domingo, 30 de dezembro de 2012

INAUGURAÇÃO DO PAÇO DA LIBERDADE E DA PRAÇA D. PEDRO II











Conhecido como Paço Municipal, seu verdadeiro nome é Paço da Liberdade e sua edificação foi iniciada em 1874. Em 1879, o prédio abrigou o Governo Provincial e, em seguida, com a Proclamação da República, passou a sediar a administração do Governo Republicano. Em 1917, o Governo Municipal instala-se no local. A fachada da construção é um dos primeiros exemplos da arquitetura neoclássica em Manaus. O edifício tem um só pavimento, subdividido em três seções. A parte central é composta por um pórtico com duas colunas e duas pilastras em estilo toscano, onde vê-se o escudo da municipalidade de Manaus. Localizado em frente da Praça Dom Pedro II, o Paço da Liberdade é uma das mais importantes edificações do sítio histórico mais antigo de Manaus, marco do fausto e riqueza que imperaram durante a época áurea da borracha. Os nossos irmãos índios, já habitavam este lugar muito ante do invasor lusitano chegar; recentemente, na tentativa da reforma da Praça e do Paço da Liberdade, foi encontrada no local uma Urna indígena, tornando o local sagrado, pois ali fora um Cemitério Indígena. O sítio arqueológico daquela área, foi pesquisado por um alemão, chegando a conclusão que data entre 100 e 800 anos d.C. Lá pelos anos de 1832, o local era conhecido como Largo do Pelourinho – era uma praça, onde existia uma coluna de madeira (pelourinho), servindo para castigar (açoites) os criminosos de penas leves. Com o término do Pelourinho em 1855, o local recebeu diversas denominações, por último, era conhecido como Largo do Quartel, e, finalmente, Praça D. Pedro II, uma homenagem ao último imperador do Brasil, deposto em 1889 com a proclamação da República - foi remodelado nos anos de 1893/1895, na administração do governador Eduardo Ribeiro.

sábado, 29 de dezembro de 2012

CARTA PARA O ARTUR



Manaus, 29 de Dezembro de 2012

Oi, Neto! Tudo bem? Espero que quando esta missiva chegar até em tuas mãos, possa te encontrar com saúde de ferro, com uma fome de leão para administrar a cidade de Manaus e, com a felicidade do ganhador da mega sena da virada!

Antes de tudo, irei me apresentar: sou aquele cara que te cumprimentou na Feira de Artesanato da Avenida Eduardo Ribeiro, quando o nobre amigo ainda estava em campanha, na época em que ainda podias caminhar sozinho, despreocupado, sem seguranças e cercado de baba-ovos por todos os lados – sou o filho do luthier Rochinha (um dos artistas em que você ajudou na tua administração passada), inclusive, ousei em te mandar pelos correios um currículo, pois estou com sede para voltar à ativa e, trabalhar para a cidade que amo de paixão.

Agora você é o alcaide, o dono da chave do cofre, o numero um do executivo municipal – pode cantar no banheiro aquela música do Roberto “Esse Cara Sou Eu” – desculpe por não tratá-lo por excelência, pois esta carta parece com aquela do meu amigo Ribamar Mitoso “A Carta Doida” – na realidade, eu sou doido, mas, não sou leso!

O teu vice deu a maior mancada, achou que era um pavãozinho, o cara se recusou a receber o canudo do TRE, simplesmente por não ter sido chamado para compor a mesa das autoridades, acho que você já deu um puxão de orelha no jovem, afinal, você é um macaco velho e, uma das tuas praias é a diplomacia – mas, o rapaz é bom e está aprendendo!

Outra coisa, eu não sou baú para ficar guardando coisas – o pessoal do Café do Pina, do Bar do Caldeira e do Projeto Jaraqui, estão largando o pau na composição do teu secretariado:

Infraestrutura e Habitação - dizem que o titular nunca sentou um tijolo sequer na vida, muito menos fazer um traço de cimento, além de não saber nem o que é uma casa meia-água;

Educação - o cara é um engenheiro rico e, ninguém entendeu o porquê dele deixar a capital federal, a vice-liderança do DEM e as mordomias de um Deputado Federal, para se meter numa secretaria municipal;

Juventude, Esporte e Lazer – o menino atleta ganha todas as eleições para vereador, mas, sempre é chamado para exercer essa secretaria, está ficando manjado e velho na função.

