terça-feira, 30 de janeiro de 2024

PASSAGEM DO ROBERTO CARLOS POR MANAUS EM 1977

 

Jornal A Crítica

José Rocha

O famosíssimo cantor e compositor Roberto Carlos (Cachoeiro de Itapemirim, 19 de abril de 1941) fez uma passagem rápida por Manaus, em junho de 1977, devido a um problema alfandegário em Brasília–DF, mas que ficou marcada na história da nossa cidade.

Em junho de 1977, o cantor Roberto Carlos (na época com 36 anos) e sua equipe saíram do Rio de Janeiro, com escala em Brasília, para fazer um show em Iquitos, no Peru, com uma escala técnica em Manaus. No entanto, ao chegarem a Manaus, foram avisados de que toda a sua bagagem, em sua grande maioria de instrumentos musicais, ficara retida na Polícia Federal do Aeroporto de Brasília.


Foto: Divulgação

Como a liberação iria demandar um certo tempo, resolveram se hospedar no Tropical Hotel Manaus, para tentar resolver o impasse junto à PF de Manaus. A sua passagem por nossa cidade foi rápida: chegou às três da madrugada de terça-feira e viajou às 13h30min, portanto, apenas dez horas para resolver o impasse.

Cedo da manhã, atendeu ao repórter do jornal A Crítica e declarou: “Estou com vontade de fazer um show em Manaus, mas estou com a agenda cheia. Outras oportunidades aparecerão, aí então me demorarei um pouco mais. O meu disco que sairá em dezembro está sendo preparado com muito carinho. Com relação ao meu LP, está vendendo muito aqui na Zona Franca de Manaus. E isso é ótimo. É joia saber que os amazonenses curtem a minha música e que continuem me prestigiando”.


Foto: Google. Divulgação

Para resolver o problema de sua bagagem em Brasília, alugou um carro Maverick de cor branca, placa ZD-9684, saindo do Tropical Hotel, em companhia de seu segurança e do motorista, fazendo o seguinte roteiro: Avenida Pedro Teixeira – Constantino Nery – Leonardo Malcher (dobrou à direita) – Luiz Antony – Dez de Julho – Tapajós (o final da rua que passa bem em frente ao Teatro Amazonas, hoje fechada). Pediu para o carro parar e ficou observando o Teatro Amazonas por alguns minutos, sem sair. Seguiu pela José Clemente (hoje o Largo de São Sebastião). Sempre em marcha lenta, observou a Praça e a Igreja de São Sebastião em todo o entorno. Desceu a Dona Libânia, seguindo direto até a Avenida Getúlio Vargas, dobrou à direita na 24 de Maio (naquele tempo era permitido), foi até a Joaquim Nabuco, parando na sede da Polícia Federal (ficava num prédio antigo na esquina da JN com a Ipixuna, hoje uma faculdade que destruiu o imóvel antigo).

Foto: Manaus de Antigamente

Após resolver o problema, seguiu direto para o Aeroporto Eduardo Gomes, para seguir viagem a Iquitos, no Peru.

Neste ano de 1977, Roberto Carlos gravou “Muito Romântico”, de Caetano Veloso, “Cavalgada” e “Pra Ser Só Minha Mulher”, de Ronnie Von, lançados no Disco Natalino, que alcançou os primeiros lugares nas paradas musicais.


Fontes:

Jornal A Crítica

Google

Wikipédia

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

NAVIO SOBRAL SANTOS II – SAMBA & MORTES

 


José Rocha

O navio Sobral Santos II foi construído na década de 50, todo em ferro, com 50 metros de comprimento e 10 de largura, com dois andares, pertencente à ONZENAVE (Onde de Maio Navegação, do empresário Calil Mourão) – foi palco de uma roda de samba, em Manaus, em 1977 e, de mais de 300 mortes quando adernou (inclinou para um lado, submergindo) em Óbidos, no Pará, em 1981.

Por ser um barco grande e todo de ferro, proporcionando conforto, segurança e comodidade aos seus passageiros, era muito requisitado para passeios curtos pelo entorno da cidade, aos domingos, para lazer e muito samba em seu interior, assim como fazem na atualidade os manauaras, com forró-boi e sertanejo regado com cerveja e mulheres bonitas.

No dia 19 de junho de 1977, o navio Sobral Santos II saiu às 10 horas da manhã, da Escadaria dos Remédios (em frente à Casa do Povo), para a I Roda de Samba Fluvial, visitando a Ponta Negra e outras localidades próximas a Manaus.

A promoção foi da SEPAM (Sociedade de Defesa da História e das Tradições Populares do Amazonas), tendo como diretores Isaías Oliveira, Moacir Couto de Andrade, Aníbal Beça e Bianor Garcia.

