sexta-feira, 26 de julho de 2024

A NOSSA GERAÇÃO

 Por José Rocha

Nós somos da geração dos anos cinquenta e sessenta, a maioria de nós nascida no Hospital da Santa Casa de Misericórdia e criada no centro histórico de Manaus. Somos manauaras da gema, alimentados à base de peixe e farinha.

Tivemos o privilégio de pular da Ponte da Sete diretamente para o Igarapé de Manaus. Lembro-me de irmos com nossos pais e irmãos para os “Banhos do V8”, explorando lugares como o Parque Dez de Novembro, a Ponte da Bolívia e Tarumã, e, também, tomávamos “Banho de Cacimba”.

Éramos moleques travessos, brigávamos nas ruas e levávamos broncas em casa. Tínhamos rivalidades com a garotada de outras ruas e bairros. Quando nos encontrávamos em clubes, praças, cinemas ou na rua, as brigas eram inevitáveis. Tudo era resolvido no “mano a mano”, sem armas brancas ou revólveres, apenas tapas, chutes e pontapés.

Lembro-me de soltar papagaios de papel feitos pelo “Russo”, com linha de cerol e rabiola, cortando o céu com pedaços de gilete. Jogávamos bola nos campinhos de futebol, pois éramos “peladeiros” também das quadras dos colégios, com arranhões e hematomas de brigas inevitáveis.

Brincávamos de peão e colecionávamos bolinhas de gude e caroços de tucumã, escapole-bate-e-fica, queimada, esconde-esconde, quadrilhas e pula-fogueira, com xote e baião.

Nossos dias de escola foram no Barão do Rio Branco, Estadual, Divina Providência, Nilo Peçanha, IEA, Escola Técnica Federal e Benjamim Constant. As palmatórias e os castigos na diretoria faziam parte da rotina, e nosso lanche consistia em pão com pão e leite de Soja e Nescau, sem direito a repetir nem reclamar.

A “Fanfara” era um espetáculo à parte, e os desfiles orgulhosos do “Sete de Setembro”, na Avenida Eduardo Ribeiro, eram seguidos por sorvetes no Pinguim e no A Gogô, além de Caldo de cana com pastel de vento e bolo de macaxeira nas confeitarias completavam nossas tardes de feriado nacional.

Passar no vestibular da Universidade do Amazonas era um privilégio para alguns “CDF”. A maioria estudava Direito na Velha Jaqueira e Ciências Sociais e Humanas no ICHL, pois faculdades particulares ainda não existiam.

Nossa turma frequentava os Cines Guarany, Polytheama, Avenida e Odeon. Assistíamos às apresentações das “Pastorinhas do Luso”, aos shows musicais do “Titio Babosa” e às peças teatrais do “Vovô Branco”. Os “Circos” também eram uma atração constante em nossa cidade.

Vivenciamos a chegada dos sinais de televisão da TV Ajuricaba e Baré, assustados e maravilhados. E o futebol amazonense brilhava na era de ouro, com partidas emocionantes no “Parque Amazonense”.

Na cidade, todos se conheciam, pelo menos de vista. Sabíamos os nomes dos vereadores, deputados, senadores, delegados de polícia, presidentes da COSAMA e da CEM, juízes e promotores de justiça.

O começo da Zona Franca de Manaus trouxe brinquedos, quinquilharias “made in Japan”, perfumes, alimentos e aparelhos de som.

As lojas Lobras, S. Monteiro, Moto Importadora, Central de Ferragens, Souza Arnaud, Canavarro, Antônio M. Henriques, TV Lar e Bemol faziam parte do nosso cotidiano.

Não tínhamos internet nem aparelhos celulares. Nossas informações vinham das rádios Baré, Rio Mar, Difusora e da famosa “Rádio Cipó”, além dos jornais do Comércio, A Crítica e A Notícia. Pesquisas apenas em livros na Biblioteca Pública ou emprestar volumes da Barsa dos amigos mais aquinhoados.

Minha geração testemunhou a chegada da “Bossa Nova & Rock”. Adorávamos artistas como Elvis Presley, Beatles, Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléia, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, entre outros. Éramos da época dos “Discos de Vinil” e “Fitas Cassete”, das festas no Acocho, Sheik Clube, Bancrevia e União Esportiva e das “porradas das galeras do mal”.

Naquela época, as mulheres eram esperadas para casar virgens. Se um malandro “avançasse o sinal” e a mulher engravidasse, o casamento era realizado às pressas. Embora não houvesse casamentos entre pessoas do mesmo sexo, existia algo “por detrás dos panos”.

Homossexuais sempre existiram em todos os tempos, mas naquela época, eles casavam na igreja e tinham filhos. No entanto, a grande maioria optava por permanecer solteira pelo resto da vida, sem constituir família.

Pois é, meus amigos, a nossa geração vivenciou todas essas nuances. Presenciamos a chegada da internet, dos aparelhos celulares, das TVs inteligentes e dos sons digitais tipo Spotify e Youtube Music. Mesmo assim, não nos cansamos de relembrar e escrever sobre aquela época boa de nossas vidas.

Passamos pela pandemia do Covid-19, vendo muitos amigos partirem. Aqueles que resistiram agora são sessentões, setentões e poucos oitentões. Aos poucos, nossos amigos da nossa geração estão nos deixando. Diabetes, problemas cardíacos, AVCs, DSTs e doenças renais os levam gradualmente.

A vida segue seu curso, e agora é a vez de nossos netos e bisnetos aproveitarem as modernidades da vida. Quando eles crescerem, pesquisarão e sorrirão ao descobrir como era a vida de seus avós e bisavôs naquela época: “Da Nossa Geração”.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

RAPOSA X GALINHEIRO

 

 Por José Rocha

A maioria dos prefeitos das cidades brasileiras são conhecidos como ‘raposas’.

Os ‘galinheiros’ referem-se aos cofres municipais. Quando elegemos as raposas e as colocamos dentro dos galinheiros, o que acontece?

Com certeza, irão devorar uma por uma galinha, até as chocas irão para a bucho.

Como evitar?

