domingo, 29 de agosto de 2021

A NASCENTE DO IGARAPE DE MANAUS

 NASCENTE DO IGARAPÉ DE MANAUS

        Fiz um trabalho de campo para descobrir, realmente, onde estão as principais nascentes do Igarapé de Manaus. Por incrível que pareça, poucas pessoas sabem onde elas estão localizadas: fica numa baixada da Avenida Barcelos, nas proximidades do antigo Cine Popular. Muitas pessoas falavam que ficava por detrás da TV Encontro das Águas (antiga TV Cultura do Amazonas). No local encontrei um imenso bueiro, construído quando do aterro da baixada da Rua Nhamundá. Segundo moradores, aquela                     nascente   foi               praticamente                     aterrada.

        Conversei com os mais antigos da Avenida Barcelos. Dentre eles, tive a grata surpresa de reencontrar o Jackson Figueiredo, primo-irmão do Adelson e Aldenor Figueiredo Brito,                     meus contemporâneos       da    Rua   Igarapé de Manaus.

O Jackson fez a indicação exata da nascente: o acesso é feito através de dois becos, onde é possível verificar in loco a água brotando da terra. Segundo ele, o professor da antiga Universidade do Amazonas, atual UFAM, Carlos Dias, conhecido por “Carlão”, fez um trabalho no local para a universidade na década de setenta, constando de entrevistas com os moradores do entorno, filmagens e fotografias, onde é possível mostrar toda a exuberância do lugar naquela época, com a mata ciliar preservada, pessoas tomando banhos, com muitos peixes aparecendo ao fundo das águas límpidas e cristalinas. Não pude resgatar esse material, pois o ilustre professor está aposentado e   resolveu   fixar   residência   na   capital   federal,   em     Brasília. 

        No local existe uma área de mata primária protegida pela mãe natureza, com um morro que dá acesso pela Avenida Airão, na Praça Chile. Ele é um grande paredão com cem metros de altura, de difícil acesso, o que não permitiu a invasão e a construção de                 casas         que        impactariam,       com   certeza,    as nascentes.

        No início da Avenida Barcelos existe um prédio antigo, datado de 1909, onde funcionava o Cine Popular, conhecido por Cine Poeira. Esporadicamente, ia assistir a filmes nas tardes de domingo. Na minha infância, lembro que aquela baixada era chamada de “Covão” (uma grande cova), onde eram feitos descartes de lixo pelos moradores do entorno. Frequentava aquele lugar naquela época, pois ali morava um grande amigo do meu pai, o Abdias Bodó (um dos personagens deste livro). Jamais iria imaginar que, um dia, voltaria ao mesmo ambiente e constatar que ali era a nascente do        igarapé           onde      passei    a    minha       infância/adolescência. 

        Na realidade, existem duas grandes nascentes, dentro de terrenos de particulares. Numa delas, a moradora não me deixou adentrar. Na outra,     não     fui    bem recebido pelo dono da    área.

Fiquei sabendo que o local consta dos planos do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus, mais conhecido como PROSAMIM, onde planeja indenizar todos os moradores, tirá-los do local e construir blocos de apartamentos e uma grande praça na nascente, que seria a “Praça da Nascente do Igarapé de Manaus”. Estes moradores não querem sair do local e hostilizam as pessoas que procuram informações sobre a área. O governo do Estado do Amazonas homologou uma licitação para certa empresa especializada em executar estudos, projetos, serviços de campo e relatórios de licenciamento         arqueológico        de       toda     aquela       área. 

 

Foto: Marco Gomes

        Voltei outra vez ao local, em companhia do escritor, poeta e fotógrafo Marco Gomes; do cinegrafista da TV Encontro das Águas, o Zé Carlos “Cartier” (morador antigo da área, lado esquerdo da foto); outro morador que fez questão de nos acompanhar (ao lado direito da foto) e da Ivete Bruce (não aparece na foto), serviu como guia, ela foi minha colega de trabalho na antiga “Lojas Populares”, de Braga & Cia em tempos idos. Adentramos em uma das nascentes, onde foi possível recolher água de uma cacimba alimentada pelas águas cristalinas da nascente. Apesar de existirem fossas biológicas no local, a nascente é monitorada pelos técnicos do IPAAM,     segundo                                  os                                   moradores.

