sexta-feira, 10 de outubro de 2008

BAIRRO DE SÃO GERALDO







São Geraldo, bairro de ManausO tradicional bairro de São Geraldo deve sua origem à existência da companhia de transporte Villa Brandão, de 1893, proprietária de uma linha de bondes que fazia o percurso do mercado público até a Cachoeira Grande, antiga fonte de abastecimento de água para a cidade de Manaus, construída em 1888 e localizada no início de onde hoje está bairro de São Jorge. A antiga estrada da Cachoeira Grande compreendia a atual avenida Constantino Nery e parte da João Coelho. A vida ritmada pelo bonde e as estradas de piçarra remontam a primeira metade do século XX. O lugar estava localizado entre as avenida Constantino Nery, João Coelho e estrada João Alfredo, hoje Djalma Batista, e ganhou fama pelo fato de haver um antigo estabelecimento de jogos de bilhar, que vendia também vinhos e outras bebidas alcoólicas. A partir daí, os populares passaram a chamar toda a área de bairro dos Bilhares, até a mudança para São Geraldo, na segunda metade do século. Mário Ypiranga relata em seu livro "Roteiro Histórico de Manaus" que a casa de bilhares fechou suas portas e o prédio ruiu. Outras lembranças do bairro estão ligadas a uma antiga pedreira e um balneário conhecido como Verônica, localizado nas proximidades da ponte dos Bilhares, que funcionou até meados da década e 1970. No local, hoje se ergue o shopping Millenium Center Segundo depoimento de Benedito dos Santos, 75 anos, um dos mais antigos moradores, a ponte que liga o bairro à Chapada era ponto de encontro de homens que se reuniam para se divertir. Existia um prostíbulo conhecido como Cabaré da Verônica, em Flores, na localidade conhecida como Bom Futuro. Benedito relata que chegou na região em 1950 e que seu pai era estivador do Porto de Manaus e funcionário da prefeitura quando comprou um terreno na área e ali ergueu uma casa. A maioria das habitações era de taipa, existiam pontes de madeira e a área era um intenso matagal. A ocupação do trecho se deu de forma ordenada, através de venda direta com os proprietários, no caso de Maria Wanderlei, que loteou a terra e depois foi indenizada. A Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, a qual pertence o tradicional Colégio Preciosíssimo Sangue, ajudaram a dar as feições do bairro, como é o caso da "Vila do Preciosíssimo", loteada e vendida, cuja outra parte dos terrenos foi arrendada. Esta característica dá a localidade um traçado urbano mais organizado.As transformações durante os últimos 15 anos trouxeram bastante desenvolvimento e vantagens, as passagens de nível, a duplicação das avenidas mostra o ritmo acelerado da vida moderna, ao menos para uma parcela dos moradores do bairro. Porém, em outras localidades como a rua Pico das Águas, a modernidade demora a chegar, a insegurança devido a violência das grandes metrópoles é fonte de preocupação da comunidade.Atração para jovensA proximidade do Centro e dos grandes shoppings que se estabeleceram em Manaus favorecem a grande concentração de adolescentes que buscam a infra-estrutura do bairro para diversão, como salas de cinemas, praças de alimentação, sorveterias, quadras particulares de futebol e um campo. Heraldo Pimentel, morador do bairro, recorda que a diversão se dava de forma mais intimista, nos quintais e ruas. O campo de futebol, antes de barro e grama, hoje já não é aberto à comunidade. As festas que antes eram tradicionais no bairro entre elas, as juninas, se perderam com o tempo, mais devido ao calçamento e crescimento populacional. Os mesmos grandes quintais onde se erguiam as fogueiras cederam lugar às habitações e, com isso, parte dos costumes também enfraqueceu. O carnaval no bairro, motivado pelos desfiles ocorridos na Djalma Batista, teve seu momento de glória durante a década de 80 quando se organizavam os blocos populares. Heraldo relata que tais blocos percorriam as ruas principais, em forma de desfile interno, a exemplo do "Bloco do Vinho" que depois se tornou escola do 2º grupo do desfile das especiais. Os mais