sexta-feira, 11 de junho de 2021

ISAAC BENAYON SABBÁ, O ETERNO REI DA AMAZÔNIA

O Isaac Sabbá nasceu na cidade de Cametá, no Estado do Pará, no dia 12 de fevereiro de 1907 (faleceu em Manaus, 22 de março de 1996),   o terceiro de sete filhos de Primo Sabbá e Dona Fortunata Sabbá, uma família descendente de judeus marroquinos que migraram para a Amazônia entre 1880    e 1890 – veio para Manaus com 15 anos de idade, construindo um império industrial, sendo eleito, aos 53 anos, pelas revistas internacionais, como o Rei da Amazônia, eternizado com este título, pois jamais será destronado.

Os seus antecedestes eram considerados judeus serfatitas (em hebraico significa francês) – vieram de Marrocos para a Amazônia, com toda a família, prenunciando o desejo permanente de ficar, assegurando o caráter doméstico e gregário da vida judaica, milenarmente presa aos valores culturais e religiosos, como forma    de assegurar a permanência de sua cultura.

O jovem Isaac Sabbá não chegou a concluir o curso ginasial, no entanto, era um leitor voraz de livros e do noticiário de economia da revista Time e de jornais ingleses e americanos, o que teve uma grande importância na sua formação, contribuindo para que aos vinte anos de idade já estivesse familiarizado com o sistema financeiro internacional e com as relações econômicas  dos países industrializados.

Casou com a bela parintinense Irene (Assayag) Gonçalves Sabbá, em 1942. O casal teve cinco filhos: Moisés (primogênito e sócio), Alberto, Mário, Ester e Débora (faleceu antes de completar um ano de idade), dedicando basicamente toda a sua vida a três coisas: a família, o trabalho e a religião.

Em 1922, o jovem Isaac Sabbá, em sociedade com o seu irmão Jacob fundaram a primeira firma, a Jacob & Cia, ficando o Jacob na área burocrática e o Isaac tornando-se um excelente vendedor e com bons conhecimentos de câmbio e comercio exterior – era o início de uma carreira empresarial de um homem de pensamento e ação, voltado para resultados, mas dotado de um profundo respeito ao meio ambiente e aos interesses da sociedade - coisas muita rara de encontrar nos empreendedores dos dias atuais.

Em 1930, depois de refletir sobre as lições do mercado, ocorrido em 1929 com o crack da bolsa de Wall Street, expande os seus negócios com a firma J. Sabbá & Cia, depois associando-se ao empresário Isaac Péres, nascendo a empresa Péres Sabbá & Cia, contando com modernas instalações industriais, a Usina Vencedora, na Ilha de Monte Cristo, com produção e exportação de borracha bruta e lavadas, além de óleo de copaíba, balata e jutaicica – era o início do homem de negócios voltados para o comércio exterior.

O Isaac Sabbá era um homem visionário, descobrindo um nicho de mercado de exportação de borracha, castanha, sorva, couros e peles, cumaru, piaçava, cipó-titica e outros produtos regionais, tendo como novo modelo o fator qualidade (apresentação e embalagem de primeira).

Tornou-se grande exportador de borracha, com considerável lastro financeiro e com credibilidade, conseguindo financiar e pagar antes do prazo a Usina Labor no bairro de Educandos. 

Três anos depois o Brasil declara guerra aos países do Eixo Alemanha-Itália-Japão, impactando os seus negócios, mas nada o esmorecia em continuar com os seus objetivos de expandir as suas empresas.

Com os Acordos de Washington houve a ampliação da produção de borracha, mas limitada a sua venda excedente somente para os norte-americanos, com o Isaac Sabbá perdendo a primazia  da exportação.

Ficou instituído o monopólio da borracha que perdurou alguns anos depois do fim da Segunda Guerra, além da proibição dos Estados Unidos da entrada da castanha do Brasil em seu território, indo de encontro aos sonhos e projetos do Isaac Sabbá. 

Mesmo assim, em 1943, em plena guerra, assumiu o ativo e o passivo da empresa B. Levy & Cia (não foi um bom negócio para o empresário), adquirindo do espólio dezenas de empresas e seringais.

O Isaac Sabá tinha um extraordinária feeling (percepção de uma caminho a tomar para alcançar o futuro). Com o fim da proibição da importação por parte dos Estados Unidos, modernizou a Usina Labor e a Usina Vitória, reconquistando o mercado de castanha, tornando-se o maior exportador deste produto.

Em 1948, Isaac Sabbá torna-se representante da empresa petrolífera peruana Ganso Azul. Com a sua percepção de longo prazo, sentiu que não dava mais para continuar com o negócio da borracha e dedicou a este novo ramo, pois percebeu que ali estava a chave do maior de seus empreendimentos industriais.

Para competir com a força das marcas Shell e Texaco, o Isaac Sabbá ouviu a seguinte sugestão de um dirigente da indústria peruana: “para ganhar competitividade e ampliar o mercado, o Sr. Sabbá deve instalar uma refinaria em Manaus e criar a sua própria marca, passando de distribuidor dos nossos produtos refinados a importador do nosso petróleo bruto”.