Primeiro, eleger um 'Cão de Guarda' e não uma 'Raposa'.

Segundo, vigiar o galinheiro, ou seja, os vereadores devem cumprir a sua missão de fiscalizar o prefeito.

Mas, caso elegermos vereadores amigos dos prefeitos, o galinheiro irá para o beleleu!

quinta-feira, 18 de julho de 2024

OS LADRÕES DA INTERNET

 Por José Rocha

Diariamente, observo pessoas que declaram para o mundo saber que foram vítimas de golpes na internet. Agora, imaginem a quantidade enorme que sente vergonha de vir a público falar que foram enganadas em decorrência do “Olho Grande”, achando que iriam ganhar fortunas, ou que caíram no ‘Papo Furado’ dos bandidos de plantão. Sentem-se como ‘Otários’ ou infantis por terem caído em armadilhas que poderiam ser facilmente evitadas com um pouco mais de cuidado.

Irei enumerar alguns deles, como forma de alerta aos amigos leitores:

“Jogo do Tigrinho”: Também conhecido como “Fortune Tiger”, foi desenvolvido pela empresa Pocket Games Soft (PG Soft), que tem sua sede em Malta. Vocês sabem onde fica Malta? Nunca ouvi falar, mas pesquisando no ‘Pai dos Burros’ descobri que é um pequeno país localizado no sul da Europa, numa ilha próxima à Sicília, na Itália. Esse jogo deve pertencer a mafiosos italianos.

Quem ganha com o jogo? Em primeiro lugar, os ‘Operadores das Plataformas de Apostas’, que ganham com as apostas dos jogadores que muitas vezes perdem fortunas para ganhar prêmios que raramente são alcançados. Em segundo, os camaradas conhecidos no Brasil como ‘Influenciadores Digitais’, que possuem de 10 a 65 milhões de seguidores que gostam do famoso ‘Besteirol’. Eles ganham de 5 a 15 mil reais por semana.

Esses camaradas são bandidos que têm enganado sistematicamente muitas pessoas, desde um estudante que perde sua mesada até grandes empresários que perdem fortunas, por várias razões: promessas falsas de ganhos fáceis em dinheiro. Os bandidos utilizam ‘Promoção por Influenciadores’ que mostram uma vida de luxo e ganhos aparentes, dando uma falsa sensação de legitimidade e sucesso.

O jogo utiliza gráficos coloridos e infantis, atraindo o público mais jovem e menos experiente para identificar fraudes. Pasmem, pessoas ricas e inteligentes caem na armadilha. Os bandidos utilizam perfis falsos no Instagram e outras redes sociais com promoções do jogo, como forma de aumentar a visibilidade e atrair mais vítimas. Ainda bem que a polícia tem feito investigações e prendido alguns dos responsáveis por promover e operar esses esquemas.

‘Golpe do PIX’: Os golpistas enviam mensagens se passando por bancos, informando sobre transações suspeitas e pedindo para a vítima entrar em contato com uma suposta central de atendimento. Durante a ligação, eles solicitam dados pessoais ou induzem a vítima a fazer uma transferência. Eu, particularmente, não atendo ligação que não está na minha agenda, muito menos com DDD de outros estados com maior densidade populacional e atividade econômica, por exemplo, do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

‘Golpe da Falsa Central de Atendimento’: Criminosos se passam por funcionários de bancos ou empresas, alegando problemas como clonagem de cartão, pedindo dados pessoais e bancários para “resolver” o problema, mas na verdade usam essas informações para fraudes.

‘Golpe da Tarefa’: Prometem pagamentos por tarefas simples, como curtir publicações ou seguir perfis, pedindo um pequeno investimento inicial ou dados bancários, mas o pagamento prometido nunca é enviado.



‘Golpe do Boleto Falso’: Os bandidos enviam boletos falsos por e-mail ou aplicativos de mensagens, que parecem ser de empresas legítimas. Quando a vítima paga, o dinheiro vai para a conta dos criminosos. Uma forma rápida de saber se o boleto é falso é verificar a numeração que aparece em todo boleto. Os três primeiros números devem ser do banco que aparece ao lado, por exemplo: BB 001, CEF 104, Bradesco 237, Itaú 341 e Santander 033. Caso comece com outro número, é falso. Os últimos números devem ser exatamente o valor a pagar, por exemplo, R$ 744,50, os últimos números serão 74450. Caso o cidadão de bem não observe esses detalhes e for ao banco ou tentar pagar pelo aplicativo do seu banco em seu celular, ao aponta a câmera para ler o ‘Código de Barras’, ele apresenta uma falha bem no meio e pede para a pessoa digitar aquela série de 45 números. É golpe! Perdeu, mané!

‘Ransomware’: É um ‘Malware’ (um software malicioso) que sequestra os dados do usuário e cobra um valor de resgate para liberá-los. É uma forma de extorsão digital. Tenha muito cuidado, não clique em links que te mandam pela internet.

‘Criptomoedas’: É uma moeda digital descentralizada, criada e gerida por meio de tecnologia de ‘Blockchain’ (tecnologia segura) e sistemas avançados de criptografia. Existem muitos golpes relacionados a Criptomoedas, como esquemas de pirâmide e fraudes de ICO (Oferta Inicial de Moeda). Muitas pessoas perdem dinheiro por falta de conhecimento, podem perder suas reservas para os ‘Hackers’ (uma pessoa com habilidades avançadas de informáticas usada para o mal) e também pelos preços que sobem e podem descer drasticamente. O megainvestidor brasileiro Luiz Barsi, um senhor com um patrimônio de 4 bilhões de reais, falou numa entrevista que já pegou em Real, Dólar Americano, Euro, Ouro, Prata, Diamante, Joias e já visitou a sede do Banco do Brasil e da Petrobras e da empresa Klabin, mas nunca na vida viu uma ‘Criptomoedas’, pois ela é uma invenção do homem, não existe no plano físico. Dessa forma, jamais investirá numa coisa irreal.

Para se proteger, é importante desconfiar de mensagens e ligações suspeitas, nunca fornecer dados pessoais ou bancários sem verificar a autenticidade da solicitação, e manter seus dispositivos protegidos com antivírus e atualizações de segurança.

