forrar” o bucho, fomos para uma Peixaria, o dono era amigo do peito do Gondinho - ao chegarmos, a festa foi total, fomos encaminhados para o quintal, onde existia uma grande mesa de madeira, deu para acomodar toda a galera – o pedido foi feito pelo Padeiro: - Quatro Tucunarés parrudos, refrigerantes para as Beldades e um camburão de cervejas para os Pinguços & Cia! A conta foi paga por ele, pois, além de fujão e empresário, era o aniversariante do dia.

Fiquei observando um curumim, filho da cozinheira, ela fez um prato de três andares e colocou duas cabeças de Tucunaré, o moleque comeu tudo e ainda pediu bis – muito diferente dos meus filhos quando eram pequenos, a mulher tinha que fazer “aviãozinho” para eles comerem.

Um senhor se aproximou e puxou conversa comigo, ele era uma pessoa simples, com a voz pousada, um típico interiorano -, perguntou aonde eu iria ficar, falei que ia pro hotel ou pra casa da prima do Gondinho – acho que ele foi com a minha cara, pois fez o seguinte convite: - Se você quiser pode ficar lá na minha fazenda! Fiquei surpreso, o velho era fazendeiro, depois fiquei sabendo que o cara era um dos mais ricos de Maués! Agradeci ao convite, pois queria ficar com a galera.


Deixamos a nossa bagagem no restaurante e fomos para a Praia da Antártica, considerada a mais famosa e movimentada da cidade, muito arborizada, de areias brancas e águas límpidas, possui o mais lindo pôr-do-sol do Brasil. Lembrei-me do meu amigo Lúcio Bahia, ele passou uma temporada em Maués e compôs uma bela canção chamada “Beira de Rio”, a letra é mais ou menos assim: "Como é bom morar na praia, no lugar que se imagina, viver, numa praia, na beira do rio, me dar arrepios, saber que a sua cabeça, não está nesse lugar, na beira do rio, canta passarinhos, na beira do rio, olha o Sol se pondo, aonde ele se esconde, do outro lado da praia, do lugar que se imagina, oi, oi, oi, Maués".

Voltamos ao restaurante, pegamos as nossas coisas e rumamos para a casa da prima do Gondinho, chegando lá, fomos bem recepcionados -, serviram um jantar primoroso, um guisado de Paca. O que mais me chamou a atenção foi o hábito que eles têm de ficar o tempo todo tomando Guaraná em Pó, ralado na língua do Pirarucu. Segundo os estudiosos, esse saudável hábito, aliado a dieta amazônica, com exercícios físicos e noites bem dormidas – é a chave para alcançar a longevidade, os nativos de Maués alcançam a maior vida longa do país.


A prima do Gondinho fez a gentileza de passar a minha roupa, pois iria assistir a encenação da Lenda do Guaraná -, ela me falou que no domingo os índios Saterê-Mauê viriam para a cidade, para fazerem trocas e receber donativos, doei as roupas para ela entregar aos índios.

Sai com o Coroinha para dar um rolé pela cidade, o cara me levou direto para a Igreja, tive de assisti a missa todinha, depois dei um drible nele, o doido só falava em religião, a minha praia era outra, queria beber e ver a mulherada.

Voltei altas horas da madrugada, não consegui atar a minha rede, dormi foi no chão. Fui acordado pelas Beldades, estavam me convidando para voltar para Manaus, elas conseguiram um barco que estava saindo as oito da manhã, acredito que eu ainda estava bêbado, pois fui na onda delas – os meus amigos imploraram para eu ficar, mesmo assim, embarquei de volta para Manaus.

Na saída, lembrei-me de um episódio acontecido muito anos atrás, quando um padre foi expulso da cidade, no embarque ele fez a seguinte maldição: - Maués, mau és, mau foste, mau serás! Cruz credo, ainda bem que não vingou a maldição, pois, Maués é uma cidade bela, boa, agradável, de um povo feliz e hospitaleiro.

Estou com saudade de Maués – está chegando o mês de novembro, com ele virá a Festa do Guaraná, irei passar dois dias por lá. Oi, oi, oi, Maués!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

MERCADO MUNICIPAL ADOLPHO LISBOA

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O Mercado Municipal Adolpho Lisboa, um dos mais importantes centros de comercialização de produtos regionais em Manaus, foi construído no período áureo da borracha. Por ser um dos mais importantes exemplares da arquitetura de ferro e, não tendo similar em todo mundo, foi tombado em 1º de julho de 1987 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).


Antes da existência do mercado funcionava no local, a Ribeira dos Comestíveis para comercializar produtos vindos do interior do Amazonas. A ribeira supria as necessidades da cidade, mas, com o início do ciclo da borracha,Manaus sofreu um intenso processo de migração, aumentando a demanda de produtos. Desta forma, os governantes da época perceberam a necessidade de construir um Mercado Público.

Foi assim, que em 1880, começou a montagem do Mercado. Os pavilhões de ferro foram importados da Europa. Com duas fachadas totalmente distintas, uma de frente para o rio Negro e outra para a Rua dos Barés. O conjunto foi construído com quatro pavilhões: o principal, central e maior; dois laterais (de peixe e carne) e o “Pavilhão das Tartarugas”.

O corpo central do edifício é vazado por um portão, cuja bandeira ocupa quase a metade do segundo pavimento. No térreo, esse portão é ladeado por duas janelas de vergas retas coroadas com frontões triangulares, e no segundo pavimento há dois pares de janelas geminadas.

Sobre a bandeira do portão principal, existe uma cartela cravada com o nome Adolpho Lisboa que, na época da construção da fachada, era prefeito da cidade de Manaus. Posteriormente Lisboa deu o nome ao mercado.

A construção do mercado ficou a cargo da firma "Bakus & Brisbin", de Belém, com pavilhões construídos em estrutura de ferro, pela firma "Francisc Norton, Engineers, Liverpool".

