terça-feira, 29 de março de 2016

NOS TRILHOS DOS BONDES DE MANAUS


Com os trabalhos de revitalização da Avenida Eduardo Ribeiro, apareceram os antigos trilhos dos bondes que circulavam em Manaus, mostrando para os manauaras e turistas um pouco da nossa história que estava enterrada em nome do progresso.

A nossa cidade foi uma das ricas do Brasil, em decorrência da maciça exportação de borracha “in natura”, no final do século dezenove e inicio do vinte - com os cofres cheios, foi possível embelezar a cidade nos moldes das europeias, dotando de redes de energia elétrica e a implantação dos bondes.

Os elétricos circularam precariamente depois da Segunda Guerra e desaparecendo no final da década de quarenta, sendo substituídos por ônibus de madeira. O governador Plínio Coelho, ainda tentou voltar uma linha em 1957, mas foi em vão, deixando apenas os trilhos para contar a história.

Em nome do progresso, foram colocados camadas de asfalto nas ruas de Manaus, enterrando os trilhos dos bondes e as pedras de paralelepípedos e de jacaré.

Com a revitalização do Largo de São Sebastião(Teatro Amazonas/Praça e a Igreja de São Sebastião), a Secretaria de Cultura (SEC) recuperou e deixou amostra para as novas gerações parte do calçamento de pedras de paralelepípedos da Rua José Clemente e dos trilhos que circundam a Praça.


Os trilhos das esquinas da Avenida Eduardo Ribeiro/Rua Dez de Julho e da Praça de Sebastião faziam parte de duas linhas de bondes para o“Plano Inclinado/Fábrica de Cerveja” (Miranda Corrêa, fabricante da cerveja XPTO), no bairro de Aparecida.


Os bondes saiam da Praça XV de Novembro (atual estacionamento do Porto de Manaus, na antiga Booth Lines), percorriam a Rua Rocha dos Santos (prédio da Alfândega), Rua dos Andradas, entrando na Rua Doutor Moreira até a Praça da Polícia, depois, Rua Rui Barbosa (ao lado Colégio Estadual) até a Rua Saldanha Marinho, Rua Costa Azevedo, Largo de São Sebastião, a esquerda da Rua Dez de Julho, Alexandre Amorim, e Rua Wilkens de Matos, chegando ao Plano Inclinado (na Fábrica de Cerveja Miranda Correa).

Existia outra linha mais curta para o Plano Inclinado, com o bonde subindo a Avenida Eduardo Ribeiro, dobrando a esquerda na Rua Dez de Julho.

Existe um projeto engavetado na Secretaria de Cultura do Amazonas, no qual os bondes voltariam a circular num pequeno trecho, saindo do Porto de Manaus (Roadway), subindo a Avenida Eduardo Ribeiro até o Largo de São Sebastião, destinado, em parte, aos turistas vindos dos transatlânticos.

Conheço os bondes apenas por fotografias antigas e, viajo neles através dos relatos escritos nos livros do Mario Ypiranga, Jefferson Péres, Thiago de Melo e outros escritores amazonenses.


Por hora, contento-me em caminhar pelos trilhos dos bondes de Manaus, que aos poucos vão sendo desenterrados e, fico na esperança de um dia voltarem a circular pelo centro histórico da nossa cidade. É isso ai.

sexta-feira, 25 de março de 2016

120 ANOS DA PONTE ROMANA I


Situada a Avenida Sete de Setembro (antiga Rua Municipal), entre as ruas Igarapé de Manaus e Major Gabriel, na cidade de Manaus, conhecida pelos manauaras como “Primeira Ponte”, por existirem naquele logradouro mais outras pontes – está completando, em 2016, cento e vinte anos de construção, requerendo um maior respeito e cuidado por parte das nossas autoridades governamentais.

Naquele local, existia o Igarapé de Manaus e, quando da enchente do Rio Negro, as suas águas límpidas invadiam toda aquela área - tempos bons que ainda alcancei.