        O registro fotográfico acima, de excelente qualidade, foi feito pelo saudoso Marco Gomes (faleceu meses depois), onde eu apareço coletando a água diretamente da fonte (cacimba), ladeado pelos moradores acima citados. Guardo essa água dentro de uma garrafinha plástica, onde poderei mostrar a outras pessoas quando da apresentação deste livro e ficará como                                lembrança                       daquele             momento            sublime. 

        Em companhia da guia Ivete Bruce foi possível entrarmos pelos Becos Belém e Barcelos, percorrendo todo o caminho das águas, desde a nascente até a Rua Japurá, após que percorremos a Praça Nestor Nascimento, onde as águas do igarapé     passam canalizadas.

Segundo os moradores antigos, naquele local era conhecido como “Cacimbal”, onde existia uma grande quantidade de cacimbas (buracos onde flora águas subterrâneas). Pude confirmar, no local, a existência de algumas cacimbas, confirmando a hipótese de que o Igarapé de Manaus possui duas grandes nascentes e inúmeras outras cacimbas       pelo      caminho     até     encontrar    o    Rio    Negro.   

        Quem observar atentamente a topografia onde passa o Igarapé de Manaus, desde a sua nascente até a sua desembocadura no Rio Negro e também ver o mapa de 1906 (Anuário de Manaus 1913-1914), poderá verificar que naquela área existe uma grande depressão natural (baixada), onde, no passado, as águas        invadiam        toda       a    sua    extensão  quando da cheia dos rios.

        Com o passar dos anos foram feitos vários aterros ligando as margens da Avenida Joaquim Nabuco com a Rua Major Gabriel (antiga Rua Tomás Pinto). Entre as ruas Barcelos e a Nhamundá é possível verificar um pequeno córrego (protegidos por matas ciliares), com as águas advindas da nascente, chamado antigamente de “Cacimbal”,   a  partir da   qual    ele     entra     nas        tubulações.

        A baixada da Rua Japurá apelidada de “Buracão”, o “PROSAMIM” construiu a Praça Nestor Nascimento (ele foi meu amigo e do meu pai) com as águas da nascente passando pelas tubulações.

        Na descida da Avenida Tarumã, inicia-se o conjunto de apartamentos “Parque Residencial Manaus”,                      interligando    com                 a         Rua         Dr.             Machado.

        No aterro da Avenida Leonardo Malcher a mãe natureza não perdoou: havia um afundamento constante da pista. Em junho de 1993 houve um grande desabamento do aterro, arrastando varias casas. Neste local foi construída a “Ponte Isaac Sabbá” (em homenagem a um dos homens mais importante da historia do desenvolvimento do Amazonas). Por debaixo da qual                  existe               a       continuação     do    conjunto de apartamentos.

        Seguindo na Avenida Ramos Ferreira existe uma depressão natural, antigamente era conhecido como “Buraco do Pinto” por ficar próxima a Rua Tomás Pinto (Capitão Manuel Tomás Pinto Ribeiro, filho do Major Gabriel). Em 1957 o governador Plínio Ramos Coelho determinou o aterro definitivo. Neste local inicia-se a segunda etapa do conjunto de apartamentos do      “Parque    Residencial   Manaus”.


Foto: Jornal do Commercio

        Rua Ipixuna – o aterro para construção do logradouro deu-se em 1956, conforme fotografia acima do                                    “Jornal        do       Commercio”              daquela                    época.

        Rua Igarapé de Manaus – na cheia do Rio Negro, invadia toda aquela área, atualmente, abriga o Parque Desembargador Paulo Jacob, onde passa    uma     pequena     lâmina de água na   vazante.

        Avenida Sete de Setembro – passa a Ponte Romana I (também conhecida como Primeira Ponte) – na cheia do Rio Negro uma parte do rio teima invadir o que foi aterrado, conforme podem verificar na fotografia abaixo, clicada        por        mim     no      meio  da ponte.