E acima de tudo, deixe de ilusões que será fácil ganhar dinheiro em sites que prometem ganhos acima da média e que vendem produtos abaixo do preço de mercado. Exemplo recente: Site do famoso ‘Big Brother Brasil 2021 ‘Nego Di’. É golpe dos ladrões da internet!

Fonte: IA Copilot da Microsoft 

terça-feira, 16 de julho de 2024

RELÓGIO MUNICIPAL DE MANAUS

                                                                                    Foto Montagem: José Rocha
 

O Relógio Municipal de Manaus é uma marco histórico localizado no Centro Histórico de Manaus, capital     do Estado do Amazonas, Brasil.


Foi inaugurado em 1929, durante a administração do prefeito José Francisco Araújo Lima (autor de Amazônia – A Terra e o Homem).


Sua arquitetura é neoclássica e o mecanismo foi importado da Suíça e montado pela firma Pelosi & Robert, uma loja de italianos que por pouco não foi incendiada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), porém a residência do Sr. Pelosi Giulio Roberti, não teve a sorte.


Era conhecido carinhosamente pelos manauaras como “Big Bem”, uma alusão ao famoso relógio inglês.


A peça que produzia a “batida” está quebrada e o conserto está a cargo da família Sahdo, permissionários de uma loja de venda e consertos de jóias e relógios, estabelecida no local faz algumas décadas.


Possui uma inscrição em latin ‘Vulnerant Omnes, Ultima Necat’, que significa ‘Todas Ferem, A Última Mata’, alude ao passar das horas e à finitude da vida, lembrando que tudo tem seu tempo e que a última hora é inevitável.


Infelizmente, o relógio permanece mudo, pois a responsabilidade pelo conserto não é da família Sahdo, mas, sim, do poder público municipal, uma vez que o relógio é patrimônio de todos os manauaras.





Café da Manhã dos Pobres de Antigamente

 Por José Rocha

Nas décadas de 50 e 60, apesar de já existirem cafés embalados, algumas famílias gostavam de comprar o café em grãos, torravam e pilavam o café, que era fervido em fogareiros de carvão.

No centro da cidade existiam as padarias Frankfour e Modelo, mas os pães também eram vendidos pelos padeiros que entregavam na porta dos clientes. Geralmente, eram pães caseiros, de meio quilo, com massa fina e doce.

O leite era in natura, vendido por leiteiros que passavam de porta em porta deixando o precioso líquido branco.

A manteiga regional, a mais gostosa, era vendida a retalho nas tabernas ou em latas de meio quilo, sendo a marca Aviação a mais preferida.

Queijos disponíveis eram apenas o Coalho e Manteiga, sendo o Bola reservado para os ricos.

Sucos somente de frutas regionais, mas eram difíceis nas mesas de pobre.

Quando a grana estava curta, o jeito era tomar o café sem leite e o pão sem manteiga, ou comer bolacha de motor.

Uma vez na vida e outra na morte, apareciam um cuscuz, tapioca com queijo ou um pé de moleque e bolo de macaxeira.




DOUTOR CAPA ONÇA

 

Trecho do livro e-book em elaboração “Crônicas do Bar Caldeira, José Rocha”:


Ele morava na Rua José Clemente, próximo ao Salão Grajaú. Foi Diretor do Colégio Estadual (Praça da Polícia) e funcionário da Petrobrás onde se aposentou. Foi também advogado, formado pela antiga UA (atual UFAM), e passou anos militando na profissão.

Doutor Capa Onça tinha seus hábitos peculiares. Adorava tomar cerveja e fazer um esquenta com conhaque (para abrir o apetite). Era fumante inveterado, com aquele pigarro característico. De vez em quando, soltava tossidas tão altas que pareciam convocar uma assembleia de pulmões. E, claro, não podia faltar a cusparada no meio da rua. Coisas de um autêntico boêmio, que curtia seu cigarrinho.

Mas o que realmente chamava atenção era seu apelido: “Doutor Capa Onça”. Todo mundo tremia só de pensar em chamá-lo assim. Afinal, o sujeito que teve a coragem de pegar uma onça pelo braço, imobiliza-la e arrancar-lhe os culhões com uma faca peixeira devia ser um verdadeiro herói. Quem mais faria isso? Só o Doutor Capa Onça! Se ele realmente fez isso, ninguém sabe, mas o apelido pegou.

Eu costuma ouvir a Dona Mary Das Cruzes chamá-lo:

- Capa! Capa! – ele fingia que nem ouvia.

E ela insistia:

- Capa Onça, tô falando contigo! Tá surdo, é?

Ele balançava a cabeça negativamente e resmungava. A rapaziada virava a cara e ria da presepada.

Doutor Capa Onça gostava de conversar comigo e com o meu irmão Rocha Cão do Luso. Éramos contemporâneos dos sobrinhos dele no Igarapé de Manaus. Sempre tinha razão, não adiantava argumentar. Na mesa de bar, não havia espaço para o contraditório. Com aquele vozeirão, ele metia medo. Bebia sozinho no balcão e não era de papear muito com os outros frequentadores.

Um dia, apareceu um vendedor com um carrinho de mão cheio de melancias. Doutor Capa Onça pegou uma por uma, batendo com os dedos fechados e ouvindo o som. Escolheu a maior e mais cara. E, para todo mundo ouvir, declarou:

- Sou nascido e criado no interior, no meio das plantações de melancias. Conheço como a palma da minha mão. Só na batida sei se está boa ou não. Malandragem da capital não me engana, não!

Pagou pela melancia e correu para deixa-la em casa. Quando voltou para reiniciar os trabalhos etílicos, o vendedor já tinha “pego o beco”. Minutos depois, a empregada jogou a bendita melancia na calçada, espalhando pedaços para todos os lados. Ela gritou para o quarteirão inteiro ouvir:

- Doutor, a patroa mandou jogar aqui, porque essa melancia está podre!

Doutor Capa Onça soltou um palavrão e admitiu:

- “PQP”! Foi a primeira vez na vida em que errei!