Implurb – o nomeado é do ramo – todos esperam apenas que não faça como o seu antecessor: anunciava um choque de ordem na cidade, mas, ficava de braços cruzados, na moita!

Governo/IMTU – dois grandes dinossauros que foram desenterrados a pedido do Cabo Pereira;

Requalificação do Centro – o jovem foi chamado em decorrência de gostar do centro, dizem os fofoqueiros de plantão que ele é filinho de papai e, que nunca andou a pé pela Largo do Matriz, muito menos pela Feira da Banana;

Meio Ambiente – dizem que ela é socióloga e que nunca pisou na floresta amazônica, além de ser uma gringa – alguém sabe pronunciar “Schweickardt”?

Neto, não leve a sério as criticas, sabe como é, todo brasileiro é assim, gosta de dá pitaco em tudo; você jamais irá agradar a gregos e troianos – não esquenta! Outra coisa, você acertou em cheio quando convidou o Guto, o Ulisses, o Noronha, o Lourenço e o Valois!

Eu entendo que você não teve outra escapatória para conseguir apoio de peso para a tua campanha, deve ter sido angustiante fazer acordos com o capeta do Negão – agora, ele está cobrando a fatura: emplacou quatro secretários e, não permite a divulgação do déficit financeiro da prefeitura – um trabalho cuidadoso e apurado em sua exatidão pelo Castelo. Paciência, isto faz parte do jogo político.

Pois é, mano velho – estou feliz com a tua conquista e, esperançoso na revitalização do centro antigo de Manaus - na solução definitiva do abastecimento de água na nossa cidade - de peitar a máfia que se instalou na concessão do sistema de transporte público da capital – da regularização da coleta de lixo, da limpeza da cidade e a implantação da coleta seletiva – substituir o velho e cansado sistema de tapa-buracos das ruas, com asfaltos de qualidade e que durem pelo menos quatro anos.

Despeço-me, desejando quatro anos de grandes realizações para a nossa querida e amada cidade de Manaus. Abraços

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

PALACETE DA PRAÇA DA SAUDADE


Está localizado nas esquinas das Ruas Ramos Ferreira e Ferreira Pena, 184, centro de Manaus – foi construído no período de 1907 e 1908 – ficou durante muitos anos em absoluto abandono e, no final de 2012 está voltando ao seu esplendor, pois o atual proprietário está recuperando as portas, janelas, frontispício e varandas, com a retirada de entulhos, limpeza geral e pintura em todo o imóvel – quem passa pelo local já nota o quanto aquele prédio é bonito.

Quando ele foi construído, a nossa Manaus já estava caminhando para a debandada geral, com a chegada do fim do apogeu da extração/comercialização do primeiro ciclo da borracha (1879/1912), mesmo assim, o proprietário gastou uma fortuna para construí-lo, tanto que é considerado um pequeno palácio.


Um dos proprietários foi o Dr. Fajardo, um médico muito conceituado em nossa cidade, tanto que foi homenageado para o nome do Hospital Infantil Dr. Fajardo. O local abrigou também a Faculdade de Engenharia, da antiga Universidade do Amazonas (UA).

Por último, foi adquirido pelo empresário Adailton Cabral (dono da antiga Verbatim da Amazônia), o qual utilizou o local como administração central de algumas de suas empresas – tempo depois, foi alugada para a Prefeitura Municipal de Manaus – com o término do contrato, o imóvel ficou fechado por vários anos, sendo, finalmente, revitalizado no final de 2012.

Existe uma luz no fim do túnel, com relação à revitalização do centro antigo de Manaus, pois a realização da Copa do Mundo em 2014 exige uma preparação adequada da cidade para receber os milhares de turistas que virão para a nossa cidade - inclusive, o prefeito eleito Arthur Neto implantará em 2013, a Secretária Extraordinária para Requalificação do Centro.


