domingo, 26 de fevereiro de 2023

DENÚNCIA DO BLOGDOROCHA SOBRE O ABANDONO DO GRUPO ESCOLAR SALDANHA MARINHO SURTE EFEITO NA ÁREA FEDERAL

AMIGOS E AMIGAS MANAUARAS, O NOSSO BLOGDOROCHA POSSUI A MISSÃO, TAMBÉM, DE DEFENDER O NOSSO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ANTE A INÉRCIIA DO PODER PÚBLICO, O DESCASO E O ABANDONO DO CENTRO DA NOSSA CIDADE. ESTE ANO DE 2023 JÁ FIZ 02 (DUAS) DENÚNCIAS SOBRE O ABANDONO DO GRUPO ESCOLAR SALDANHA MARINHO E DO GRUPO ESCOLAR RIBEIRO DA CUNHA. COM RELAÇÃO AO PRIMEIRO, FIZ A DENÚNCIA JUNTO AO GOVERNO FEDERAL CONTRA O IPHAN E, ESTE JÁ SE PRONUNCIOU, EMITINDO UMA NOTA TÉCNICA, CONFORME ABAIXO, ALÉM DE JÁ TER ACIONADO O GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS, ATRAVÉS DA SEDUC. O SEGUNDO, A DENÚNCIA FOI FEITA JUNTO AO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, QUE ATÉ O PRESENTE MOMENTO NÃO SE PRONUNCIOU. 

