quarta-feira, 8 de outubro de 2008

BIOGRAFIA - ARTHUR CEZAR FERREIRA REIS


O historiador e professor Arthur Cézar Ferreira Reis foi um dos maiores intelectuais nascidos no Amazonas, a 8 de janeiro de 1906, na cidade de Manaus. Iniciou o curso de Direito em Belém do Pará em 1923, concluindo-o na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Retornando para Manaus assumiu as funções de redator chefe do Jornal do Comércio, dirigido por seu genitor, Vicente Torres da Silva Reis. Sua mãe era a senhora Emília Ferreira Reis.
Quando o presidente Getúlio Vargas criou a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) em 1953, ele foi nomeado primeiro presidente do órgão, até o ano de 1956. Em seguida foi indicado para diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); em 1961, dirigiu o Departamento de História e Documentação do Estado da Guanabara e foi nomeado presidente do Conselho Federal de Cultura.
Em 27 de junho de 1964, nomeado pelo presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, assumiu o governo do Estado do Amazonas, substituindo Plínio Ramos Coelho, que fora cassado pelo Ato Institucional nº 5. Cumprindo a missão com zelo e responsabilidade, o mestre estreou no comando do governo amazonense, ficando no poder até o dia 1º de janeiro de 1967.
O seu mandato, entretanto, foi muito questionado no início, porque as pessoas investigadas durante o seu governo, após o Golpe Militar de março de 1964, gestores ou ocupantes de funções em governos anteriores no Amazonas, nem sempre eram culpadas, mas o professor, não distinguia os bons e os maus, e tanto os opositores do governo cassado, quanto os governistas, sofreram pressões e, alguns foram nitidamente injustiçados.
O vice-governador nomeado para ajudá-lo nessa missão, o ilustre intelectual pernambucano, Dr. Ruy Araújo, já houvera colaborado, anteriormente, com o poder público, e com muita habilidade, evitou outras injustiças, prestando informações equilibradas e verdadeiras ao emérito historiador.
Sem dúvida, a conjuntura em que ocorreu o Golpe Militar de 31 de março de 1964, representava um período de muita tensão e felizes foram os poucos amigos do novo governador, o qual, vivendo no Rio de Janeiro há muitos anos, não poderia fazer um julgamento justo do que acontecera no Amazonas, nem das pessoas que aqui viviam, até a data do Golpe.
O governador determinou a prisão de algumas pessoas tachadas de comunistas, muitas vezes, baseado em simples informações, ou pelo fato de alguns terem participado do regime de anarquia implantado no país, principalmente no tempo do governo do Sr. João Goulart. As Comissões Gerais de Investigação tinham, em suas formações, alguns desafetos políticos dos que estavam no poder, antes da Revolução de 31 de março de 1964, e muitos, aproveitaram a situação, para exercer pressões, agindo com excesso, vingança e sem fazer justiça.
Apesar desses fatos, o governo do professor Arthur Reis foi honesto e pautado numa administração moderna, reativando a cultura do Estado, publicando e incentivando obras de autores amazonenses e reestruturando entidades da maior importância para a vida social e econômica do Amazonas. Passados os dias iniciais de excesso, o governador, com a sua fantástica inteligência, compreendeu que havia deixado levar-se por falsos amigos, saiu magoado de alguns episódios e disse, certa vez, ao seu amigo e colega da Academia Amazonense de Letras, Dr. Newton Sabbá Guimarães: Não há gente mais fria e indiferente do que a amazonense! Mas o governador saiu ovacionado pelo povo, quando entregou o posto para o seu amigo Danilo Duarte de Mattos Areosa, grande benfeitor amazonense.
Arthur Cézar Ferreira Reis acostumado aos trabalhos de gabinete, surpreendeu a todos os seus conterrâneos e aos grupos de amigos que admiravam a sua intelectualidade, porque muitos não esperavam o período de grandes realizações na sua nova vida de executivo. E o mestre provou, que a competência casa com a inteligência, nascendo a boa vontade de realizar, com muita dedicação e honestidade.