No caso particular do proprietário do Palacete da Praça da Saudade, o senhor Adailton Cabral, está fazendo a sua parte, contribuindo para a nossa cidade ficar mais charmosa e atraente.

Espera-se que os outros empresários façam o mesmo e, não fiquem somente esperando pelas benesses do poder público para recuperar os palacetes que estão escondidos (esquecidos) pelos quatros cantos da cidade. É isso ai.

Observação: os leitores que desejarem acrescentar mais detalhes sobre a história deste  imóvel, basta mandar um e-mail para     jmsblogdorocha@gmail.com 

Fotos: J Martins Rocha

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

VISITA AS COMUNIDADES RURAIS NO NATAL


Possuo um grupo de amigos que, deixam o aconchego dos seus lares, em pleno dia de Natal, para se dedicarem a filantropia, levando carinho e presentinhos para as criancinhas carentes das comunidades rurais do Ramal do Pau Rosa, no quilômetro 21 da BR-174.


Este ano, houve um desencontro entre os seus membros, perdemos o contato com o Marcelo (Contador da Petrobrás), Rony Codó e esposa (empresários) e Celeste (funcionária da SEFAZ), pois são dezoitos comunidades que fazem parte de um assentamento administrado pela Prefeitura de Manaus e pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária – acredito que alguns foram para lados opostos (o sinal do celular não funciona naquele lugar).

O meu grupo era formado pela Socorro Papoula (militante do PT e Presidente da Federação de Teatro do Amazonas), Eridan Baiana (Secretária da Associação dos Pecuaristas do Amazonas), Rochinha (bloqueiro e, nada mais) e Jersey Nazareno (Jornalista e funcionário público municipal), este último desistiu na última hora, pois iria cobrir o espetáculo de natal “Glorioso” no entorno do Teatro Amazonas.

Devido aos excessos da véspera de Natal, houve um atraso na saída do grupo e, como o café da manhã foi servido quase próximo ao almoço, resolvemos embalar e levar o famoso “RO – restos de ontem: peru, arroz, maionese, farofa e a macarronada”, para serem devoradas no meio da tarde em plena selva amazônica.

Os brinquedos e roupinhas das crianças foram adquiridos pela Socorro Papoula e, apesar de todo o sacrifício e dificuldades em adquiri-los, em compensação, ela transbordava felicidade em ver o sorriso de alegria quando os baixinhos recebiam os seus presentinhos.


Começamos a fazer a distribuição desde a entrada do ramal - percorremos quatorze quilômetros de estrada, parando nas casas mais humildes para fazer a entrega dos presentes – a alegria era geral, meninos, meninas, jovens, adultos e velhos, todos ficavam felizes com a nossa chegada.



O nosso almoço foi na Comunidade Boa Sorte, na casa do Vilson, um agricultor que trabalha com a plantação de verduras e açaí (vende toda a produção nas quintas-feiras na Feira do Produtor da SEPROR) – ele e a sua esposa são os lideres da comunidade, em decorre disso, deixamos uma caixa com brinquedos, bolas de plástico e roupinhas para eles distribuírem para as crianças.

Conversamos com alguns líderes comunitários, com menção especial a Dona Rosa e Dica - não deu para visitarmos o Perivaldo e o casal Voinho & Voinha, pois a estrada de acesso estava muito ruim.

A grande maioria das comunidades sofre com o acesso, pois os ramais são de barro batido, com muitos buracos e costelas, dificultando enormemente a passagem dos veículos e, impossibilitando parcialmente quando na época de chuvas.

O que mais entristece os comunitários é o fato do governo federal ter doado vários tratores, amassadeiras, pás mecânicas e caçambas para a Prefeitura de Manaus (SEMPAB), bem como, para a Secretaria Estadual de Produção Rural (SEPROR) fazerem a manutenção desses ramais, mas, por faltar vontade política (bom senso), esses equipamentos estão enferrujando e não são utilizados – pura incompetência e falta de vergonha na cara!