Participaram figuras destacadas da nossa cidade, turistas do sul do país que se encontravam hospedados em hotéis, homens e mulheres de rádio, jornal e televisão (TV-Educativa, TV-Baré e TV-Amazonas).

Durante o trajeto, foram eleitos: o par mais romântico, o traje esportivo mais bonito e os passistas mais notáveis.



A animação ficou por conta das Batucadas “Em Cima da Hora” e “Unidos da Comendador Clementino” e grupos de passistas. O serviço de som ficou a cargo da Roland Som Manaus, com a colaboração da Rádio Baré. O bar estava bem aparelhado para essa promoção e o público de modo geral, dançando, cantando e se divertindo.

Quatro anos depois de muito samba fluvial, o pior aconteceu: o navio adernou (tombou) para um lado, no porto de Óbidos, no Pará, matando mais de 300 pessoas, marcando este navio por ser o protagonista da maior tragédia fluvial da Amazônia.

O navio Sobral Santos II fazia regularmente viagens de Manaus-Santarém-Manaus, com várias escalas em municípios como Óbidos, levando e trazendo inúmeras pessoas e mercadorias, pois tinha a capacidade para transportar até 500 passageiros e 200 toneladas de mercadorias em seu porão.

No dia 18 de setembro de 1981, partiu de Santarém e parou de madrugada no porto de Óbidos, onde recebeu passageiros e mercadorias de dois barcos que estavam com problemas, ocasionando uma superlotação, com mais de 500 passageiros, além de dobrar a sua capacidade de transporte de mercadorias, algo em torno de 400 toneladas.

Na madrugada do dia 19 de setembro, uma corda que mantinha o navio atracado estourou, provocando alvoroço nos passageiros, ocasionando o desequilíbrio das cargas que estavam mal acondicionadas, o que fez adernar (tombar) para um lado e afundar em poucos minutos, matando na hora mais de 300 pessoas.

O Guindaste de 100 toneladas “João Pessoa” (que fica no Roadway, porto de Manaus) foi deslocado para içar o Navio Sobral Santos II, que voltou a Manaus, onde foi restaurado num estaleiro e voltou a navegar com o nome de Navio Cisne Branco.

Samba e mortes são duas palavras que podem parecer opostas, mas que também têm uma relação na história e na cultura brasileira. As rodadas de sambas que ocorreram no navio Sobral Santos II, uma delas resgatada de uma matéria jornalística de 1977, ficaram na história da nossa cidade, mas o que marcou mesmo foram as mortes ocorridas em 1981.

Fontes:

Jornal A Crítica

Google

Bing



quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

VIAGENS DE JORGE AMADO EM MANAUS

 

  José Rocha

O grande mestre da literatura brasileira, Jorge Amado (1912-2001), viveu duas aventuras na cidade de Manaus, separadas por quatro décadas. A primeira, em 1937, quando fugiu da perseguição da ditadura do Estado Novo e encontrou refúgio na floresta amazônica. A segunda, em 1977, quando voltou com a família para matar a saudade da cidade e dos amigos que fez na sua juventude.

Jorge Amado chegou a Manaus em 1937, com apenas 25 anos, trazendo na bagagem a sua rebeldia e o seu talento literário. O artista plástico Moacir de Andrade (1927-2016), contou em um jornal o seguinte: “Segundo relatos,o Jorge Amado veio fugido da Bahia, pois ele era comunista de carteirinha e queriam prendê-lo ou matá-lo. Ele pegou um navio e veio para Manaus por ser muito distante. Quando ele esteve aqui pela primeira vez eu tinha apenas 10 anos e não tive contato com ele”.

Em Manaus, Jorge Amado fez amizades com intelectuais e artistas locais, como Agnello Bittencourt (membro da Academia Amazonense de Letras e um dos fundadores do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) e Epaminondas Baraúna (Superintendente do Jornal do Comércio), que lhe deram apoio e acolhida.

Há relatos de que Jorge Amado foi preso em Manaus e dividiu uma cela com Nunes Pereira, um antropólogo, folclorista e conhecedor da cultura amazônica. Os dois eram opositores do regime de Getúlio Vargas e acabaram presos por suas ideias, além de um comerciante português, que não tinha nada a ver com política, mas era sogro de um dos envolvidos na Intentona Comunista.

Jorge Amado viveu na pele o drama da censura e da violência política, que marcou a sua geração. Certo dia, em sua cela, ouviu de um policial que os seus livros apreendidos estavam sendo vendidos, pois havia muita procura e o lucro era garantido.