contagiantes eram o Bloco Encontro das Águas e o Bloco das Virgens do São Geraldo, onde os homens se fantasiavam de mulher e "pulavam" carnaval durante todo o dia.O passado e a modernidade convivem num mesmo lugar, servindo como memória para os tempos futuros. O bairro divide a moradia entre casas populares e estabelecimentos comerciais como postos de gasolina, salões de beleza, restaurantes, pizzarias, concessionária de carros (Peugeot, Toyota, Mercedez Bens), e tantos outros que dão uma feição particular a localidade. Algumas instituições públicas fazem parte do bairro como o posto médico da prefeitura, na rua Pico das Águas, uma Agência dos Correios, escolas públicas e particulares como o Centro de Recreação Infantil e Juvenil, o Ciec, escola Preciosíssimo Sangue.Santo de saúde frágil e muita féSão Geraldo Magella nasceu no sul da Itália na cidade de Muro Lucano, no dia 06 de abril de 1726, filho de Domingos Majela e Benedita Galeta. Era de origem pobre e foi batizado logo ao nascer, na Igreja da Santíssima Trindade, pelo sacerdote Felix Coccione, isso por causa da fragilidade de sua saúde. Apesar da vida tranqüila como alfaiate, oficio aprendido com o alfaiate Pannuto, aos 21 anos de idade se sentia insatisfeito com sua vida e queria algo maior. Muito magro pálido e sem apetite, passava muitas horas na catedral, onde praticava rigorosas penitências.Na infância, Geraldo freqüentava a escola, destacando-se pela inteligência e capacidade de ensino aos colegas. Geraldo era franzino, mirrado e magro, mas sabia repartir e, com consciência, era dado à prática do jejum. Aos 12 anos perde o pai e, como único filho homem, deveria ajudar a mãe na manutenção da casa. De sua mãe aprendera o amor a Cristo presente na eucaristia, centro de sua vida. Já nessa idade bate-lhe o desejo de se consagrar a Deus, mas recebe três respostas negativas, quando manifestado o desejo em ser consagrado. O argumento de todos era o mesmo: sua fraqueza física e inaptidão para a dureza da vida religiosa.Como alfaiate, Geraldo se ocupa em trabalhar para os pobres, sem cobrar dos mais necessitados. Tentou ser eremita, depois reuniu crianças pobres para acompanhá-las. Só mais tarde recebe autorização para ser Redentorista, mas após muita insistência e sob condição. Como religioso sofreu muitas provações e calúnias. Dedicou-se em especial à pastoral com doentes e pobres. Em 16 de outubro, com 29 anos, após estar muito doente, Geraldo falece. Sua morte faz brotar na igreja mais um instrumento de vida.LocalizaçãoO São Geraldo está localizado numa área de 104 hectares e faz fronteiras com os bairros Presidente Vargas, Chapada, Nossa senhora das Graças, Centro e separado de São Raimundo e São Jorge pelo igarapé do Mindu. Tem como vias principais as avenidas Constantino Nery e Djalma Batista, parte da rua Pará e João Valério.Religiosidade forte no bairroA religiosidade dos moradores do São Geraldo se nota até pela escolha do nome do bairro. Com uma forte tendência da comunidade cristã, a paróquia de São Geraldo tem hoje a frente o padre Alírio Lima. Suas origens estão ligadas aos padres Redentorista que atuavam na área e a própria Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo. A festa do padroeiro do bairro é no dia 16 de outubro, onde era realizado um grande arraial que durava uma semana. Atualmente a comunidade luta para reativar essas antigas tradições. Segundo Heraldo Pimentel, no ano de 2004 foram comemorados 100 anos de canonização do santo padroeiro, quando a comunidade realizou uma festa. Porém, a religião católica não está só e hoje igrejas e congregações evangélicas têm forte presença no bairro. A mais antiga é a Assembléia de Deus Tradicional, construída num prédio que antes pertencia a uma rede de supermercados da cidade. A catedral da Igreja Universal do Reino de Deus tornou-se uma referência arquitetônica no bairro. Católicos, evangélicos e umbandistas se reúnem na travessa São Geraldo, como um reflexo do sincretismo religioso presente no bairro.Fonte: Jornal do CommércioPortal Amazônia.