Prezado JOSE MARTINS SOARES, Sua manifestação apresentada no sistema Fala.BR foi respondida em 24/02/2023, conforme os dados abaixo. Protocolo: 72020.000273/2023-21 Órgão ou Entidade: IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Cidadão: JOSE MARTINS SOARES Tipo de Manifestação: Denúncia Prazo para Atendimento: 03/03/2023 Descrição da Manifestação: Este prédio histórico iniciou em 02/01/1901, com a instalação da Escola Modelo, funcionando até 1904. Entre os anos de 1910 e 1913, abrigou a então Escola Universitária Livre de Manaós. Passou por diversas reformas, ganhando as características atuais. Através do Decreto 11.191, de 14/06/1988, foi tombado com Monumento Histórico do Estado. Em 1998 foi reformado, com seis salas para o Ensino Fundamental. No ano de 2017, o prédio foi abandonado pela Seduc, começando a ser invadido por vândalos que estão furtando tudo o que pode ser vendido: portas, janelas, fiações, moveis e utensílios, grades de ferro etc, além de servir de abrigo a moradores de rua e viciados em drogas. Vários moradores já fizeram denúncias as autoridades públicas, mas nada fazem para conter esta destruição do patrimônio público. Vários portais de notícias já fizeram filmagens no local mostrando a triste realidade em que se encontra aquele prédio. Em 2021, a Fundação Hemoam recebeu a posse para utiliza-lo nos serviços de oferta de exames laboratoriais de baixa e média complexidade e doação de sangue. No entanto, esta Fundação deixou o prédio à mercê dos vândalos que “a luz do dia” roubam o que encontram pela frente. Os moradores da Rua Saldanha Marinho e todo o seu entorno, incluindo os manauaras que gostam do centro histórico de Manaus, estão indignados com a falta de respeito deste patrimônio histórico, incluindo outros que serão, também, motivo reclamação junto ao Ministério Público do Estado do Amazonas, pois é o órgão poderá apurar e orientar qual o caminho a tomar ou se este caso de degradação de patrimônio histórico cultural é de interesse da União, visto que está inserido na poligonal de área e bem tombado pelo IPHAN. Favor acessar o linque abaixo para os senhores terem uma ideia do que está acontecendo. https://g1.globo.com/.../predio-historico-onde-funcionava... https://g1.globo.com/.../hemoam-ocupara-predio-da-antiga... https://cm7brasil.com/.../vandalismo-predio-historico-da.../ Resposta Prezado José Martins Soares, A Ouvidoria do Iphan acusa o recebimento da sua Denúncia registrada na Plataforma Fala.Br com NUP 72020.000273/2023-21, a qual foi direcionada à Superintendência do Iphan no Estado do Amazonas, para análise e manifestação. Em resposta, a Superintendência enviou a NOTA TÉCNICA nº 9/2023/COTEC IPHAN-AM/IPHAN-AM, que seguem anexada ao Fala.Br. Informamos que o processo SEI nº 01490.000030/2023-17, citado na Nota Técnica está disponível para consulta pública no Sistema Eletrônico de Informações - SEI!, e para acessá-lo basta clicar no link do endereço eletrônico abaixo e seguir as orientações: https://www.gov.br/iphan/pt-br/servicos/sei Ministério da Cultura Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional Superintendência do IPHAN no Estado do Amazonas Coordenação Técnica do IPHAN-AM NOTA TÉCNICA nº 9/2023/COTEC IPHAN-AM/IPHAN-AM ASSUNTO: Denúncia de abandono, depredação e degradação do edifício do "Grupo Escolar Saldanha Marinho". REFERÊNCIA: Processo SEI 72020.000273/2023-21. Manaus, 17 de fevereiro de 2023. I. Introdução A presente Nota Técnica tem por objetivo manifestar-se quanto a denúncia registrada na Plataforma Integrada de Ouvidoria e Acesso à Informação – Fala.BR, encaminhada a esta Superintendência pela Ouvidoria do IPHAN (OUV), na qual o autor apresenta os fatos relativos ao abandono, depredação e degradação do edifício do "Grupo Escolar Saldanha Marinho". Na denúncia constam informações sobre violações ao edifício, com consequente extravio de itens, como "portas, janelas, fiações, móveis, utensílios, grades de ferro", entre outros, além de registrar o sucessivo abandono do prédio por órgãos públicos do Estado do Amazonas. Além disso, consta nos autos o Anexo SEI nº 4160021, consistindo em reclamação apresentada ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), narrando os mesmos fatos. Por fim, o denunciante referencia matérias jornalísticas locais para embasar os fatos narrados. Dado o contexto fático apresentado na denúncia, esta Nota Técnica tem por finalidade informar ao denunciante as ações tomadas por esta Autarquia Federal, concernente ao bem em tela, no âmbito da atuação institucional deste IPHAN. II. Edifício do "Grupo Escolar Saldanha Marinho" Inicialmente, cumpre ressaltar que o edifício do "Grupo Escolar Saldanha Marinho" está localizado na poligonal de entorno 2, do Centro Histórico de Manaus, inscrito no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e no Livro do Tombo Histórico pela notificação publicada no DOU Nº 222, seção 03, de 22/11/2010, homologada através da Portaria MTUR Nº 25, de 20/07/2021, publicada no DOU Nº 141, p. 70, seção 01, de 28/07/2021. Imagem 01. Localização do o edifício do "Grupo Escolar Saldanha Marinho" dentro da poligonal de entorno 2 Centro Histórico de Manaus (hachura em vermelho). Fonte: Acervo do IPHAN-AM. Segundo a Portaria IPHAN nº 375, de 17 de agosto de 2018, as poligonais de entorno dos bens tombados, definidas pelo IPHAN, visam "garantir a visibilidade e ambiência do bem tombado (art. 105)". Em razão disso, os bens situados na poligonal de entorno dos bens tombados gozam de proteção, nos termos do art. 18 do Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937. Conforme prescrito pelo Decreto nº 11.178, de 18 de agosto de 2022, dentre as finalidades precípuas desta Autarquia está a de "preservar o patrimônio cultural do País, nos termos do disposto no art. 216 da Constituição" e "fiscalizar e monitorar o patrimônio cultural acautelado pela União e exercer o poder de polícia administrativa nos casos previstos em lei". Isso posto, é mister asseverar que o instituto do tombamento e a consequente definição das áreas de entono, não interfere no titulo de propriedade dos bens tombados ou do entorno, os quais permanecem sob o poder dos legítimos donos. Ao IPHAN cabe apenas, nos termos da Portaria IPHAN 420/2010, a análise e autorização prévia para quaisquer intervenções nos bens tombados e na área de entorno, bem como, no exercício do poder de polícia administrativa, apurar as infrações cometidas contra o patrimônio cultural protegido pela União e aplicar as sanções, nos termos da Portaria IPHAN nº 187/2010. Cumpre ainda informar que os serviços de manutenção e conservação dos bens imóveis tombados devem se realizar às expensas do proprietário do bem. Segundo o artigo 19, do Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, quando o proprietário não "dispuser de recursos para proceder às obras de conservação e reparação" de que necessitam os bens protegidos, deverá comunicar o fato ao IPHAN, sob pena de responsabilização. No caso em tela, o edifício do "Grupo Escolar Saldanha Marinho" é de propriedade do Governo do Estado do Amazonas, sendo esse ente o primeiro responsável pela proteção do bem. Em face disso, e a partir da denúncia recebida, este IPHAN solicitou providências ao Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Desporto (SEDUC-AM), órgão estadual responsável pelo edifício, por meio do Ofício Nº 103/2023/IPHAN-AM-IPHAN (SEI nº 4179418), processo SEI 01490.000030/2023-17. Somente após manifestação daquela SEDUC-AM, esta Autarquia Federal dará os encaminhamentos pertinentes ao caso. Cumpre informar que consulta ao processo e documento mencionados acima pode ser feito através do sítio do Sistema Eletrônico de Informações (SEI), no endereço <>, a partir da indicação da numeração identificadora do processo ou do documento em questão. III. Conclusão Em face da denúncia recebida, esta Superintendência do IPHAN no Amazonas, certifica que promoveu abertura de processo administrativo com a finalidade de requer ação imediata do órgão estadual responsável pelo edifício, de modo a promover a conservação e preservação do bem em tela, evitar o aumento na degradação, bem como as providências cabíveis para obstar a depredação do prédio em razão de invasões. Após a manifestação da Secretaria de Estado de Educação e Desporto (SEDUC-AM), esta Autarquia Federal diligenciará as ações cabíveis. Documento assinado eletronicamente por Manoel de Jesus da Silva Pereira, Analista I – Área: Patrimônio Cultural, em 17/02/2023, às 11:27, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020. Documento assinado eletronicamente por Ana Carla Cruz Pedrosa, Coordenadora Técnica do IPHAN-AM, em 17/02/2023, às 16:51, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020. A autenticidade deste documento pode ser conferida no site http://sei.iphan.gov.br/autenticidade, informando o código verificador 4194594 e o código CRC EC242E44. Referência: Processo nº 72020.000273/2023-21 SEI nº 4194594

sábado, 25 de fevereiro de 2023

LEMBRANÇAS DE UM PASSADO DISTANTE PARTE V

 Por José Rocha

Eu deveria ter uns nove ou dez anos de idade, morava na Rua Igarapé de Manaus, era um domingo de manhã cedinho, resolvi sair do barraco para pegar umas mangas no “Quintal do Dural”, avistei no meio da rua um jornal em forma de uma bola, corri e dei uma bicuda no papel. Ai, ai, ai, ai, ai!

O meu dedão ficou todo arrebentado, com a unha do dedão do pé direito suspenso apenas por um pedaço de pele, cai no chão "morrendo de dor!"

Um vizinho, amigo de meu pai, prestou os primeiros socorros e mandou avisar ao meu genitor. Falou que aquilo era uma pegadinha da molecada da rua: colocaram uma pedra dentro do jornal, ficou todo arrumadinho, com a intenção de pegar um otário que nem o escriba aqui.

Pois bem, o meu velho pegou uma tesourinha de cortar unhas, passou álcool para desinfetar, cortou umas peles e puxou a unha na maior. Meu Deus!