Voltamos quando já estava anoitecendo, tudo correu bem, graças ao nosso bondoso Deus - levamos de volta o sentimento do dever cumprido e, deixamos para trás muita felicidade nos corações das crianças carentes das comunidades rurais. É isso ai.

Fografias: Eridan Baiana e J Martins Rocha

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A BOLACHA DE MOTOR


Os amazônidas utilizam os barcos regionais para percorrerem os rios, viajando para lugares que levam até uma dezena de dias para chegarem ao seu destino, geralmente, o rancho acaba durante a viagem, sobrando apenas a salvadora da pátria, a famoso bolacha de água de sal, conhecida carionhosamente pelos ribeirinhos como “bolacha de motor”.


Para quem não sabe, o motor é um nome dado pelos nossos caboclos, para designar um barco regional, fabricado, em sua grande maioria, de madeira de lei, servindo para o transporte de cargas, passageiros e para o ecoturismo.

A bolacha é um alimento que não pode faltar no café da manhã das embarcações que singram os rios da Amazônia – a nossa bolacha de motor é bastante dura (capaz de quebrar até uma dentadura), mas, possui um saber inigualável e, por ser bastante rústica, a sua durabilidade é muito grande, além de ser muito barata, além de encher o bucho numa boa.


A única fábrica que produz este tipo de bolacha, em Manaus, é a Fábrica Modelo, um estabelecimento com quase cem anos, situado na Avenida Joaquim Nabuco, esquina com a Rua José Paranaguá, inclusive, algumas embalagens já vem com a inscrição “Bolacha de Motor”, em decorrência da tradição e pelo carinho que os amazonenses têm por ela.


Conheço um caboclo que morava em Tabatinga (fronteira com o Peru e a Colômbia), veio para Manaus para trabalhar no Distrito Industrial – depois de um ano na batalha, tirou férias e, resolveu visitar os parentes na sua cidade natal – foram dez dias dentro de um barco regional (ida e volta). Na volta, por ser mais longa, certo dia, acabou parte do rancho, não tinha mais em quantidade o leite, o café, o açúcar e a manteiga margarina, restando somente a bolacha de motor, foi quem salvou a broca da cabocada.


Na semana passada resolvi matar a saudade dessa bolacha, pois na minha infância ela não podia faltar em casa - fui até a Padaria Modelo, comprei dois pacotes e, passei uma semana comendo pela manhã e à noite – lembrei das minhas viagens de barcos pelo interior e, saboreei até a última “bolacha de motor”. É isso ai.  

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

BARCO REGIONAL COMO PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO



Sempre tive um fascínio pelos rios do Amazonas e, em particular, pelos barcos regionais, tanto que já fiz inúmeras postagens e publiquei outras tantas fotografias, mostrando este meio de transporte – recentemente, foi publicado nos meios de comunicação um trabalho do pesquisador e mestre em Direito Ambiental, Marco Aurélio de Carvalho Martins, em que faz uma análise da tecnologia naval amazônica como patrimônio cultural brasileiro.

Esta minha paixão por rios e barcos regionais, com certeza, está incrustada na minha mente desde a minha tenra idade, em decorrência de ter morado em “casa flutuante” no Igarapé de Manaus e, na enchente do Rio Negro, muitos barcos ancoravam em nossa humilde residência, além do meu genitor ter tido um motor de centro, utilizado para cortar madeiras.

O barulho característico do motor, o cheiro do óleo diesel, o embalar nas redes, a beleza do leme do motor, o balançar das bandeiras do Amazonas e do Brasil, a lentidão dos marítimos, as cargas, as pessoas dormindo, as luzes multicoloridas, o farol, a estreita tábua de acesso, o som do sinete pedindo marcha, a saída de água da refrigeração, tudo, tudo, ficou guardado na minha mente.

Fico feliz quando tenho oportunidade de viajar em barcos regionais, principalmente, para Parintins, Maués, além dos recreios para as Praias da Lua (Paricatuba/Iranduba) e Tupé (Zona Rural de Manaus) - pretendo qualquer um dia desses, fazer uma viagem mais longa, pegar um barco no Rodoway (Porto de Manaus) e seguir até Barcelos e São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro.

