sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

PRÉDIO DA CASA N.S. DA DIVINA PROVIDÊNCIA - TEATRO JUVENIL

 


Fica na esquina da Avenida Ramos Ferreira, com Rua Tapajós e Travessa Frei Lourenço, pertencente a Ordem dos Frades Capuchinhos (Irmandade de São Sebastião), após o término das atividades teatrais passou a abrigar diversos outros empreendimentos, acolhendo, atualmente, a Universidade Paulista – UNIP.

A Praça Antônio Bittencourt (Praça do Congresso) era um descampado que vinha até a Rua Tapajós, com o decorrer do tempo, os frades capuchinos ficaram com uma parte que era conhecida como Travessa do Congresso, depois, foi mudado o nome para Travessa Frei Lourenço.

Neste local, construíram o prédio a Casa N. S. da Divina Providência, constituído de um Colégio e do Teatro Juvenil, vide abaixo uma fotografia aérea.

O Catecismo da Igreja Católica define a Divina Providência como as disposições pelas quais Deus conduz a Sua criação em ordem a essa perfeição: “Deus guarda e governa, pela Sua providência, tudo quanto criou, atingindo com força, de um extremo ao outro, e dispondo tudo suavemente. O termo Providência está ligado diretamente às ações de Deus para com a humanidade. Significa que Deus nunca nos abandona e sempre cuida de nós, providenciando tudo o que é necessário para nossa vida, usando de meios que não conseguimos nem imaginar.

O prédio foi construído na década de 50, como um "teatro de palco italiano", supervisionado pelos padres capuchinhos da Igreja de São Sebastião, com dinheiro público da SPEVEA (depois SUDAM), funcionando durante os anos 50 e início dos anos 60, formando toda uma geração de atores e gente de teatro e literatura.

Segundo a Revista Casa D´Itália "Diferentemente dos palcos de arena, por exemplo, o palco italiano era um espaço retangular, delimitado por três paredes fechadas (duas laterais e uma de fundos) e uma parede vazada que se abria ao público através de uma arcada denominada boca de cena" (vide foto abaixo).

Dentro dele funcionava o Teatro Juvenil, onde passou o Américo Alvarez “O Vovô Branco”, professor Edney Azancoth,  José Azevedo, e tantos outros.

Funcionou nos anos cinquenta e sessenta para a apresentação do programa “Tarde Alegre, aos sábados. comandado pelo radialista, diretor e ator Alfredo Fernandes (escreveu: Lágrimas de Brinquedo/Dois Anjinhos de Castigo/Um brinquedo atrás da porta). Depois, passou para os domingos, com "Manhã Alegre e, também, com "Noite Alegre". 

O local era utilizado, também, para solenidades de formaturas, exibição de películas cinematográficas, reuniões, confraternizações etc.

Tive o privilégio de estudar no Colégio da Divina Providência, depois, participei de reuniões de jovens católicos, conhecida como “Juventude Franciscana – JUFRA”.

Naquela época, o teatro já estava abandonado, onde tive a oportunidade de diversas vezes andar pelo palco e o camarim, além de mexer nas teclas de um velho piano.

Jogava bola com a moleca da Rua Tapajós e entorno, numa quadra polivalente que ficava ao lado do teatro, além de assistir aos programas de calouros e artistas nas tardes de sábados (comandado pelo Titio Barbosa), assistia, também, um show chamado "Confusão na Taba", do Clodoaldo Guerra.

No dia 31 de maio de 1981, foi publicado no Jornal do Comercio, uma moção de protesto pela FITAM – Federação Independente de Teatro do Amazonas, contra a utilização do Teatro da Divina Providência para outros fins, que não seja os teatrais.

Era contra a utilização daquele espaço para práticas de “Roller-Skates” (Patins de Rodas), responsabilizando a Ordem dos Capuchinhos e o Arcebispado que deixaram levar pelo pecado da Usura.


No dia 26 de agosto de 1981, o Jornal A Notícia publica a seguinte matéria paga “Inaugura hoje o Play Center do Amazonas”. A fita de inauguração foi descerrada pela Primeira Dama do Estado, Amine Lindoso. Teve um show de patinações de jovens convidados especiais (os “feras” de patins de Manaus), depois, houve um jantar à sociedade amazonense (somente para autoridades e vips).

O Play Center possuía uma super lanchonete, sofisticada pista de patinação, jogos eletrônicos, restaurante e Adega Don Paco.


Tive a oportunidade de assistir aos jovens brincando de patins, além de gostar de jogar o “Pinball” ou “Flíper”, um jogo eletromecânico onde o jogador manipulava duas palhetas de modo a evitar que uma ou mais bolas de metal caíssem no espaço existente na parte inferior da área de jogo. A bola, quando entrava em contato com certos objetos espalhados pela área de jogo, aumentava a pontuação do jogador.

Ficou abandonado por um bom tempo, servindo, depois, como depósito de uma firma de geladeiras e outros eletrodomésticos.

Serviu para o “Colégio Einstein”, depois, “Faculdade Uninorte”, passando um tempo fechado e foi alugado para a Faculdade UNIP, que está até os dias atuais, englobando, também, o antigo Colégio da Divina Providência.

Durante longos anos a Dona Maria (Dona Branca) serviu os seus tacacás bem em frente ao prédio, uma tradição que até hoje permanece com os seus filhos e netos.

Na fotografia abaixo, clicada por mim, no dia quatro de fevereiro de 2023,  aparece o prédio, na atualidade, e, ao fundo, o Luso Sporting Club e o CAUA, da UFAM, ao lado esquerdo está o Zigomar Madeira, morador antigo da Rua Tapajós, uma pessoa que conhece profundamente todas as  transformações por que passou o Teatro da Divina Providência.  


Atualmente, está todo descaracterizado, todas as janelas e portas estão fechadas e quem não conhece a sua história jamais imaginará que ali fora um dia um teatro.

Na minha humilde opinião, o governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa - SEC, possui recursos financeiros e poder para comprar ou alugar o prédio e, ressurgir das cinzas, o Teatro da Divina Providência e entregá-lo para supervisão e manutenção por parte da FETAM - Federação de Teatro do Amazonas, pois àquele prédio fora construído para ser, eternamente, um TEATRO! 

É mano velho, este prédio possuí muitas histórias e faz parte de toda uma geração de manauaras, principalmente, dos colegas e amigos da Rua Tapajós, Vila Paraíso e adjacências.

É isso aí.




Fotos:

Manaus Antiga

Moacir Andrade

Revista Casa D´Itália

José Rocha

Fontes:

Jornal do Commercio

Jornal A Notícia

BLOGDOROCHA