Para o acesso dos bondes elétricos pela antiga Rua Municipal até o bairro da Cachoeirinha (o ponto final e garagem dos bondes ficava onde é hoje a sede da Amazonas Energia), foi necessária a construção dessa ponte e outras mais ao longo do percurso (Ponte Marechal Deodoro, Romana II ou Segunda Ponte; Ponte Benjamin Constant, Ponte de Ferro ou Terceira Ponte) - existia a Ponte Romana III, para acesso ao bairro de Educandos, essa foi destruída em nome do progresso pelo governo do Amazonas através do PROSAMIM.

A ponte foi edificada pelo então governador do Amazonas, o maranhense Eduardo Ribeiro (1892-1896), em substituição a uma precária ponte de madeira - recebendo essa denominação de “Romana” por ter a forma das pontes de arquitetura romana, caracterizadas pelos seus arcos plenos.

Foi inaugurada em 1896 (o mesmo ano da inauguração do Teatro Amazonas), recebendo o nome oficial de Ponte Floriano Peixoto (esse nome não vingou pela população), em homenagem ao vice-presidente que se tornou Presidente da República, em 1891, em decorrência da renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca (o primeiro presidente da República).

O governador Eduardo Ribeiro, apelidado de “O Pensador” (um jornal maranhense onde ele escrevia), era um militar/engenheiro que, na sua juventude, lutou muito para a queda da monarquia e a implantação da forma republicana de governo (ocorrida em 15 de novembro de 1889), gostava de colocar os nomes de militares republicanos nas obras em que ele inaugurava.

A sua construção ficou a cargo do engenheiro civil Miguel Ribas - possuindo 230 metros de vão, 15 de largura e uns vinte de altura (parte foi aterrada pelo PROSAMIM), com o passeio público em pedras de Lioz e gradis de proteção (guarda-corpo?) em ferro fundido, importados da Europa - possui três arcos que serviam para passagem de barcos quando da cheia do rio.

Na lateral que fica para o Parque Jefferson Péres ainda estão dois leões e três tubos de ferro (a do outro lado foram retirados), onde jorravam as águas das chuvas -, na minha adolescência, descia pela lateral da ponte segurando pelas suas extremidades e, equilibrando nesses canos, pulava dentro do rio.

Existem duas placas em ambos os lados, de mármore branco (originais, comemorativa da inauguração da ponte), com os seguintes dizeres:

 “CONSTRUÍDA - NA ADMINISTRAÇÃO - DO GOVERNADOR EDUARDO GONÇALVES RIBEIRO - EM 1896”

Por lá passavam os bondes (desativados na década de cinquenta) da linha Cachoeirinha, como mostra a fotografia antiga – caso forem retirados o asfalto, acredito que ainda poderemos encontrar as pedras de paralelepípedos e os trilhos, assim como foram encontrados na Avenida Eduardo Ribeiro com a Rua Dez de Julho.

Com a finalidade de facilitar o escoamento de contêineres do Porto de Manaus até o Distrito Industrial, o governo aterrou vários igarapés do centro de Manaus, construindo a tal “Manaus Moderna”, dando o nome de Avenida Lourenço Braga.

Foram represadas as águas da cheia do Rio Negro que, outrora, invadiam todo o Igarapé de Manaus. Atualmente, jorra apenas um pequeno córrego de águas vindas da sua nascente que fica por detrás da sede da TV Cultura, na Praça 14 de Janeiro (ainda existe uma baixada que termina no Rio Negro, onde era o leito do rio), misturadas com as pluviais e os dejetos das casas e conjuntos habitacionais.

Para a construção do Parque Desembargador Paulo Jacob (antigo morador da Rua Major Gabriel) e do Parque Senador Jefferson Péres (Senador do Amazonas e antigo morador da Rua Huascar de Figueiredo), pelo PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus), o governo do Estado aterrou praticamente toda a Ponte Romana I, deixando no fundo parte da nossa história.