Sua inauguração se deu em 1883. Dessa época é datado o edifício principal. Trata-se de um galpão de aproximadamente 45 metros de comprimento, e 42 de largura, construído em estrutura de ferro. A estrutura é sustentada por 28 colunas, sendo os parapeitos onde estas se apoiam, e as duas salas laterais, em alvenaria de pedra e tijolo. Seu calçamento é de laje de cantaria, de forma retangular, e sua rua central é calçada em paralelepípedos.

As salas laterais possuem vinte "boxes", separados entre si, por grades de ferro, possuindo, cada um, balcões de madeira, com tampo em mármore. Em 1890 foram construídos dois outros pavilhões (galpões) laterais de igual tamanho, também com estrutura de ferro e cobertura de zinco. Os "novos" pavilhões possuem 360 m2 de área útil. Sua estrutura é formada por beirais abertos, encimados pior arcos de ferro, os quais são sustentados por colunas, também em ferro. Nas duas fachadas principais, fechando os arcos, há gradis de ferro com ornatos decorados, acompanhados por vidros coloridos.

Pavilhão posterior foi construído em 1908

Por volta de 1908, foi construído o pavilhão posterior para a comercialização, na época, de tartarugas, o qual possuía iluminação à querosene. Tal pavilhão teve a estrutura em ferro construída pela companhia "Walter Macfarlane, Glasgow". Seu formato difere dos outros, sendo este totalmente fechado, possuindo cobertura em quatro águas e feita com chapas onduladas.

A construção possui venezianas em todo o seu contorno, tendo oito entradas de acesso (uma em cada fachada principal, e três em cada lateral). Possui frontões formados por gradis ornados em ferro, e vidros coloridos. Ladeando esse pavilhão existem dois menores, de forma octogonal, possuindo também venezianas laterais em seu contorno e janelas em vidro (acima das venezianas).

Todas as janelas possuem gradis de ferro decorados por motivos florais.

Atualmente o mercado passa por reforma das áreas deterioradas pelo tempo ou descaracterizadas por reformas anteriores.
 
Foto Colagem; J Martins Rocha

 




segunda-feira, 25 de outubro de 2010

AS GRANDES SECAS E CHEIAS DO RIO NEGRO


Dizem que todo recorde é para ser quebrado um dia, isto aconteceu com a vazante e a cheia do Rio Negro.

A cheia de 1953 foi de 29,69 m, permaneceu durante 56 anos com a maior marca, porém, em 2009 chegou à marca de 29,77 m.

Por outro lado, a maior marca da seca foi no de 1963, alcançando 13,64 metros, depois de 47 anos foi quebrado em 2010, chegando ontem a 14,63 m, com previsão de ainda secar até o final do mês.

O que mais chama a atenção são os recordes quebrados em apenas dois anos, ou seja, a maior cheia em 2009 e a maior seca em 2010.

Os técnicos ainda não tem um estudo completo sobre estes fenômenos, mas, uma coisa é certa: caso persistirem os recordes nos próximos anos, com cheias e secas cada vez maiores, a mãe natureza estará dando apenas um aviso do que poderá vir num futuro próximo, com a destruição do homem por ter destruído, sistematicamente, a própria natureza.

Apesar de todos os pesares, ainda há tempo para reverter parte do quadro atual, mas, pelo andar da carruagem, iremos continuar com a destruição do planeta azul. Quem viver verá!

domingo, 24 de outubro de 2010

A ALIMENTAÇÃO CABOCLA VERSUS O FAST FOOD DA URBE

O homem moderno das grandes capitais possui um péssimo hábito alimentar, baseado em produtos industrializados, por não ter tempo para se alimentar corretamente, preferem as comidas feitas na hora, os famosos “fast food”, por outro lado, o interiorano, longe dos grandes centros urbanos, prefere uma alimentação mais saudável, baseada em peixes e frutas regionais.

Foi-se o tempo em que as pessoas almoçavam em casa, hoje, não é mais possível fazer isto, a grande maioria come a famosa “quentinha” ou vão a um restaurante. Com a invasão dos grandes centros de compras, conhecidos por “Shopping Center”, adquirimos o hábito de se alimentar ao estilo norte-americano, europeu ou asiático.

Para ser ter uma pequena mostra, existe em Manaus o “Amazonas Shopping”, por lá encontramos duas “praças de alimentação”, com comidas das mais variadas, servidas em restaurantes e lanchonetes da McDonald's, Girafa, China Foods, Spolleto, Camarão & Cia., Habibs, Fiorentina, Picanha Mania, etc. Existiam duas lojas de venda de “Tapioquinha” e Tacacá e afins, faliram por falta de público - peixaria lá não entra, por fugir do “padrão shopping”!

Por sermos da cidade e darmos preferencia por este tipo de alimentação, estamos adquirindo doenças do coração, o diabetes, a obesidade, inclusive infantil e, outras mais.

Por outro lado, a “dieta amazônica” pesquisada pelo Dr. Euler Ribeiro, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI/UEA) e da Dra. Ivana Beatrice Mânica, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), comprovam que os amazonenses do interior estão próximos de uma vida mais douradora.

Segundo uma reportagem do jornalista Bruno Mazieri, da equipe do jornal Acrítica a “Dieta Amazônica é tão eficaz quanto às dietas do mediterrâneo e asiático, exemplo disso, é o Jaraqui, o mais barato, ele é rico em ômega 3 e 9, supera o Salmão, Atum e a Sardinha – ele é rico em gordura boa e pobre em nociva, além disso, existe o Camu-Camu que é a fruta mais rica em vitamina C do mundo; temos os derivados de mandioca, que compete com o trigo; o campeão é o Guaraná, consumido, geralmente, ralado; ele contém cafeína, que proporciona energia, teobromina, ajuda na circulação, e sirtuínas, que ajudam a prevenir o envelhecimento, considerado um anticancerígeno, anti-obesogenico e anti-inflamatório, além de modelar as plaquetas e afina o sangue”.

