sábado, 26 de maio de 2007

TACACAZEIRAS DA AMAZÔNIA
Adriano Aguiar – Geovane Bastos – CD Caprichoso 2007

É dia de feira, mulher guerreira
Que cedo levanta
Com a certeza de lutar

Escolhe o melhor tucupi
Cheiro-verde, tapioca, jambú
Camarão e pimenta murupí
Tem chicória e cebolhinha
Tem a cuia com a cestinha
Pra comprar
Ferve a goma na panela
Fundo preto
Pega abano, braço forte
No fogareiro a brasa a queimar
É fim de tarde, toalha de mesa
Arruma a banca traz cadeira
Que hoje tem cuia de tacacá
Pra tomar
Um cheiro!
Que o vento sopra
E leva distante
Que envolve o visitante
Fazendo provar
E nunca mais esquecerá
Desse sabor, basta provar
Meu tacacá é feito com amor

É mês de junho
Minha ilha está em festa
Bem no meio da floresta
Brilha a estrela
Do meu boi, Caprichoso

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Obras de Arnaldo Garcez


ARNALDO GARCEZ, músico instrumentista, compositor, artista plástico é o que pode chamar multimídia. Flutua por vários estilos, tanto nas artes plásticas quanto na música, navegando entre as tendências com todo os despudor que a arte exige.




quinta-feira, 17 de maio de 2007

BALNEARIO DO PARQUE DEZ DE NOVEMBRO


BALNEÁRIO DO PARQUE DEZ

Certo dia estava num engarrafamento infernal na Avenida Efigênio Sales com a Rua Recife, em direção ao bairro do Aleixo, por conta da construção de um viaduto; encontrava-me no limite da paciência, quando olhei para o lado direito e avistei parte do prédio, onde funcionava o restaurante e o clube dançante do balneário do Parque Dez. Num passe de mágica, voltei ao passado, expulsei todos os capetinhas que estavam rondando a minha cabeça.

O meu pai me acordava às 05 da manhã de domingo para irmos ao Mercado Municipal e, depois das compras rumávamos para o “banho do Parque Dez”, o principal problema era o transporte, pouquíssimos ônibus ( de madeira) circulavam em Manaus; o infortúnio da viagem (era uma eternidade o trajeto do centro para o bairro) compensava logo na chegada, era uma maravilha o meu Parque Dez! Passávamos o dia todo no maior lazer.

O balneário do Parque Dez foi estruturado para receber as famílias amazonenses em sua piscina natural, abastecida pelas águas límpidas do igarapé do Mindu, em vasta área verde, com zoológico e um restaurante para a satisfação gastronômica dos freqüentadores. O acesso ao balneário se dava pela rua Recife, que descia do bairro de Adrianópolis, em pista pavimentada de cimento, até o Parque Dez. Nas imediações, onde hoje está aberta a avenida Efigênio Sales, uma vereda, antigamente conhecida por V-8, levava a inúmeras chácaras, todas tendo ao fundo o igarapé do Mindu, formando banhos particulares. O bairro estava nos limites extremos de Manaus e, ao atravessar o igarapé, a floresta predominava em toda sua extensão. O local permaneceu por muito tempo como enorme área de lazer, onde os manauaras se refrescavam dos dias quentes e se esqueciam do mormaço econômico que insistia em medrar na capital do Amazonas.

Após essa maravilhosa viagem, acordei; rumei feliz em direção ao meu destino, não senti mais nenhum estresse com os outros engarrafamentos que encontrei pela frente.

