terça-feira, 19 de abril de 2011

TODO DIA É DIA DE ÍNDIO

No Brasil, a data 19 de Abril, foi consolidada como o “Dia do Índio”, através do Decreto-Lei no. 5.540/43 no governo do presidente Getúlio Vargas; considero, apesar da data oficial e, de tudo de ruim que fizeram e ainda fazem com os índios que, todo dia é dia de índio.

Para entendermos melhor o porquê desta data, os historiadores deram a seguinte versão: tudo começou com o Primeiro Congresso Indigenista, ocorrido em 1940, no México – as lideranças indígenas foram convidadas, porém, ficaram preocupadas e temerosas, em decorrência de séculos de perseguição, agressão e dizimação pelos “homens brancos”, após bastante reflexão, resolveram participar e entenderam a importância daquele momento histórico, exatamente no dia 19 de Abril foi quando eles participaram daquele evento.

Parece brincadeira, mas, o termo índio nasceu de um brabo engano histórico, o navegador Cristóvão Colombo ao chegar à América, chamou os seus habitantes de índios, pois pensava ter desembarcado nas Índias, apesar de não se usar índio para designar o habitante da Índia, e sim indiano, hindu ou índico.

Para se ter uma ideia do violento extermínio da população indígena, estima-se que quando os nossos invasores chegaram ao Brasil, a população era de seis milhões, com seiscentas línguas indígenas, restaram em torno de duzentos e vinte mil indivíduos e cento e setenta línguas, com o desaparecimento de mais ou menos 450 grupos humanos diferentes.

A Região Norte detém a maior parcela da população indígena, chegando aos 52%, com o Estado do Amazonas sendo o campeão, com 16% do total e, com a minha cidade de Manaus abrigando em torno de vinte mil indígenas, tendo maior participação a etnia Tucano (Alto Rio Negro), além dos Ticunas, Saterê-Mawé e outras menores, dados fornecidos pela Confederação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).

Ano retrasado a jornalista Elaízes Farias, do jornal A Crítica, fez uma belíssima reportagem sobre a índia Atwãma, da etnia Sateré-Mawé. A menina de apenas de 15 anos de idade, participou do Ritual da Tucandeira (passagem para a vida adulta), no Encontro dos Guerreiros (festa que mistura danças, comidas e concursos de zarabatana, na comunidade Sahuapé, em Manacapuru, Amazonas). Ela quebrou a tradição, tornando-se a primeira mulher a participar do ritual (vinte sessões com luva de palha cheia de formigas de ferrão venenoso e doloroso).

Ela nasceu em Ponta Alegre, no município de Barreinha; mora em Manaus na Comunidade Waikuru, o seu nome em português é Leiciane Costa da Silva, estuda o ensino médio e deseja cursar Medicina; ela fez a seguinte declaração: “Decidi participar para mostrar que as mulheres são tão corajosas quanto os homens, mostrar que nós também podemos ser guerreiras, ao participar do ritual, também busco ter mais saúde e coragem”. Parabéns guerreira Atwãna!

A Polícia Federal fez uma mega operação contra as prefeituras dos municípios de Tefé, Tabatinga e Pauini (interior do Amazonas), os responsáveis são suspeitos de desviarem a bagatela de dezenove milhões de reais, este dinheiro seria destinado ao Plano de Atenção à Saúde Básica, da Merenda Escolar e do Programa de Saúde Indígena – até o momento, ninguém foi preso, enquanto isso, os curumins indígenas estão morrendo à míngua. Quanta maldade!

O Estado do Amazonas serviu de chacota para todo o Brasil, tudo por ter sido o último colocado nas provas do ENEM, em 2009. A escola estadual Dom Pedro I, situa-se no município de Santo Antônio do Içá, fronteira com a Colômbia, os alunos são todos índios, tendo como primeira língua o espanhol, segunda, a língua nativa e, por último, a língua portuguesa.

Eles não assimilaram o conteúdo das provas, pois estavam em português, muitos alunos do sul/sudeste do país ficaram rindo dos nossos desprezados indiozinhos, eles não sabiam que os exames da “sociedade urbana” não podem ser usados para medir o conhecimento dos índios. Depois do vexame, os homens do governo irão fazer as provas diferenciadas para os nossos irmãos índios do interior do Amazonas.
Enquanto isso, o governador Eduardo Braga (atual Senador da República), mandou construir uma Ponte ligando Manaus-Iranduba, orçada em mais de um bilhão de reais, ainda não foi concluída (eles querem mais dinheiro). Para os homens do poder executivo, a educação do povo não tem muito valor, muito menos dos indígenas.

Para finalizar, declaro que corre nas minhas veias um pouco do sangue indígena, lembro muito bem da minha avó Maria Fernandes, ela era uma cabocla do município de Terra Nova, foi ela quem me ensinou a comer e a gostar de um peixe moqueado, uma tapioquinha, um biju, um mingau de banana pacovã, além de receber dela, os olhos amendoados, traços dos meus antepassados indígenas.

Apesar de tudo de ruim que fizeram e ainda fazem com os índios, posso dizer que “todo dia é dia índio”! É isso.

Foto: J. Martins Rocha

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