A galera não se conteve da presepada do Doutor Capa Onça. Segundo Adri Das Cruzes, ele tinha a cara de mau, era valentão e que gostava de discutir sobre tudo com todos. Mas, no fundo era uma pessoa de bom coração.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

O SINO DA LEI DA 'CREOLINA'

 

                                                             Foto: José Rocha

Por José Rocha

Ao entrar pelo portão principal do Mercado Adolpho Lisboa, depara-se ao lado direito com um sino sem o badalo (foi retirado pois as pessoas batiam nele constantemente, inclusive eu fiz isso também), que foi colocado naquele local durante a última reforma do 'Mercadão', em 2013.

Ele possui história.

Foi fabricado em Pádua, na Itália, pela Fundição Coleachini, exatamente na Belle Époque manauara, anos de riqueza e opulência, quando a cidade de Manaus encomendava produtos de alta qualidade na Europa.

Ele foi inaugurado em 1903, pelo Superintendente Municipal (Prefeito) da época, Dr. Martinho de Luna Alencar.

Como não existia, na época, sistemas de refrigeração, as carnes frescas de vacum possuíam um prazo mínimo de validade para a venda à população.

Através da Lei 291, de 3 de março de 1903, ficou estabelecido o seguinte: até às nove da manhã o preço da carne seria de mil e quinhentos réis; das nove até às dez, caía para mil réis.

Exatamente às dez horas, os fiscais começavam a tocar o badalo deste sino.

Era a hora da desinfecção das mesas do talho, onde era aplicada a creolina, um germicida e desinfectante
com um odor muito forte.

As pessoas mais pobres esperavam até antes das dez da manhã para comprar carnes a um preço bem reduzido.

Este hábito perdurou por muito tempo, até a chegada dos freezers e congeladores, quando terminou a 'Lei da Creolina'.

Passados 121 anos, este sino encontra-se no Mercadão para que todos os manauaras conheçam a sua história e a da cidade de Manaus.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

O Violão do Rochinha: O Último dos Moicanos

 

Foto: Marcus Gomes


Por dezessete anos, dediquei-me ao nobre ofício de fabricar instrumentos de cordas, auxiliando meu saudoso pai. Dez desses anos foram dedicados a criar meu próprio violão, um sonho que, infelizmente, nunca se concretizou.

Eu dominava apenas o básico da construção, enquanto meu pai cuidava do cavalete, braço e escala. Meu violão ficava impecável: todo boleado, com laterais e fundo de macacaúba, tampo de pinho e braço de cedro. No entanto, sua permanência em minhas mãos era efêmera; meu pai o vendia ao primeiro cliente que aparecia.

Ano após ano, eu desistia de possuir meu próprio violão. Até que, um dia, peguei um instrumento quebrado, colei, lixei e envernizei. Meu pai fez um enxerto no braço, substituindo-o por um pedaço de um “Di Giorgio”. Quando finalmente ficou pronto, levei-o para casa. Era o meu tão sonhado violão.

Incrivelmente, esse violão fez história. Ele é a única lembrança do Luthier Rochinha, com sua assinatura e a data de 1967 gravadas. Hoje, com 57 anos de fabricação, é uma relíquia.

Permita-me compartilhar um pouco da minha história como auxiliar de luthier:

Nasci na década de cinquenta, na Santa Casa de Misericórdia em Manaus. Logo após o nascimento, fui levado diretamente para a oficina de fabricação de violões, que também servia como nossa casa. Cresci imerso no aroma de serragem, vivendo em um flutuante (uma casa sustentada por grandes toros de madeira) no Igarapé de Manaus.

Lá, aprendi a engatinhar e a andar, além de absorver o ofício de fazer violões sob a tutela de meu pai, Rochinha. As técnicas de fabricação de instrumentos de cordas foram transmitidas a ele por um senhor conhecido como Nascimento, proprietário de uma pequena oficina de violões nos porões da Casa Alba, no centro antigo de Manaus. Esse senhor, por sua vez, havia adquirido conhecimentos de um grande mestre português no início do século passado.

Com o desmonte da Cidade Flutuante no final dos anos sessenta, mudamos para uma casa alugada. A oficina foi transferida para os porões da mansão dos Bringel, na esquina da Rua Igarapé de Manaus com a Rua Huascar de Figueiredo. Lá, durante dezessete anos, ajudei meu pai no sagrado ofício de carpinteiro, moveleiro e artesão. Além dos violões, também fabricávamos cavaquinhos, bandolins, portas, janelas, mesas, cadeiras e tamboretes.

Naquela época, a palavra “luthier” não era comum; a profissão de meu pai era conhecida simplesmente como “artesão”. Não tínhamos máquinas poderosas, apenas uma pequena serra elétrica e muitas ferramentas manuais. A criatividade e o suor eram nossos principais recursos.

Minha função era auxiliar, e meu trabalho era árduo. Buscava “bucho de Tambaqui” no Mercado Municipal Adolpho Lisboa para fazer nossa cola (que era excelente para colar madeiras). Serrava peças de macacaúba (uma árvore nativa) para o fundo dos violões. Lembro-me bem da dureza dessa madeira! Realizei muitos exercícios físicos, como serragem, plainagem, envernização e colagem, sem precisar frequentar uma academia de musculação.

Durante anos, meu pai repetia aos amigos que seus filhos não tinham a vocação para o ofício. Na verdade, ele não desejava que seguíssemos sua bela profissão. Seus sonhos para nós eram outros: queria que nos tornássemos “doutores”. Minha rotina era intensa: trabalhava pela manhã e estudava à tarde, sem folgas. As raras horas de lazer eram preenchidas com brincadeiras com a molecada do Igarapé de Manaus, mas sempre com a certeza de uma “peia” ao voltar para casa.

Hoje, recordo com saudade minha infância e adolescência, marcadas pelo trabalho como auxiliar de luthier. Na oficina do meu pai, tive a oportunidade de conhecer cantores, músicos, amantes da boa música, compositores, artistas, jornalistas, poetas e até doutores. Nos fins de semana, eles se reuniam para cantar e tocar os instrumentos do meu velho. Esses encontros me inspiraram a frequentar os locais onde os “Regionais de Manaus” se apresentavam, como os bares Caldeira, Loura, Gestina, Walter e Jangadeiro.