Sabemos que a Amazônia é entrecortada por rios, onde praticamente todas as cidades e comunidades são separadas por águas, em decorrência dessas particularidades, as estradas são os rios e os Barcos Regionais substituem aos automóveis, levando pessoas e cargas para esse imenso mundo de meu Deus -, por serem feitos na sua grande maioria de madeira e, aliado a outros fatores, tem deixado muito a desejar no quesito segurança. 

Os barcos construídos no Estado do Amazonas diferem dos do Pará, pois estes sofrem a influencia do mar, sendo adaptados a essa realidade. Os nossos barcos possuem as seguintes características: são feitos em quase toda a sua totalidade de madeira, com os mais variados tamanhos e tipos, recebendo o nome de “Motor” ou “Recreio”, dependendo da duração da viagem; a grande maioria é do tipo misto, ou seja, transportando ao mesmo tempo cargas e passageiros.

O pesquisado Marco Aurélio Martins afirmou o seguinte: "A tecnologia naval baseada em madeira é imponente e de extrema relevância, norteando diversos tópicos como extração da madeira, segurança, transporte de passageiros e mercadorias, comunicação e desenvolvimento regional, todos eles influenciando e sendo influenciados pelas conduções naturais da região, faz parte de um desenvolvimento social ligado às águas da região, considerada a maior bacia hidrográfica do mundo. Os rios e cursos d’água fazem parte do cotidiano dos amazônidas, relacionando-se ao desenvolvimento cultural, o que permitiu com que a nossa pesquisa avaliasse a tecnologia de construção de embarcações como patrimônio cultural da sociedade brasileira”. 



Ao passar pelas feiras e mercados de Manaus, encontramos muitas miniaturas de barcos regionais, sendo muito apreciados pelos turistas e, deixados de lado pelos nativos – qualquer um dia desses irei comprar o meu e, colocá-lo em destaque no meu barraco, afinal, ele será brevemente considerado por lei, como um patrimônio cultural brasileiro. É isso ai.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

JARAQUI, O JARACA PARA OS MANOS DE MANAUS

BLOGDOROCHA: JARAQUI, O JARACA PARA OS MANOS DE MANAUS: O Jaraqui tem um nome complicado, conhecido no meio científico como “Semaprochilodus”, para os meus manos caboclos é apelidado simplesmente...

sábado, 8 de dezembro de 2012

DIA DA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

BLOGDOROCHA: DIA DA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO: Hoje é feriado no nosso Estado, com a comemoração da nossa padroeira (santa protetora) do Amazonas, a Nossa Senhora da Conceição. ...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O MEU IGARAPÉ DE MANAUS


Ao passar pela ponte da minha infância, a Ponte Romana I, na Avenida Sete de Setembro, lembrei daquela famosa música do Chico da Silva “sonho de criança é crescer, ganhar o mundo, depois dormir, num sono mais profundo...”, num passe de mágica, viajei ao passado, lembrei dos meus vizinhos do Igarapé de Manaus: Mal Feito a Martelo, Helio, Soraya, Solon, Artur, Artuzinho, Judico, Zé Roberto, Sabá, Diva, Norberto, Zé Carlos, Neuza, Adena, Oscar, Diquinha, Márcia, Rosa, Pátria, Neno, Wanda, Nego Sarto, Zé Inácio, Hilário, Rubinho, Gadelha, Rogério, Goiaba, Wangler, Sargento, Totonho, Aluisio, Tico, Beto, Nego, João Bringel, Pingo, Gurgel, Dural, Triunfo, Norma, e, mais uma duas dezenas de outros que não me recordo dos nomes, mas as fisionomias ficaram marcadas para sempre.

Senti saudade dos pulos da ponte, dos banhos de rio - os meus pais não permitiam, mas, eu e os meus irmãos colocávamos os nossos calções num arbusto qualquer e, tomávamos banho pelado, certa vez, um engraçadinho levou o meu calção, deixei anoitecer e corri pelo meio da rua, peladinho da silva, passei o maior vexame, foi gozação total, dei o troco, fiz a mesma coisa com outro moleque.

