quarta-feira, 21 de julho de 2010

MANÁOS - LUGAR DA MÃE DOS DEUSES



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Dr.Geraldo Mendes dos Santos ( * )

Em 1669 (exatos 332 anos atrás), na parte central da Amazônia, próxima à confluência do rio Negro com o Solimões, os portugueses construíram um forte, denominado São José do Rio Negro, com a missão de combater os invasores, sobretudo, espanhóis e holandeses. De acordo com os relatos históricos, ao redor deste forte desenvolveu-se um vilarejo de índios, missionários e aventureiros, denominado Lugar e mais tarde, Barra do Rio Negro. Cerca de dois séculos depois, o lugar passou à categoria de Vila e daí à capital da província do Amazonas, recebendo o nome de Manaus, uma homenagem aos índios Manáos, que habitavam a região e cujo nome tem o significado de "lugar da mãe dos deuses". Deixemos a história de lado e voltemos ao presente, para uma reflexão sobre este lugar e sua gente.

Primeiro fato, a ser destacado em letras garrafais: Manaus é linda! Espraiando-se nos baixios, nas bordas de igarapés (infelizmente, muitos deles já transformados em esgotos) ou nos platôs argilosos e emoldurada pela floresta de um lado e de outro, pelos rios Negro e Solimões, a cidade é realmente maravilhosa e nos faz lembrar as divindades, como nos lembram os índios.

Segundo fato: Manaus possui o povo mais hospitaleiro do mundo! Talvez aculturados sob a prodigalidade da natureza e sob pressão do isolamento geográfico, o caboclo aprendeu desde cedo que cooperar é melhor que competir e por isso seu senso de fraternidade e benquerença foi aquilatado ao máximo, ao longo do tempo.

Terceiro fato: Manaus é uma cidade-estado! Ela possui uma área de 143.337Km2, aproximadamente o tamanho do Pantanal mato-grossense e detém cerca de 90% da arrecadação e 50% da população do Amazonas. Fruto de um desenvolvimento acelerado, primeiramente por causa da borracha, entre 1870 e 1913 e depois por causa da Zona Franca, a partir da década de 60, a cidade adquiriu os piores vícios das metrópoles e já conta com uma população imensa, aproximadamente um milhão e seiscentas pessoas. A conseqüência mais imediata e drástica é aquilo que todos conhecem nas grandes cidades brasileiras: muita poluição ambiental, uma pequena casta burguesa boiando na ostentação e um imenso contingente de miseráveis imersos na mais absoluta pobreza. Para qualquer cidadão minimamente civilizado e sob orientação de elementares princípios éticos, essa situação produz um quadro tenebroso e desumano, com níveis econômicos desequilibrados e discriminantes. Ainda como causa ou conseqüência (ou talvez, as duas juntas), observa-se um certo abuso e descuido com as coisas públicas e os recursos da natureza: o lixo e a sujeira se acumulam por todos os cantos. No caso de Manaus, as balsas e os portos fluviais que ligam esta cidade à mesopotâmia e onde se encontram os melhores pontos turísticos, abrangendo os municípios de Iranduba, Manacapuru e Nova Ayrão, a imundície campeia: copos, garrafas e sacos plásticos se espalham por todos os lados. É uma vergonha!

Quarto fato: Manaus, como qualquer outra cidade do mundo, é produto da vivência, das atitudes, das ações e dos valores de seus cidadãos! Nós construímos as cidades e somos por ela construídos. Portanto, suas mazelas não podem ser atribuídas unicamente aos políticos. Todos somos responsáveis pelo quadro de nossas cidades e, portanto, para melhorar a situação é preciso um esforço conjunto, um ajuri, na linguagem do caboclo. É preciso um trabalho constante para a mudança de mentalidade, ainda muito vinculada ao desperdício e ao descuido com o meio ambiente. Precisamos cuidar dos nossos carros, nossos quintais, nossas ruas. Cada um fazendo sua parte de modo consciente, chega-se ao todo, mais saudável e harmônico. Em escala maior e numa visão holística, precisamos trabalhar para um equilíbrio responsável e inteligente, compatibilizando as realizações humanas, muito espalhafatosas e afeitas ao lucro com as belezas naturais, sempre muito discretas e ofertadas gratuitamente.

* ) Dr.Geraldo Mendes dos Santos, pesquisador
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia -INPA
Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática-CPBA
Av.André Araújo, 2936, Cx.P.478, Bairro Petrópolis Manaus- AM 69060-001




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