Passados alguns dias, o chefe de polícia o chamou para perguntar por que ele estava preso, respondeu que nem ele mesmo sabia. O escritor foi solto, mas ficou em liberdade vigiada. Depois, foi mandado para o Rio de Janeiro, num navio, sob a escolta de um policial que estava de férias no Amazonas.

Ele era formado em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Preferiu se dedicar à política e à literatura. Foi deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro, mas teve que se exilar na Argentina, no Uruguai, na França e em Praga, devido à repressão. Voltou ao Brasil em 1952 e abandonou a política em 1955, para se concentrar na sua obra literária.

Quarenta anos depois, o consagrado escritor voltou a Manaus, em 1977, para passar férias com a família e rever a cidade e os amigos. Chegou no dia 21 de junho, a bordo do navio Lobo D´Almada, e foi recebido no Roadway (porto flutuante) pelo Desembargador Paulo Jacob, pelo poeta Antístenes Pinto e pelo artista plástico Moacir de Andrade.

Jorge Amado já era um dos maiores nomes da literatura brasileira e mundial, autor de obras como Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Capitães da Areia, Tieta do Agreste, entre outras.

Segundo o Jornal A Crítica: “Ele não se esquivou e, num diálogo conciso, mostrou, entre outras coisas, a sua fé na renovação literária brasileira, chegando mesmo a enaltecer a sua afeição pelos jovens escritores e pelos que se dedicam à leitura de um conto, de uma poesia, de um romance”.

Ele veio com a sua família: Zélia Gattai (esposa), João Jorge Amado (filho), Paloma Amado Costa (filha), Pedro Costa (genro) e ficou hospedado no Tropical Hotel. Passou a maioria do seu tempo com o Moacir de Andrade, com quem concedeu uma entrevista para o Jornal A Notícia em seu ateliê na Rua Comendador Alexandre Amorim, 253, no bairro de Aparecida.

Nos jornais do Comércio e A Crítica, ele declarou que fora convidado para receber homenagens na Universidade Livre do Bar Caldeira, na companhia de seu amigo Moacir de Andrade.

Segundo o seu cicerone, o escritor visitou, também, o Mercado Municipal e outros pontos turísticos. Gostava de tomar banhos nos igarapés e fez uma viagem de barco até Manacapuru, para conhecer a realidade dos caboclos da região. Contou, também, que ele disse que queria conhecer um bordel, mas não teve como ir porque a mulher dele estava toda hora por perto.

Ele partiu de Manaus quatro dias depois, não mais retornando à nossa cidade. Faleceu em 2001, mas a sua passagem por essas terras foi marcante e faz parte da nossa história.

 

Fontes:

Jornal do Comércio

Jornal A Crítica

Jornal A Notícia

https://www.amazonamazonia.com.br/2021/05/23/preso-em-manaus-jorge-amado-acabou-compadre-do-tira-que-o-vigiou/








domingo, 14 de janeiro de 2024

BAIRRO PRAÇA 14 DE JANEIRO – MANAUS

 



José Rocha

Hoje é um dia especial para o bairro Praça 14 de Janeiro, um dos mais antigos e tradicionais da zona sul de Manaus. Ele completa 132 anos de história, resistência e cultura, marcados por uma data que mudou os rumos do Amazonas: 14 de janeiro de 1892.

Nesse dia, uma revolução popular tomou as ruas da capital, protestando contra o atraso no pagamento dos servidores públicos e dos fornecedores, e contra a falta de assistência social aos habitantes. O alvo foi o governo de Gregório Thaumaturgo de Azevedo, que renunciou após a pressão popular. O movimento foi liderado por Almino Álvares Afonso, Lima Bacuri e Leonardo Malcher, que assumiram o poder provisoriamente, até a chegada do novo governador, Eduardo Ribeiro.

O local onde aconteceu a revolta era conhecido como Praça da Conciliação, mas logo depois passou a se chamar Praça Fernandes Pimenta, em homenagem a um dos líderes do movimento. No mesmo ano, porém, o nome foi alterado para Praça 14 de Janeiro, em memória da data histórica. Em 1940, a colônia portuguesa tentou mudar o nome para Praça Portugal, mas a solicitação foi negada pelos vereadores, a pedido dos moradores da comunidade.

O bairro Praça 14 de Janeiro é um celeiro de manifestações culturais, que expressam a diversidade e a identidade do povo amazonense. Ciranda da Visconde, Tribo dos Andiras, Dança do Tipiti, Boi Caprichoso e Escola de Samba Mista da Praça 14 são algumas das atrações que animam as ruas e as festas do bairro. Além disso, o bairro abriga muitas rezadeiras e parteiras, que mantêm vivas as tradições e os saberes populares, e muitos devotos de Nossa Senhora de Fátima, que celebram a sua fé com procissões e novenas.