Em 21 de junho de 1952, foi fundada a Companhia de Petróleo da Amazônia – Copam. Em 04 de abril de 1953 foi autorizada a instalação e exploração da Refinaria. O seu braço direito foram o Moysés Benarrós Israel e o Moisés Gonçalves Sabbá.

Em 03 de outubro de 1953, o Presidente Getúlio Vargas assinou a lei monopolizando o petróleo, criando a Petrobras, com o refino sendo incluindo, mas sem prejuízo das concessões já realizadas. A Copam foi a última refinaria do setor privado do Brasil.    

Vencendo todos os obstáculos possíveis e imagináveis e surpreendendo a tudo e a todos, em 1956, a Refinaria de Petróleo de Manaus entrou em operação, abastecendo as regiões Norte e Nordeste, provocando a queda dos preços dos derivados.

A Refinaria Isaac Sabbá foi inaugurada oficialmente em 03 de janeiro de 1957, com a presença do Presidente da República Juscelino Kubistschek, que declarou: “Honra e orgulho que sinto neste momento, como devem sentir os homens que idealizaram, planejaram e construíram esta obra magnífica em plena selva amazônica, dando uma demonstração edificante da força e da capacidade dos brasileiros para os grandes empreendimentos”.

Em 1960, o Isaac Sabbá ganhou projeção no mundo financeiro internacional, com importantes veículos de comunicação das Américas e da Europa destacando o significado econômico dos seus empreendimentos na Amazônia. Aos 53 anos de anos de idade comandava um respeitado complexo industrial com faturamento anual na casa dos cem milhões de dólares.

Era um “Plantador de Indústrias em Plena Selva” e o "Visconde de Mauá Amazônico". Foram dezenas de empresas com a marca Sabbá (refinaria, terminais de petróleo, companhias de navegação, estaleiro, usinas de açúcar, empresas  de exportação, e um elenco de empresas espalhadas pelo Amazonas, Pará e Rondônia, beneficiando borracha, castanha e madeira, produzindo laminados e compensados, extraindo cassiterita e muito mais) que se fossem listadas tomaria duas laudas deste espaço.

No entanto, somente para ilustração, citarei algumas delas: I. B. Sabbá & Cia. Ltda. – Petróleo Sabbá S.A. – Serraria Hore – Serraria Rodolfo – Serraria Itacoatiara – Ciazônia – Curtume Rio Negro – Copam – Fitejuta S.A. – Eletro-Ferro Construções S.A. – Estanave – Compensa – Terminais de Petróleo – Mineradoras etc.

Em 1971, o governo brasileiro desapropriou a Refinaria Isaac Sabá, criando a BR – Distribuidora, sendo incorporada ao patrimônio da Petrobrás e desde 1977, é oficialmente denominada Refinaria Isaac Sabbá, em homenagem ao seu fundador.

O Isaac Sabbá se associou a Shell do Brasil, criando a empresa Petróleo Sabbá. Hoje, constitui-se numa empresa bem sucedida, com o uso exclusivo da marca Shell (aliando-se depois também com a Cosan) em toda a Amazônia, com terminais em Manaus, Belém, São Luís, Teresina e Tocantins, tornando-se o principal negócio da família, recebendo em 2016, o Prêmio Empresa Mais, do jornal O Estado de São Paulo, eleita a melhor empresa do segmento de distribuição e comercialização de combustíveis da região Norte  do Brasil.    

Recebeu muitas medalhas, diplomas e títulos, porém, o mais destacado foi a Ordem do Mérito Industrial CNI – a maior honraria concedida a personalidades e instituições que tenham se tornado dignas de reconhecimento e admiração pelo setor produtivo brasileiro.

Por ter sido um mega empreendedor ganhou projeção internacional, com as Revistas Business Week, Time Magazine, Paris Match, La Nación e outros importantes veículos de comunicação rendendo a este homem com rotina no mundo verde e fascinante da floresta, dando-lhe o título de REI DA AMAZÔNIA.

Atualmente, dispomos de um Parque Industrial e grupos de renome no comércio varejista em Manaus, no entanto, levando em conta o complexo industrial montado pela Isaac Sabbá não tenho duvida de que ele será eternamente o Rei da Amazônia, sendo praticamente impossível surgir outra pessoa que possa destroná-lo.

Esta postagem somente foi possível escrevê-la graças a Senhora Bena Canto e ao Dr. Luiz Eron Castro, que entregaram, gratuitamente, os livros “História e Memória – Judeus e Industrialização no Amazonas”, do Elias e David Salgado” e “Isaac Sabbá, da Etelvina Garcia”, com autorização do Diretor Geral da empresa I. B. Sabbá Ltda., o senhor Isaac Ben Moisés Sabbá, bem como, da Biblioteca do SESC que disponibilizou o livro “Amazônia – Formação Social e Cultural, do Samuel Benchimol”.

É isso ai. 

Fotos: Extraídas do livro "Isaac Sabbá, da Etelvina Garcia"
ANTIGA RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA SABBÁ NA RUA MONSENHOR COUTINHO, 650