Fui à Lua e voltei vendo milhões de estrelas! Para completar, colocou um chumaço de algodão untado de uma mistura de resina chamada de goma-laca e álcool etílico, que ele usava para envernizar os seus violões (luthier).

Era um santo remédio, mas doía até a alma!

Depois de estabilizado, fui ajudado a caminhar tipo um Sacy, pulando com uma perna só.

Ao chegar em minha residência, peguei uma “peia”, como era de costume, pois na rua aprontou, certo ou errado, em casa, o pau, levou.

Passei uma temporada no estaleiro até melhorar, na base do “Melhoral” para aliviar a dor geral.

Era vazante do rio, comecei a dar umas caminhadas pelo campinho de futebol da várzea, de repente, mais do que repente, pisei num prego enferrujado no mesmo pé arrebentado. Meu Deus!

Alguém arrancou o prego na maior.

Chegando em casa, os meus pais falaram:

- Ainda bem que este moleque está vacinado de antitetânica (uma injeção que previne o tétano).

Vou confessar uma coisa para vocês: passadas décadas depois, fui até uma UBS e fui obrigado a tomar uma antitetânica, falei para a auxiliar de enfermagem, uma amiga coroa lá da Cidade Nova:

- Vou tomar essa aí, pois o prego do “véio” aqui está enferrujado e não vou querer passar tétano para as “novinhas” do pedaço.

Ela começou a rir e, falou:

- Ah, é, é, sêo fio de égua!

Enfiou com vontade a agulha.

Respirei fundo e falei-lhe:

- Poxa, maninha, tu não sabes nem brincar! Eu, hein!

Voltando ao passado. Tive de voltar à escola, pois já tinha perdido muitas aulas.

O pé de boa era vestido com sapato e meia preta, o outro, arrebentado, de sandália, com o dedão e o meio do pé inchados e cheios de algodão, esparadrapos, gases e pomadas.

Eu andava com o pé doente de lado, pois não conseguia firmá-lo ao chão, tudo doía.

Não deixavam entrar com os dois pés de sandálias, apenas o doente! Era uma coisa hilária, antigamente.

O problema maior eram os colegas que gostavam de pisar exatamente no pé doente “só prá fescar”. “Fios de uma égua!”

Certa vez, comecei a coçar a cabeça com muita frequência.

Minha mãezinha pegou uma toalha branca e um pente fino e começou a passar em minha cachola. Doía prá porra, pois o meu cabelo era pixaim.

Depois de várias sessões de martírio, ela falou:

- Esse moleque está com piolhos até o talo!

Largaram o Neocid (um inseticida em pó, para matar baratas, formigas e pulgas, mas utilizado, indevidamente, no combate ao piolho na década de 60).

Os piolhos se foram, mas ficaram as lêndeas (os ovos dos piolhos). Um vizinho trouxe um cortador de cabelos manual e “pelou no zero” com ajuda, também, de uma navalha.

Todo careca pegava “melo” (cascudo) na cabeça. Era praxe. Primeiro, peguei dos meus irmãos mais velhos, depois, dos colegas de rua e, por final, dos coleguinhas do Colégio Barão do Rio Branco.

Fiquei um bom tempo com medo, não de piolhos, mas de ficar careca e pegar “melo” no corredor polonês. Eu, hein!

Quando completei doze anos de idade, fomos morar na Vila Paraíso (atual, Villa Pê, para os íntimos), na Avenida Getúlio Vargas.

Quando foi interligado a ladeira de Rua Tapajós com a Avenida Leonardo Malcher, os mais audaciosos desciam de patins e patinetes de rolimãs do início da ladeira, numa velocidade muito louca até a subida da Leonardo.

Lembro do “Kaverna”, ele descia de patins de cabeça para baixo, pois era o melhor esqueitista de Manaus. Era nosso ídolo.

Fui “na corda”, pois a galera falava que somente quem “era macho” tinha coragem de descer lá de cima.

Não deu outra: desci de patins e ainda dei uma embalada com os pés para pegar mais impulso, quando estava no meio da ladeira, uns maus elementos jogaram vários tijolos ao mesmo tempo, fiquei desiquilibrado e o patins foi para um lado e desci com a cara no chão por vários metros.

Fiquei em carne viva, desde a testa até o dedão do pé. Meu Deus! Um vizinho, gente boa, levou-me até o meu barraco.

Era um domingo e os meus pais estavam em casa.

A primeira coisa que fizeram foi dar-me uma peia, pois como era de costume “na rua aprontou, certo ou errado, em casa, o pau, levou!”

Depois, fui direto ao banheiro. Ai, ai, ai, ai. Ai!

Ao sair daquele martírio, passei por uma sessão de “Merthiolate”, um composto químico que continha mercúrio, com propriedades antifúngicas e antissépticas, mas que “ardia até a alma”. Meu Deus!

Por falar em remédios antigos, lembro do “Melhoral Infantil”, para dor de cabeça, gripes e resfriados.

Ele era docinho, gostosinho, mas, quando a minha mãe inventava de tomar junto com “O Chá de Alho e Limão” a coisa toda mudava de feição. Tomava na base da “porrada”, se vomitava, repetia “até eu engolir tudo de uma vez”. Pense.

O outro, lembro muito bem, era o famoso “Biotônico Fontoura”, um medicamente oral que fornecia ferro e fósforo para curar a minha anemia e, também, para a abrir a fome.

Este último, não, pois eu comia feito uma draga.

Vocês sabiam que eu gostava deste remédio? Sim, senhor!

Ele continha alto grau de álcool em sua fórmula e eu ficava doidão com uma colher, imaginem duas!

Tinha, também, uma tal de “Emulsão Scott”, um terror das criancinhas desde 1830!

Um famigerado óleo de fígado de bacalhau.

Fedia que “só o caralho” e dava vontade de vomitar na hora. Pegava “peia”, mas não abria a boca nem com nojo de pitiú de bodó!