Por ter sido morador daquela área na minha infância e adolescência, guardo boas lembranças daqueles tempos bons, onde eu e a molecada do igarapé de Manaus passávamos parte do nosso tempo de lazer pulando da ponte (na cheia do rio), nadando, pescando e passeando entre os seus arcos.

No futuro, caso tenhamos um governo mais sensível com a nossa história, a Ponte Romana I deveria ser desenterrada, abrindo os arcos para passagem das pessoas para acesso a ambos os parques, com portões de proteção ao Parque Senador Jefferson Péres, pinturas em cores originais e iluminação cênica.

Nesse ano de 2016, a Primeira Ponte está completando 120 anos de construção e, devido a um grande trabalho de engenharia civil do final do século dezenove e visão de futuro, continua firme e forte, suportando até os tempos atuais um trânsito bastante pesado.

A Ponte Romana Primeira
Por ficar próximo ao antigo Palácio do Governo
Possuindo história e grande beleza
Não pode continuar enterrada e esquecida
Pela atual realeza (governantes)


É isso ai.

quarta-feira, 23 de março de 2016

AS DIVAS DO BAR CALDEIRA




O Bar Caldeira, localizado na esquina das ruas Lobo D`Almada e José Clemente, centro antigo de Manaus, cultiva desde a década de sessenta, o gosto pela nossa boa música brasileira e, mantêm coeso e sempre renovado, até os dias atuais, um grupo de amigos músicos e cantores, destacando-se quatro mulheres cantoras que são conhecidas como as divas do bar, ídolos de várias gerações de amazonenses.  

No final dos anos oitenta, eu tinha uma missão de ir buscar o meu filho mais velho, o Alexandre Soares, no Colégio Dom Bosco, sempre as sextas-feiras e, por ele gostar de jogar futebol de salão com os outros coleguinhas, no horário das cinco às sete da noite, aproveitava para frequentar o Bar Caldeira – o que me chamava muito atenção era um grupo de músicos e cantores que davam um show naquele lugar, porém, não fiz amizade praticamente com ninguém, pois o meu filho estudou apenas um ano naquela instituição de ensino.

Passados muitos anos, acredito que foi em 2006, comecei a frequentar regularmente aquele famoso bar e, tive o prazer de rever e fazer amizades com os remanescentes daqueles músicos e cantores - o dia preferido para ouvi-los, sem duvida, era aos domingos, quando o recinto era liberado totalmente para as suas apresentações.

Quatro mulheres brilhavam com as suas maravilhosas vozes: Graça Silva (Delegada, cantora e compositora), Celestina Maria (cantora e compositora), Kátia Maria (A Rainha do Rádio, rádio Difusora) e Nazaré Lacouth (A Estrelíssima do Rádio, rádio Rio Mar), que ficaram para a história do bar como “As Divas do Bar Caldeira” – sendo a Kátia Maria a primeira mulher a frequentar o estabelecimento, com direito a uma placa na “Calçada da Fama”.
Durante anos, escrevi e tirei fotos delas para publicação no nosso humilde blog, o que de alguma forma, serviu e, ainda serve, como fonte de pesquisas para o pessoal da imprensa que sempre gosta de homenageá-las.

Exemplos de postagens:

 
Esse grupo de músicos e cantores (as) ficou conhecido como “A Velha Guarda Caldeirense” e, ainda se apresentam aos domingos, no horário das cinco às sete da noite.

O Canal AmazonSat (44), no Programa Documentos da Amazônia, do historiador Abrahin Baze, fez documentários sobre a Kátia Maria e a Nazaré Lacut - outro programa, denominado “Amazonas Mulher” fez uma bela homenagem a Celestina Maria, que também recebeu um emocionante tributo na Escola de Samba Vitória Régia.

A Doutora Graça Silva sempre é requisitada para dar entrevistas nas rádios, jornais e televisão, além de receber inúmeras homenagens pela sua brilhante atuação como delegada de policia civil.

Recentemente, assisti a homenagem que o AmazonSat fez a cantora Nazaré Lacouth – fiquei feliz, pois o apresentador publicou algumas fotografias que tirei e, ainda leu alguns trechos que escrevi em nosso blog (apesar dele não ter me dado os créditos).

