Quando penso nas minhas travessuras quando era moleque, sinto um friozinho na barriga, essas lembranças vieram à tona quando vi um moleque com a cabeça quebrada, voltei ao passado.
Certa vez fui à Prainha da Ponta Negra, na época existiam inúmeras pedras, com a cheia do Rio Negro elas ficavam encobertas, fui chegando e logo declarando: - Vou molhar o esqueleto! Quando veio um grande banzeiro (marola para os sulistas) dei um pulo dentro d’água, não estava nem ai para o perigo, o pior aconteceu, pois dei com a cabeça numa grande pedra, a minha sorte foi que não desmaiei, senão, não estava aqui contando essa história, abriu uma brecha no couro cabeludo, pior ainda, ninguém me ajudou, fiquei tomado de sangue, não existia nem um Pronto Socorro por perto, o jeito foi pegar um taxi, fui direto para a emergência da Santa Casa de Misericórdia, peguei vários pontos na cachola, passei um bom tempo no estaleiro, fiquei com uma grande cicatriz; ao passar no vestibular tive um misto de alegria e vergonha, pois os meus amigos pelaram a minha cabeça na marra e, apareceu aquele rombo na cabeça, o jeito foi usar uma boina por um bom tempo.
Quando passeio pelos Parques Jefferson Peres, Igarapé de Manaus e o Mestre Chico, sinto uma nostalgia danada, pois aqueles lugares eram inundados pela águas do Rio Negro, a pedida da molecada era tomar banho de rio e pular das Pontes da Sete de Setembro, pense numa loucura que eu cometia, os mais frouxos ficavam embaixo da ponte, olhando a movimentação dos barcos, quando não vinha nenhum, o aviso era dado para os mais exaltados, confiava nos meus amigos e pulava daquelas alturas dentro d’água, quando havia alguma desavença era comum ser dado um aviso falso, muitos se arrebentaram dentro de canoas e botes, mesmo sabendo do perigo, pulava assim mesmo.
Eu tinha uma predileção danada em subir em árvores frondosas, a caída de uma dessas era morte na certa, mesmo assim, toda semana subia nas mangueiras do quintal do Dural (antigo morador do Igarapé de Manaus) e do Hospital da Beneficente Portuguesa, além dos açaizeiros, pitombeiras, abacateiros e jenipapeiros da vida. Que loucura! Lembrar que eu escalava também os muros do Colégio Benjamim Constant, hoje, me dá arrepios, outrora, não estava nem ligando para o perigo, existia uma passagem pela Rua Tapajós que tinha que escalar com as pontas dos pés, um escorregão seria fatal, mesmo assim passava todo final de semana.
A ladeira da Rua Tapajós é umas das mais acentuadas de Manaus, sempre foi evitada pelos motoristas novatos, principalmente pelas mulheres, na minha infância era moleza descer do topo a bordo de um Patinete, passava entre os carros, parava somente na Rua Leonardo Malcher, certa vez, um moleque jogou um tijolo no meio da ladeira, exatamente quando tinha dado o impulso para descer, não deu para frear, peguei uma tremenda queda, foi caco de Patinete e das minhas pernas para todos os lados, guardo até hoje as marcas da minha loucura juvenil.
Morcegar é um termo utilizado no Nordeste para tomar ou salta de bonde ou trem em movimento; não alcancei os bondes de Manaus, bem como, nunca tivemos trem por estas bandas, o costume da molecada era morcegar carroças, ônibus de madeira e carros utilitários, pior ainda, utilizávamos patinetes ou bicicletas para pegar caronas nos carros em movimento, uma freada brusca do motorista sempre sobrava para o moleque que vinha de gaiato atrás, pois bem, o bonitinho aqui era tarado em morcegar, peguei muitas quedas, sou todo ralado, ainda bem que sou preto e elas não aparecem muito.
Como gostava de alturas, fiz parte de dois circos da molecada do Igarapé de Manaus, os meus dois irmãos e eu, éramos conhecidos como “Os Irmãos Borracha”, o trapézio era moleza, fazíamos as maiores acrobacias nas barras, certa vez, estava de cabeça para baixo, um moleque que pertencia ao circo concorrente, pegou uma baladeira (estilingue) e deu uma balada no meu ovo esquerdo, cai de cabeça no chão, acho que fiquei doido da cabeça até hoje (brincadeirinha!).
Para conter as minhas travessuras, o meu pai me forçava a trabalhar pela manhã na oficina dele, lixava, serrava, colava e invernizava os violões e cavaquinhos que ele fabricava; pela tarde, frequentava o Colégio Barão do Rio Branco - quando ficava com o saco cheio, fugia para brincar e fazer travessuras com os meus amigos, pegava uns corretivos do papai, mas, não tomava jeito. Eu, hein!
Para conter as minhas travessuras, o meu pai me forçava a trabalhar pela manhã na oficina dele, lixava, serrava, colava e invernizava os violões e cavaquinhos que ele fabricava; pela tarde, frequentava o Colégio Barão do Rio Branco - quando ficava com o saco cheio, fugia para brincar e fazer travessuras com os meus amigos, pegava uns corretivos do papai, mas, não tomava jeito. Eu, hein!
Enquanto hoje as crianças gostam de brincar de jogos de game, na minha infância, o negócio era diferente, corria atrás de papagaio de papel, pegava quedas, cortava os dedos com a linha de cerol; jogava bola nos campinhos de várzea, sempre acabavam em brigas entre a molecada das Ruas Ipixuna, Major Gabriel e Igarapé de Manaus, apanhava na rua e em casa, pior ainda, levava peia do papai, da mamãe e da minha avó materna. Êta moleque levado da breca!
Pois é, apesar das minhas peraltices, tive uma infância feliz, saudável, cresci forte e sem vícios. Depois, tudo mudou! Que tempo bom, que não volta mais!
Um comentário:
muito bom!!!
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