Pulei da rede quando o galo já tinha cantado fazia horas.
Sem olhar o aparelho celular, tentei fazer um exercício de memória para adivinhar
as horas e o dia da semana. Será oito ou nove da manhã? É sábado ou domingo?
Sei lá! Tanto faz como tanto vez. Não tenho mais horário para cumprir, não
estrou nem pregando um prego no sabão. Pode ser segunda-feira, o dia da
preguiça ou sexta da armação e zoação ou final de semana de encontrar com os amigos
e família. Tá tudo igual! Não tem mais trabalho, happy haour nos botecos,
pegação no Xavante, striptease no Remulo´s, passeio no shopping com os netos e caminhada
no Parque Jefferson Péres. Tudo fechado. Ai veio uma luz. Vou sair do meu
cafofo e dar um rolé por ai, entrar em tudo que estiver aberto e permitido.
Cansei de ficar enclausurado! Tenho de respirar, ver a minha cidade e passear senão irei endoidar! Fui rufeca e todo
equipado: bermuda, tênis, camisa manga comprida, boné, máscara e álcool em gel.
Pense numa figura do outro planeta, foi como se senti. Parei num posto de
gasolina para colocar somente um cheirinho de gasosa e calibrar os pneus. Entrei
num caixa eletrônico para sacar um couro de rato que caiu na minha conta.
Passei na padaria para compras pães para consumir em três dias. Entrei num
supermercado para comprar água sanitária, sabão e, cerveja puro malte em lata,
meu objeto de desejo para hoje. Resolvi continuar o meu rolé pela Feira da
Manaus Moderna (?). Fui comprar algumas verduras e frutas na hora da xepa. O único
que estava de máscara era o cidadão aqui. Todos me olhavam. Um peão deu uma
indireta: - O cornovírus só pega barão! Tentei morder a minha língua ferina,
mas não deu, disparei a minha metralhadora giratória: - Barão, ó caralho! Sou
um fu-di-de-o-dó. Faz um tempão que nem saio de Manaus! Esses fio-de-uma-égua
tem grana para dar um rolé no mundo inteiro e voltam para phoder a gente aqui
em Manaus! Fui. Peguei o beco! No retorno, passei pela Rua Lobo DÁlmada para
matar a saudade. Tudo fechado, não avistei nem um cachorro vira-lata na área.
Realmente, o maluco beleza Raul Seixas acertou em suas previsões ou alucinações,
quando teve um sonho sonhador de O Dia Em Que a Terra Parou. Como é que pode em
pleno sábado onde se reúne o maior metro quadrado de Manaus, com boêmios, sambistas,
muito rock hall, primas e bordões, bibas e o carvalho a quatro, encontrar-se
vazio, sem uma viva alma? Vai ficar na história! Na esquina com a Rua José
Clemente tive uma alucinação: ouvi músicos tocando chorinho, gente falando
alto. Parei, entrei e sentei. Antes e pedir uma breja bem gelada, um gordinho
falou: - E ai, Rocha, tu vais dá um tapa no telhado? Caramba, acordei, estava
no Salão Caldeira e não no Bar Caldeira, fechado por tempo indeterminado! No
final da rua foi tentar uma fezinha na Quina, chega da quina da mesa! Fiquei a
pensar “Esse rua foi uma das mais bonitas de Manaus, toda arborizada, com belíssimos
casarões, e uma dos seus moradores resolveu abrir uma empresa chamada Cabacense,
onde muitos anos depois se tornou o lugar preferido das profissionais do sexo.
Cabaço é ruim, hein”. Para finalizar, ao chegar ao meu barraco, passou por mim uma vizinha gostosona, dando um "Olhar 43" (Seu corpo é fruto proibido/É a chave de todo pecado e da libido/E prum garoto introvertido como eu/É a pura perdição). Sei, não, o camarada dela vai pegar um Cornovirus na maior. Pus para gelar os maltes “puro sangue”, depois de umas e outras resolvi escrever essas zoeiras para vocês. Chega de rolé na casa de mané! Fui.
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