As pessoas frequentemente me questionam por que não segui a bela profissão do meu pai. Confesso que essa dúvida me angustia. Agora, estou seriamente considerando mudar o rumo. Para começar, buscarei orientações dos discípulos do saudoso luthier Rubens Gomes, da Escola de Lutheria da Amazônia (OELA).

Minha ideia é reunir meus irmãos – um contador e um vendedor nato – e eu, um administrador. Juntos, levantaremos recursos junto à Agência de Fomento do Estado do Amazonas, faremos convênios com o INPA na área de madeiras e descobriremos fornecedores de madeiras certificadas com selo verde. Quem sabe assim, ressurgiremos das cinzas com uma nova oficina de violões.

Quanto ao nome, “Di Rocha” parece uma homenagem perfeita ao meu pai. Está na hora de deixar de ser apenas um auxiliar e me tornar um fabricante de violões! Sonhar não custa nada.

Enquanto esse sonho não se concretiza, o último exemplar de violão construído por meu saudoso pai permanece guardado a sete chaves. Ele é o “Último dos Moicanos”.

domingo, 5 de maio de 2024

NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA

 

Por José Rocha

Hoje, 5 de maio, celebra-se o ‘Dia da Língua Portuguesa’, um idioma originário de Portugal e foi disseminado durante a época colonial no Brasil e em alguns países africanos.

Com a chegada do Império Romano à região ibérica, atualmente correspondente a Portugal e Espanha, o Latim Vulgar foi imposto como língua. Após a queda do império, diversos dialetos emergiram, dando origem ao Catalão, ao Castelhano — também conhecido como Espanhol — e ao Português.

A chegada dos portugueses ao Brasil marcou a imposição de sua língua materna. Contudo, ocorreu uma fusão com os idiomas dos povos indígenas e dos escravos africanos, resultando no que hoje conhecemos como Português Brasileiro.

Nossa língua encontra-se em constante evolução. Basta comparar um jornal do início do século passado com este texto para perceber as transformações.

O estrangeirismo, as gírias e o português coloquial são falados informalmente por todos nós. Por outro lado, o português formal é a modalidade padrão, aceita por um público mais exigente, que ainda preserva o formalismo na língua.

Assim como tudo na vida, nossa língua portuguesa também se transforma.

Parabéns pelo seu dia!

Foto: Microsoft Copilot no Bing (IA)


quarta-feira, 1 de maio de 2024

ANIVERSÁRIO DE CLÁUDIO AMAZONAS

 



Por José Rocha

Hoje, primeiro de maio, o bairro de Educandos celebra com entusiasmo, pois marca o aniversário do estimado jornalista e escritor Cláudio Amazonas. Nascido em Manaus, ele é descendente de uma família tradicional da Cidade Alta, carregando consigo os sobrenomes Rezende, de origem açoriana, e Amazonas, nome que evoca as lendárias índias icamiabas e que também denomina um dos maiores rios do mundo e o maior estado do Brasil.

Cláudio foi laureado duas vezes no Concurso “Prêmio Literários da Cidade de Manaus”, promovido pelo Conselho Municipal de Cultura (Concultura), reconhecido nacionalmente na categoria de jornalismo literário.

Cláudio estudou Biblioteconomia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Amazonas, graduou-se em Teologia pela FATEBOV e iniciou uma pós-graduação em Docência do Ensino Superior.

No serviço público, ocupou cargos como Secretário do Serviço de Loteria do Estado, Assistente Administrativo da Companhia de Eletricidade de Manaus - CEM, chefe do setor de Comunicações, secretário-geral e diretor-administrativo da Celetramazon, entre outros. Foi suplente de Deputado Estadual e diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas.

Conhecido por seu espírito boêmio desde a juventude, Cláudio cultivou amizades com artistas renomados, tanto nacionais quanto internacionais. Foi grande amigo de Getúlio Dionísio de Castro, a primeira voz do Trio Tropical, que alcançou sucesso com o disco “Adelante” a partir de 1960, e dos integrantes do Trio Cristal, frequentes hóspedes em sua residência em Manaus.

Como músico, Cláudio se destacou individualmente e como membro de um trio formado em 1958, que ganhou notoriedade com a inclusão de Carlos Enrique Gengifo Grandez, o “Kiko”, um dos mais talentosos guitarristas da América do Sul. O Trio Meridional, com Klinger Ferreira Dantas (primeira voz), Roosevelt Rego Lopez (segunda voz e segunda guitarra) e “Kiko” (terceira voz e solista), acompanhou o cantor internacional Pedrito, conhecido como El Ruiseñor del Amor, em uma memorável apresentação na TV Educativa em 23 de março de 1985, alcançando grande sucesso e se apresentando em diversos palcos.

 

Homenagem a Cláudio Amazonas

Nutro um profundo respeito por Cláudio Amazonas e sou eternamente grato pela revisão meticulosa que ele realizou em meu e-book “Igarapé de Manaus”, que será publicado em breve. Sua contribuição foi essencial para aprimorar a obra, garantindo que cada detalhe refletisse a essência da narrativa.

Parabéns, Cláudio Amazonas, pelo seu aniversário e por todas as suas realizações!

sexta-feira, 26 de abril de 2024

SECOS & MOLHADOS

 


CARRÃO DOS SONHOS

José Rocha

Num belo sábado de sol, decidi que era um ótimo dia para exercitar minhas pernas e minha capacidade de sonhar acordado. Lá fui eu, pela Avenida Djalma Batista, quando me deparei com uma concessionária de veículos tão luxuosos que até o ar lá dentro era importado. Resolvi entrar, não para comprar, mas para dar uma de turista em terra de carrão.

Ao entrar, vi um carro tão brilhante que quase precisei de óculos escuros. Era um veículo que só os "Top das Galáxias" poderiam comprar, ou seja, não eu. Um vendedor, todo engomadinho e com um sotaque de paulista do interior, veio ao meu encontro como se eu fosse o "Barão do Bitcoin". Ele sorriu tanto que eu quase pedi para ele me passar o contato do dentista dele.