sexta-feira, 4 de maio de 2007


O prefeito e a cangula pensa
Rua dos Andradas. Aos fundos, na rua Floriano Peixoto, o decadente prédio onde outrora funcionou o glamuroso Hotel Amazonas, que hospedou ilustres personalidades da república. Estamos no centro histórico da cidade de Manaus - a capital dos operários eletrônicos da Amazônia - em sua área mais degradada. São quase 8 horas da noite. O comércio local há muito fechou a porta das dezenas de estabelecimentos de miudezas e outras quinquilharias. O lixo, devidamente ensacado, foi depositado na frente das lojas à espera do caminhão de coleta, o que só acontecerá bem mais tarde. Justamente nesse período de tempo, o cenário será inteiramente modificado, no trecho entre os fundos da Igreja Nossa Senhora dos Remédios e a rua Mundurucus, única rua do centro da cidade a desembocar numa bucólica escadaria, hoje soterrada por um aterro com grossas camadas irregulares de asfalto, fruto da insanidade urbanística que há quase trinta anos desfigura, dia-a-dia, o patrimônio histórico e paisagístico de Manaus.Os desavisados que ali passassem e pousassem os olhos nesta cena - captada pela minha câmera fotográfica - imaginaria tratar-se de puro ato de vandalismo. Lêdo engano! Trata-se de um outro fenômeno social: anônimos cidadãos, ao tentar se incluir, informalmente, na economia da cidade no setor dos reciclados, deixam um rastro de sujeira, que só os analfabetos políticos poderiam imputar como total ausência de regras de conduta. Papel, papelão são os objetos desse desejo. Mulheres com criança de colo, crianças e adultos, jovens e mais velhos, são os protagonistas dessa obscenidade que diuturnamente atinge aquele trecho, logo após o lusco-fusco do anoitecer que banha a capital da Zona Franca, essa cidade morena que ostenta o título de quarto PIB brasileiro.Eis que o prefeito Serafim Côrrea, há dois anos do encerramento do seu mandato, resolveu por fim à escandolosa proteção de abastados setores da cidade na cobrança do IPTU. Há pelo menos duas décadas os reajustes eram irrisórios, cabendo às classes médias e à população mais pobre o ônus de manter esse mecanismo classista de privilégio de muito poucos. Mais do que uma peça publicitária, a divulgação da decisão política do prefeito encerra princípios inegáveis de justiça social contra a desigualdade alimentada pelos suseranos encastelados no poder: "paga mais quem pode; paga menos quem não pode; e não paga nada quem não tem com o que pagar".Entretanto, uma lógica anti-dialética insiste em defender a tese classista de sempre: "paga quem pode; quem não pode se sacode". Eis o retrato acabado de uma cangula pensa; e, pensa para a direita, meus prezados.
No quesito IPTU, tô nessa barca com o Sarafa! Um IPTU justo poderia evitar a constrangedora cena da imundície reinante em algumas áreas do centro histórico da cidade, livrando-nos da falta de fiscalização a que estão submetidas as áreas degradadas que ainda não foram objeto de revitalização pelo poder público.Evidentemente que a questão da inclusão social, que está por trás da sujeira provocada pelos que tentam se incluir na vida social e econômica da cidade, há muito reclama por uma discussão mais aprofundada sobre o modelo Zona Franca, que, se retirou o Estado da indigência do pós-ciclo da borracha, gerou uma concentração de renda perversa, haja vista a pobreza da nossa periferia. Um desafio para todos, especialmente para a esquerda política, outrora mais crítica quanto aos limites do modelo econômico baseado em incentivos fiscais e na abolição de alguns impostos. Eis o desafio intelectual de hoje, se não quisermos que o cérebro vire tacacá nos verões que se anunciam com o degelo próximo.
*****
NOTA1: Cangula - papagaio ou pipa grande e que não imbica.
NOTA2: Penso - gíria de empinador de papagaio que se refere ao papagaio que tende a inclinar para o único lado.
Fonte: O manaura - Leôncio Oliveira, Manaus: Edições Kintaw, 2005.
Curiosidade: Até o presente momento, a obra de Leôncio Oliveira é única. Apesar de algumas irregularidades (como a grafia de picica, com dois esses, que mereceu uma crítica de Zefofinho de Ogum, consultor e conselheiro espiritual do site
PICICA - Observatório dos Sobreviventes), é leitura obrigatória para quem aprecia a erudição cabocla, ou o caboquês, segundo o filólogo amador Joaquim Marinho, que escreve a orelha do livro.
Rogelio Casado