Dias desses, estava com um grupo de amigo “da melhor idade”, quando comentamos sobre esses “remédios” de nossa infância e o quanto aprontávamos.

Mostrei-lhes as marcas do passado: joelhos, canelas, pés, braços e mãos todas com marcas pretas, apesar de eu ser preto!

Foram raladuras que detonavam a pele, a carne e iam até o osso! Ai, ai, ai, ai!

Guardo essas marcas físicas e gosto de lembrar e escrever delas, pois são lembranças de um passado distante.

É isso aí.







terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

PROFESSOR LÁZARO DO CURSINHO EINSTEIN DE MANAUS

  Jose Rocha

Na década de setenta, um grupo de jovens professores da rede estadual de ensino, descobriram um grande filão na área educacional e, resolverem montar, em Manaus, um curso preparatório para o concorridíssimo vestibular da antiga Universidade de Manaus (UA), era o Pré-vestibular Einstein, na Rua Barroso, depois, Rua 24 de Maio, centro, dirigido pelo Waldery Areosa, na área de Física e Matemática; o Ordival "Índio", de História e Geografia e do nosso querido Lázaro, de Língua Portuguesa e Literatura, uma figura que tinha uma forma toda especial de lecionar.

Os dois primeiros foram sócios por muito tempo, formando, tempo depois, o Curso Objetivo, atual Uninorte/Grupo Ser Educacional, uma imensa universidade de graduação e pós-graduação, com ramificações em todo o Brasil e no exterior.

Foi aluno deles, conseguindo ser aprovado, em 1978, no curso de Administração. depois de muitos anos depois, voltei a estudar Direito (inconcluso), na Uninorte.

O professor Lázaro seguiu por longo tempo a “carreira solo” , formando um bom tempo depois, o Colégio e Pré-vestibular Camões.

Ele era muito querido pelos seus alunos, pois apostou na descontração como uma excelente forma pedagógica de ensinar.

A grande maioria dos brasileiros possui uma grande dificuldade em absorver os ensinamentos da língua portuguesa, faço parte dessa massa, mesmo assim, com um ano de aula do professor Lázaro, consegui passar no vestibular.

Ele lecionava contando piadas, gesticulando bastante e chamando até palavrões. A turma ia ao delírio com as suas aulas, ela deixou de ser maçante, para tornar-se prazerosa.

Foi o responsável em colocar muita gente na UA, pois motivava aos jovens a estudarem com mais afinco. O sucesso imediato do cursinho foi em decorrência do seu excelente desempenho e carisma, sem sombra de dúvidas!

Tinha um pequeno defeito de fábrica: era um apreciador inveterado de uma “loura gelada”, aliás, de várias e diversas, tanto que servia até para motivos de zombaria por parte dos alunos.

Passou um bom tempo abstêmio, chegando a frequentar e presidir a irmandade dos Alcoólicos Anônimos do Porto de Manaus.

Segundo o artista plástico Inácio Evangelista, ele foi muito amigo do Lázaro, os dois secaram muito bar em Manaus e, foram também irmãos do AA.

Certa vez, o Inácio me contou uma proeza dos dois, foi mais ou menos assim: num belo sábado caliente de Manaus, os dois amigos se encontraram no "Canto do Fuxico" (esquina da Avenida Eduardo Ribeiro e da Rua Henrique Martins), o Inácio propôs uma caminhada até a esquina da Rua José Clemente, chegando lá, resolveram pegar a esquerda e pararam bem em frente ao bar da Dona Maria e do Adriano Cruz.

Resolveram tomar um guaraná Baré, papo vem, pago vai, pediram outro guaraná, papo vem, papo vai, tomaram o terceiro guaraná, antes de pedir o quarto, o Inácio propôs o seguinte:

- Companheiro Lázaro, está fazendo um calor danado, que tal tomarmos somente um copo de cerveja? - perguntou na brincadeirinha para o professor - se colar, colou!

- Companheiro Inácio, faz logo o pedido, aproveita e pede dois maços de Hollywood e Tira-Gosto de Queijo Bola com Salame, manda o Adriano separar uma dúzia de ampolas véu de noiva, eu não sou homem de tomar somente uma, estou até o pescoço com a porra desse guaraná, vamos secar o boteco, Companheiro Inácio! - respondeu na maior - quem manda cutucar Onça com vara curta!

- Paranananam, paranananam - Ó abre alas que eu quero passar, eu sou da lira não posso negar! Vou-me embora para Pasárgada, lá sou amigo do rei, lá tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei!

Os dois companheiros passaram a tarde bebendo, cantando e declamando, estavam “mais felizes do que pinto no merda”!

Depois da bebedeira, os dois ainda foram abrir os trabalhos no AA, não deu outra, foram expulsos pelos estivadores, embaixo de socos e pontapés.

O Lázaro fechou o Curso Camões e foi para Boa Vista (Roraima), continua lecionando e dirigindo um cursinho, não sei se ainda é apreciador de suco de cevada.

Parabéns ao professor e, muito obrigado pelos seus ensinamentos.

É isso aí.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

ESCOLA DE SAMBA DRAGÕES DO IMPÉRIO HOMENAGEIA BOSQUINHO POETA


Release 

Escola se apresenta às 2h da manhã do dia 18 de fevereiro na Passarela do Samba_


Uma trajetória de superação. É assim que a história de vida do professor, administrador, empresário e escritor João Bosco Rocha, o Bosquinho Poeta, será contada na Passarela do Samba no Carnaval de Manaus, em 2023. 



A homenagem será realizada pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Dragões do Império, cuja apresentação ocorre na madrugada do dia 18 de fevereiro, às 2 da manhã, pelo Grupo de Acesso A do Carnaval de Manaus. 