- Bom dia, senhor! Posso ajudá-lo?

- Oi, quanto custa para dar uma espiadinha? - perguntei, só para ver a cara dele.

- Claro, fique à vontade! Se precisar de algo, estou por aqui. - ele respondeu, já calculando a comissão que não iria ganhar.

- Esse carro é o da minha lista de "coisas para comprar quando eu ganhar na loteria". Quanto custa?

- Ah, esse pequeno milagre da engenharia? Com um desconto especial de cem mil reais, sai por apenas quatrocentos e sessenta e nove mil!

Comecei a fazer as contas em voz alta: meu carro velho vale uns nove mil... Se eu vendesse a alma, talvez conseguisse mais uns sessenta mil emprestado no ‘Banco Tamborete da Praça’, para pagar em sessenta suaves prestações. E os outros quatrocentos mil? Bom, quem sabe na próxima vida eu reencarne como filho do Elon Musk.

- O senhor está brincando, né? - ele perguntou, já sem esperanças.

Antes que eu pudesse responder, ele saiu de fininho, provavelmente pensando em me mandar para Marte com um foguete da SpaceX.

E como diz a escola de samba Mocidade de Padre Miguel:

“Sonhar não custa nada

O meu sonho é tão real.

Estrela de luz

Que me conduz

Estrela que me faz sonhar”

E assim, meu amigo, um carrão daqueles só mesmo no país dos sonhos!

Observação: Texto corrigido pela Inteligência Artificial (IA) e fotografia estilizada gerada pela IA da Microsoft Copilot Bing.


 

ITACOATIARA, A CIDADE DA PEDRA PINTADA

A cidade de Itacoatiara, a terceira mais populosa do Amazonas, com mais de cem mil habitantes, tem um nome indígena devido à descoberta de uma pedra pintada com inscrições em tupi, daí ser conhecida como a Cidade da Pedra Pintada (ita = pedra / coatiara = pintado, gravado, escrito). Anteriormente chamada Serpa em homenagem a Nossa Senhora do Rosário de Serpa, foi posteriormente renomeada com seu nome original. Localizada a cerca de 267 quilômetros por rodovia (AM-10) de Manaus, faz parte da Região Metropolitana de Manaus.

Tenho um carinho especial por Itacoatiara e já compartilhei muitas fotos antigas e atuais em nosso BLOGDOROCHA, disponível em http://www.jmartinsrocha.blogspot.com/.

Lembro-me da minha primeira visita a essa bela cidade quando tinha cerca de dezenove anos. Na época, trabalhava em uma empresa de importação em Manaus e fiz amizade com o pessoal do setor de câmbio do London Bank, na Rua Guilherme Moreira (atual Top Internacional). Eles estavam organizando uma excursão para passar um final de semana em Itacoatiara, e eu aceitei imediatamente.

Viajei com meu compadre Klinger, conhecido como “Peninha”, um excelente intérprete da música popular brasileira, principalmente do samba-canção, e meu amigo Kleber, um talentoso músico que tocava violão maravilhosamente bem. Formamos um grupo muito unido e aproveitamos ao máximo o final de semana prolongado. Foi uma experiência animada e inesquecível, e guardo com carinho as lembranças da minha primeira vez na cidade, incluindo algumas fotografias tiradas lá e durante nossa passagem pelo Rio Urubu.

Também me lembro da primeira vez que fui ao Festival da Canção de Itacoatiara (FECANI), um evento anual em setembro que descobre novos talentos musicais da região Norte. Fiquei hospedado na casa de um casal amigo, Isaac (ou “Louro”, como é conhecido pelos íntimos) e Nety, que hoje moram em Boa Vista (RR). Tive a oportunidade de conhecer melhor a cidade, visitar diferentes bairros, fazer novas amizades e explorar a vida noturna local. Fiquei fascinado com os prédios antigos, já que tenho um interesse especial por história. Assim como Manaus e Belém, Itacoatiara teve seu auge durante o ciclo da borracha.

Espero que as autoridades municipais, em colaboração com o IPHAN, possam revitalizar o centro histórico da cidade. Imaginem uma Itacoatiara restaurada, com sua beleza única à beira do Rio Amazonas, e seu povo acolhedor. Seria um destino turístico popular durante todo o ano para visitantes nacionais e estrangeiros.

A foto acima mostra a "Praça do Relógio" e uma famosa casa da aviação do início do século passado. Não tenho certeza se a praça ainda existe, pois faz muitos anos que não visito Itacoatiara, mas o casarão antigo ainda está de pé, como pude observar em minhas viagens de barco para Parintins. Estou ansioso para voltar a Itacoatiara, a cidade da pedra pintada, talvez no próximo FECANI.

Feliz Aniversário, Pedra Pintada!

 

CAUSOS DE PESCADOR

Por José Rocha (o pescador mais sortudo – ou não – do pedaço)

Dizem que pescador que é pescador tem mais histórias que peixe na rede, e eu não sou exceção. Minhas pescarias são tão épicas que até o peixe sai da água só pra ouvir melhor.

Numa bela manhã de sol, fui pescar no Careiro da Várzea, mais precisamente no Lago dos Reis – que de rei mesmo só tinha o nome, porque peixe que é bom... bom, vamos ao que interessa. Lá estava eu, sozinho na canoa, quando avistei um Poraquê, o famoso Peixe Elétrico. Ele estava tão parado que parecia estar carregando a bateria.

Cheguei de mansinho, toquei no rabo dele e... nada. "Ué, deve estar desligado", pensei. Tentei a cabeça e também nada. Aí, com a sabedoria de um verdadeiro cientista, peguei na cabeça e no rabo ao mesmo tempo, esperando aquele choque que faria meu cabelo parecer um ouriço. E adivinha? Nada! "Esse peixe tá mais pra lâmpada queimada", concluí.

Coloquei o bicho no banco da canoa e, com uma faca que cortava até pensamento, abri seu bucho. E não é que dentro dele tinha três contas atrasadas da Amazonas Energia? O pobre coitado estava com o fornecimento cortado! Nenhum choque porque o Poraquê estava no escuro, literalmente.