quinta-feira, 3 de maio de 2007

O nosso velho e querido "Mercadão" está sendo revitalizado pela Prefeitura Municipal de Manaus. Dizem que todo mercado central é a cara da cidade; realmente é uma verdade, basta visitá-lo para encontrar a culinária amazonica, o nosso artesanato indigena, a nossa gente (caboclos, com muito orgulho!).
Iamos todos os domingos ao mercado; chegavamos bem cedo, papai e os meus treis irmãos tomavamos aquele famoso café regional (café com leite, queijo qualho, mingau de milho e banana, pamonha, pé de moleque, cuscuz, etc.), depois íamos às compras, era o único dia da semana em que consumíamos carne vermelha; nos demais, somente frango e peixes.
O meu genitor fabricava e consertava violões de corda, hoje chamam a profissão de luthier; a nossa cola era feita do "bucho" do tambaqui. Tinha uma missão árdua de coletar as vísceras do peixe; as pessoas que por lá passavam, ficam com dó no coração ao ver um menino, abaixado e catando os restos, a grande maioria se ofereciam para ajudar-me, mas eu sempre recusava, pois apesar da nossa família ser de origem pobre, nunca faltou alimentos em nossa casa.
Nunca deixei de visitar o mercado, vou pelos menos duas vezes ao mês. Estou aguardando com grande ansiedade a sua reabertura.
Abaixo transcrevo um trabalho da professora Arminda.