Os dois pesquisadores acima, estão fazendo um estudo junto aos idosos nativos do município de Maués, considerada a “Terra do Guaraná”, por encontrar lá uma alta de taxa de longevidade - segundo o Dr. Euler “Apesar de boa parte da população ser formada por genes de diferentes raças: índios, negros, judeus, árabes e europeus -, que contribui para uma vida mais duradoura, a grande fórmula está na alimentação e qualidade de vida; após a análise, percebemos que a chave para esse mistério é a chamada Dieta Amazônica, que consiste no exercício físico, aliado a uma boa noite de sono e uma alimentação saudável”.

O Dr. Euler vai ainda mais a fundo: “Apesar dos moradores do interior ser adepto da dieta desde o nascimento, a população da Capital pode, e deve, ser adepto dos alimentos regionais, ela proporciona mudanças na genética que fazem a diferença com o passar do tempo, não importa se a pessoa é jovem ou tem a idade avançada”.

Enquanto isso, os moradores da urbe consomem diretos os produtos de outras plagas, deixando de lado o nosso Jaraqui, Pupunha, Tucumã e Abiu.

O Dr. Euler Ribeiro vai apresentar, brevemente, a Dieta Amazônica em Nova York; talvez, quando começar a fazer sucesso por lá, começaremos a dar valor ao que é nosso!




sábado, 23 de outubro de 2010

O VIOLÃO DO ROCHINHA, O ÚLTIMO DOS MOICANOS


Passei dezessete anos da minha vida, ajudando o meu saudoso pai, no nobre oficio de fazer instrumentos de cordas, dez deles, foram dedicados a fazer o meu próprio violão, sonho não concretizado, infelizmente.

Eu Fazia apenas o básico, depois, o meu pai cuidava do cavalete, braço e escala, o meu violão ficava uma beleza: todo boleado, com a lateral e fundo de macacaúba, tampo de pinho e braço de cedro – ficava numa alegria total, afinal, era o meu violão, mas, durava muito pouco, o meu velho vendia para o primeiro cliente que aparecia.

Todo ano era assim, fui forçado a desisti de ter o meu próprio violão -, num belo dia, peguei um todo quebrado, colei, lixei e envernizei – o velho fez um enxerto no braço, foi colocado de um “Di Giorgio” – quando ficou pronto, levei para a minha casa, finalmente, consegui o meu próprio violão.

Por incrível que pareça, este violão fez história, ele foi o único que ficou como lembrança do Luthier Rochinha - permanece lá a assinatura do meu velho e a data de 1967, portanto, hoje com 43 anos de fabricação. É uma relíquia.

Vou contar um pouco da minha história, na função de auxiliar de Luthier:

Nasci na década de cinquenta, na Santa Casa de Misericórdia, em Manaus, fui levado do hospital direto para uma Oficina de fabricação de Violões, no local funcionava, também, a nossa casa – costumo falar que nasci e me criei cheirando serragens. Morávamos num Flutuante (casa sustentada por duas grandes toras de madeiras), no Igarapé de Manaus. Neste local, aprendi a engatinhar e a andar e, desde bebê, aprendi, também, o oficio de fazer violões, sob a batuta do meu pai Rochinha.

As técnicas de fabricação de instrumentos de cordas foram adquiridas, pelo meu genitor, através do um senhor conhecido por Nascimento, proprietário de uma pequena oficina de violões, situada nos porões da Casa Alba, na Rua dos Barés, centro antigo de Manaus – era conhecida como “Bandolim Manauense”; por sua vez, este senhor, adquiriu os conhecimentos de um grande mestre português, morador daquela área, no inicio do século passado.

Com o desmonte da Cidade Flutuante, no final da década de sessenta, fomos morar numa casa alugada e, a oficina foi transferida para os porões da mansão dos Bringel, na esquina da Rua Igarapé de Manaus com a Rua Huascar de Figueiredo. Neste local, passei dezessete anos da minha vida ajudando o meu pai, no santo oficio de carpinteiro/moveleiro/artesão, pois além dos violões, cavaquinhos e bandolins, fazíamos portas, janelas, aduelas, mesas, cadeiras, tamboretes, etc.

Naquela época, não era utilizada a palavra “luthier”, a profissão do meu pai era conhecido como “artesão”, pois tudo era rudimentar – não tínhamos nenhuma máquina possante, somente uma pequena serra elétrica, e, bastantes ferramentas manuais – o resto, era somente muita criatividade e bastante suor no rosto.

A minha função era de auxiliar, ou seja, o meu trabalho era pesado - tinha que ir buscar “bucho de Tambaqui, no Mercado Municipal Adolpho Lisboa, para fazermos a nossa cola (era excelente para colar madeiras); serrava as peças de Macacaúba (árvore do macaco, em tupi) para a parte do fundo do violão – “eitá madeira dura, sô!”- Fiz muitos exercícios físicos - serrando, plainando, envernizando e colando, peguei até uma “caixa” sem precisar ir a nenhuma Academia de Musculação.

O meu pai falava para os amigos que os seus filhos não tinham a vocação para o oficio, na realidade, ele não queria que abraçássemos a sua bela profissão e, sonhavam que um dia os filhos fossem “doutores” – a minha rotina sempre foi trabalhar durante a manhã e estudar à tarde, não existia folgas, e, eram muito raras a horas de lazer, algumas vezes eu fugia para brincar com a molecada do Igarapé de Manaus, mas “peia” era sempre certa na volta.

Hoje, ainda lembro com muita saudade da minha fase de criança e adolescência, além do meu trabalho de auxiliar de Luthier – tive oportunidade de conhecer muitos cantores, músicos, amantes de uma boa música, compositores, artistas, jornalistas, poetas e até doutores – eles se reuniam nos finais de semana na oficina do papai para cantar e tocar os instrumentos do meu velho. Em decorrência disso, adoro frequentar onde os “Regionais de Manaus” se apresentam – são músicos e cantores que nos brindam com a sua arte, nos bares Caldeira, Loura, Gestina, Walter e Jangadeiro.

