Ao ouvir a canção “Garrote de Ouro”, umas das faixas do CD “O Lago das 7 Ilhas”, do músico amazonense Antônio Pereira, lembrei dos nossos boizinhos de pano.
A cidade de Manaus nas décadas de 50, 60 e 70, possuía uma grande variedade de bois; a brincadeira era muito apreciada pela população.
Os principais eram: Corre-Campo (São Francisco), Malhado (Praça 14), Mina de Ouro (não sei o bairro ), Tira Prosa (Santa Luzia), Campineiro (Glória), Luz de Guerra (Matinha), Brinco de Ouro (também não sei ), Rica Prenda (Praça 14) e Caprichoso (Praça 14).
Os principais eram: Corre-Campo (São Francisco), Malhado (Praça 14), Mina de Ouro (não sei o bairro ), Tira Prosa (Santa Luzia), Campineiro (Glória), Luz de Guerra (Matinha), Brinco de Ouro (também não sei ), Rica Prenda (Praça 14) e Caprichoso (Praça 14).
A brincadeira era formada pelo Boi de Pano, Batucada do Boi (os surdos eram de couro de jibóia), Amo do Boi, Rapazes, Brincantes, Vaqueiros, Miolo do Boi, Índios, Pajé, Padre, Mãe Catirina e Pai Francisco.
As apresentações eram feitos nos Currais, lugar de origem dos bois e, no Campo do General Osório e posteriormente na Bola da Suframa (Distrito Industrial), estes locais serviam para apresentação oficial, concorrendo aos prêmios do festival.
O enredo da brincadeira é basicamente assim: Uma mulher negra, chamada Catirina, fica grávida, tem o desejo de comer a língua do Boi mais estimado da Fazenda; o seu marido, o Pai Francisco, mata o Boi para satisfazer a sua esposa grávida. O Amo do Boi, dono da Fazenda, fica furioso e após uma investigação descobre o autor da façanha. Força o Pai Francisco a trazer de volta o seu boi querido. Entram em ação o médico, o padre e os índios, com o Pajé fazendo ressuscitar o Boi. O Amo manda fazer uma grande festa para comemorar o milagre, todos são convidados para dançar e brincar no terreiro da Fazenda, com muitas toadas (cantoria) e batuques a noite toda.
Lembro de um causo, narrado pelo compositor Afonso Toscano, foi mais ou menos assim: o miolo do boi do Garrote Luz de Guerra, do saudoso Maranhão, era um negão que trabalhava nos Correios, considerado o melhor de pedaço; num belo sábado quente de Manaus, “secou” todos os botecos da Matinha, não se aguentava em pé, imaginem dançar embaixo do boi! Naquele dia, o boi iria se apresentar na Bola da Suframa, o miolo foi tratado com bastante água de coco, sucos, banhos de cacimba, sono reparador e Sal de Fruta Eno; melhorou bastante, dava para o gasto. Toda a turma foi à pé para o festival; no caminho, o negão começou a tomar umas batidas de maracujá, não deu outra: voltou o porre. Quando chegaram no local da apresentação, estava no palco o grupo folclórico "Tribo dos Andirás"; o miolo aproveitou o tempo de espera para tomar mais uns goles. O Paulo Gilberto, eterno apresentador do festival, fez a chamada: Eeeaaagoora com vooocês, é ele, é ele, é elê, ooo Gaarrrrooote Luuuuzzz de Gueeeerrrra! Fogos estourando, a noite virando dia, tambores rufando e a galera delirando! Todos os componentes subiram a rampa do Tablado, que era feito de madeira, na forma cilíndrica e com três metros de altura; o miolo foi ajudado pelos colegas, ficou bem no meio da arena, não conseguiu manter o boi em pé, resolveu dormir embaixo do boi, em plena apresentação. O Amo do Boi foi acordá-lo - deu umas bicudas no boi e gritou: - Acorda, negão, acorda, negão! Movimenta! Gira! Dança! Porra! Faz alguma coisa caralho! O negão se levantou, girou com o boi e correu direto, passou do Tablado, voou uns três metros e meio, foi direto para o chão! Foi "caco" de boi e do negão para todos os lados! Passou a ser chamado de “O Primeiro Boi Voador de Manaus”!
O Brilhante (São José), Garanhão (Educandos) e Corre-Campo (São Francisco) aderiram a “batida” e a megalomania dos bois de Parintins; disputam, atualmente, na arena do Centro Cultural dos Povos da Amazônia.
Saudades dos boizinhos de pano de Manaus, do Estádio General Osório e do Tablado da Bola da Suframa!
Comentários:
Afonso Hipólito, disse...
Bacana o blog, vim parar aqui por um erro bobo,cliquei errado mas acertei,vou voltar aqui com tempo pra dar uma lida no aquirvo,gostei mesmo...
Roberto Góes Monteiro, disse...
Em 1969 assisti ao "Festival Folclórico" na praça General Osório. Era patrocinado, salvo engano, pelo falecido "O Jornal", dirigido pela Dona Lourdes Archer Pinto. Fiquei fascinado pela beleza desta festa. Enquanto foi na General Osório, sempre lá ia e tirei cententas de slides. Despois, mudou-se para a Bola da Suframa. Ainda existe o Festival? Sinto saudades.
Mauro Bechman ,disse...
Parabéns! Brinquei no Garrote Malhado da Praça 14 e tenho belas lembranças. Lamento os manauaras não lutarem pela preservação e continuidade de sua cultura. Brinquei nos anos 80 na Bola da Suframa. Infelizmente nós escrevemos pouco sobre nossa cultura e temos um péssimo vicio de lamentarmos pelo que perdemos. Sou efetivamente contra a "Parintinização" dos bois de Manaus. Se fôssemos mais briosos - falo da nossa elite econômica e política - não deixaríamos nossa cultura sucumbir. Temos ainda a chance de preservar o encontro das águas. Parabéns pelo post e pelo blog! Saudações Geográficas e Amazônicas!
Foto: Não sei o nome do Boi de Pano, foi tirada na década de setenta, o local é a Rua Igarapé de Manaus, no lado direito aparece o Bira (calção verde e camiseta regata), um bicheiro carioca que bancava todas as festas juninas no Igarapé de Manaus e, o meu saudo pai Rochinha (todo de branco), foi um luthier famoso na nossa cidade.
Um comentário:
Quando criança, morava no Bairro da Raiz,e a nossa maior alegria era na época de festas juninas, quando o Corre Campo entrava no bairro. Que colorido!!! Era um misto de alegria e extase, quando eles faziam as apresentações. Lembro perfeitamente da riqueza cultural, das toadas e como dançavam lindo!!! Bons tempos aqueles, da ternura, poesia e inocência.......
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