 

Foto: José Rocha (Igarapé de Manaus)


 

Foto: José Rocha (Encontro do Igarapé de Manaus e Igarapé do Bittencourt)

        Parque Senador Jefferson Péres – onde o Igarapé de Manaus se encontra com o Igarapé do Bittencourt (foto acima), percorrendo desde a nascente, três quilômetros, passando por debaixo da Avenida Lourenço Braga (conhecida como “Manaus Moderna”, local onde o governador do Amazonas aterrou a entrada do Rio Negro) até desaguar na foz do “Igarapé do Quarenta” e do “Mestre Chico”, na margem esquerda do majestoso Rio Negro (foto abaixo), seguindo até Rio Solimões, formando o grandioso Rio Amazonas até chegar    ao  Oceano Atlântico. As fontes do nosso Igarapé de Manaus, apesar de ser apenas uma gota no oceano, contribuem e ainda                                          hão             de           contribuir      para    a     imensidão     do mar!

Trechos do Livro EBook "O Igarape de Manaus, José Rocha"

Foto: José Rocha (Desembocadura do Igarapé de Manaus)

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

MANAÓS HARBOUR LIMITED

 






Em de 1900 foi concedido à empresa B. Rymkierwiez & Co.,                 a concessão para construir e administrar o Porto de Manaus, através             do Decreto no. 3.725/00, do governador Silvério Nery (1900-1904), transferindo em seguida para a Manaos Harbour Limited.

O Barão Rymkierwiez, proprietário da empresa concessória, não conseguiu cumprir com o foi acordado, sendo transferido para a MHL que assumiu o compromisso de até 1924, concluir toda                    a infraestrutura necessária para atender às exigências da época áurea do Amazonas, que inundava a nossa região com riquezas advindas da comercialização do látex da nossa borracha nativa.

Esta empresa tinha como sócios os irmãos ingleses Booth, proprietários da empresa de navegação Booth Line Ltd., que para Manaus traziam da Europa e dos Estados Unidos tudo o que existia     do bom e do melhor, pois a riqueza imperava em nossa cidade, levando de volta toda a produção de borracha.

Foi a união perfeita do útil e do agradável, pois possuíam uma frota de imensos navios que fazia rota internacional, carregando                e descarregado pessoas e mercadorias no maior e  mais moderno porto flutuante do mundo, sob a sua administração, levando              o bem mais cobiçado daquele tempo: a borracha in natura               da Amazônia.

O Porto de Manaus, uma obra prima dos ingleses, ficou conhecido     por Roadway, mais conhecido pelos manauaras por Cais Flutuante.    

O povo se acostumou a falar algumas palavras em inglês ou alemão, pois naquela época era permitido fundar empresas com o nome totalmente em estrangeirismo.

“Manaós” como era grafado naquela época Manaus. “Harbour” significa em inglês Porto. E “Limited” significando que era uma empresa constituída de Quotas de Responsabilidade Limitada (pertencentes aos irmãos Booth). Ou seja, em nossa língua portuguesa “Porto de Manaus Ltda.”.

Para conviver com tantos nomes esquisitos, a população fazia as suas adaptações. Por exemplo, Roadway era chamado de “Rodo”.               A Manaós Harbour de “Manausarbu”. Booth Line de “Butlaine”

Para fechar o cerco e ganhar muito dinheiro, os ingleses fundaram empresas para geração e distribuição de energia elétrica; circulação de bondes elétricos; captação e distribuição de água, além da rede     e tratamento de esgotos.

Vários fatores contribuíram para a debandada geral dos ingleses           e a dissolução de suas empresas:

1.   A partir de 1910 o mercado da nossa borracha começou            a desmoronar no exterior, pois entrava aos poucos a produção asiática, ocorrendo falências e fechamento de negócios           em Manaus;

2.   Para agravar o estado de penúria foi eclodida a Primeira Guerra Mundial (1914/1918);

3.   A Gripe Espanhola, em 1918, infectou um quarto da população mundial. Em Manaus. Cerca de 10% da população veio a óbito;

4.   Entre 1920 e 1930 a cidade de Manaus vivia uma situação de penúria.

5.   Em 1930, o presidente Getúlio Vargas tentou a voltar um período de maior prosperidade;

6.   Em 1939 veio a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), para voltarmos novamente a decadência.

A passagem dos ingleses por estas bandas deixaram marcas até hoje: tampas de bueiros com a marca M.I.L – galerias de esgotos  - trilhos do bondes que aparecem aqui e acolá – vários prédios e todo o complexo do Porto de Manaus.