Algumas pessoas ao perguntarem por que não levei em frente a bela profissão do papai, confesso que fico bastante angustiado. Aliás, estou pesando seriamente no assunto – para começar, irei conversar com o premiadíssimo luthier Rubens Gomes, da Escola de Lutheria da Amazônia - OELA, para receber algumas orientações sobre a abertura de uma nova oficina de violões; a escola forma uma gama muito grande de profissionais todo o ano – a minha ideia é reunir os meus irmãos, um é Contador, o outro é vendedor nato e, eu sou Administrador; levantar recursos junto a Agência de Fomento do Estado do Amazonas; fazer convênios com o INPA, na área de madeiras; descobrir os fornecedores de madeiras certificadas, com o selo verde e, por aí vai - quem sabe, poderemos ressurgir das cinzas uma nova oficina de violões – o que vocês acham do nome “Di Rocha”, para homenagear o meu pai - Está de bom tamanho? Acho que já está na hora de mudar a minha função de Auxiliar - para Fabricante de Violões! Sonhar não custa nada! 

Enquanto esse sonho não é realizado, o último exemplar de violão construído pelo meu saudoso pai, fica guardado a sete chaves, afinal, ele é o "Último dos Moicanos"! É isso ai.

Foto: Marco Gomes

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

PORTAL DO BOI MANAUS

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Moacyr Andrade é homenageado no livro "Moacyr de todas as cores", de Ellza Souza

Evento acontecerá na sede do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, sábado, dia 23/10, às 10h00

"Moacyr de Todas as Cores" é leitura obrigatória para todos os que desejarem conhecer aspectos relevantes da cultura amazônica.

O Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – IGHA, com o apoio da Prefeitura de Manaus, por meio do Conselho Municipal de Cultura, realizará no dia 23/10, sábado, às 10h00, o lançamento do livro "Moacyr de Todas as Cores", da jornalista e roteirista Ellza Souza, que mergulhou profundamente na obra do pintor, professor e intelectual amazonense, conhecido nacional e internacionalmente, uma referencia em se tratando de cultura amazônica.

Aberto ao público, o evento acontecerá no auditório do IGHA, localizado na Rua Bernardo Ramos, nº 117/131, no Centro Histórico de Manaus, com a presença da autora, além de autoridades governamentais, membros das academias, pesquisadores, universitários e estudantes dos níveis superior e médio.

Concebido a partir de um roteiro cinematográfico, o livro "Moacyr de Todas as Cores" resgata as fotografias, desenhos e histórias descobertas pela autora no extenso acervo do pintor Moacir Andrade; e reproduz as longas conversas que manteve com o artista, transformadas em texto para o prazer dos leitores.

Amigos de Moacir, como o jornalista Arlindo Porto, o fotógrafo Hamilton Salgado e o cantor Estevam Santos - já falecido -, contribuíram para a consolidação do trabalho, por meio de minuciosos, inteligentes e bem humorados relatos.

Segundo Ellza, a idéia de homenagear o artista com um livro surgiu quando, em certa oportunidade, perguntou a um jovem amazonense se ele conhecia Moacir Andrade.

"A resposta negativa fez-me acender intimamente uma "lanterninha de inquietação" e, com a ajuda de Moacir, resolvi lançar-me a este desafio. Entre recortes e fotos descobri detalhes, dados que acrescentam a tudo que se conhece sobre ele", disse a autora.

Na publicação, Ellza Souza conta interessantes episódios da vida do pintor e intelectual caboclo, reúne belos desenhos e farto material fotográfico; finalizando com uma mostra das obras de Moacir, com direito à uma "brincadeira de adivinhação", na penúltima página, cujo prêmio é a satisfação de visitar todas as recantos do livro.

"Incluo no livro uma relação de suas telas encontradas nos velhos catálogos. Como são muitas, mais de quatro mil, e estão espalhadas pelo mundo afora, espero que outros continuem a pesquisa", finalizou Ellza Souza.

O livro "Moacyr de Todas as Cores" é leitura obrigatória para todos os que desejarem conhecer aspectos relevantes da cultura amazônica, por meio das fascinantes experiências de Moacir Andrade, um de seus mais ilustres representantes.

• Ellza Souza – autora de "Moacyr de todas as cores"

Ellza Souza é jornalista e roteirista formada pela UFAM. Nasceu à beira do rio Negro, na rua Boa Vista do bairro de São Raimundo, Participou do concurso "Mário Ypiranga Monteiro/2007 - Conheça seu bairro". Escreveu o livro “Do alto da minha colina – sem os bucheiros o bairro de São Raimundo perdeu o encantamento”, em que confirma seu amor pelo resgate da História. Fez vários roteiros de um minuto com participação no UM Festival de Cinema e tem muitos outros, quase sempre “documentários”, ainda inéditos. Foi bancária e microempresária e agora faz o que gosta: escrever, escrever, escrever. Desde 2006, mergulhou no precioso acervo do artista e professor Moacir Andrade, que resultou na produção do livro "Moacyr de Todas as Cores". Está ora empenhada na produção de um documentário cinematográfico sobre Moacir Andrade.

Fundação Municipal de Cultura e Artes- ManausCult
Assessoria de Comunicação - Ascom
Sky Rodrigues/Andréa Renda
Fone: (92) 3631-4757
Cels: (92) 9622-1690/9142-8531
Texto e Edição WEB: Flávio Cohen

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

FEIRINHA DO TURURI E O BOI MANAUS


Todo ano o ápice da festa em homenagem ao aniversário da cidade Manaus, acontece com o “Boi Manaus”, um mês antes da grande festa, os agitos ficam por conta da “Feirinha do Tururi”, fazendo o famoso esquenta.

O lance é o seguinte: a Prefeitura de Manaus disponibiliza o local, com toda a infraestrutura, confecciona milhares de tururis, doa aos artistas, para que a grana com a venda seja revestida como a forma de cachê.

A referida Feira fica entre a Rua Lóris Cordovil e a Avenida do Samba (entre a Vila Olímpica e o Centro de Convenções), com dezenas de barracas para venda de guloseimas e tururis, todo noite tem shows, no horário das 20h00min até a meia noite.

