No final da década de
setenta, a cooperativa habitacional INOCOOP pleiteou junto a Caixa Econômica Federal –
CEF/AM o financiamento de casas para abrigar os jornalistas do Estado do
Amazonas, mas, por questões técnicas, resolveram mudar para habitação tipo
apartamentos, o que desagradou muitos profissionais da imprensa – muitos
desistiram e, a solução foi abrir ao público.
O terreno pertencia ao
extinto Grupo Moto Importadora, era uma área nobre, pois ficava na Avenida
Constantino Nery, uma das principais artérias de Manaus, onde no início do século
passava uma linha do bonde e, entrecortado pelo Igarapé dos Franceses, um
famoso balneário de outrora.
Foram construídos oito
blocos de três andares, com quarenta e oito apartamentos em cada um, com
direito a uma vaga de garagem na parte térrea, perfazendo trezentos e oitenta e
quatro unidades.
Participei de todo esse
processo, com o sorteio dos apartamentos realizado no Auditório Gilberto
Mendes de Azevedo (SESI) – o meu saiu para o primeiro andar do Bloco H, considerado a
“cozinha” do conjunto, pois ficava na parte detrás, passando o igarapé e,
muitos achavam que eram os mais desvalorizados, em decorrência de ficar longe
da Avenida.
Com o tempo, esses
apartamentos ficaram mais valorizados, pois reinava a tranquilidade, sem
barulho de carros e ônibus, além de esta rodeada de floresta primária, em
contado direto com a natureza, onde circulava cotias, macacos pregos, cobras,
bicho preguiça, camelões e muitos passarinhos.
Mudei para lá em 1982,
estava casado e com o meu filho mais velho, o Alexandre, com apenas um ano de
idade – por lá nasceram a Adriana e a Amanda e a minha neta Maria Eduarda (a
Duda).
O conjunto foi dotado de
sistema de tratamento de esgotos, área de lazer imensa, com um chapéu de telha,
banheiros e chuveiros, parquinho para as crianças, quadra de voley e um imenso
campo de futebol.
O ponto de encontro dos
biriteiros era o Mercadinho União, um estabelecimento muito grande, parte de um
depósito de uma distribuidora de medicamentos, com acesso pelo conjunto – a
área era imensa, onde podia beber e jogar dominó embaixo das árvores – foi um
local de encontro por mais de duas décadas – os proprietários eram os paulistas
Alberto Biondo (coronel aviador, reformado da FAB) e o Moacir Biondo (atual
apresentador do programa Ervas e Plantas do Amazonsat).
Num certo sábado, toda a
galera estava no point tomando umas cevadas, nesse dia, estava rolando uma
reunião no condomínio para escolher o novo síndico, fomos em peso participar e,
em apenas alguns minutos o meu nome foi indicado, votado e aclamado síndico,
depois, voltamos ao bar, para comemorar a vitória da ala dos bebuns – no dia
seguinte, quando tinha passado o porre, fui ver a besteira que tinha feito,
mas, não teve volta, tive que trabalhar “de graça” por quase dois anos!
Ainda lembro-me dos
antigos moradores: Vanessa Graziotin, Eron Bezerra, Marcos Barros, Dr.
Iracildo, Jorge Parente, Conceição e Frank, Leal da Cunha, Tony Biondo, Inácio e Solange, Zezinho e Martha, Rocha Filho (meu irmão), For
Make Love, Calcinha Junior, Flávio Lauria, Dona Nazaré (H), Jersey Nazareno e Maria Luiza, Zé Galinha (paraense), Bianor Garcia, Moisés Mota, Marcelo
Lambanceiro, Klinger Peninha, Léo da Sefaz, Marcos Klain (alemão), dentre
outros.
Com o tempo, foram
construídos ao seu redor outros conjuntos habitacionais mais arrojados, ficando
o do “Jornalistas” como o “patinho feio”, porém, ficou muito valorizado, pois
quase todas as linhas de ônibus passam por lá, com acesso rápidos a três
shopping centers e ao Parque dos Bilhares e a Arena da Amazônia.
Tivemos problemas sérios
com a ponte que dar acesso aos blocos G e H, pois caíram três vezes, obrigando
aos moradores a passarem pela vizinhança e até por ponte improvisada de madeira
– a última, foi feita pelo então prefeito Serafim, passando somente por uma
reforma, estando perfeita até hoje.
Na época da inflação
galopante, as prestações foram para o espaço, tentei transferi-lo para outras
pessoas, mas foi em vão, pois ninguém queria “nem de graça” – hoje, está
quitado e muito valorizado, servindo de moradia para a minha filha e neta.
Apesar do progresso, ainda
pode-se ver próximo ao igarapé alguns jacarés, cotias (na parte noturna), camaleões
e muitos pássaros. Uma parte lateral onde fica o Mercadinho União foi vendida
para uma faculdade que, derrubou todas as árvores, colocou asfalto e luzes
potentes, para servir de estacionamento aos seus alunos – ainda bem que não
construíram uma ponte sobre o igarapé, onde ainda permanece uma floresta nativa,
servindo de abrigo para os animais silvestres e ainda permitindo um ar mais
ameno para os moradores.
O tempo passou, o Conjunto
dos Jornalistas já conta com trinta e três anos da sua construção e, aos
domingos, a velha guarda gosta de se reunir embaixo de uma mangueira, para
lembrar dos velhos tempos e, apreciar as brincadeiras infantis da terceira
geração de vizinhos, os netos dos primeiros moradores. É isso ai.
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