E não para por aí. Outro dia, eu e meu comparsa Pedrão estávamos no mesmo lago. Ele jogou a tarrafa, e ela ficou presa no fundo. "Rocha, a rede tá dançando mais que forró em festa junina", ele disse. "Deve ter um 'Traca' ou um baile deles lá embaixo". Sem pensar duas vezes, mergulhei e... surpresa! Não era um 'Traca', mas sim três 'Jacas' – e não estou falando de frutas, mas de jacarés!

Voltei e gritei: "Pedrão, prepara o tempero que o almoço vai ser crocante!" Puxamos a rede e os jacarés, que mais pareciam bolsas de luxo em potencial, entraram na canoa como se fossem convidados de honra.

E assim, meus amigos, termina mais um causo do José Rocha, o pescador que, se não pega peixe, pelo menos pega boas histórias.

 

FACHADAS DAS CASAS

José Rocha

Um amigo me mostrou uma foto de uma casa antiga e ficou surpreso com a beleza da fachada, perguntando por que não construímos mais assim. Respondi:

- No final do século dezenove e até o final da década de 10 do século vinte, as residências das famílias abastadas e o comércio do centro antigo eram meticulosamente projetados, com uma equipe de profissionais especializados, muitos deles europeus, já que Manaus aspirava ser uma "Paris dos Trópicos". Um exemplo notável é a casa da família Biasi, uma verdadeira joia localizada na Avenida Eduardo Ribeiro. Até a década de sessenta, ainda éramos capazes de construir casas belas, bem elaboradas e com jardins, como a Casa da família do Dr. Arlindo Frota, na Praça do Congresso. Com o tempo, houve uma perda de apreço estético e passaram a ser erguidas apenas estruturas monótonas, como o caso de uma loja próxima ao Ideal Clube. Tudo mudou, para pior, é claro.

*O BRANCO & O ZÉ MUNDÃO DE MANAUS*

*Por José Rocha*

Este relato faz parte do meu livro 'Vila Paraíso', ainda em prelo, que espero um dia publicar.

Meu vizinho Damião, mais conhecido como Branco, partiu para o andar de cima ontem. A tristeza tomou conta dos moradores da Vila Paraíso, pois ele era uma pessoa boa e muito amada por todos. Era alguém que realmente fazia a diferença. Em vez de chorar pela perda do meu amigo, escolhi contar uma história que vivi com o Branco na nossa juventude, uma forma de homenageá-lo com sorrisos, não lágrimas.

"A turma do Zé Mundão, que incluía o Damião Branco, Bola, Bira, Getúlio e Faraó, era o coração do carnaval. Eles eram parte do bloco Unidos da Getúlio Vargas, onde o Zé tentava comandar o espetáculo, mas o Mestre Bola, um negão de puro samba no pé e uma barriga que precedia sua fama, não deixava por menos. 'Zé Mundão, para de bagunçar o samba, senão vou te ensinar a dançar com uns bons sopapos!' Mas o Zé, escorregadio que só, retrucava: 'Tudo bem, mas se eu sair, levo a cerveja do Bira e a turma toda comigo!' Diante dessa ameaça, o Mestre Bola dava uma aliviada.

No dia do desfile na Avenida Eduardo Ribeiro, o Zé só encontrava o ritmo após embalar-se com o conhaque 'Padrinho Acrísio', uma bebida tão potente que fazia o guaraná Baré parecer água.

O Zé e seu Fusquinha '75, apelidado de 'Suado', eram figuras conhecidas nos recantos mais peculiares da cidade, mas só se aventuravam quando o dinheiro permitia, pois o Zé era conhecido por segurar cada centavo.

Numa noite, ele e o Branco decidiram ir ao bordel, mesmo sem um tostão no bolso, mas a sorte lhes sorriu com um achado inesperado: um maço de dinheiro no chão do banheiro do Posto Cinco. Com os bolsos recheados, rumaram para o Piscina Club, onde o Zé se transformou em um seringalista da belle époque, esbanjando cerveja e churrasco como se fosse seu último carnaval.

No bordel, o Zé e o Branco foram cortejados por duas 'donzelas', que logo perceberam que o Zé estava 'armado' financeiramente e começaram a pedir luxos e mimos. Uma delas sugeriu que fossem para a casa dela, prometendo um ambiente mais confortável. E assim fizeram: os quatro embarcaram no 'Suado' e seguiram para a Rua da Cachoeira, no bairro de São Jorge, um local mais tranquilo e abençoado que o altar de uma igreja.

Antes de partirem, o Branco sugeriu ao Zé esconder metade do dinheiro sob o tapete do carro, desconfiados da índole das moças. Num momento de lucidez, o Zé concordou com o conselho do amigo leal.

Ao chegarem, perceberam que a casa era muito pior que os quartos do bordel. Mas o que importava era aproveitar a companhia das moças e gastar o dinheiro que não era deles.

A festa foi interrompida abruptamente quando alguém bateu na porta com força. A 'princesa' do Zé alertou: 'É meu marido, e ele é perigoso! Fujam pelo quintal, peguem o carro e sumam daqui antes que ele os encontre!'

Os dois amigos escaparam por um triz e, ao conferirem os bolsos, perceberam que todo o dinheiro havia desaparecido. Então se lembraram do conselho do Branco: a outra metade do dinheiro estava segura sob o tapete do Fusca. Com os bolsos novamente cheios, eles tinham agora uma história incrível para contar por muitos anos nos bares da Vila Paraíso.

