Foi um estabelecimento que
fez história em nossa cidade, ficava na Avenida Eduardo Ribeiro, entre a Rua
Barroso e a Rua Saldanha Marino, era administrado pela parintinense Messody
Henriques, uma senhora guerreira que atendia tanto uma mulher rica e chique,
quanto àquela que frequentava o baixo meretrício.
Era filha do Senhor José
Henriques e Dona Idalina – o seu genitor veio do Ceará, no início do século
passado, era uma pessoa culta, muita dada a leitura de livros - abriu um
comércio, a Casa Castelhana, porém, em 1910, foi à falência.
Resolveu tentar a vida no
interior e, fixou residência na cidade de Parintins, no Baixo Amazonas, militou
na politica durantes anos - por lá nasceram a maioria dos seus onze filhos, incluindo
a Messody, uma cabocla talentosa da terra dos parintintins, depois, regressou
com a família para Manaus.
De todos os irmãos, a
Nobilil Messody Henriques, foi a mais famosa e de grande prestígio na sociedade
local. Inicialmente, fundou a primeira escola de fabricação de flores de papel,
num galpão construído nos fundos da sua humilde residência, na Rua Dr. Almino –
era um artesanato feito de tanto gosto e perícia que, os trabalhos das alunas
eram exibidos em concorridíssimas exposições nos salões dos clubes Rio Negro e
Nacional.
Com a ajuda dos irmãos,
iniciou outra atividade na sala de visita de sua casa, ao qual lhe garantiria
êxito e prosperidade: o corte, penteado e pintura de cabelos e limpeza e
pintura de unhas.
Por executar um excelente
serviço, começou a ter uma clientela cada vez maior, o que o permitiu criar o
primeiro Instituto de Beleza da cidade de Manaus, inaugurado com toda pompa na
década de 40, em plena Avenida Eduardo Ribeiro, montado com tudo o que de
melhor existia, na época, pela famosa Casa Miasi, de São Paulo.
O Instituto de Beleza
Messody Henriques era um orgulho para a nossa cidade, com a casa sempre cheia
da “fina flor feminina” da sociedade local. A sua presença era reclamada nos
salões de gente “alta”, não somente pela envolvência da sua simpatia, mas, por
ser também uma lançadora de moda.
Por ter origem humilde, o
sucesso não subiu a sua cabeça, pois respeitava muito as pessoas simples, tanto
que abriu o seu chique salão de beleza para as mulheres que frequentavam o
baixo meretrício - esta decisão lhe rendeu muitas criticas pelas “dondocas” da
alta sociedade, que achavam um ultraje frequentar um local onde poderia estar
mulheres inferiores, que vendiam o seu corpo para ganhar a vida.
Certa vez, uma senhora da
“nata” telefonou indignada para a Messody:
-
Não é possível que as mesmas mulheres da Zona façam as unhas e cabelos no mesmo
lugar que nós! – reclamando a madame.
A Messody respondeu:
-
Minha filha, o teu dinheiro é igualzinho ao delas, isso em primeiro lugar. Se
tu queres o Instituto só para vocês, paguem então o preço da exclusividade. O
trabalho que dá para pentear, cortar e tingir o cabelo de vocês é o mesmo que o
cabelo delas dá, e por sinal que cabelos bonitos eles têm. E mais outra coisa:
que comportamento exemplar elas assumem aqui, quando chegam ao salão e ficam
esperando a vez. De exemplar dignidade. Nenhuma delas me pediu o telefone para
ficar de namoro ou marcar encontros escondidos com amantes. Ficam esperando, silenciosas, lendo as
revistas, e como saem felizes depois de se verem tão bonitas com o tratamento
carinhoso que lhe damos.
Essa foi a nossa querida
Messody, uma mulher guerreira, que somente aos quinze anos aprendeu a ler a
escrever, mas, com o seu trabalho digno e exemplar, criou e educou todos os
seus dez irmãos - fez muito sucesso na nossa cidade, mas, o tempo é cruel, onde
tudo passa, modifica e acaba.
O Instituto de Beleza da
Messody Henriques acabou, porém, continua vivo na mente dos mais antigos e,
ficará para sempre, na história da nossa cidade. É isso ai.
Fonte: Livro: Manaus, Amor e
Memória – Thiago de Mello
Um comentário:
NASCI EM CIMA DA MESSODY, EM 1943...
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