Parabéns a Graça Silva, Celestina Maria, Kátia Maria e a Nazaré Lacouth – que continuem por longos anos cantando e encantando para os seus fãs de Manaus – elas são As Divas do Bar Caldeira. É isso ai.

terça-feira, 15 de março de 2016

O ESPORTE AQUÁTICO “SUP” ATUAL E DE ANTIGAMENTE


Os atuais jovens manauaras, das classes média e alta (antigamente, apelidávamos de “filhinhos de papai”), pegaram o gosto por um esporte caro que, antigamente, era o mesmo praticado pela minha “turma” pobre e remediada da Rua Igarapé de Manaus – mudaram apenas os equipamentos, mas, continua o mesmo daqueles tempos bons!


É isso mesmo! Vamos nessa, tentar fazer uma comparação entre a prática desse esporte dos tempos atuais e da minha época e, também, fazer um pequeno passeio pela nossa história.


Atualmente:


Os jovens “bacanas” (incluindo a minha filha Amanda Soares, que é odontóloga/militar), gostam de praticar o “Stand Up Paddle” (remar em pé numa prancha) mais conhecido por “SUP” (supi).


A nossa Manaus em nome do “progresso” aterrou os seus igarapés e poluiu os demais, deixando-os como “esgotos a céu aberto” – forçando os jovens a buscarem lugares mais longínquos para praticarem o “SUP” e outros esportes náuticos.


Um dos lugares preferidos por eles é a desembocadura da “Bacia do Tarumã”- por incrível para pareça, esse local foi onde habitava a tribo dos Manaós (Mãe dos Deuses), que deu origem ao nome da nossa cidade Manaus, por sinal, todo manauara gosta de tratar os outros confrades, culturalmente, por mano ou mana.


Colocam no rio os seus brinquedinhos caros ou são alugados nas Marinas ou nos “Flutuantes” (esses são da minha época, porém, em nova versão).


O SUP é uma prancha quase igual a dos surfistas do Havaí. Em Manaus não temos mar salgado, porém, o Mar Dulce é aqui!


Tem uma quilha para orientar na navegação, onde o camarada fica em pé e, com um remo longo de plástico e alumínio, coloca toda a sua força muscular de sua juventude para passear e apreciar a natureza, paquerar e descarregar a sua adrenalina!


Os militares botaram a boca no trombone:


“A Rádio Marinha FM 99,9, avisa: Senhores navegantes - tenham muito cuidado com os praticantes de SUP -por não possuírem sinalização, passem em uma distância razoável, evitando provocar marolas. Praticantes de SUP- usem coletes salva-vidas e evitem passar onde existem cargas e descargas de barcos e navios - a segurança vem em primeiro lugar”.


Marola é um termo utilizado pelos confrades que já moraram no Rio de Janeiro – eu e o meu irmão Henrique Martins já moramos, uma temporada, por lá, mas, sempre falamos banzeiro, pois somos cabocos da gema.


No passado:


Quando não existia a tal “Manaus Moderna” (com o aterro dos Igarapés de Manaus e do Mestre Chico) - na enchente dos rios, as águas do Rio Negro invadiam toda aquela área que, atualmente, compõem o “Parque Jéferson Péres” e o “Parque do Mestre Chico”, entre as Pontes Romanas I e II e a Ponte de Ferro (Ponte Benjamin Constant)– era o local onde praticávamos esportes náuticos!


É isso mesmo, meu jovem! 


E éramos todos pobres! De bens materiais, talvez... - porém, ricos em alegria, de amor pela nossa cidade, pela natureza e, felizes pelo nosso Igarapé de Manaus! 


O lance era o seguinte: 


Cada jovem da nossa rua possuía uma boia (pequena tora de árvore que vinha na enchente do Igarapé de Manaus e,era adotada por cada um) – aos domingos, gostávamos de praticar o nosso esporte náutico.