Voltando ao presente, imagino que o Branco esteja rindo lá de cima dessas aventuras que estou compartilhando. Um abraço, meu amigo Branco, e obrigado pelos bons momentos que compartilhamos aqui na Terra. Conte essas histórias aí no céu para os malucos da Vila Paraíso que se foram antes de você, incluindo o Lapinha, Taca, Nascimento, Deusa, Rocha do Violão, Seu Quirino, Dona Baia, Walder, Boa, Mestre Álvaro, Ulisses Doido, Durval, Graça e tantos outros."

quinta-feira, 18 de abril de 2024

FESTART – FESTIVAL DE ARTES INTEGRADAS – AUTAZES 2024

 


Nos dias 19, 20 e 21 de abril, acontecerá um grande evento em Autazes, cidade do interior do Amazonas, com Teatro, Música, Dança, Literatura e Artes Visuais, na Quadra Pe. Tiago Perrault, do colégio GM3, com shows de Ellen Fernandes, Torrinho, Dj Dennys Costa e Artistas Locais, um evento contemplado no edital da Lei Paulo Gustavo 2023.

Segundo o jornalista Evaldo de Souza: “Durante todo o FestArt Autazes, o grande homenageado será o poeta, compositor e músico Flávio de Souza, 94, autor do Hino do município. Flávio de Souza foi escolhido pela curadoria do Festival pelo seu legado artístico e cultural para o Amazonas e para Autazes, tendo ainda construído uma trajetória de sucesso no futebol amazonense. Em 2021, o escritor José Rocha lançou o livro biográfico ‘Flávio de Souza, uma vida feita de futebol e música’.”

Flávio de Souza não poderá ir ao evento, mas nomeou um representante, o jornalista e escritor Evaldo Ferreira, que irá ler uma carta de agradecimento emocionante.

Segundo Mário Fernando, secretário de Turismo de Autazes: “Na cidade de Autazes, temos como atração a Agrofazenda Paiva e o laticínio Autalac, que produzem vários derivados do leite. O nosso cartão-postal é a praça da Cidade onde está localizada a igreja de São Joaquim e Sant’Ana, os padroeiros do município, cuja festa em sua honra acontece em agosto.”

Para chegar lá, os visitantes podem ir de barco, atravessar na balsa no Porto da Ceasa, seguir pela BR-319 até chegar na AM-254, que se estende por 94 quilômetros até o porto da balsa que leva até o porto de Autazes.



sábado, 6 de abril de 2024

*O BRANCO & O ZÉ MUNDÃO DE MANAUS*

 


*Por José Rocha*

 

Este relato faz parte do meu livro 'Vila Paraíso', ainda em prelo, que espero um dia publicar.

Meu vizinho Damião, mais conhecido como Branco, partiu para o andar de cima ontem. A tristeza tomou conta dos moradores da Vila Paraíso, pois ele era uma pessoa boa e muito amada por todos. Era alguém que realmente fazia a diferença. Em vez de chorar pela perda do meu amigo, escolhi contar uma história que vivi com o Branco na nossa juventude, uma forma de homenageá-lo com sorrisos, não lágrimas.

"A turma do Zé Mundão, que incluía o Damião Branco, Bola, Bira, Getúlio e Faraó, era o coração do carnaval. Eles eram parte do bloco Unidos da Getúlio Vargas, onde o Zé tentava comandar o espetáculo, mas o Mestre Bola, um negão de puro samba no pé e uma barriga que precedia sua fama, não deixava por menos. 'Zé Mundão, para de bagunçar o samba, senão vou te ensinar a dançar com uns bons sopapos!' Mas o Zé, escorregadio que só, retrucava: 'Tudo bem, mas se eu sair, levo a cerveja do Bira e a turma toda comigo!' Diante dessa ameaça, o Mestre Bola dava uma aliviada.

No dia do desfile na Avenida Eduardo Ribeiro, o Zé só encontrava o ritmo após embalar-se com o conhaque 'Padrinho Acrísio', uma bebida tão potente que fazia o guaraná Baré parecer água.

O Zé e seu Fusquinha '75, apelidado de 'Suado', eram figuras conhecidas nos recantos mais peculiares da cidade, mas só se aventuravam quando o dinheiro permitia, pois o Zé era conhecido por segurar cada centavo.

Numa noite, ele e o Branco decidiram ir ao bordel, mesmo sem um tostão no bolso, mas a sorte lhes sorriu com um achado inesperado: um maço de dinheiro no chão do banheiro do Posto Cinco. Com os bolsos recheados, rumaram para o Piscina Club, onde o Zé se transformou em um seringalista da Belle époque, esbanjando cerveja e churrasco como se fosse seu último carnaval.

No bordel, o Zé e o Branco foram cortejados por duas 'donzelas', que logo perceberam que o Zé estava 'armado' financeiramente e começaram a pedir luxos e mimos. Uma delas sugeriu que fossem para a casa dela, prometendo um ambiente mais confortável. E assim fizeram: os quatro embarcaram no 'Suado' e seguiram para a Rua da Cachoeira, no bairro de São Jorge, um local mais tranquilo e abençoado que o altar de uma igreja.

Antes de partirem, o Branco sugeriu ao Zé esconder metade do dinheiro sob o tapete do carro, desconfiados da índole das moças. Num momento de lucidez, o Zé concordou com o conselho do amigo leal.

Ao chegarem, perceberam que a casa era muito pior que os quartos do bordel. Mas o que importava era aproveitar a companhia das moças e gastar o dinheiro que não era deles.

A festa foi interrompida abruptamente quando alguém bateu na porta com força. A 'princesa' do Zé alertou: 'É meu marido, e ele é perigoso! Fujam pelo quintal, peguem o carro e sumam daqui antes que ele os encontre!'

Os dois amigos escaparam por um triz e, ao conferirem os bolsos, perceberam que todo o dinheiro havia desaparecido. Então se lembraram do conselho do Branco: a outra metade do dinheiro estava segura sob o tapete do Fusca. Com os bolsos novamente cheios, eles tinham agora uma história incrível para contar por muitos anos nos bares da Vila Paraíso.

Voltando ao presente, imagino que o Branco esteja rindo lá de cima dessas aventuras que estou compartilhando. Um abraço, meu amigo Branco, e obrigado pelos bons momentos que compartilhamos aqui na Terra. Conte essas histórias aí no céu para os malucos da Vila Paraíso que se foram antes de você, incluindo o Lapinha, Taca, Nascimento, Deusa, Rocha do Violão, Seu Quirino, Dona Baia, Walder, Boa, Mestre Álvaro, Ulisses Doido, Durval, Graça e tantos outros."