Os divertimentos e lazer da minha infância eram basicamente os banhos de igarapés, brincadeiras de rua e assistir aos filmes nos cinemas Guarany e Polytheama.
Na adolescência, as coisas mudaram, surgiram os bailes nos clubes, as piscinas artificiais e os shows dos artistas locais e de outras plagas. Imaginem um caboclo “surubim”, liso, mas cheio de pinta! Trabalhei na oficina do meu pai até os dezessete anos; depois consegui o meu primeiro emprego na Central de Ferragens, localizada no centro da Manaus antiga, na função de mensageiro, ganhando aquela “mereca” e um monte de contas para pagar. Não deu outra, o negócio era furar(entrar sem pagar!) nos clubes para se divertir!
O clube do meu coração era o Fast Clube, conhecido como “rolo compressor”, tinha uma grande admiração pelos jogadores, principalmente dos irmãos Piola; para assistir aos jogos, dava uma “pernada” até o Parque Amazonense, na Vila Municipal; não tinha grana para comprar o ingresso, a solução era subir nas árvores que ficavam ao redor do estádio ou partir para furar – a estratégia era aguardar o início da execução do Hino Nacional, os guardas ficavam na posição de sentido, aproveitava a situação para pular o muro!. A Colina dançou diversas vezes; não consegui no Vivaldão, mas pular da geral para arquibancada era moleza!
Outro clube que eu adorava era o Rio Negro Clube; não frequentava os seus bailes, mas a piscina era uma tentação! Passava horas pedindo ao porteiro para deixar entrar, às vezes “colava”, outras, não! Qual a solução? Furar! Subia pelas árvores laterais; certa vez fui pular do lugar mais alto do trampolim, imaginei soltando da primeira ponte (Ponte Romana I) – caí de barriga na piscina, além da dor, passei pela gozação dos sócios! Não voltei mais! Comecei a frequentar o Parque Dez de Novembro, apesar de longe, na época ficava no fim do mundo! Não precisava furar, era aberto ao público.
O Luso Sporting Clube era o clube dos portugas! Tinha muitos bailes e o Auto do Natal; escalar as paredes não era difícil! Na maioria das vezes entrava pela porta principal, pois eu era o ajudante do “Cão do Luso”, conhecido por Lapinha, mora até hoje na Vila Paraíso.
Nos finais de semana, tinha várias opções: os bailes do Sheik Clube (pertencia a comunidade síria, hoje é uma academia de malhação), o Bancrevea Clube (era dos funcionários do Banco da Amazônia; atualmente é uma academia da Uninorte) ou no Sambão (clube particular; hoje Uninorte); neste último, gozava de algumas regalias, era conhecido do João Matos, diretor do clube.
A minha irmã Kelva trabalhou nos cinemas Polytheama e Odeon (frequentado pela elite), ela era “bombomniere”, não dava outra: cinema e bombons de hortelã de graça!
Na vida adulta, tudo mudou! Consegui trabalhar em algumas empresas comerciais de Manaus, a grana começou a aparecer, não foi mais necessário furar! Fazia questão de comprar o meu ingresso e dos meus amigos da lisura! Surubim, agora, somente no prato! É isso ai!
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