Era conhecida como brincadeira de Boia, onde ficávamos em pé se equilibrando para não cair no rio e, com um remo longo (pedaço fino da madeira), remávamos com toda a nossa força muscular da nossa juventude, para passear e apreciar a natureza, paquerar e descarregar a nossa adrenalina!


Era puro esporte, pois íamos remando,numa boa,até a “Ilha do Caxangá” (ficava no atual Estaleiro Nilo Coutinho, na Avenida Lourenço Braga).


A nossa volta era complicada, pois todos estavam cansados e, não era fácil competir com as “voadeiras" e os barcos regionais - além da fome, ainda tínhamos que escutar toda aquela bronca dos nossos pais. Tempos bons!


Parodiando os militares da Marinha:


“A Rádio Cipó FM 171, avisa: Senhores navegantes: tenham muito cuidado com os praticantes de Boia, passem em uma distância razoável para não provocarem banzeiros, pois eles não possuem sinalização. Praticantes de Bóia: usem câmara de pneus salva-vidas, evitem passar onde existem carga e descarga de barcos, navios e de catraias - a segurança vem em primeiro lugar”.


É mano velho, o SUP atual é a mesma BOIA da nossa infância e adolescência, mudaram apenas os equipamentos e o nome, mas, continua o mesmo daqueles tempos bons!


É isso ai.

terça-feira, 8 de março de 2016

A PESCARIA E A CALDEIRADA DE PEIXE

     
Ao olhar um quadro do artista plástico Ignácio Evangelista, onde aparece um barco regional e uma canoa, singrando o Rio Amazonas, viajei no tempo e, lembrei-me de uma pescaria que fiz em tempos idos, na companhia de alguns amigos, para uma Comunidade do Lago do Janauari (árvore da terra), onde uma caldeirada de peixe servida por outros pescadores foi a culpada em desencorajar a nossa pescaria.

O Nego Pedro era meu vizinho da Vila Paraíso (entre a Avenida Getúlio Vargas e a Rua Tapajós), ele era um cara viciado em pescarias, não perdia um final de semana e, sempre me convidava para participar de tal empreitada.

O camarada trabalhava na Biblioteca Pública do Amazonas e, apesar de não ter alguns dentes da frente (banguela), passava o tempo todo sorrindo e sempre convencendo os amigos a participarem da quota para as pescarias semanais.

O Senhor Isaías era um comerciante que tinha um Box na entrada do Mercado Municipal Adolpho Lisboa -, ele vendia papel e embalagens, um negócio passado para o seu filho mais novo, o Manoelzinho, por sinal, está até hoje na labuta – a sua família era tradicional da Rua Igarapé de Manaus, sendo muito amigo dos meus pais e dos meus irmãos.

Ele era um cara fanático por pescarias de final de semana – na minha infância, lembro-me muito bem dele, em sua canoa cheia de caniços de bambu, anzóis, linhas, iscas e muitos peixes– parava em nosso flutuante (casa flutuante apoiada em toras de madeira) e sempre deixava alguns para os meus pais.

Eu passei a minha infância morando nesse flutuante e, em terra firme, na Rua Igarapé de Manaus – por ser um ribeirinho, uma das minhas diversões, juntamente com os irmãos, era a pescaria quando da cheia dos rios.

Certa vez, o Pedro convenceu-me a ir a uma pescaria para a Comunidade do Logo do Janauari, juntamente com o Senhor Isaías e um amigo seu, um empresário das redondezas do Mercadão – fizemos a devido cota para a compra dos mantimentos para fazermos a nossa comida, aluguel de uma canoa com motor de popa, além de bastante cerveja em lata.

Saímos num sábado, com a intenção de retornar no domingo - o Nego Pedro era o piloteiro, contador de piadas e cozinheiro (o famoso “Faz Tudo”) – o Senhor Isaías levou um monte de caniços, iscas etecetera e tal – o seu amigo nunca tinha ido a uma pescaria em sua vida, o negócio dele era passear e tirar o estresse – enquanto eu, apesar de já ter alguma tarimba, o meu negócio era também passear pela nossa Amazônia e tomar umas geladas.