As iniciais M.H.L aparecem na entrada do Roadway, na Casa de Luz    e Força (Museu do Porto) e outros prédios do Porto de Manaus, conforme fotografias.

Quando o Museu do Porto for reaberto ao público, poderemos observar e conhecer um muito mais sobre a famosa “Manausarbu”.

É isso ai.

Fotos: José Rocha

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

GUARDAMORIA



A Guardamoria é um prédio anexo ao da Alfândega do Porto                de Manaus, inaugurado em 1906, pela empresa inglesa Manaós Habour Limited, como parte do contrato de concessão do porto –      foi tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1967 - localizado na Rua Marquês de Santa Cruz, centro antigo de Manaus – encontra-se, atualmente, abandonado pelo poder público, necessitando, urgentemente, ser revitalizado e devolvido aos manauaras e aos turistas que por essas plagas aportam, pois aquela edificação é pura história e deve voltar a ser um cartão postal de Manaus.

Guardamoria é um termo antigo, em desuso, significando         “guarda-mor”, ou seja, a repartição anexa à alfândega, incumbida     da polícia fiscal no porto e a bordo dos navios.

Em tempos idos, a Guardamoria exercia plenamente este papel, pois era dotada de uma torre com um farol construído em aço, e sua iluminação de arco voltaico produzindo uma luz de grande intensidade, permitindo aos guardas alfandegários uma visão privilegiada de todo o cais flutuante do Roadway, visualizando          as chegadas dos navios, descargas, carregamentos e partidas.

Como se pode observar na fotografia, a Guardamoria fica um pouco ofuscada pela exuberância do prédio da Alfândega, no entanto,                 ela foi construída para servir de lugar privilegiado para a fiscalização do porto.

O estilo do conjunto é eclético, com elementos medievalistas            e renascentistas, lembrando um pouco os prédios londrinos do início do século passado. Externamente, na Guardamoria, observa-se       um prédio de dois andares, com duas janelas frontais e três laterais em cada andar, além de uma cobertura em aço e com telhas           de barro, toda panorâmica (onde o antigo guarda-mor podia visualizar o Rio Negro e cais do porto). 

No meio do prédio existe uma torre com quatro andares (para abrigar internamente uma escada em caracol para acesso até o farol), sendo que no segundo e último contém uma estrutura que lembra os velhos castelos medievais (para impedir a entrada de invasores).              Nos três primeiros andares da torre contem quatro janelas cada um    e no quarto por ser bem menor existe somente uma janela redonda tipo “óculos”. Um mastro em fero fundido está cravado no terceiro andar. 

No alto da Guardamoria está o Farol (com um cata-vento e pára-raios), ainda imponente e belo, clamando para voltar a iluminar         o Roadaway e dar um charme todo especial a porta de entrada         da cidade de Manaus.

Um dos poucos privilegiados que conseguiu adentrar, nos últimos anos, no interior da Guardamoria foi o escritor Otoni Mesquita                       – em seu livro “Manaus, História e Arquitetura, 1952-1910”, descreve com minúcias o que presenciou naquele prédio secular: 

“A construção possui peculiaridades só dela, como, por exemplo,        a escada em caracol, inteiramente em ferro fundido, que vai           do térreo até o farol. Algumas raras peças em seu interior podem estar ali há um século, ou quase isso, como uma pia, em estilo antigo e com o nome do fabricante: Doulton & Co., e a cidade de origem: Londres. Além da pia, um cofre, um armário, e os azulejos              do piso. Do terceiro andar da guardamoria a visão do rio Negro         é fantástica, digna de o local ser transformado num ponto de atração turística. Quando a pedra fundamental da Alfândega completou cem anos, em 2006, falou-se em abri-la para verificar se em seu interior, como era comum antigamente, haviam colocado objetos da época: jornais, livros e qualquer outro que servisse de referência para quem no futuro viesse a descobri-los, mas o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), alegando que tal abertura poderia danificar a peça secular, recusou-se a fazê-lo.”

Durante muitos anos a União ocupou a Alfândega, com a fiscalização aduaneira do Porto de Manaus. Com o tempo, o prédio começou        a sofrer problemas estruturais e com a falta de manutenção             foi abandonado, estando fechado até os dias atuais.                     Sofreu muito com as grandes cheias do Rio Negro de 1953 e 2021,           mas resistiu mesmo com toda a sua base alagada por vários meses.                  