Mercado Municipal Adolpho Lisboa ( Arminda Mendonça de Souza )
A evolução de Manaus e o aumento da população nos idos de 1855, concorreram para a criação da “Ribeira dos Comestíveis”, sob a egide do 1º. Vice-Presidente da Província, o Bacharel Manoel Gomes Correa de Miranda, que a instalou nas proximidades do local, onde posteriormente foi edificado o primeiro Mercado Municipal. Essa “feira”, a “Ribeira dos Comestíveis”, que vendia carne verde, pirarucu, mixira, arroz, feijão, farinha, frutas e legumes, foi, posteriormente, autorizada a se transferir para a Praça da Imperatriz, atualmente Praça Osvaldo Cruz, pelo então Presidente da Província, João Wilkens de Mattos, Barão de Mariuá, através da Lei nº 191 de 25.05.1869. Alguns anos depois, nova construção foi edificada à margem esquerda do Rio Negro, à Rua dos Barés, antigo Bairro dos Remédios. As obras desse novo Mercado, foram contratadas em 23 de outubro de 1880, mas somente dois anos depois, em agosto de 1882, é que tiveram início, originalmente ocupando uma área de 5.400m2.A firma construtora Bakus & Brisbin (de Belém), entregou provisoriamente o prédio construído, a 14.07.1883, constando de um pavilhão de ferro, com 45m de comprimento por 42m de largura. Na realidade, o grande edifício de ferro não passava de um simples galpão, em duas águas, sem nenhuma estética conforme comprovam fotos e documentos da época.Quanto à data de sua inauguração, existem divergências, pois alguns afirmam que ocorreu a 15 de julho de 1883, enquanto outros, ter sido a 15 de agosto, desse mesmo ano, mas certo é que a renda do Mercado foi transferida para O Município, no dia 4 de agosto, donde se conclui que a data mais provável é a primeira. O grande edifício em ferro, com o “tecto sustentado por 28 colunas desse metal”, onde se encontra gravado em seus fustes (peça principal da coluna entre o capítel e a base) o nome de “Francisc Morton, Engineers, Liverpool”, nos dão a certeza da sua origem inglesa. O calçamento do pavimento é de laje de cantaria de forma retangular e a rua central é calcetada com paralelepípedos. Fora as duas salas principais, foram construídos 20 stands separados entre si por grades de ferro e guarnecidos de balcões de madeira com o tampo superior em mármore, onde são dispostos os produtos para vendagem. A fachada voltada para o Rio Negro era muito mais elaborada, com a finalidade de impressionar, todos aqueles que chegavam a Manaus pela única via de acesso - o rio, possuindo uma estrada e duas edificações em alvenaria de tijolos. No decorrer de 1890, face ao crescimento da cidade, o Mercado sofreu ampliação com a construção de dois galpões iguais e abertos, nas laterais, com estrutura de madeira e recobertos com telhas de zinco. Poucos anos depois, 1897, o Mercado Público, não mais dispunha das condições higiênicas necessárias a um estabelecimento dessa natureza e o Sr. Intendente Municipal da Capital, determinou por ordem verbal ao engenheiro municipal interino, Dr. João Carlos Antony, para que fizesse uma perícia naquele estabelecimento e as conclusões apontadas pelo referido engenheiro, foram as seguintes: “achei este edifício em estado lastimoso quer pelo lado de conservação quer pelo lado da hygiene... Ao primitivo edifício foram-se acrescentando sucessivamente construções sem gosto artístico e em completa desarmonia com os comesinios preceitos de hygiene. Às duas alas acrescentadas..., posteriormente, ainda se acrescentaram, outras pequenas e imundas construções destinadas a diversos e disparatados mysteres, tornando-se assim a construção antiga imprópria ao uso que se destinava...” Para efetuar os trabalhos de reforma, foi contratado o engenheiro Filintho Santoro, que deu início às obras, construindo a fachada da Rua dos Barés em alvenaria de tijolos, no entanto estas melhorias só vieram a ser concluídas pelo empreiteiro Affonso Campora, nos idos de 1906, ou seja, quase no final do mandato de Adolpho Lisboa. Um ano antes de ser concluída a reforma, 1905, foi o Mercado arrendado para o cidadão Alfredo de Azevedo Alves, tendo este fato sido motivo de ação judicial que se estendeu por mais de duas décadas e graças a isso, foi possível resgatar muito da história sobre a construção desse prédio. Após esses problemas, Alfredo de Azevedo Alves cedeu seus direitos à firma inglesa, “The Manaos Markets and Slaughterhouse Limited” que teria a finalidade exclusiva de fazer cumprir o contrato anterior, ou seja, reforma ou ampliação de acordo com os projetos da Superintendência, além de construírem um Matadouro e realizarem melhoramentos na cidade, em troca receberiam o direito à exploração de Mercado, pelo prazo de 50 anos. Só que o acordo estabelecido não foi cumprido e em 1907, com obras de ampliação não prescritas no acordo com a Superintendência, foi o contrato rompido, tendo esse fato, sido alegado como uma das causa principais. Além de pesarem suspeitas da participação de elementos da administração pública na referida firma, caracterizando má fé e má destinação do erário público. Nesse mesmo período, foram montados os dois pavilhões de ferro com 360m2 de área útil, afora as projeções dos beirais