Ao meio-dia, chegamos à comunidade - resolvemos ficar em uma grande casa flutuante, pois ali funcionava como bar/mercearia e ainda tinha um local muito bom para atar as nossas redes de dormir.

Por lá já estavam dois sujeitos que puxaram logo a conversa:

- E ai, meus amigos, estamos pescando desde ontem, já pegamos o suficiente e fizemos uma tremenda caldeirada de peixe! – disse um.

- Estão a fim de provar? Temos aqui um panelão até a tampa! – falou o outro.

- Claro, não vamos perder essa nem com nojo de pitiú de bodó! – respondi por todos.

No entanto, o Nego Pedro e o Senhor Isaías recusaram, pois estavam querendo primeiro pescar e depois comer - o empresário foi solidário comigo.

Aquele cheiro irresistível da caldeirada deixou todo mundo com água na boca, foi o suficiente para desarmar a negada, não deu outra, todos os quatros encheram o bucho de caldo, peixe, verduras, farinha, pimenta e cerveja.

Deu uma moleza geral – esquecemos, completamente, da nossa programada pescaria, atamos as redes e tome ronco por umas duas horas!

Papo vai, papo vem, tome cerveja e, nada de pescaria! Resolvemos ficar por ali mesmo, bebendo e beliscando um peixe cozido até às dez da noite, quando fomos para as nossas redes de dormir.

Pela manhã, tomamos um café puro, com a famosa “bolacha de motor” (água e sal da Padaria Modelo), e, para variar, entornamos na goela abaixo um caldo de peixe, para tirar a ressaca.

O Nego Pedro e o Senhor Isaías começaram a se preparar para, finalmente, pescarem, afinal, os dois eram fissurados em pescarias – na realidade, era o objetivo principal da nossa ida aquele lugar.

Eu e o empresário não estávamos mais afim de passar o dia todo sentado numa canoa esperando um peixe fisgar o anzol, pois a nossa vontade era de tomar banho de rio, beber cerveja e,mais tarde, detonar,novamente,a caldeirada de peixe.

Nesse ínterim, chegam de Manaus mais quatro sujeitos que estavam coma intenção de pescar na comunidade – resolveram também ficar no flutuante e se juntaram aos dois de anteontem e ao nosso grupo.

Pois bem, a caldeirada de peixe já estava no fogareiro à lenha, exalando aquele aroma espetacular.

Os dois sujeitos puxaram logo a conversa:

- E ai, meus amigos, temos aqui uma tremenda caldeirada de peixe!  Estão a fim de provar? - disse um

- O panelão dá para todo mundo comer, não acaba, nem fica pouco!  - falou o outro

Tiro e queda! Mais quatro pescadores vencidos pela caldeirada! Deu uma suadeira nos cabocos que não foi fácil - depois, ataram as suas redes e começaram a roncar por umas duas horas.

Nessa altura do campeonato, o Nego Pedro e o Senhor Isaías abriram uma cerveja e o papo começou a rolar solto - não resistiram, também, ao cheiro da caldeirada, resolvendo ficar no flutuante, juntamente com os outros pescadores.

Sem chance de pescaria, passamos o resto do dia bebendo cerveja, tomando banho e, comendo aquela caldeirada de peixe!

Na boquinha da noite, retornamos a Manaus, felizes da vida, mesmo sem um peixinho pescado, nem uma piranha sequer na caixa de isopor!