As Alas contam a história de vida do poeta manauara, que nasceu no bairro Praça 14, em uma família de 11 irmãos. Filho de dona Matilde e do seu Aurélio, Bosquinho passou por muitas dificuldades até se tornar empresário e Poeta, mas sempre foi um sonhador.



"Desde menino, eu contemplava as estrelas, o firmamento e ficava maravilhado com as obras divinas. E eu sempre fui um romântico, apaixonado por Roberto Carlos, que fazia versos à minha amada. 


Tudo isso despertou em mim o desejo de tornar-me um escritor”, conta Bosquinho.


O Poeta também relembra o início de sua trajetória de trabalho. “Por vir de uma família numerosa, cedo tive que ir à luta para ajudar no sustento da família. Fui vendedor de jornais, de flores, office boy e, naquilo que pude, ajudei meus pais e meus irmãos”. 



A escola levará 11 alas para a Avenida e as fantasias estão sendo vendidas pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Dragões do Império pelo número 92 99625-4004.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

60 ANOS DO BAR DO ARMANDO & A BICA

 




Por José Rocha

Era o ano de 1963, quando o português Armando Dias Soares (1935-2012), alugou da Prelazia do Alto Solimões, um casarão construído no início do século vinte, situado na Rua Dez de Julho, 593, centro de Manaus, onde foi morar com a sua esposa, a Dona Lourdes Soeiro Soares.

Na parte defronte, abriu um pequeno negócio, conhecido naquela época como venda de “Secos & Molhados”, tais como: conservas, azeite português, pães, jabá, bolachas, farinha, pirarucu seco etc.

Possuía o nome de fantasia “Mercearia Nossa Senhora de Nazaré”, uma homenagem a Maria, mãe de Jesus, pois o Armando e sua esposa eram devotos, como a maioria dos portugueses, após uma famosa aparição e milagre ocorridos em Portugal.

Com o passar do tempo, a bodega começou a vender cervejas estupidamente geladas, o que lhe rendeu muita fama na cidade, tornando um lugar muito frequentado pelos boêmios de Manaus, forçando o Armando a transferir a sua família para outra casa na Avenida Getúlio Vargas, pois o espaço estava pequeno para tanta gente.

O sucesso foi tão grande que chegava a vender em torno de quatrocentas grades de cervejas por semana. Era uma loucura, aumentando ainda mais com aquele famoso marketing do “boca-a-boca”, inclusive, atraindo a presença dos advogados, juízes e funcionários do Tribunal de Justiça, situado na Avenida Eduardo Ribeiro.

O Armando Soares fez uma adequação do espaço para acomodar mais gente: afastou o balcão para dentro, onde foi possível abrigar mais boêmios, notando que seria mais vantajoso, economicamente, parar com a venda de secos e molhados e entrar direto com a venda de cervejas, bebidas destiladas, tira-gostos de pernil e queijo bola.

Em 1967, fui morar com a minha família na Rua Tapajós, no Beco Paraíso, ano em que comecei a passar por frente da mercearia. O meu saudoso pai, o luthier Rochinha era frequentador assíduo do boteco. Certa vez, a Dona Lourdes Soeiro, falou-me:

- O seu pai era um homem educado, bebia a sua cervejinha bem comportado e era amigo do Armando, os dois gostavam de conversar bem baixinho, depois, pagava a sua conta e ia embora sem perturbar ninguém, agora, você, Rochinha filho (referindo-se ao escriba aqui) bebe e grita feito um maluco, coloca o som alto, perturbando todo mundo, mas apesar de todos os teus defeitos eu e o Armando gostamos muito de você!

- Merci beaucoup – agradeci, gentilmente

- O quê, caralho! – respondeu, babando de raiva.

Em 1987, frequentava o Bar da Sogra, da Afonso e Conceição Toscano, na esquina da Rua Huascar de Figueiredo e Avenida Joaquim Nabuco. Lembro muito bem, o Toscana mostrou-me uma Ata na qual constava o seguinte “Foi fundada no dia 17.11.87, por Celito, Afonso Toscano, Manuel e Buriti, tendo como presidente de honra o Armando, e atendendo a antigos anseios dos frequentadores do Bar Mercearia N. S. de Nazaré – popular Bar do Armando – a BICA (Banda Independente da Confraria do Armando.....

Pois bem, o Toscano pediu-me para assinar e colaborar com algumas “ampolas de cevadas” para a fundação da BICA e assim o fiz. Anos depois, tornei-me um “biqueiro”, frequentando, assiduamente, o Bar do Armando e, reconhecido pelo Anchieta, Jomar Fernandes, Manuel Batera, Deocleciano Bentes (Deco) e outros, como sendo um dos fundadores da BICA.

Juro que nem lembrava que havia assinado a Ata de Criação da Bica. Somente ao ler o livro “Bica do Armando”, do saudoso Francisco Cruz (Chicão) e do Simão Pessoa, foi possível comprovar na página 27, onde consta os nomes dos fundadores, incluído o José Rocha.

Recebi em 2003, a minha primeira “Camisa da Diretoria”, um privilégio para poucos. A última que recebi doei para o meu amigo Flávio Grillo Filho, presidente atual do Luso Sportig Club.

Em 2006, o BLOGDOROCHA nasceu dentro do Bar do Armando, ano em que fui motivado pelo "biqueiro" Rogélio Casado, a escrever num diário eletrônico, hoje, fora de moda, mas continuo escrevendo, inclusive este texto é em homenagem ao Armando, seu bar e a BICA, onde tudo começou. Gracias.

Uma das melhores homenagens ao Armando e ao seu famoso bar, foi quando no aniversário de 500 anos do descobrimento do Brasil (22 de abril de 2000), o GRES Reino Unido da Liberdade, fez uma homenagem ao Armando Soares e a BICA, com o tema “Armando Brasileiro”.