Hoje é último dia, com a apresentação de todos os artistas, vale a pena conferir o evento, além de comprar mais barato o Turiri, por apenas R$ 10,00, pois no sábado será R$ 15,00 e no domingo R$ 20,00.

O Tururi é o uniforme oficial do Boi Manaus, parecida com o Abadá da Bahia. Este nome tem origem indígena – é uma palmácea originária da palmeira Baçu, suas fibras entrelaçadas são extraídas do fruto, os indígenas utilizam-nas para vestuário, calafetação de embarcações e cobertura de palhoças. Este ano o tema é o Rio Negro e Solimões e leva o nome do artista preferido – com a compra dá direito ao ingresso na pista do Centro de Convenções, onde ocorrerá o Boi Manaus.

O Boi Manaus é uma mistura das folias carnavalesca com o ritmo das toadas de boi-bumbá, foi idealizado em 1997 e entrou no gosto popular, serão três noites de festa, com a final no domingo, comemorando o aniversário da cidade de Manaus.

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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TODO DIA É DIA DO POETA

No dia 20 de outubro comemora-se o “O Dia do Poeta”, em decorrência do Decreto no. 66/1978, não existe uma razão especifica, pois todo dia é dia do poeta.

O termo poeta vem do grego “poietés”, aquele que faz, que tem faculdades poéticas e se consagra à poesia, faz versos e é considerado um erudito. Somente um poeta é que tem a imaginação inspirada, devaneia e tem um caráter idealista.

Existem algumas formas de expressão do ser humano, mostrada através da pintura, música, teatro, composições literárias e poéticas, que vem do berço, ou seja, nascem com a pessoa – é um dom; dessa forma, não se faz um poeta, ele nasce feito, no decorrer da sua vida ele vai apenas refinado as técnicas para expor o seu pensamento.

No Amazonas temos uma plêiade de poetas e poetisas - muitos já foram para o andar de cima, mas, o poeta nunca morre, sempre ficam as suas obras para a posteridade -, outros tantos, ainda estão em plena produção poética.

As minhas homenagens aos poetas: Elson Farias, Aldísio Filgueiras, Chico da Silva, Max Carpenthier, Dori Carvalho, Ribamar Mitoso, Ernesto Penafort e Gaitano Antonaccio.

Parabéns aos poetas do POETATU (Gens da Selva): Anibal Beça, Anísio Mello, Marcos Gomes, Celestino Neto, Jersey Nazareno, Tenório Telles, Zemaria Pinto, Felipe Wanderley, Castro e Costa, Henrique Mesquita, Simão Pessoa, Célio Cruz, Cleber Cruz e Eliberto Barroncas.

Parabéns aos poetas do Clube da Madrugada: Jorge Tufic, Farias de Carvalho, Pe. Luiz Ruas, Luiz Bacelar, Thiago de Mello, Antístenes Pinto e Max Carpenthier.

Parabéns para os poetas brasileiros: Carlos Drummond de Andrade, Cecília de Meireles, Fernando Pessoa, Manoel Bandeira, Mário Quintana e Vinícius de Morais.

Uma homenagem especial ao nosso poetinha Luiz Bacellar, escrito por Aníbal Beça: "Luiz Bacellar é um dos escritores mais significativos da literatura que se produz no Amazonas. Nascido em Manaus, no dia 4 de setembro de 1928, o poeta viveu sua infância numa época marcada pela crise econômica que se seguiu ao fausto do "ciclo da borracha". Sua obra é perpassada por elementos de forte componente erudito, ao mesmo tempo em que retrata temas e motivos da cultura popular, do folclore, em particular as vivências de sua infância no bairro dos Tocos, hoje Aparecida.O universo poético retratado por Bacellar, sobretudo em Frauta de Barro, constrói-se sobre o plano da memória. Tece seus versos com os fios das lembranças, reminiscências de seu mundo infantil. Constrói um mapa esmaecido de uma cidade corroída pelo tempo e pelas transformações econômicas – Manaus. Não a que conhecemos hoje, surgida sob as determinações da Zona Franca, mas a Manaus provinciana da segunda metade do século que se encerra. Estudou no Colégio São Bento, em São Paulo, onde completou seus estudos. Aperfeiçoando-se posteriormente, no Rio de Janeiro, em Pesquisa Social, Antropologia e Museologia, realizando parte de seus estudos sob a orientação do saudoso professor e estudioso da cultura brasileira Darcy Ribeiro. A música é outro componente importante de sua produção poética. Parte significativa de seus textos são plasmados por intensa musicalidade. Foi professor de Literatura e Língua Portuguesa no Colégio Estadual D. Pedro II, pólo aglutinador, nos anos 50 e 60, da jovem intelectualidade de Manaus. Destacou-se no processo de renovação da literatura regional, participando da movimentação que culminou na fundação do Clube da Madrugada, em 1954. Exerceu o jornalismo, atuando em diversos órgão de comunicação de Manaus. No plano institucional, foi conselheiro de cultura do Estado do Amazonas em diversas oportunidades. A vida literária do poeta Luiz Bacellar teve um começo feliz: conquistou, em 1959, o prêmio "Olavo Bilac", da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, com aquele que seria seu livro de estreia, Frauta de barro, publicado em 1963”.

Sobre a nova geração de poetas no Amazonas, o Max Capenthier falou o seguinte: “Eu acho até que há muitos, e a história, finalmente, acabará por selecioná-los. Acontece que, no Brasil, tocados que somos por esse favoritismo equatorial, por essa força da paisagem, aos 18 anos quase todos nós escrevemos poemas de “dor-de-cotovelo”. É possível que tenhamos aqui, no Amazonas, uns 30 ou 40 poetas, mas a poesia não é só isso. A poesia é um sacerdócio. Depois, com o amadurecimento, decidimos ou não se seremos poetas. Porque isso envolve uma perspectiva de vida e o tipo de comportamento. Portanto acho que temos bastante gente escrevendo, e alguns devem ficar literatos para sempre, assumindo essa posição. Não vejo que nós tenhamos falta disso. A todo instante, livros publicados de poetas jovens, de escritores jovens. Muitos deles não persistirão, mas alguns vão ficar e serão bons”.