Voltamos outras vezes à comunidade para pescar, porém, não foram tão bons como àquela vez, pois faltou a famosa e suculenta amazonense Caldeirada de Peixe!  É isso ai.

terça-feira, 1 de março de 2016

SECOS & MOLHADOS

E TOME CHUVA
Na sexta-feira passada, ao sair do TRE-Arena da Amazônia, para fazer o Exame Biométrico, resolvi caminhar a pé até o Conjunto dos Jornalistas – quando passei pelo Sambódromo (Centro de Convenções) a chuva caiu forte, corri e me abriguei debaixo de uma passarela que fica ao lado do Centro de Convenções Vasco Vasques – comprei de um vendedor uma sacola de Castanha da Amazônia (ex do Pará) e outra de Pupunha. Corri e entrei no Hemoam, não para doar sangue (apesar de ser doador de carteirinha), mas para passar uma chuva. Eu estava com um casaco de chuva que tinha o símbolo do Clube Flamengo – um cara que estava com a camisa do Vasco, começou a puxar assunto: - E ai, meu freguês, muita chuva, né? Respondi: - Pois é, Vascaindo, a temporada de chuvas chegou com atraso! – É isso mesmo, Urubu da asa quebrada! O cara tava a fim de tirar saro de um flamenguista. Dei a tacada final: - Essa chuva parece com o teu timeco, foi rebaixada! Dei as costas e fui comer as minhas Pupunhas em outro lugar. E tome chuva. Bem em minha frente tinha um casal de meia idade, quando comecei a tirar as cascas, o cheiro exalou e a véia olhava para mim com aquela cara de pidona – ela falou: - Poxa, faz tempo que não como uma pupunha! – Respondi: - Tome umas, falta apenas um café! – Deixa comigo, vou pegar lá dentro! – respondeu a senhora. E tome chuva! Outra senhora fofoqueira começou a falar baixinho: - Tá vendo esse casal de picolezeiros haitianos, a mulher está deitada no colo do outro, daqui a pouco vão querer uma cama, isso é muita safadeza, cruz credo! Depois, ela mandou bala: - Esse Hemoam já foi bom, você sabia que eles dão apenas um pequeno lanche para quem vai doar, foi-se o tempo em que era farto! E tome chuva. Um cara sentou ao meu lado e começou o papo: - Cara, acabei de doar sangue, foi a minha primeira vez! – Respondi: - Parabéns, você vai ajudar alguém, além de ter feito um lanche, ainda vai ter um dia de folga no trabalho! Ele respondeu: - Que nada, vou apenas deixar passar essa chuva e voltar para a empresa e trabalhar normalmente! Cáraio! E tome chuva. Quando a chuva deu uma trégua, todo mundo saiu em debandada, minutos depois: E tome chuva, novamente!

ANIVERSÁRIO DA CANTORA LUCINHA CABRAL
A cantora e compositora Lucinha Cabral é a aniversariante de hoje.
Amazonense da gema, possui o orgulho de ser cabocla, o amor pela suas raízes e, pela cultura da sua terra, coisas muito raras na maioria das pessoas da região norte, pois valorizam muito o que vem de fora.
Ele canta:
Sou Brasileira
Sou caboquinha
Da pátria d´água, com muito orgulho e farinha
Sou poesia, cunhantãbim
Disse o poeta maluco
Olho d´água, pedaço de mim...
Sou Tainã, igarapé
Balanço da rede, viola no peito
Leseira baré
Sou curupira, sou caboquinha..
Por falar em aniversário, a letra correta em português para a tradicional canção "Parabéns a Você" é a seguinte:
Parabéns a Você (errado pra você)
Nesta data querida (errado nessa data)
Muita felicidade (errado muitas felicidades)
Muitos anos de vida.
(Bertha Celeste Homem de Mello, paulistana que ganhou, em 1942, o prêmio da Rádio Nacional, como a melhor letra em português).
Parabéns! Saúde, Sucesso Sempre e Vida Longa para a Lucinha Cabral!

O DEDO DA VOTAÇÃO
Na sexta-feira passada, finalmente, consegui fazer o dito cujo Cadastro Biométrico. Poderei votar nas próximas eleições utilizando qualquer um dos dedos para me identificar com as minhas digitais. Sendo assim, irei utilizar o dedo do cotoco para me vingar dos políticos!