Segundo o Khermerson Macedo, do Núcleo de Cultura Política do Amazonas – NCPAN, “Donos de uma tradição incomparável no samba, passando pelos folguedos populares como o bumba-meu-boi, pastorinhas e outros, além dos festejos à São Benedito, a Praça 14 de Janeiro tem, em sua essência, inúmeras manifestações representativas da cultura afro-brasileira. Descendentes de ex-escravos vindos do Maranhão, estas pessoas guardam em suas expressões e gestos típicos uma história de lutas e de tradições que se reinventam continuamente em coletividade, passando de geração à geração o compromisso de levar em frente os costumes e crenças da comunidade, sempre vivos nas memórias dos mais velhos. Neste bairro, onde os homens são chamados de mestres pela sua importância e as mulheres são carinhosamente saudadas como tias por aqueles que visitam e/ou moram na Praça 14”.

Em 1º de dezembro de 1975, foi fundado o Grêmio Recreativo Escola de Samba Vitória Régia, na casa de Raimunda Dolores Gonçalves (Tia Lindoca), na Rua Emilio Moreira, nº 1192. Junto com ela, Nedson Pires de Medeiros (Neném), Roberto Cambola e Darcy Sérgio de Souza (Barriga) assinaram a ata de fundação da escola, que adotou as cores verde e rosa, tendo como madrinha a Estação Primeira de Mangueira, do Rio de Janeiro.

Não é à toa que chamamos a Praça 14 de Janeiro de “O Berço do Samba e de Revolta Populares” – onde o batuqueiro bate forte de janeiro a janeiro, como diz o refrão de um de seus mais conhecidos sambas de concentração.

Fonte:

NCPAM

Jornal do Comércio

Portalamazonia.

BAR CALDEIRA – 61 ANOS DE HISTÓRIA & TRADIÇÃO

 



José Rocha

Tudo começou há 61 anos, quando um casal com um sonho em comum, decidiu investir num negócio próprio no coração de Manaus. Ele era Antônio Manuel dos Santos Cardoso, um imigrante português. Ela, Dona Maria Ribeiro da Cruz, uma amazonense do Careiro. Juntos, eles compraram um imóvel na Rua José Clemente, 237, no centro histórico da cidade. Lá, eles montaram uma mercearia no térreo e moravam no andar de cima. O nome escolhido para o estabelecimento foi Mercearia Nossa Senhora dos Milagres, uma década depois, passou a chamar-se, definitivamente, Bar Caldeira.

Com o decorrer do tempo, a mercearia começou a atrair um grupo de amigos boêmios, que se reuniam para cantar, tocar violão e beber cervejas e uísque. Eles traziam as bebidas de fora, pois a mercearia não vendia bebidas alcoólicas. Logo o casal percebeu haver uma demanda crescente por esse tipo de produto e resolveu incluí-lo no seu comércio. Foi então que a Mercearia Nossa Senhora dos Milagres se transformou no Bar Nossa Senhora dos Milagres.

O bar logo tornou-se famoso e passou a ser frequentado por políticos, empresários, funcionários públicos, poetas, músicos, escritores e trabalhadores do centro de Manaus. Era um lugar onde se podia conversar sobre os mais diversos assuntos, desde os problemas da cidade até as novidades da ciência. Era também um lugar onde se podia apreciar a boa música e a boa companhia. O bar era uma casa, uma família, uma escola.

Mas nem tudo foi festa no Bar Nossa Senhora dos Milagres. No dia 14 de janeiro de 1970, uma quarta-feira trágica, a cidade foi abalada por uma explosão que marcou a história do bar e dos seus frequentadores. Eram 10 horas da manhã, quando os sinos da Igreja de São Sebastião anunciaram o desastre. A caldeira do Hospital da Santa Casa de Misericórdia havia explodido, causando um estrondo ensurdecedor e lançando pedras e destroços por todos os lados. Muitas pessoas ficaram feridas e algumas morreram na tragédia.

O bar ficava ao lado do hospital e, por um milagre, nenhum dos boêmios que já estavam lá foi atingido pelos escombros. Mas o estabelecimento ficou marcado pelo episódio e passou a ser conhecido em toda Manaus como o Bar Caldeira. O nome antigo foi esquecido e o novo consolidou-se para sempre.