Acordávamos às cinco da manhã, deixávamos a Leiteira na porta da nossa casa e, corríamos para pegar manga Rosa, no terreno do Hospital da Beneficente Portuguesa, certa vez, ao voltar, encontramos um gato lambendo parte do leite derramado, aquilo seria um motivo para uma boa peia, a solução foi colocar água para completar o litro de leite, apesar de ficar fraco e com pelos do felídeo, durante o café, com exceção da mamãe e do papai, ninguém quis saber do leite, tomamos o café puro, os velhos desconfiaram, não teve jeito, a peia comeu no centro.

As brigas de rua eram “normais”, existiam muitas rixas com o pessoal da Rua Ipixuna e Major Gabriel - usávamos somente os braços e as pernas, nada de arma de fogo ou branca, cada um ficava no seu quadrado, entrar no território do inimigo, nem pensar, quem ousasse, apanharia na certa, certa vez, fomos convidado para jogar no Campo do Bodozal, pertencia ao pessoal da Rua Major Gabriel, foi uma cilada, apanhei sem pena e nem dó, marquei um por um, o tempo passou, mas quem apanha não esquece, dei o troco na maioria dos meus agressores.

Existiam dois Circos na rua, um pertencia ao Sarto, conhecido por Nego Mau - apesar de ser circo de brincadeira, era tudo bem organizado, tinha bilheteria, arquibancada, trapézios e palhaços – eu e os meus irmãos fomos “contratados” para fazer acrobacias, ficamos conhecidos como “Os Irmãos Borracha”, acabou a temporada e o patrão não pagou o nosso cachê, depois de trinta anos, fizemos o Nego Mau pagar um jantar e uma grade de cervejas para o Neno, Rocha, Zezinho e o Henrique.

O outro circo pertencia ao Aluízio -  fui “trabalhar” para ele, certa vez, estava no trapézio de cabeça para baixo, o Nego Mau pegou uma baladeira e, com uma bolinha, acertou bem no meu “ovo esquerdo”, cai de cabeça no chão, acho que com o baque na cachola fiquei tantã até hoje.

A nossa criação foi muito rígida, mas, moleque não tem jeito, sempre que os velhos davam bobeira eu fugia para brincar na rua, gostava de nadar, jogar bola, curtir as brincadeiras de papagaio de papel, jogar pião e gangapé, subir em mangueiras, pular da ponte, morcegar a carroça do Sêo Hilário, dentre outras - pelas as minhas peraltices, acho que pegava uma peia todo dia, pior que além dos meus pais tinha também a vovó paterna, uma cearense braba, qualquer coisa errada era motivo para pegar uns bolos na mão.

Acordei, voltei para o século XXI, tudo acabou, restaram poucos vizinhos que teimaram em ficar no lugar, o nosso Igarapé de Manaus foi aterrado, todas as casas da sua margem foram retiradas, transformaram o local num centro de convivência para os jovens, com bastantes quadras de futebol de salão, ciclovias e praças de alimentação.

Depois, resolvi fazer uma caminhada pelo entorno do Parque Desembargador Paulo Jacob, uma justa homenagem a um antigo morador da Rua Major Gabriel – tristeza, muita tristeza, pois o local está abandonado, com muito mato e lixos por toda parte – dizem que a Prefeitura de Manaus não aceitou tomar conta do parque, em decorrência de não ter sido o “pai da criança”.

Encontrei com o meu amigo Aluízio  ele ainda mora na mesma casa onde nasceu há sessenta e seis anos atrás, inclusive, fui convidado para o seu aniversário no próximo dia 13 do mês corrente mês – estarei lá para rever os amigos.

Apesar de toda a descaracterização do local, continua sendo o lugar mais querido da minha infância, o meu Igarapé de Manaus! É isso.

Fotos: 1.J Martins Rocha/2. Desconhecido/3.Chico Batata