“Meu Reino/Soletrando seus versos/De braços abertos/Vejo o céu beijando o mar/Vento forte, navegando rumo à sorte/Terra à vista, enfim aportei/Pau-brasil teu nome reluz/Ilha de Vera Cruz/Um solo que espelha riquezas/Atraía a Coroa em Portugal/Girar, girei/No giro da Coroa me encantei/Minha escola é soberana/Sem igual/Quando o tema é carnaval/Pra festejar 500 anos/Nesta terra, portugueses dão as mãos/ Sou história, costumes e tradições/É o carnaval de rua/Bota a BICA pra zoar/Celestiou em teu olhar/Com Graça e louvação/Sou do Morro, sou boêmio/Salve São Sebastião.

Eu e o meu irmão Rocha Filho, fomos até o Sambódromo de Manaus. Ficamos na concentração para ouvir o “esquenta” da Bateria Furiosa da Reino Unido da Liberdade. Foi muito emocionante. 

Neste ano, a Reino foi campeã e, a partir de então, virei a casaca “Sou Reino Unido da Liberdade Até Morrer”. Olha já, mermão!

O chão de ladrilhos brancos e pretos faz parte do Bar do Armando. Alguns bares tradicionais de Manaus possuem o chão bem trabalhado pelos antigos donos, porém este é dos mais bonitos e enigmáticos.  Não sou maçom, mas este chão é o igualzinho ao utilizado por eles dentro do templo maçônico.

É o “Piso Mosaico”, simbolizando que ele deve ser pisado por qualquer pessoa, independentemente da sua raça, credo ou filiação. Por ter duas cores, preto e branco, formando quadrados perfeitos, simboliza a harmonia que deve reinar ente os irmãos, o sair da noite para o dia, das trevas para a luz.

Em homenagem ao chão e aos sessenta anos do Bar do Armando, em noite de inspiração, faço a seguinte canção:

POR ESTE CHÃO

           

Por este chão, 
pisaram gente famosa, bacana,

pobre e peão. 
Por este chão,
muita gente derramou cerveja, quebrou copos

e chamou palavrão.
Por este chão,
foi festejado velhos carnavais, aniversários,

futebol e muita “bebemoração”.
Por este chão,
muitos cantaram, brigaram

e choraram de emoção.
Por este chão,
muitos beberam e dançaram

muito samba canção.
Por este chão,
muitos comemoraram 60 anos

de tradição.
Por este chão,
fincou bandeira o Bar do Armando,

0 Bar do nosso coração

Por este chão...


No dia 10 de abril de 2012, os “biqueiros” ficaram órfãos, um dia triste que marcou a passagem do Armando Dias Soares, para o plano superior. Para muitos, incluindo o escriba aqui, acabou a magia e a graça do bar.

 

Continuei a frequentar o Bar do Armando, participando de todos os eventos cultuais e etílicos, além de ajudar a BICA nas apresentações até antes da Pandemia, quando aconteceu a minha última apresentação. Valeu! Foi bom demais!

 

A BICA se profissionalizou, agora é a vez dos mais jovens. O primeiro apresentador foi o Manoel Batera, depois, peguei o microfone e mandei ver, agora, passo o bastão para os profissionais. A vida é assim, sempre renovando!

 

Em 2023, o Bar do Armando faz 60 anos. Que Bom! E a BICA faz, no sábado magro de carnaval, uma justa homenagem a fundação do Bar do Armando, com o “Sessenta na Bica”.

 

Existe uma Marchinha Oficial, composta pelo Rui Machado, Edu do Banjo e Davi Almeida, com a voz da afinadíssima Márcia Siqueira. Muito legal.

 

É mais ou menos assim:

 

“O Bar do Armando faz 60 anos

E a gente comemora na Bica Sessenta,

Sessenta, na Bica Sessenta sem reclamar.

Não venha, pois, pois, com mimimi

Que é aqui que você vai sessentar

 

A minha homenagem ao Bar do Armando é a seguinte:

 José Rocha

 60 ANOS DA BICA

SÓ NÃO VAI QUEM JÁ MORREU

É FESTA DE SANTO, BOÊMIO

E ATEU

 

O BAR DO ARMANDO É PATRIMONIO

CULTURAL IMATERIAL

E A BICA COM EMOÇÃO

VAI MOSTRAR NO CARNAVAL

 

BOTA A BICA

PRA ZOOAR

CELESTIOU

EM TEU OLHAR

 

BAR DO ARMANDO

60 ANOS DE TRADIÇÃO

NÃO É PARA

QUALQUER

BOTECO, NÃO

 

SOU DO BAR DO ARMANDO

SOU SESSENTÃO

SOU BOÊMIO E ATEU

SOU DE SÃO SEBASTIÃO

 

Tantas coisas acontecem e acontecerão neste reduto boêmio, temas de milhares de reportagens e dissertações, muitas histórias e estórias e causos, que daqui a cem anos, algumas pessoas do futuro, irão postar nas mídias sociais como eram os bares tradicionais de Manaus e os carnavais de rua do final do século vinte e do inicio do vinte um. 

Num futuro próximo, as mídias sociais publicarão, com certeza, noticias históricas, fotos  e muito mais sobre o Bar do Armando e a BICA.

Aparecerão, no futuro, tudo isto, pois o Armando, seu Bar e a Bica fazem e farao parte  da história de Manaus.

 

É isso aí.


Fografias:

"A fotografia é mais do que um registro. É um bem precioso relacionado a um fato histórico. É um momento da vida que tem um significado naquele instante, mas   fica   para       a       posteridade"


 [JM1]

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

LEMBRANÇAS DE UMA PASSADO DISTANTE - PARTE IV

 

Por José Rocha

Saindo da pré-adolescência, resolvi conhecer e descobrir outros lugares, pois apesar de ficarem próximos a minha casa, eram distantes em meus pensamentos, lugares nunca vistos e cada vez que me afastava, mais tinha medo e ao mesmo tempo vontade de explorar, conhecer e viver a minha cidade.