abertos, encimados por arcos de ferro e recobertos de zinco estampado, sustentados por colunas de ferro, no lado oriental e ocidental do primitivo pavilhão central, onde eram efetivadas as vendas dos já referidos produtos alimentícios. Estas fachadas possuem frontões curvos que acompanham as formas dos arcos da cobertura e ostentam ornatos filigranados, em ferro fundido, com vidros coloridos. Os pavilhões possuem parapeitos de alvenaria em pedra até 1m de altura e sobre estes, sem nenhuma pretensão estética ou mesmo plástica, colunas de ferro, onde é possível ler “Walter Marcfarlane Glasgow” inscrito e que são atestatórios de sua origem escocesa. Outro pavilhão de mesma procedência, porém de componentes arquiteturiais totalmente diversos, fora construído para a venda de tartarugas (comércio hoje extinto), e fechado por chapas de ferro, possuindo venezianas também de ferro e vidro, com a cobertura de chapas onduladas, em quatro águas, desdobradas, formando um pequeno frontão decorado com ferro fundido e vidro colorido. Além do corpo principal do prédio, existiam dois pequenos pavilhões de planta octogonal, nas extremidades do “Pavilhão das Tartarugas” que se presume, seja também de origem escocesa, apesar de não se encontrar nenhuma inscrição visível, em qualquer das chapas ou mesmo nas colunas de ferro, que confirmem sua procedência, no entanto, a comparação com outros trabalhos dessa firma, publicados em catálogos, levaram os estudiosos a comprovarem a sua origem. O primeiro desses pavilhões era destinado ao Fisco, que se encarregava da cobrança dos tributos sobre os produtos oriundos do interior do Estado. Mais tarde esses dois pavilhões (Pará e Amazonas) transformaram-se em “café e botequim”. Outra peça importante é o velho relógio do frontão da fachada dos Barés, que anteriormente estava localizado na fachada voltada para o Rio Negro, e que continua a regular as atividades do velho mercado. De modo geral, podemos dizer que a justaposição de construções criou um ecletismo característico da época que, apesar de não se integrarem plasticamente, não seguindo nenhum projeto arquitetônico, não destoam entre si e o mais louvável é que o Mercado Adolpho Lisboa, mantém a finalidade para o qual foi criado, apesar de várias vezes surgirem sugestões para que o mesmo seja transformado em loja de artesanato regional. A evolução de Manaus e o aumento da população, nos idos de 1855, concorreram para a criação da “Ribeira dos Comestíveis”, sob a egide do 1º. Vice-Presidente da Província, o Bacharel Manoel Gomes Correa de Miranda, que a instalou nas proximidades do local, onde posteriormente foi edificado o primeiro Mercado Municipal. Essa “feira”, a “Ribeira dos Comestíveis”, que vendia carne verde, pirarucu, mixira, arroz, feijão, farinha, frutas e legumes, foi, posteriormente, autorizada a se transferir para a Praça da Imperatriz, atualmente Praça Osvaldo Cruz, pelo então Presidente da Província, João Wilkens de Mattos, Barão de Mariuá, através da Lei nº 191 de 25.05.1869. Alguns anos depois, nova construção foi edificada à margem esquerda do Rio Negro, à Rua dos Barés, antigo Bairro dos Remédios. As obras desse novo Mercado, foram contratadas em 23 de outubro de 1880, mas somente dois anos depois, em agosto de 1882, é que tiveram início, originalmente ocupando uma área de 5.400m2. A firma construtora Bakus & Brisbin (de Belém), entregou provisoriamente o prédio construído, a 14.07.1883, constando de um pavilhão de ferro, com 45m de comprimento por 42m de largura. Na realidade, o grande edifício de ferro não passava de um simples galpão, em duas águas, sem nenhuma estética conforme comprovam fotos e documentos da época. Quanto à data de sua inauguração, existem divergências, pois alguns afirmam que ocorreu a 15 de julho de 1883, enquanto que outros, ter sido a 15 de agosto, desse mesmo ano, mas certo é, que a renda do Mercado foi transferida para O Município, no dia 4 de agosto, donde se conclui que a data mais provável é a primeira. O grande edifício em ferro, com o “tecto sustentado por 28 colunas desse metal”, onde se encontra gravado em seus fustes (peça principal da coluna entre o capítel e a base) o nome de “Francisc Morton, Engineers, Liverpool”, nos dão a certeza da sua origem inglesa. O calçamento do pavimento é de laje de cantaria de forma retangular e a rua central é calcetada com paralelepípedos. Fora as duas salas principais, foram construídos 20 stands separados entre si por grades de ferro e guarnecidos de balcões de madeira com o tampo superior em mármore, onde são dispostos os produtos para vendagem. A fachada voltada para o Rio Negro era muito mais elaborada, com a finalidade de impressionar, todos aqueles que chegavam a Manaus pela única via de acesso - o rio, possuindo uma estrada e duas edificações em alvenaria de tijolos. No decorrer de 1890, face ao crescimento da cidade, o Mercado sofreu ampliação com a construção de dois galpões iguais e abertos, nas laterais, com estrutura de madeira e recobertos com telhas de zinco. Poucos anos depois, 1897, o Mercado Público, não mais dispunha das condições higiênicas necessárias a um estabelecimento dessa natureza