Todo dia é dia de poesia, consequentemente, todo dia é dia do poeta!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

DO OUTRO LADO DA PONTE


Domingo passado fui até a Vila de Paricatuba, com o objetivo de dar um abraço no meu amigo “Cocota”, tirar fotografias dele e das “Ruinas de Paricatuba”, além de curtir a praia e de rever os amigos.

Peguei um barco “a jato”, no Rodoway, a viagem dura em torno de vinte minutos, a minha surpresa foi no desembarque, na Ponta do Pepeta, no lado direito do Rio Negro, no município de Iranduba – a parada fica exatamente embaixo da grande Ponte que ligará Manaus a algumas cidades da Região Metropolitana.

Com o término da construção desta megaponte, este serviço de travessia de barcos e balsas ficará prejudicado, enquanto isso, o sufoco é total – na cheia do Rio Negro, o Porto do outro lado do rio fica em Cacau Pirêrera, com a vazante, passa para a Ponta do Brito, porém, este ano a seca chegou a 14,40 m, está chegando à marca de 30/10/1963 (13,64m), obrigando a SNPH a transferir para a Ponta do Pepeta, debaixo da referida Ponte.

Tudo está improvisado, com sujeiras, lixos, poeiras e lamaçal. A venda de passagens é feita dentro de um carro tipo Van, não existe informações a respeito de saída e chegada dos ônibus; banheiros, nem pensar, as necessidades fisiológicas estão sendo feitas no mato.

A Prefeitura Municipal de Iranduba, sempre omissa, não tem o menor respeito para com as pessoas que utilizam aquele local, pois, nem o mínimo de infraestrutura foi realizado. Não custaria muito aos cofres públicos, fazer uma padronização das barracas, dotar o local de sanitários públicos, construir um simples Terminal de Ônibus, podia ser de madeira, com um local apropriado para venda de passagens e com informações básicas aos usuários e turistas, além de um abrigo dos raios solares e das chuvas ocasionais, seria o mínimo, mas, nada!

Apesar de todo o descaso do Prefeito Nonato Lopes, a construção da Ponte chama muito a atenção das pessoas, a visão do outro lado do rio é muito bonita. Com a vazante, apareceu uma enorme pedreira, as pessoas estão pescando no local, muitas famílias se reúnem para tomarem banhos de rio, além de dois grandes flutuantes estarem fundeados no local, proporcionando muito lazer e diversão para todos.

Enquanto esperava o meu ônibus para Paricatuba, comecei a conversar com as outras pessoas - com relação às saídas dos ônibus, todas estavam mais por fora do que “bunda de índio”; bati papo com os pequenos comerciante e pescadores, todos eles foram unânimes em afirmar que a ponte trará o progresso e junto com ele as mazelas; dei uma caminhada pelo local, tirei fotografias, fiquei admirado com a enorme várzea; comprei algumas frutas; a sede estava naquela altura, resolvi tomar duas latinhas de cerveja; sentei num tronco de árvore, liguei o som do meu MP20 e fiquei a olhar aquela imensa ponte, nos pilares deu para visualizar as marcas das cheias de 2009 e 2010; um grupo de dez pés-inchados já fizeram moradia embaixo da ponte.

Apareceu um ônibus com o letreiro “Montenegro”, todos correram onde ele parou, o motorista avisa que ali não era a parada, arranca e para uns cem metros depois, todo mundo corre atrás, eram meninos, velhos, jovens, mulheres barrigudas, turistas e os escambau! O “motora” mudou o letreiro para “Paricatuba”, no meio do empurra-empurra consegui entrar e sentar numa cadeira ao lado da janela, para pegar um vento na cara – ficou rapidinho lotado, sentou ao meu lado um sujeito com um cê-cê daqueles, misturado com um calor insuportável, deu uma combustão total, ai eu gritei: – Socorro! Vou vomitar até as tripas! Chamei um vendedor de bebidas, pedi mais uma latinha de cerveja, tampei o nariz e bebi numa única golada, ufa, melhorei!

O ônibus deu a partida, olhei novamente para a Ponte e, pensei: - Com o término da construção, tudo vai mudar, acabará o sufoco, tudo será mais organizado, pegaremos o ônibus lá na Rodoviária de Manaus ou o sufoco somente mudará de nome e lugar! Para mim, não importa muito, gosto do outro lado do rio, principalmente, da minha amada Vila de Paricatuba, lá é um paraíso, vale a pena!

Para dizer a verdade, os homens do governo não estão nem ai para o bem-estar da população, o que interessa para eles é a construção da Ponte e superfaturar a obra, o resto é resto. Na campanha passada, foram muitos afagos nos pobres, beijinhos até nos cachorros vira-lata, tiveram ainda a cara-de-pau de comer Jaraqui Frito com Baião de Dois, na Feira da Compensa! Conseguiram ganhar a eleição, agora, o pobre que se exploda! Estão fugindo dos eleitores; para eles, eleitor pobre é muito chato e pidão!

Apesar dos pesares, vale à pena pegar um barco ou a balsa e conhecer o outro lado da Ponte, a natureza é bela e exuberante. É isso ai.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

AS RUÍNAS DE PARICATUBA




Localiza-se na Vila de Paricatuba, no município de Iranduba, bem próximo a Manaus, com apenas 40 minutos, via terrestre pela AM-070 (Estrada Manoel urbano).

A construção teve inicio em 1898, a cargo do governo do Estado do Amazonas, para servir como uma grande hospedaria para imigrantes italianos que viriam da Itália para trabalhar no nosso Estado - era um prédio suntuoso e imponente, era um luxo e sofisticação, com janelas em estilo colonial, vasos de louça inglesa e tijolos e vigas portugueses de alta durabilidade.