Nada conhecia além dos limites do Instituto de Educação do Amazonas, o famoso IEA.

 Era “a boca da noite” quando resolvi caminhar rumo ao desconhecido, tinha medo, mas a vontade de seguir em frente era maior e tudo superava. Ao chegar na esquina da Avenida Ramos Ferreira com a Ferreira Pena, deparei-me com uma imensa praça, foi amor à primeira vista.

Observei, atentamente, uma piscina retangular, com luzes multicoloridas, e ao seu meio, um imenso chafariz, jorrando muita água e luzes sincronizadas. Ao lado direito, tinha um homem primitivo, em bronze ou ferro, com uma machadinha e, no lado esquerdo, acho que era um atleta, com uma mão indicando para o espaço e outra com a bola na mão.

Na realidade, eu não sabia o que aquilo significava, era uma obra de arte (estão, hoje, na praça interna do Museu de Manaus). O que mais me encantava era a piscina cheia, motivação para dar um pulo dentro d´água, e assim o fiz, era refrescante e notei que outros moleques estavam tomando banho, também. Tudo bem, apenas não esperava ser surpreendido por um vigia que me colocou para correr.

Moleque é atrevido e não pensa nas consequências de seus atos. Por ter sido um ribeirinho que tomava banho de igarapé na infância, não dispensava um pulo dentro de uma piscina, mesmo de uma praça e correndo o risco de ser repreendido na base do tapa pelos seguranças.

Aquilo era um misto de prazer, adrenalina e medo: pulava na piscina, ficava tirando onda no traseiro da estátua do atleta e voltava rapidamente, sendo perseguido por um segurança que chamava todos os tipos de palavrões e doidinho para me alcançar e meter-me a porrada, no entanto, nunca chegou a tanto, pois eu tinha “sebo na canela” e corria feito um louco em direção à Rua Tapajós. Todos os finais de semana era assim.

Os mais velhos falaram que existia uma imensa piscina e outra para criança num clube dos grã-finos, fiquei louco para conhecer, pois estava com o “saco cheio” de ser perturbado pelo segurança da Praça da Saudade.


Era o Parque Aquático do Rio Negro Clube, um lugar chique, bonito, frequentado pelos bacanas e seus filhos riquinhos. Sem chance para o Rochão pobretão. O jeito era planejar estratégias, ficava de olho quando chegava uma família de sócios e me misturava entre eles “na cola”, às vezes “era cola mil”, outras, não, pois era ‘barrado no baile”. Eu era “cara dura”, não me importava e procurava outros meios para entrar.

Era bem fácil, bastava subir num pé de uma árvore que ficava ao lado de um banheiro pela Ramos Ferreira, pular o muro e cair na piscina junto com os bacanas. Pense num “furão”.

Nadar era comigo mesmo, pois aprendi desde curumim a dar umas braçadas, uma forma de sobrevivência de um ribeirinho que morava dentro de um flutuante.

Ficava observando a molecada pulando de um trampolim baixo e os atletas do mais alto, onde davam impulso e pulavam de cabeça dentro da piscina. Era coisa para poucos, mas o camaradinha aqui resolveu pular lá de cima. Pense numa audácia do caboco.

Cai de barriga dentro d´água. Além da dor “morri de vergonha”, resolvendo ir embora e nunca mais voltar, pois aquilo não era meu lugar. Voltei a frequentar a Piscina do Parque Dez, aos domingos, na companhia de meu pai e irmãos.

Os anos se passaram e tive a oportunidade de entrar num avião modelo DC-3, colocado na praça pelo prefeito Jorge Teixeira, em 1977. para imitar os cariocas que colocaram um igual no Aterro do Flamengo, em 1970.  Em 1984, mesmo sob protestos, o pior prefeito de todos os tempos, o Amazonino Mendes, mandou destruí-lo e vendeu “a preço de banana” para os sucateiros.

Presenciei, também, a demolição de um prédio que fora construído dentro da praça (Gilberto Mestrinho, 1962), era uma aberração, mas por solicitação do então senador Jefferson Péres, em 2007, foi ao chão, possibilitando aparecer a fachada do imponente Atlético Rio Negro Clube.

Namorei na praça, curtir os shows musicais, festivais de peixes, feiras hippies, parquinho de diversões e muito mais. Depois de velho, voltei a frequentar a Praça 5 de Novembro (Praça da Saudade), pós revitalizada, para fazer caminhadas e admirar aquele lugar que fez parte de minha adolescência e vida adulta.

Depois de longo e tenebroso inverno, voltei no ano passado ao Parque Aquático do Rio Negro Clube, para curtir a apresentação da minha “Marujada de Guerra do Boi Caprichoso”, onde fiquei a lembrar dos tempos bons de minha adolescência. Nunca entrei no Salão dos Espelhos, quem sabe um dia, né? Uma coisa é certa: ainda vou dar uns pulos na piscina do clube para matar a saudade.

É uma viagem no tempo, com essas lembranças de uma passando distante.

É isso aí.

Fotos:

Modificada José Rocha

Jornal, 1960, IDD

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

PRÉDIO DA CASA N.S. DA DIVINA PROVIDÊNCIA - TEATRO JUVENIL

 


Fica na esquina da Avenida Ramos Ferreira, com Rua Tapajós e Travessa Frei Lourenço, pertencente a Ordem dos Frades Capuchinhos (Irmandade de São Sebastião), após o término das atividades teatrais passou a abrigar diversos outros empreendimentos, acolhendo, atualmente, a Universidade Paulista – UNIP.

A Praça Antônio Bittencourt (Praça do Congresso) era um descampado que vinha até a Rua Tapajós, com o decorrer do tempo, os frades capuchinos ficaram com uma parte que era conhecida como Travessa do Congresso, depois, foi mudado o nome para Travessa Frei Lourenço.