e o Sr. Intendente Municipal da Capital, determinou por ordem verbal ao engenheiro municipal interino, Dr. João Carlos Antony, para que fizesse uma perícia naquele estabelecimento e as conclusões apontadas pelo referido engenheiro, são as seguintes: “achei este edifício em estado lastimoso quer pelo lado de conservação quer pelo lado da hygiene... Ao primitivo edifício foram-se acrescentando sucessivamente construções sem gosto artístico e em completa desarmonia com os comesinios preceitos de hygiene. Às duas alas acrescentadas..., posteriormente, ainda se acrescentaram, outras pequenas e imundas construções destinadas a diversos e disparatados mysteres, tornando-se assim a construção antiga imprópria ao uso que se destinava...” Para efetuar os trabalhos de reforma, foi contratado o engenheiro Filintho Santoro, que deu início às obras, construindo a fachada da Rua dos Barés em alvenaria de tijolos, no entanto estas melhorias só vieram a ser concluídas pelo empreiteiro Affonso Campora, nos idos de 1906, ou seja, quase no final do mandato de Adolpho Lisboa. Um ano antes de ser concluída a reforma, 1905, foi o Mercado arrendado para o cidadão Alfredo de Azevedo Alves, tendo este fato sido motivo de ação judicial que se estendeu por mais de duas décadas e graças a isso, foi possível resgatar muito da história sobre a construção desse prédio. Após esses problemas, Alfredo de Azevedo Alves cedeu seus direitos à firma inglesa, “The Manaos Markets and Slaughterhouse Limited” que teria a finalidade exclusiva de fazer cumprir o contrato anterior, ou seja, reforma ou ampliação de acordo com os projetos da Superintendência, além de construírem um Matadouro e realizarem melhoramentos na cidade, em troca receberiam o direito à exploração de Mercado, pelo prazo de 50 anos. Só que o acordo estabelecido não foi cumprido e em 1907, com obras de ampliação não prescritas no acordo com a Superintendência, foi o contrato rompido, tendo esse fato, sido alegado como uma das causa principais. Além de pesarem suspeitas da participação de elementos da administração pública na referida firma, caracterizando má fé e má destinação do erário público. Nesse mesmo período, foram montados os dois pavilhões de ferro com 360m2 de área útil, afora as projeções dos beirais abertos, encimados por arcos de ferro e recobertos de zinco estampado, sustentados por colunas de ferro, no lado oriental e ocidental do primitivo pavilhão central, onde eram efetivadas as vendas dos já referidos produtos alimentícios. Estas fachadas possuem frontões curvos que acompanham as formas dos arcos da cobertura e ostentam ornatos filigranados, em ferro fundido, com vidros coloridos. Os pavilhões possuem parapeitos de alvenaria em pedra até 1m de altura e sobre estes, sem nenhuma pretensão estética ou mesmo plástica, colunas de ferro, onde e possível ler “Walter Marcfarlane Glasgow” inscrito e que são atestatórios de sua origem escocesa. Outro pavilhão de mesma procedência, porém de componentes arquiteturiais totalmente diversos e que fora construído para a venda de tartarugas (comércio hoje extinto), e fechado por chapas de ferro, possuindo venezianas também de ferro e vidro, com a cobertura de chapas onduladas, em quatro águas, desdobradas, formando um pequeno frontão decorado com ferro fundido e vidro colorido. Além do corpo principal do prédio, existiam dois pequenos pavilhões de planta octogonal, nas extremidades do “Pavilhão das Tartarugas” e que se presume, seja também de origem escocesa, apesar de não se encontrar nenhuma inscrição visível, em qualquer das chapas ou mesmo nas colunas de ferro, que confirmem sua procedência, no entanto, a comparação com outros trabalhos dessa firma, publicados em catálogos, levaram os estudiosos a comprovarem a sua origem. O primeiro desses pavilhões era destinado ao Fisco, que se encarregava da cobrança dos tributos sobre os produtos oriundos do interior do Estado. Mais tarde esses dois pavilhões (Pará e Amazonas) transformaram-se em “café e botequim”. Outra peça importante é o velho relógio do frontão da fachada dos Barés, que anteriormente estava localizado na fachada voltada para o Rio Negro, e que continua a regular as atividades do velho mercado. De modo geral, podemos dizer que a justaposição de construções criou um ecletismo característico da época que, apesar de não se integrarem plasticamente, não seguindo nenhum projeto arquitetônico, não destoam entre si e o mais louvável é que o Mercado Adolpho Lisboa, mantém a finalidade para o qual foi criado, apesar de várias vezes surgirem sugestões para que o mesmo seja transformado em loja de artesanato regional. Fontes:1. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Fileto Pires Firmino. Governador do Estado, pelo Secretário dos Negócios do Interior, 5 de janeiro de 1898, 211 p. Anexos.2. Relatório do Superintendente Municipal de Manaus, Adolpho Lisboa, 1902-1907, Livraria e Tipografia Universal. p.19 a 26. Do original da CEDEAM.3. SILVA, Geraldo Gomes da. Arquitetura de Ferro no Brasil. Disertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Arquiterura e Urbanismo de São Paulo. Texto datilografado. p 240 a 254.