Os antigos frequentadores fundaram a Universidade Livre do Caldeira (ULC), uma paródia da antiga Universidade Livre de Manaós (ULM), que havia sido extinta em 1926. A ideia era mostrar que o bar também formava acadêmicos de alto nível, pois ali se reuniam doutores e professores de diversas áreas do conhecimento.

Em 29/12/1974, o Bar Caldeira perdeu um dos seus fundadores, o senhor Antônio Cardoso, que faleceu deixando a viúva Dona Maria Cruz. Para não fechar o bar, ela contou com a ajuda do seu irmão, Adriano Cruz, assumindo a direção do estabelecimento e o manteve por 38 anos, até se aposentar em 2012.

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Era uma sexta-feira, 13 de setembro de 1974, quando o poeta e compositor Vinicius de Moraes resolveu conhecer o bar mais tradicional da cidade, o Bar Caldeira. Lá, ele juntou-se aos boêmios e tomou cervejas e cachaça com limão e sal. Dentro do bar, há uma fotografia ampliada que regista o momento em que o “Poetinha” aparece ao lado de vários boêmios, sorrindo e abraçando a todos. Ele gostou tanto do bar que deixou um bilhete que se tornou um documento histórico: “Declaro, proclamo e assino que nesta sexta-feira, 13 de mês de setembro de 1974 estive no ‘Caldeira’, na boa e carinhosa companhia dos maiores boêmios de Manaus. E adorei. Vinicius de Moraes, 13.9.74”.

Além do Vinicius de Moraes, o Bar recebeu a ilustre presença do Jamelão, Silvio Caldas, Jair Rodrigues e Kátia Maria (a primeira mulher a frequentar o local), todos eles foram homenageados tempos depois com os seus nomes na “Calçada da Fama”.

Para manter viva a história e a tradição, a Velha Guarda Caldeirense sempre foi muito respeitada e admirada, um privilégio para poucos, pois é um grupo seleto de senhores e senhoras que amam e sabem fazer samba de raiz. Eles não se rendem às modas do mercado, mas preservam a essência do samba de qualidade, sendo fiéis e guardiões das belezas que compõem a nossa história. Mesmo com as mudanças no decorrer do tempo, eles seguem se reunindo nos finais de semana para cantar, beber, tocar e se confraternizar, animando o ambiente com os seus sambas, que falam de amor, saudade, alegria e esperança.

O violonista e compositor Flávio de Souza homenageou o Bar Caldeira com a seguinte canção:

AMIGOS DO CALDEIRA - Como é gostoso / Tomar uma gelada / Ouvir sambas / Bater papo com     a moçada /Tomando umas doses / Entrar na brincadeira / Fazer samba / Com a Turma do Caldeira / Amigos se reúnem / Para conversar / Onde os seresteiros / Gostam de cantar Velhos sambas / Que trazem saudades / Lembrando os tempos / Da minha mocidade / Se eu pudesse / Ficaria a vida inteira / Fazendo sambas / Com a Turma do Caldeira

No carnaval de 2003, o Bar Caldeira foi homenageado pela Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente do Coroado, com o tema “Caldeira é Tradição, História e Carnaval”. A escola contou a trajetória do bar, desde a sua fundação por um português devoto da Padroeira dos Milagres, até a sua consagração como ponto de encontro dos boêmios e sambistas de Manaus. Encerrou          o desfile com o refrão: Naveguei em busca da felicidade / De Portugal para esta terra abençoada  /

Por devoção à Padroeira dos Milagres / Dei seu nome a esse humilde botequim / O  tempo passou então / Veio a explosão / Na Santa Casa onde tudo aconteceu / O Bar Caldeira taí / A Mocidade faz o povo aplaudir.

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Em 2012, uma nova era começou para o Bar Caldeira. Os irmãos Adriano Cruz e Dona Maria Cruz, fundadores e proprietários do bar, se aposentaram após décadas de dedicação, passando o bastão para Carbajal Gomes, assumindo o desafio de manter a tradição e a inovação do bar, que já era uma referência na cidade. Ele valorizou ainda mais a Velha Guarda Caldeirense. Criou novos eventos para atrair o público jovem e os visitantes: Rodas de Samba, Shows de Pagode, Feijoada com Chorinho e muito mais. Investiu, também, na infraestrutura do bar: Toldos, Som e Iluminação Profissional, Sinos, Cozinha Certificada, Caricaturas e Fotografia Oficial da Velha Guarda, Cachacinha de Minas, Calçada da Fama, Segunda Sem Lei, Bloco do Caldeira e Caldeira na Roça, além de alugar e restaurar um casarão ao lado que foi integrado ao bar. Com essas mudanças, o Bar Caldeira se tornou ainda mais popular e admirado pelos manauaras e turistas, especialmente pelos cariocas que estão de passagem ou moram em Manaus.