Neste local, construíram o prédio a Casa N. S. da Divina Providência, constituído de um Colégio e do Teatro Juvenil, vide abaixo uma fotografia aérea.

O Catecismo da Igreja Católica define a Divina Providência como as disposições pelas quais Deus conduz a Sua criação em ordem a essa perfeição: “Deus guarda e governa, pela Sua providência, tudo quanto criou, atingindo com força, de um extremo ao outro, e dispondo tudo suavemente. O termo Providência está ligado diretamente às ações de Deus para com a humanidade. Significa que Deus nunca nos abandona e sempre cuida de nós, providenciando tudo o que é necessário para nossa vida, usando de meios que não conseguimos nem imaginar.

O prédio foi construído na década de 50, como um "teatro de palco italiano", supervisionado pelos padres capuchinhos da Igreja de São Sebastião, com dinheiro público da SPEVEA (depois SUDAM), funcionando durante os anos 50 e início dos anos 60, formando toda uma geração de atores e gente de teatro e literatura.

Segundo a Revista Casa D´Itália "Diferentemente dos palcos de arena, por exemplo, o palco italiano era um espaço retangular, delimitado por três paredes fechadas (duas laterais e uma de fundos) e uma parede vazada que se abria ao público através de uma arcada denominada boca de cena" (vide foto abaixo).

Dentro dele funcionava o Teatro Juvenil, onde passou o Américo Alvarez “O Vovô Branco”, professor Edney Azancoth,  José Azevedo, e tantos outros.

Funcionou nos anos cinquenta e sessenta para a apresentação do programa “Tarde Alegre, aos sábados. comandado pelo radialista, diretor e ator Alfredo Fernandes (escreveu: Lágrimas de Brinquedo/Dois Anjinhos de Castigo/Um brinquedo atrás da porta). Depois, passou para os domingos, com "Manhã Alegre e, também, com "Noite Alegre". 

O local era utilizado, também, para solenidades de formaturas, exibição de películas cinematográficas, reuniões, confraternizações etc.

Tive o privilégio de estudar no Colégio da Divina Providência, depois, participei de reuniões de jovens católicos, conhecida como “Juventude Franciscana – JUFRA”.

Naquela época, o teatro já estava abandonado, onde tive a oportunidade de diversas vezes andar pelo palco e o camarim, além de mexer nas teclas de um velho piano.

Jogava bola com a moleca da Rua Tapajós e entorno, numa quadra polivalente que ficava ao lado do teatro, além de assistir aos programas de calouros e artistas nas tardes de sábados (comandado pelo Titio Barbosa), assistia, também, um show chamado "Confusão na Taba", do Clodoaldo Guerra.

No dia 31 de maio de 1981, foi publicado no Jornal do Comercio, uma moção de protesto pela FITAM – Federação Independente de Teatro do Amazonas, contra a utilização do Teatro da Divina Providência para outros fins, que não seja os teatrais.

Era contra a utilização daquele espaço para práticas de “Roller-Skates” (Patins de Rodas), responsabilizando a Ordem dos Capuchinhos e o Arcebispado que deixaram levar pelo pecado da Usura.


No dia 26 de agosto de 1981, o Jornal A Notícia publica a seguinte matéria paga “Inaugura hoje o Play Center do Amazonas”. A fita de inauguração foi descerrada pela Primeira Dama do Estado, Amine Lindoso. Teve um show de patinações de jovens convidados especiais (os “feras” de patins de Manaus), depois, houve um jantar à sociedade amazonense (somente para autoridades e vips).

O Play Center possuía uma super lanchonete, sofisticada pista de patinação, jogos eletrônicos, restaurante e Adega Don Paco.


Tive a oportunidade de assistir aos jovens brincando de patins, além de gostar de jogar o “Pinball” ou “Flíper”, um jogo eletromecânico onde o jogador manipulava duas palhetas de modo a evitar que uma ou mais bolas de metal caíssem no espaço existente na parte inferior da área de jogo. A bola, quando entrava em contato com certos objetos espalhados pela área de jogo, aumentava a pontuação do jogador.

Ficou abandonado por um bom tempo, servindo, depois, como depósito de uma firma de geladeiras e outros eletrodomésticos.

Serviu para o “Colégio Einstein”, depois, “Faculdade Uninorte”, passando um tempo fechado e foi alugado para a Faculdade UNIP, que está até os dias atuais, englobando, também, o antigo Colégio da Divina Providência.

Durante longos anos a Dona Maria (Dona Branca) serviu os seus tacacás bem em frente ao prédio, uma tradição que até hoje permanece com os seus filhos e netos.

Na fotografia abaixo, clicada por mim, no dia quatro de fevereiro de 2023,  aparece o prédio, na atualidade, e, ao fundo, o Luso Sporting Club e o CAUA, da UFAM, ao lado esquerdo está o Zigomar Madeira, morador antigo da Rua Tapajós, uma pessoa que conhece profundamente todas as  transformações por que passou o Teatro da Divina Providência.  


Atualmente, está todo descaracterizado, todas as janelas e portas estão fechadas e quem não conhece a sua história jamais imaginará que ali fora um dia um teatro.

Na minha humilde opinião, o governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa - SEC, possui recursos financeiros e poder para comprar ou alugar o prédio e, ressurgir das cinzas, o Teatro da Divina Providência e entregá-lo para supervisão e manutenção por parte da FETAM - Federação de Teatro do Amazonas, pois àquele prédio fora construído para ser, eternamente, um TEATRO! 

É mano velho, este prédio possuí muitas histórias e faz parte de toda uma geração de manauaras, principalmente, dos colegas e amigos da Rua Tapajós, Vila Paraíso e adjacências.

É isso aí.




Fotos:

Manaus Antiga

Moacir Andrade

Revista Casa D´Itália

José Rocha

Fontes:

Jornal do Commercio

Jornal A Notícia

BLOGDOROCHA