Com relação a Guardamoria, encontra-se fechada faz muito tempo.  Não tenho conhecimento em que ano fechou as suas portas, deixando o Farol de cumprir a sua missão de iluminar o Roadway. 

Resistiu ao tempo, completando 115 anos em 2021 – continua         em pé, firme e forte, sendo somente observado pelos turistas            e manauaras que amam esta terra de verdade.

Na área portuária existe o Museu do Porto (onde era Casa               de Máquinas de Energia da MHL) que está fechado faz décadas. Existe um desejo da Prefeitura de Manaus em reabrir este espaço ainda no ano de 2021, pois faz parte do projeto “Viva Manaus”.        Não sei se o prédio da Alfândega e a Guardamoria foram contemplados em tal projeto.

Na realidade, a população de Manaus não sabe quem são os donos         do nosso Roadway, das Casas da Booth Lines, Museu do Porto               e do prédio da Alfândega e Guardamoria: É a União? O governo       do Amazonas? A Prefeitura de Manaus? A família Di Carli                  ou a empresa Chibatão? Todo mundo quer ser o dono, somente para usufruir, ganhar rios de dinheiro e destruí-los aos poucos,                 isto todos nós sabemos. 

Na minha humilde opinião, todo o complexo do Roadway        pertence     ao povo de Manaus e não a particulares. 

O governo do Estado do Amazonas (SEC) e a Prefeitura de Manaus (ManausCult) devem fazer uma parceria e revitalizar, urgentemente, todo o complexo da Alfândega (pode tornar-se a sede da ManausCult, por exemplo).

Com relação à Guardamoria, todos os objetos citados pelo Otoni Mesquita e outros encontrados no local devem ser transferidos para     o Museu do Porto. 

O local deve ser aberto para visitação pública, tornando-o             uma atração turística, permitindo as pessoas subirem as escadas     em caracol, para usufruírem da visão panorâmica do segundo andar, tomar um suco, água ou café numa lanchonete que deve ser aberta naquele local, além do Farol (pintado nas cores original de verde        e amarelo) voltando a funcionar, dando à noite umas piscadas         de luzes quando os transatlânticos estiverem ancorados no cais        do Roadway.

É isso ai.

Foto: José Rocha

sábado, 14 de agosto de 2021

FESTA DO ACOCHO

 

Quem era adolescente e entrando para a vida adulta no final da década de sessenta lembra muito bem deste tipo de festa, pois a nossa Manaus era pequena, onde praticamente todos se conheciam pelo menos de vista e uma das diversões era fazermos festinhas em nossas casas, para dançar, beber e namorar muito.

A minha irmã Graciete era muito festeira em sua juventude e sempre promovia, aos sábados, festa em nossa casa, mesmo contrariando o nosso pai que não gostava nem um pouco das músicas que curtíamos naquela época.

A turma aqui do centro tinha a sua disposição o Sheik Clube, Bancrévia Clube, União Esportiva (Sambão), Ideal Clube, Rio Negro Clube, Olímpico Clube e as Boites Danilo´s, Crocodilo´s, Faces in the Groove, Starship e Spectron e outras tantas, mas, o bom mesmo dos bons tempos era a Festa do Acocho.

Todo final do mês motivo não faltava para fazer uma festa: aniversário de alguém da família ou de um vizinho, conclusão de um curso (até de datilografia era motivo), férias escolares, despedida de alguém que ia viajar ou quando não se tinha nenhum motivo se inventava um.

A festa era mais ou menos assim: colocavam-se lâmpadas de luz negra ou cobria as comuns com papel celofane na cor roxa – o importante era ficar o ambiente na penumbra, pois “à noite todos os gatos são pardos (todos são iguais ou semelhantes no escuro)”. Ficava mais chique com a "luz estroboscópica".

A moda dos anos 70 era de calça comprida boca de sino, vestidos românticos cheios de flores e franjas, estampas psicodélicas e coloridas, com um visual hippie.

Os homens gostavam do cabelo tipo “black power”, com influencia das discotecas. Muito brilho e looks extravagantes, com o filme “Os Embalos de Sábado À Noite” influenciando muitos jovens.