A partir de 2013, ele instituiu “O Aniversário do Bar Caldeira”, no dia 14 de janeiro, data da explosão da caldeira do Hospital da Santa Casa de Misericórdia, evento que pesquisei na Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. Coincidentemente, a data é a mesma do aniversário do berço do samba em Manaus, o bairro da Praça 14 de Janeiro. Não se trata de uma celebração da tragédia, mas de uma homenagem a um fato histórico que marcou a nossa cidade e que deu o nome ao Bar Caldeira.

O Bar Caldeira também se tornou um símbolo da intelectualidade amazonense, por representar a valorização da cultura e da história local. Em 2015, ele recebeu da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, o honroso título de “Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Amazonas” através do Projeto de Lei 4.199, de 23 de julho de 2015, sendo sancionado pelo governo e o decreto foi publicado no Diário Oficial do Estado.

Bar Caldeira é o lugar onde o samba vive, onde os amigos se encontram, onde as memórias se eternizam.

Hoje, 14 de janeiro de 2024, o Bar Caldeira está completando 61 anos de história, música e alegria. Neste dia, uma grande festa, com salva de fogos e grandes atrações musicais, vai celebrar esta data tão especial. Parabéns Bar Caldeira! 61 anos de história e tradição, não é para qualquer um, não!Parte superior do formulário

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

SALÃO DE PARIS

 

José Rocha

Em uma das minhas andanças pelo centro histórico de Manaus, me deparei com uma placa que dizia “Salão Paris” na Rua Governador Vitório, logo antes da Rua Frei José dos Inocentes. Fiquei curioso e me aproximei de um senhor de idade que estava sentado na frente do estabelecimento. Pedi licença para tirar uma foto e comentei que aquele nome me trazia lembranças da minha infância.

O senhor me perguntou:

- Onde você morava?

- No Igarapé de Manaus – respondi.

- Ah, então você deve se lembrar do Salão Paris que ficava na Avenida Sete de Setembro, 1248, perto da Casa dos Óleos, no Canto do Quintela. O dono do prédio era o Senhor Sombra, um sujeito que tinha muitas propriedades naquela área.

- Sim, lembro muito bem. – confirmei.

Contei-lhe que era filho do luthier Rochinha e que morávamos no Igarapé de Manaus. O meu pai me levava ocasionalmente no Salão Paris para cortar o cabelo.

O senhor pareceu se interessar por mim e começou a contar a sua história:

“O meu nome de guerra é Fragata. Nasci em Parintins, em 1940. Vou fazer 84 anos em maio de 2024. Comecei a trabalhar no Salão Paris na década de 60. O Halph Assayag era um garoto e o pai dele, o Ambrósio Assayag, o trazia para cortar o cabelo comigo. Muita gente importante passou por lá. Em 1965, um militar do exército apareceu por lá e ficou me encarando. Eu fiquei nervoso, achei que ele me achava com cara de comunista. Depois de um tempo, ele veio até mim e disse que eu era um bom profissional e que eu seria contratado para cortar os cabelos dos oficiais duas vezes por semana, das sete às doze horas da manhã. Eu aceitei na hora. Na época da ditadura, todo mundo se recolhia às dez da noite e não tinha espaço para a malandragem. Naquele tempo, havia poucos salões de cabeleireiro, dava para contar nos dedos. Hoje, tem um em cada esquina. Aqui onde eu estou, a malandragem era grande quando as ‘meninas’ faziam ponto. Depois, elas sumiram e o movimento caiu. Os malandros também foram embora, mas a gente não pode relaxar na segurança. Eu casei quatro vezes e tive dezesseis filhos com as minhas esposas. Só dois morreram. Um deles foi o meu primeiro filho que nasceu quando eu tinha só 16 anos. Ele era dono de uma loja de material de construção que fica ao lado do Shopping Sumaúma. Agora, as minhas netas cuidam do negócio. Os meus filhos e netos querem que eu pare de trabalhar, mas eu não posso fazer isso. O homem tem que ser ativo, senão a morte vem buscar. Eu não quero morrer agora, não.”

Pesquisando nos jornais antigos, achei no Jornal do Commercio, edição de 27 de setembro de 1958, mostrando o resultado de uma “Consulta Pública”, na qual apareciam entre os “Maiores de Manaus – Serviços Diversos” o seguinte: Salão de Beleza: Messody Enrique. Salão de Cabeleireiros: Salão Paris. Isto demonstra o quanto era grande, bem equipado, que tinha uma grande clientela satisfeita com os seus serviços.