Segundo a Dona Rosângela Barbosa, moradora e uma das lideranças do lugar: “Era uma construção que foi feita para durar a vida toda. Todas as paredes internas eram revestidas com azulejos, os assoalhos eram de pinho, as calhas eram de cobre, as descargas de ferro, o material era muito caro e de ótima qualidade, foi tudo jogado fora, um grande desperdício do dinheiro público”.

No governo do Constantino Nery, em 1900, foi oferecida para a instalação de uma obra educacional. Em 1904/5 Os espiritanos franceses montaram uma escola agrícola e profissionalizante, não vingou.

O marco histórico foi em 1906, com a criação do Instituto Afonso Pena, contou a presença do Dr. Afonso Pena, presidente do Brasil.

Por volta de 1924/25 foi criado a Profilaxia Rural do Amazonas, para a instalação de um leprosário, foram transferidos em 1930 e, em 1962 foi desativado e os doentes foram para a Colônia Antonio Aleixo, em Manaus.

Em 1970 foi instalada a Missão Pistoia, com missionários italianos liderados pelo Padre Humberto Guidotti, eles reconstruíram parte do prédio, depois, ficou abandonado e virou ruínas.

O Gasoduto Coari-Manaus estava projetado para passar por lá, houve um grande movimento para desviarem o traçado, como forma de compensação a Petrobrás iria recuperar o prédio, nada foi feito, continua em ruínas.

Os braços dos Apuizeiros é que sustentam as paredes das ruínas, os jovens utilizam o local para jogar futebol de salão – os turistas ficam fascinados pelo que restou.

Imaginem os senhores se o prédio tivesse sido poupado da destruição, seria uma beleza! Infelizmente, esta obra fantástica está mercê da floresta amazônica!

sábado, 16 de outubro de 2010

COCOTA, NOSSO ADMIRÁVEL VAGABUNDO!


Um dos objetivos do blogdorocha é divulgar o trabalho das pessoas que contribuiram para o nosso desenvolvimento cultural, social e econômico, nada mais justo do que mostrar “para o mundo ver” um amazonense que faz história na nossa cidade – o famoso Euler Cocota, o aniversariamente de hoje.

Atualmente, mora na Vila de Paricatuba, em Iranduba, promoveu uma bela Feijoada, para comemorar o seu niver – ele é citado no livro “Amor de Bica”, dos jornalistas Mário Adolfo e Orlando Farias, do escritor Simão Pessoa e do poeta Marcos Gomes. O texto é mais ou menos assim:

“O ex-fora da lei Euler Silva, o popular “Cocota”, é uma lenda da Praça São Sebastião (hoje Largo) e de seus arredores, tendo se envolvido com tráfico de drogas e outros pequenos ilícitos. Aprontou tudo o que tinha direito. Foi morar na rua protegido por uma companhia lendária – a de uma cadela, cujo maior feito foi tê-lo esperado dois meses à porta do presídio Raimundo Vidal Pessoa. No dia em que de lá saiu, dois meses após um flagrante por levar consigo algumas trouxinhas de maconha, lá estava a cadela à sua espera.

Cocota jamais foi um homem perigoso à sociedade. Na verdade, naufragou sob o impacto das ondas ditadas pelas mazelas sociais e do banzeiro da mediocridade das estruturas do Estado, que não lhe permitiram, em detrimento da vida, ser um simples vagabundo.

A história de Cocota foi muito bem ilustrada pelo jornalista Inácio Oliveira, biqueiro, numa reportagem no jornal Amazonas em Tempo e legou um título inesquecível: “Admirável Vagabundo”. Mais recentemente, no ano de 2003, Cocota foi motivo novamente de uma reportagem levada a efeito pela assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Amazonas. Ele foi identificado com um dos muitos casos de pessoas que não viraram reféns do crime, após entrar em seus subterrâneos e deles sair intacto.

Cocota foi se retirando dos submundos pela ação assistencial da igreja capuchinha de frei Fulgêncio Monacelli e com a ajuda de muitos biqueiros, com destaque para o psiquiatra Rogelio Casado e o delegado aposentado Trindade.

Reabilitado socialmente, sem dever nada à Justiça ou à sociedade, Cocota cumpre uma missão pra lá de louvável a qualquer ser vivente que habite esse planetinha azul tão açoitado por impactos das guerras, das revoluções industriais e tecnológicas que se sucedem e das devastadoras perdas impostas pela exploração criminosa das matérias-primas. Cocota coordena no Paricatuba (margem direita do rio Negro, em frente da cidade de Manaus) um projeto de reprodução de mudas nativas da Amazônia para reflorestar áreas degradadas da floresta".

 

É isso ai, a história do meu amigo é pra lá de interessante; o Cocota continua nas suas idas e vindas de Paricatuba; lá é hóspede cativo do Paulo Mamulengo e da Dona Ro; aqui, em Manaus, prefere ficar dormindo na Rua Marcílio Dias, em frente a Casa do Trabalhador!

Continua sendo o nosso eterno admirável vagabundo. Atravessei o Rio Negro, somente para ir até Paricatuba e dar um abraço no Cocota, tirei algumas fotos do artista e montei a colagem acima. Feliz aniversário Cocota!




Obs.: A BICA significa Banda Independente da Confraria do Armando, faço parte dessa agremiação; todo ano é realizada a maior e mais bonita festa de Carnaval de rua, na Rua Dez de Julho, centro antigo de Manaus.
Ainda existem alguns exemplares do livro Amor de BICA, pode ser comprado no Bar do Armando.
Foto Colagem: J Martins Rocha

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

JARAQUI, O JARACA PARA OS MANOS DE MANAUS


O Jaraqui tem um nome complicado, conhecido no meio científico como “Semaprochilodus”, para os meus manos caboclos é apelidado simplesmente por “Jaraca”!

Por ser o peixe mais abundante e barato no Estado do Amazonas, o mais abastados falam que é comida somente de pobre! Puro preconceito! Alguns deles comem Jaraqui e arrotam Bacalhau!