MUDANDO DE FREQUÊNCIA
A partir de hoje, terei um desprazer de ouvir a frequência da rádio 89.7, a rádio que somente tocava "flashback", pois, segundo noticiam por ai, a outra rádio (frequência 91.5) passará para ela toda a sua programação da Rádio Estadão (somente notícias). O jeito será voltar a ouvir os meus MP3 das décadas de 70, 80 e 90, pois acho um saco essa rádio paulista. Fui aconselhado a mudar para a Rádio Marinha 99,9.

NOVA RUA EDUARDO RIBEIRO
Passei por lá e, pude verificar que alguns paralelepípedos estão ficando soltos! Os antigos ficaram mais de cem anos e, os atuais, poucos dias! O lace é o seguinte: a construtora pede um preço alto, mesmo assim, ganha a licitação, depois, utiliza material de péssima qualidade, paga baixos salários para os trabalhadores, a Prefeitura de Manaus não faz a devida fiscalização e, libera o pagamento! 

ZIKA ZERO
Dizem que, o mosquito transmissor da Zika e de outras doenças, ganhou força em decorrência, principalmente, da inércia dos governos e da falta de educação do povo brasileiro.
Realmente, fazer trabalhos de saneamento, principalmente, colocar tubos de esgotos e de águas pluviais, não dão votos para os gestores públicos, pois ficam enterrados! Sem contar com a coleta e tratamento de esgotos (um item restrito a alguns condomínios fechados), limpeza urbana eficiente (hoje mesmo observei um carro velho coletor de lixo, deixando chorume e lixo pelas ruas do Conj. Canarana – limpa um lado e, suja outro) e, muitos menos, investir em controle de pragas e qualquer tipo de agente patogênico (que provoca doenças), visando à saúde das comunidades.
A culpa também, em sua grande maioria, fica a cargo do povo brasileiro, pois não respeita os córregos e igarapés, as ruas, a mata ciliar, os quintais, onde jogam lixo na maior cara dura. Quando caminho pela minha cidade, sinto vergonha em deparar com tanto lixo jogado nas ruas. Não quero ser melhor do que ninguém, mas aprendi desde cedo a jogar o lixo em lugar adequado, não sou capaz de jogar nem um papelzinho de bombom no chão, bem como, eduquei os meus filhos a respeitarem a sua cidade.
O “Dia Nacional de Mobilização Zika Zero” servirá para a conscientização dos governantes com relação à importância do saneamento básico, para evitar a proliferação do mosquito transmissor de doenças e, também, ao povo brasileiro, para repensarem e respeitarem a sua casa, sua comunidade, a sua cidade e o seu país, elevando a sua educação ambiental.
Todo cuidado será pouco, pois todos aqueles que não se mancarem, poderão pegar uma "picadura" do mosquito e ficar zikado!


ABORTO
Com o vírus Zika espalhando terror entre as mulheres grávidas, voltou o debate na sociedade sobre o abordo. De um lado, o grupo pró-vida e, por outro, o pró-escolha. Em relação a esse assunto, irei contar a vocês uma historinha que marcou muito a minha vida.
Na minha juventude, resolvi “avançar o sinal” e a minha namorada engravidou. Pensando no erro e na responsabilidade que teria pela frente, propôs o aborto, porém, a idéia foi veemente rechaçada por ela.
Com o passar dos tempos, o meu filho tornou-se o meu melhor amigo e sócio em algumas empreitadas.
Convidou-me a morar na Zona Norte, onde pude ficar próximo a sua residência e, abrimos um pequeno negócio.
Confesso que aumentou a minha qualidade de vida, deixando um pouco de lado a boêmia.
Ele é evangélico “não chato” e, respeita por eu ser católico e a minha maneira de curtir a vida.
Passamos por bons momentos em nossos negócios e, também, por quebradeira geral – estamos juntos, novamente, tentando levantar!
Pelo andar da carruagem, acho que ele será um dos meus filhos que ficará comigo quando eu estiver bem velinho ou inválido.
Voltando ao tema: O seria de mim, atualmente, caso a sua mãe, naquela época, tivesse dado ouvidos ao aborto?