As roupas jeans era um legitimo uniforme da moçada, com muito brilho presente em blusas, vestidos, calças e saias. Sandálias de plataforma, colares artesanais e bijuterias.

Solta o som ai DJ - o aparelho era 3 em 1 (toca-discos, tape deck e rádio), com discos de vinil e fita cassete.

As músicas que faziam o maior sucesso “A Hora de Mexer O Esqueleto”: Sociedade Alternativa (Raul Seixas), Os Mutantes, Barato Total (Gal Costa), Doce Vampiro (Rita Lee), Dê Um Rolê (Os Novos Baianos), Sossego (Tim Maia), Sangue Latino (Secos & Molhados), Sampa (Caetano Veloso), Dancin Days (As Frenéticas), Apenas Um Rapaz Latino Americano (Belchior), Cálice (Chico Buarque), O Que Será (Chico Buarque), Conga, Conga, Conga (Gretchen) e outros mais.

O pessoal curtia mesmo era os hits da disco music: Love To Love You, Baby (Donna Summer), I Will Survive (Gloria Gaynor), Macho Man (Village People), Dancing Queen (ABBA), Stayin´Alive (Bee Gees) e outros mais.

O mais esperado mesmo era “A Hora do Acocho” – para quem não sabe o termo “acocho” era uma gíria muito usada nos anos 70 e até 80, quando os casais se abraçavam e beijavam na boca, ao som de músicas românticas, vizinhos(as), primos(as) – muitos até começavam namorar naquela noite e até casavam.

Não poderia faltar uma bebida para animar a festa: Cuba Libre; Leite de Tigre (uma mistura muito doida); Dry Martíni; Padrinho Acrísio (bebida artesanal feita pelo nosso vizinho Acrísio, pai de criação da Mira) e outras.

Tudo na vida passa. Os nossos tempos bons passaram. Ficou somente a saudade da “Festa do Acocho”.

É isso ai.

Foto: www.tuacasa.com.br/festas-anos-70 

terça-feira, 10 de agosto de 2021

SORVETERIA PINGUIM

 


Ficava no térreo de um prédio de três andares, bem em frente à Praça Antônio Bittencourt, mais conhecida como Praça do Congresso (em decorrência de um Congresso Eucarístico Diocesano de Manaus, realizado naquele logradouro em 1942) – um local que marcou toda uma geração de jovens que estudavam em seu entorno nas décadas de setenta e oitenta, sendo muito lembrada, atualmente, nas redes sociais.

Lembro-me muito bem - eu era um jovem estudante do Instituto Benjamim Constant e saímos aos bandos para tomar sorvete e paquerar as gatinhas do IEA que marcavam presença em peso na sorveteria Pinguim – elas usavam uma farda constituída de uma blusa branca e saia que virava minissaia, deixando os marmanjos babando. A Caixa era uma moça muito bonita, acredito que era a filha do proprietário.

Na realidade, todo o entorno era bonito e a Sorveteria Pinguim o ponto de encontro e paqueras dos jovens, além de saboreávamos um sorvete tipo carioca (casquinha, o mais barato que cabia nos bolsos dos estudantes). Somente não gostávamos dos estudantes do Colégio Militar, pois eram muito assediados pelas meninas do IEA e do IBC.

A fotografia em preto e branco um acervo do saudoso prefeito de Manaus, Frank Abrahim Lima, postado no site do Instituto Durango Duarte (IDD), onde aparecem em destaque estudantes normalistas (IEA), em 1973, além de uma lixeira em formato de uma Taça, com o logotipo da Prefeitura Municipal de Manaus.

Tempos depois, fui estudar à noite no IEA, acabaram os sonhos juvenis e começava a trabalhar e sentir o peso da responsabilidade. O sorvete já não era mais a pedida, pois a sorveteria montou um Bar ao lado onde é hoje a Biblioteca Pública.

Em 1973, o colunista social Nogar publicou em sua coluna social o seguinte: “Dia 31 a Sorveteria Pinguim Limitada, vai inaugurar um luxuoso salão de drinques, refeições e dança, onde a família amazonense poderá divertir-se num ambiente seleto usufruindo da direção da mesma a hospitalidade, a paz, a alegria e o respeito merecido. A entrada é pela Rua Monsenhor Coutinho no. 529”.