É mano velho, não troco o meu Jaraca por nada, para matar a saudade fui ao templo do peixe, o Restaurante Galo Carijó, situado na esquina da Rua dos Andradas com a Rua Pedro Botelho, centro antigo de Manaus. O estabelecimento estava lotado, assim mesmo fiz logo o meu pedido: Jaraqui frito com os acessórios (baião de dois, farinha ova, tucupi, pimenta murupi, limão, sal e azeite de oliva).

Fiquei na espera de uma mesa, um olho no peixe e outro no “Felis cattus domesticus” (se bobear o gato leva!). Assumi a primeira mesa que desocupou, fiquei naquele martírio, esperando o meu manjar. Dois senhores se aproximaram e pediram para sentar à mesa, concordei gentilmente; começaram a falar sobre negócios, com sotaque de nordestino, o papo envolvia muita grana nas transações; tinha que ouvir aqueles indivíduos fanfarrões.

A garçonete veio ao meu encontro e perguntou: - Eles estão com você? O pedido também é Jaraqui? Antes de responder que não, um deles foi logo detonando: - Não gosto desse peixe, amazonense é que come isso ai (com ar de desprezo), quero um Tucunaré bem grande. Fiquei engasgado antes de o jaraca chegar; pensei com os meus botões: – Dou uma dura nesses palhaços ou me mudo de mesa? Optei pela segunda opção.

O meu peixe estava saboroso, enquanto comia olhava para os forasteiros, notei que um deles estava envergonhado da declaração infeliz; talvez o Tucunaré estivesse entrando quadrado; quem sabe na próxima vez irá fazer o seguinte pedido: - Um Jaraca com baião de dois, por favor! Não sou amazonense, mas comi o jaraqui e não saio mais daqui, nem com nojo de pitiú!

Olha o peixe ai minha gente!
Curimatã, Piranha Preta e Jaraqui
Traz o Tambaqui
Pra comer com Farinha e Tucupi
Venha logo!
Embarca nesse grande canoa
Que acordou o sapo
Um cantor de lagoa
Larga a batida do som Play Tecno
E vem dançar o Jaraqui Psicodélico

Elon Veleiro

Na terra do Jaraqui
Ninguém me contou
Eu mesmo vi
Sinal da globalização suicida
Um curumim Baré
Comendo Yakissoba com Hashi
No lixo da Feira, Nossa Senhora!
Da Aparecida

Marcos Santos


Foto: J Martins Rocha

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O TAMBAQUI


O Tambaqui é um peixe nobre da Amazônia - o nome científico é Colossoma macropomum; segundo os especialistas, as características são as seguintes: escamas com corpo romboidal (quadrilatero de âgulos não retos) , nadadeira adiposa (pequena excrescência carnosa) curta com raios na extremidade; boca prognata (mandúbula alongada) com dentes molariformes (molar, próprio para roer) e rastros branquiais (brânquias, orgão respiratório) longos e numerosos, a coloração geralmente é parda na metade superior e preta na metade inferior do corpo, mas pode variar para mais clara ou mais escura dependendo da cor da água.

Vamos conhecer um pouco mais: É uma espécie que realiza migrações reprodutivas, tróficas e de dispersão; durante a época de cheia entra na mata inundada, onde se alimenta de frutos ou sementes; na vazante dos rios, os indivíduos jovens ficam nos lagos de várzea onde se alimentam de zooplâncton e os adultos migram para os rios de águas barrentas para desovar. Na época de desova não se alimentam, vivendo da gordura que acumularam durante a época cheia.

Por ser um peixe com uma carne soborosissima, muito utilizado na culinária regional e, alcançando um alto valor de mercado, houve uma sobrepesca, tornando difícil encontrar um indivíduo com um peso maior.


Um caso raro: no mês de Agosto deste ano, um pescador do Município de Maraã (635 Km de Manaus), no Rio Solimões, pescou um com 1 metro e 15 centímetros, pesando quarenta e quatro quilos, com idade calculado entre doze a quinze anos. Foi colocado no formol e está em exposição no Bosque da Ciência, no Instituto de Pesquisa do Amazonas – INPA, em Manaus, no bairro do Aleixo.

Segundo os especialistas, a pesca e comercialização em Manaus eram a seguinte: durante décadas e notadamente até metade da década de 80, o Tambaqui foi o principal item desembarcado no porto de Manaus, chegando a um pico de 14 mil toneladas anuais durante a década de 70, no entanto, nas últimas estatísticas pesqueiras computadas apresentaram uma média de desembarque de 300 toneladas anuais de peixes oriundos de ambiente natural.

Para a proteção da espécie na época da desova, o IBAMA criou a temporada do defeso (proibição), entre 1º. de Outubro a 31 de Março de 2011, neste período, não é permitido a pesca, transporte, armazenamento, beneficiamento e a comercialização desta espécie, com execeção dos casos de estoques declarados pelo IBAMA, produto proveniente de piscicultura registradas e acompanhados de certificado de origem e a pesca científica autorizada previamente autorizada.

Na minha infância, tinha uma missão muito árdua: ir toda semana ao Mercado Adolpho Lisboa, para pegar o “bucho” do Tambaqui.  Apesar de ser um peixe nobre, era muito consumido pela classe de baixa renda, existiam em grandes quantidades e o preço era muito bom, na nossa mesa nunca faltava. As pessoas quando viam aquele menino, pegando as vísceras do peixe, ficavam chocadas, algumas até se dispunham a me dar uma “banda” do Tambaqui, porém, sempre me recusava, o objetivo maior era o bucho!  Não dava para explicar para todo mundo que aquilo servia como matéria-prima para fazer um tipo cola, utilizada na confecção de violões. Depois da década de oitenta, a produção caiu, o preço foi para a estratosfera, tivemos que parar de utilizar o bucho, passamos a utilizar a cola branca. Olha o Tambaqui ai, gente!

Foto acima: Arquivo do IBGE - mostra um peixeiro, na década de 70,  vendendo um Tambaqui, no Mercado Municipal Adolpho Lisboa, em Manaus/AM.
No meio, mostra um desenho do peixe, para melhor visualização das suas caracteristicas físicas.