terça-feira, 5 de agosto de 2014

O ZÉ MUNDÃO E AS PASTORINHAS DO LUSO

O  Luso  Sporting  Club era  uma  agremiação  dos  portugueses  e  seus  descendentes, fundado  no  inicio  do  século  passado,  voltado  ao  desporto,  mas  mantinha  também atividades  sociais  e  teatrais,  além  da  “Escola  João de  Deus”,  destinada  a  crianças pobres  da  cidade  -  a  sua  sede  social  ficava  na  esquina  das  ruas  Tapajós  com  a Monsenhor Coutinho.

No  meio  do  prédio  existia  uma  quadra  polivalente  muito  bem  equipada  e  os portugueses  liberaram  o  espaço  para  os  comunitários nos  finais  de  semana.  O  Zé Mundão e os seus amigos jogavam futebol de salão aos sábados a tarde.

Todos os finais de semana eram realizados bailes à noite, com entrada somente para adultos  ou  acompanhados  dos  pais,  o  Zé  Mundão  tentava  entrar,  mas  sempre  era “barrado no baile”.

Aos domingos existia a famosa  “Manhã de Sol”, com muitas brincadeiras de palco, além de shows de dublagens dos irmãos Delfim e Julinho Sá e da Ednelza.

No final do ano, era encenado o Auto do Natal, mais conhecido como  “As Pastorinhas do  Luso”, com  o  “Cão  do  Luso” fazendo  a  festa,  marcando  a  época  de  crianças  e adolescentes do centro de Manaus - o  Cão não era um canídeo (cachorro), mas, um personagem que representava o Diabo, o chefe dos demônios.

Para entrar, o Zé Mundão escalava as paredes, mas,  na maioria das vezes entrava pela porta principal, pois era convidado para ser o ajudante dos personagens do “Cão do Luso”:  Belisca Lua, Lusbel, Trinca-Ferro, Come-Fogo  e  Gigante das Trevas – dois deles  eram  interpretados  pelos  seus  vizinhos  da  Vila  Paraíso,  o  Lapinha e  o Chaguinha.

O seu trabalho, na condição de ajudante do “Cão do Luso”, consistia em fazer parte de um grupo de jovens que utilizavam todo o seu vigor  físico, para movimentarem uma imensa alavanca que impulsionava, no momento certo, os capetas para saírem de um alçapão  e  entrarem  em  cena,  dando  um  pulo  para  o  alto,  caindo  bem  no  meio  do palco, assustando toda a plateia.

Ajudava também a encher um cachimbão com pólvora, onde eram jogados labaredas (língua de fogo) e na sonoplastia, balançando algumas folhas de zinco e batendo nos pratos  de  bateria,  era  o  momento  mágico  e  aterrorizante,  onde  o  público  infantil  se assustava e se abraçava fortemente nos braços dos seus pais.

O Zé era um admirador de uma das personagens das Pastorinhas, uma loira dos olhos azuis,  moradora  do  bairro  da  Matinha,  ela  interpretava  a  “Nossa  Senhora”,  mãe  de Jesus.


Por trabalhar embaixo do palco, aproveitava a oportunidade, para olhar pelas frestas das tábuas as vestes internas da sua paquera, o que lhe causou muitos calos na mão direta. É isso ai.

Obs. Trecho do projeto de livro "ZÉ MUNDÃO".

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