O Salão Paris de hoje é bem simples, com apenas duas cadeiras e poucos clientes. Mas, segundo o Seu Fragata, alguns fregueses antigos ainda vêm aqui para fazer a barba e cortar o cabelo. Um dia desses, vou voltar ao Salão Paris para cortar o meu pixaim e reviver os bons tempos.

Foto: José Rocha

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

MANOEL CRUZ - ANIVERSÁRO DE 74 ANOS

 


José Rocha

Hoje é o seu dia especial, o seu aniversário de 74 anos!

Você é um motivo de orgulho e alegria para todos que te conhecem. Você é um “Caldeirense” de fé e um dos mais queridos da confraria.

Tens uma história de vida incrível, cheia de aventuras, conquistas e amizades.

Você viveu por muitos anos no bairro da Glória, nos tempos gloriosos do Campo da Colina. Foi meu vizinho na década de oitenta e até hoje mantemos uma grande amizade.

O amigo foi uma pessoa que sempre me inspirou com o seu trabalho, a sua dedicação e a sua elegância.

Trabalhou por mais de vinte anos no Grupo Simões (leia-se Coca-Cola), contribuindo para o crescimento e a solidificação deste empreendimento empresarial.

Extremamente elegante e de bom gosto, que sabe se vestir bem e se comportar bem em qualquer ocasião.

Na sua juventude, você era um dos mais animados e divertidos da turma. Gostava de frequentar o Oberon Esporte Clube (no bairro da Glória) e também o São Raimundo Esporte Clube e o América Futebol Clube (bairro do São Raimundo), onde aconteciam as famosas “Manhãs de Sol”. Este evento era um encontro dos jovens manauaras, onde você saboreava de um aperitivo chamado “Leite de Tigre” e se vestia com elegância, com uma camisa comprida de fio 200, uma calça branca de linho e sapatos de couro bicolor. As damas também usavam vestidos elegantes, saias plissadas e sapatos altos.

Segundo você, “a sociedade tinha o hábito de passar as suas horas de lazer se divertindo nesses espaços, pois praticamente não existia violência urbana, brigas e confusões, constituindo um espaço familiar para dançar, ouvir uma boa música, tomar uns aperitivos e paquerar, tudo dentro do respeito, amizade e consideração por todos e pelo ambiente”.

Que tempos bons! Tens muitas histórias para contar e muitas lembranças para guardar.

Adora colecionar relógios desde a sua mocidade, mas o que mais gosta mesmo é da sua família e dos seus amigos fraternos. Você é um pai exemplar, um marido amoroso e um amigo leal.

A sua família possui uma tradição em atuar em padarias, tanto que ao sair da empresa em que trabalhava, você resolveu seguir a mesma profissão do seu saudoso pai e montou a sua própria padaria, contando com o apoio da sua esposa, a Dona Rosa. Você trabalhou muito e superou muitos desafios para consolidar o seu negócio. Você é um empreendedor de sucesso, que transformou a sua padaria na Santa Rosa, uma grande empresa de panificação, fornecendo uma grande variedade de produtos alimentícios, tendo como clientes, grande parte das empresas do Distrito Industrial. Um exemplo de determinação, persistência e visão.

Após a formatura dos seus dois filhos homens, o Marcelo e o Jean (os conheci desde adolescentes), eles foram somar esforços com vocês.

Um líder nato, que soube transmitir os seus valores e ensinamentos para os seus filhos. Mentor, que orientou e apoiou os seus filhos em suas carreiras. Orgulho para os seus filhos, que seguem os seus passos e admiram o seu trabalho.

Hoje, você já pensa em se aposentar, deixando a administração para os seus filhos. Você merece descansar e aproveitar a vida após tanto trabalhar e lutar.

Possui um sítio maravilhoso no Rio Preto da Eva, onde eu tive o privilégio de passar um final de semana. Um lugar para relaxar, curtir a natureza e receber os seus amigos. Anfitrião generoso, que sabe receber bem e fazer as pessoas se sentirem à vontade.

Com certeza, no futuro, os seus netos irão trabalhar no mesmo ramo que você, pois a panificação e a elegância são tradições que a sua família conserva. Avô carinhoso, que se dedica aos seus netos e os ensina com amor. Referência para os seus netos, que se espelham em você e te respeitam.

Parabéns pelo seu aniversário e pela sua trajetória de vida.