Importante salientar que, durante o governo de Arthur Reis, seu vice-governador Ruy Araújo o substituiu por sete vezes no comando do Estado do Amazonas. Sendo ambos dotados de excepcional intelectualidade, impulsionaram a cultura do Estado.
Depois de algum tempo, o sábio Arthur passou a ouvir o povo, os líderes das classes empresariais, sentiu as necessidades das reformas e terminou o mandato, comprovando indiscutível habilidade política. Quando passou o cargo para o seu sucessor, havia feito uma longa preparação para indicá-lo, levando o Sr. Danilo de Mattos Areosa a assumir antes, os mais destacados cargos nas Secretarias do Governo.
Outra figura destacada na gestão do professor Arthur Reis, foi a do Dr. Xenofonte Antony assumindo o cargo de presidente da Comissão Fiscal do IPASEA (Instituto de Pensão e Aposentadoria do Estado do Amazonas), sendo também incumbido de proceder à liquidação da empresa estatal Alimentamazon S.A. criada no governo do Dr. Plínio Ramos Coelho. Xenofonte desincumbiu-se da missão provando a sua competência.
Em verdade, ao deixar o governo para o seu sucessor, Arthur Reis foi louvado pela austeridade com a qual se comportou e pela habilidade demonstrada, tanto no trato da coisa pública, quanto no tratamento dado ao povo amazonense.
Escritor renomado, sua vida intelectual foi coroada de êxito e honrarias, sendo a maior de todas, a concedida pela Academia Brasileira de Letras, sob o título José Veríssimo de Erudição, pela publicação do livro Limites e Demarcações da Amazônia Brasileira, em quatro volumes. Publicou vários livros de importância para a Amazônia, colaborando com vários jornais e revistas de Manaus e outros estados, exercendo, ao mesmo tempo, o magistério. Entre suas obras importantes, vale a pena citar:
História do Amazonas, Manaus, 1931; Manaus e outras Vilas,Manaus, 1934/1999; A Política de Portugal no Vale Amazônico,Belém, 1939; Lobo D´Almada, um Estadista Colonial, Manaus,1940; Paulista na Amazônia e outros Ensaios, Rio de Janeiro,1941; D. Romualdo de Souza Coelho, Belém, 1941; Síntese da História do Pará, Belém, 1941/1973; A Conquista Espiritual da Amazônia, São Paulo, 1942; O Processo Histórico da Economia Amazonense, Rio, 1944; História de Óbidos, Rio, 1945;Estadistas Portugueses na Amazônia, Rio, 1948; Território do Amapá, Perfil Histórico, Rio, 1948; História da Imigração e Colonização do Continente Americano, Rio, 1948; O Seringal e o Seringueiro, Tentativa de Interpretação, Rio, 1953; O Ensino da História no Brasil, México 1953 (parceria); A Amazônia que os portugueses revelaram ao mundo, Rio, 1957; A Amazônia e a Cobiça Internacional, Rio, 1960/65; Súmula de História do Amazonas, Manaus, 1965; Experiências do Planejamento Regional no Brasil, Trio, 1954/59; A Questão do Acre, Manaus,1957; A Amazônia vista pelo Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira,Lisboa. 1957; O Domínio luso-brasileiro na Guiana Francesa,São Paulo, 1961; A Viagem Filosófica e as Expedições Científicas na Ibero - América no século XVIII, Rio, 1953; O Índio da Amazônia, Manaus, 1957; Aspectos da Experiência Portuguesa na Amazônia, Manaus, 1966; A Amazônia e a Integridade do Brasil, Manaus, 1966; Aspectos da Formação Brasileira, Rio de Janeiro, 1978/1983; Temas Amazônicos, Manaus, 1983; Um Mundo em Mudança, São Paulo, 1984, e tantos e tantos outros.
Foi membro efetivo da Academia Amazonense de Letras, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, Pará, Mato Grosso, Bahia, Ceará, Petrópolis, Maranhão e vários outros estados, além de pertencer a diversos organismos culturais do exterior. O professor Arthur Cézar Ferreira Reis faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 7 de fevereiro de 1993.
Gaitano Antonaccio *
* Gaitano Antonaccio, escritor, poeta, advogado, é membro da Academia de Letras, Ciência e Artes do
Amazonas - ALCEAR