Recentemente, recebi o seguinte e-mail (motivador desta postagem): “Chamo-me André Varela. Sou de Manaus, minha esposa está atualmente como diretora da Biblioteca Pública João Pantoja Evangelista. A Sorveteria Pinguim possui um valor sentimental, pois na década de 80 aos 14 anos de idade foi chapeiro com muito orgulho. Minha mãe conhecia a dona do estabelecimento e foi por algum tempo sua empregada. O seu trabalho é imprescindível para a nossa história. Parabéns”.

A fotografia atual é minha autoria – mostra o local onde era a Sorveteria Pinguim - está fechada e sem nenhuma atividade econômica, somente as lembranças dos velhos tempos.

No entanto, as aulas estão voltando a normalidade, a Praça da Saudade está toda revitalizada e o palacete da esquina virou biblioteca pública, faltando somente voltar a frequentar o local as nova geração de estudantes.

A escrever essas linhas saudosistas veio-me a mente a ideia de conversar com o meu filho Alexandre Soares, que é do ramo de sorveteria, para conversar com o proprietário do prédio e, caso o aluguel não for salgado, mas, sim, doce que nem um sorvete misto de casquinha, quem sabe um dia abrirmos em novo estilo a nova Sorveteria Pinguim.

É isso ai.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

ANOS DOURADOS



Em oposição aos anos de guerras, estagnações e destruições, acontecidos no período da Segunda Grande Mundial (1939-1945), vieram os anos de concórdia e o desenvolvimento social, tecnológico e financeiro, ocorrida na década de 50, uma década conhecida como “anos dourados”, com sentimentos de otimismo e esperança por todo mundo.
Historicamente, este período foi marcado com o seguinte:
1. Inauguração, em 1960, de Brasília, a nova capital federal;
2. O nosso Brasil torna-se Bi-Campeão da Copa do Mundo de 1962;
3. O soviético Iuri Gagárin foi, em 1961, o primeiro a ir ao espaço;
4. Surgem os Beatles e os The Rolling Stones, influenciando no Brasil, do rock, com o nome de “iê-iê-iê”;
5. Marcam muito as mortes da atriz Marilyn Monroe, em 1961, e do assassinato, em 1963, do presidente americano John F. Kennedy;
6. No Brasil surgiram as enceradeiras, liquidificadores, panelas de pressão, vitrolas de alta fidelidade e televisores - eram bens de consumo que mudaram muito a vida dos brasileiros;
7. Os jovens começaram imitar James Dean e sua juventude transviada - as roupas mais utilizadas eram as jaquetas de couro e calça comprida;
8. Na música, os moderninhos dançavam o rock and roll e o twist com seus topetes caídos na testa;
9. Iniciavam-se os festivais de música brasileira que revelaram compositores e cantores de talento, dentre eles, Vandré, Torquato Neto, Alciole Carlos. Roberto e Erasmo Carlos, além do surgimento dos Novos Baianos e do Tropicalismo e da Bossa Nova;
10. Em Manaus, nos primeiros anos da década sessenta, antes da “Revolução de 64”, ainda vivíamos o finalzinho do famoso “anos dourados”, uma época em que deixou muitas saudades, pois, tudo era chique, diferente, algumas pessoas chamavam de “anos glamorosas”, outros tantos, gostavam de referir aos jovens riquinhos de “jeunesse dourè ou juventude dourada”.
A grande maioria dos sessentões de hoje, ainda gostam de falar: “Eu era feliz e não sabia”.
Até hoje, quando se quer fazer uma “Festa Retrô”, voltando ao túnel do tempo, estes anos nunca são esquecidos, pois existem inúmeras empresas de serviços especializados em roupas, acessórios e DJ´s mandando ver as músicas daquele belo tempo que passou.
Após os anos dourados, passamos por décadas perdidas, onde as pessoas ficaram mais egoístas, medrosas, restritas ao seu trabalho, sua família e um grupo restrito de amigos.
O mundo e a humanidade são marcados por altos e baixos, acredito que, depois de tantos baixos, precisamos vivenciar novo “Anos Dourados”.
É isso ai.