Um amigo especial, que eu tenho o prazer de conhecer e conviver. Um grande abraço do seu amigo José Rocha.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

ARI NETO – 57 ANOS DE RÁDIO: UMA LENDA VIVA DA NARRAÇÃO ESPORTIVA

 


José Rocha

Ele é um ícone, um mestre, uma lenda. Ele é Ari Neto, o narrador de futebol que há 57 anos encanta os ouvintes com a sua voz inconfundível, o seu carisma e a sua paixão pelo esporte. Hoje, 10 de janeiro de 2024, ele comemora mais um ano de dedicação ao rádio, com um feito histórico: ele foi o único da Região Norte a receber a “Bola de Ouro” da CBF, um prêmio que reconhece o seu talento e a sua contribuição para o futebol brasileiro. Um prêmio que ele faz questão de dividir com todos os seus colegas e ouvintes a cada aniversário de atuação na rádio.

Emocionado, ele conta um pouco da sua trajetória na radiodifusão, que começou quando ele tinha apenas 19 anos, em 1967, na saudosa Rádio Baré, como repórter de campo. De lá, ele passou por várias emissoras, como Rádio Mar, Rádio Difusora, Ajuricaba, Sucesso, Globo/Baré (todas extintas), Panamazônica (web) e Mix Amazônia. Foram cinco décadas de rádio, com muitas lembranças e experiências, narrando jogos memoráveis, entrevistando grandes personalidades, fazendo amigos e fãs por onde passava. Após uma pausa, ele voltou a pegar o microfone para narrar o grande jogo de futebol entre o nosso Amazonas FC e o Botafogo da Paraíba, no dia 7 de outubro de 2023, pela sua emissora de rádio na internet, a RÁDIO MEB – Maria Edith Barroso. Ele promete continuar transmitindo os próximos jogos do Campeonato Amazonense, com uma equipe de excelentes profissionais. Hoje, ao completar 57 anos de rádio, ele se diz muito feliz e agradecido, e quer compartilhar com todos vocês esse sentimento. Com fé em Deus, ele espera continuar por muitos anos ainda, fazendo o que mais gosta: ser narrador de futebol.

Ari Neto não atua mais nas rádios tradicionais de Manaus, mas na sua própria, a RÁDIO MEB – Maria Edith Barroso, fundada em 2019, no site www.player.maxcast.com.br/radiomeb . Uma rádio que veio para inovar, com músicas que marcaram épocas de ouro e transmissões de jogos de futebol profissional e amistosos que acontecem em Manaus. Uma rádio que leva o nome da sua amada mãe, que sempre o apoiou e incentivou em sua carreira.

Ele testemunhou o auge e a queda do futebol amazonense, e mesmo aos 73 anos, mantém a mesma garra e paixão de sempre, e espera, ansiosamente, pela retomada do brilho do nosso futebol. Ele é um exemplo de perseverança, de amor e de respeito pelo rádio e pelo futebol.

Em dezembro de 2023, ele foi homenageado pelo BLOGDOROCHA, com o Mérito Cultural Cidade de Manaus 2023 – Melhor Locutor e Narrador de Futebol de Rádio Web MEB. Um reconhecimento merecido, que mostra o quanto ele é admirado e respeitado por todos que acompanham o seu trabalho.

A rádio WEB é um rádio digital que realiza sua transmissão via internet, usando a tecnologia streaming, ou seja, um serviço de transmissão de áudio em tempo real. Tudo dentro da legalidade e respeitando a legislação vigente. Uma forma de se adaptar aos novos tempos, sem perder a essência do rádio.

Ari Neto tem vários álbuns com fotografias antigas e atuais. A fotografia é mais do que um registro. É um tesouro que guarda um fato histórico. É um momento da vida que tem um significado naquele instante, mas que permanece para a posteridade. São imagens que revelam a sua trajetória, a sua personalidade, a sua emoção.

Para comemorar os 57 anos de rádio do Ari Neto, ele disponibilizou 20 fotografias do seu acervo para que todos vocês possam ver. São fotos que mostram o seu sorriso, o seu olhar, o seu gesto, o seu microfone. São fotos que contam a sua história, a sua lenda.

Para encerrar, informo a sua legião de fãs que estou elaborando um livro com as suas memórias, escritas por eles em centenas de postagens na sua página do Facebook, que irá enriquecer ainda mais a história da nossa cidade Manaus. Um livro que será um presente para todos que admiram e amam o Ari Neto, o narrador de futebol que há 57 anos faz parte da nossa vida.

Parabéns, Ari Neto, pelos 57 anos de rádio!  Você é um orgulho para Manaus, para o Amazonas e para o Brasil! 👏👏👏

Clique nos links abaixo e ouça o Ari Neto e a Rádio MEB:

https://www.facebook.com/share/v/XNTZPt8Xa6ZNrSJ3/?mibextid=tUvUA8

http://l.radios.com.br/r/126053