O Luso
Sporting Club era uma
agremiação dos portugueses
e seus descendentes, fundado no
inicio do século
passado, voltado ao
desporto, mas mantinha
também atividades sociais e
teatrais, além da
“Escola João de Deus”,
destinada a crianças pobres da
cidade - a
sua sede social
ficava na esquina
das ruas Tapajós
com a Monsenhor Coutinho.
No meio
do prédio existia
uma quadra polivalente
muito bem equipada
e os portugueses liberaram
o espaço para
os comunitários nos finais
de semana. O Zé Mundão
e os seus amigos jogavam futebol de salão aos sábados a tarde.
Todos os finais de semana
eram realizados bailes à noite, com entrada somente para adultos ou
acompanhados dos pais,
o Zé Mundão
tentava entrar, mas
sempre era “barrado no baile”.
Aos domingos existia a
famosa “Manhã de Sol”, com muitas
brincadeiras de palco, além de shows de dublagens dos irmãos Delfim e Julinho
Sá e da Ednelza.
No final do ano, era
encenado o Auto do Natal, mais conhecido como
“As Pastorinhas do Luso”,
com o
“Cão do Luso” fazendo
a festa, marcando
a época de
crianças e adolescentes do centro
de Manaus - o Cão não era um canídeo
(cachorro), mas, um personagem que representava o Diabo, o chefe dos demônios.
Para entrar, o Zé Mundão
escalava as paredes, mas, na maioria das
vezes entrava pela porta principal, pois era convidado para ser o ajudante dos
personagens do “Cão do Luso”: Belisca
Lua, Lusbel, Trinca-Ferro, Come-Fogo
e Gigante das Trevas – dois deles eram
interpretados pelos seus
vizinhos da Vila
Paraíso, o Lapinha e
o Chaguinha.
O seu trabalho, na
condição de ajudante do “Cão do Luso”, consistia em fazer parte de um grupo de
jovens que utilizavam todo o seu vigor
físico, para movimentarem uma imensa alavanca que impulsionava, no
momento certo, os capetas para saírem de um alçapão e
entrarem em cena,
dando um pulo
para o alto, caindo
bem no meio
do palco, assustando toda a plateia.
Ajudava também a encher um
cachimbão com pólvora, onde eram jogados labaredas (língua de fogo) e na
sonoplastia, balançando algumas folhas de zinco e batendo nos pratos de
bateria, era o momento
mágico e aterrorizante, onde
o público infantil
se assustava e se abraçava fortemente nos braços dos seus pais.
O Zé era um admirador de
uma das personagens das Pastorinhas, uma loira dos olhos azuis, moradora
do bairro da
Matinha, ela interpretava
a “Nossa Senhora”,
mãe de Jesus.
Por trabalhar embaixo do
palco, aproveitava a oportunidade, para olhar pelas frestas das tábuas as
vestes internas da sua paquera, o que lhe causou muitos calos na mão direta. É isso
ai.
Obs. Trecho do projeto de livro "ZÉ MUNDÃO".
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