sábado, 12 de julho de 2014

ABDIAS “BODÓ”


O meu saudoso pai, o luthier Rochinha, tinha um amigão do peito, o nome dele era Abdias, mais conhecido pela alcunha de “Bodó” – pense numa figura, o cara era amolador de ferramentas no Mercado Adolpho Lisboa, nas horas vagas era polivalente: biriteiro, palhaço e cozinheiro.

Ele pegou esse apelido em decorrência de possuir uma boca igual ao Liposarcus pardalis, conhecido popularmente como Acari Bodó, simplesmente Bodó para os manos do Amazonas – para quem não sabe esse peixe é o “patinho feio” na preferencia dos consumidores e pescadores - muito pessoas não gostam nem um pouco dele, em decorrência do seu aspecto esquisito, bastante feio, parece de outro planeta, além do mais, o bicho é chegado a se alimentar de tudo o que aparece pela frente, não faz cerimônia, até merda ele come, na maior.

O nosso Abdias Bodó trabalhava na Rua Rocha dos Santos, na entrada de um casarão antigo que fica bem em frente ao Mercado Adolpho Lisboa – naquela época, essa profissão rendia um bom lucro, em decorrência dos inúmeros clientes marchantes e peixeiros do “Mercadão”, além de atender as pessoas que por lá passavam todo dia - ele era um grande profissional, tinha uma habilidade fora do comum para afiar facas e ferramentas.

Nos finais de semana, ele ia para a nossa casa/flutuante, a minha avó não gostava nem um pouco dele, pois foi ele quem incentivou o papai a começar a beber pinga, além do mais, por ser católica fervorosa, considerava o amigo do meu pai um puro “sapato do diabo”, quando ele chegava, ela fazia o sinal da cruz e dizia: - Lá vem o Satanás, vou passar o dia fora de casa!

O cara vestia uma bata da minha mãe, pintava os lábios, coloca uma peruca e um corpete (sutiã), se transformava na cozinheira “Bodó do Igarapé de Manaus”! Expulsava a mamãe da cozinha e, enquanto tomava aqueles “birinaites”, fazia as suas estripulias e um excelente almoço - ele era muito bom no preparo de qualquer prato.

Foi ele que me ensinou a nadar - o cara me jogava dentro do rio, dava caldo, fazia o diabro a quatro - rapidinho aprendi a nadar!

O Olavo, Rochinha e o Abdias “Bodó”, formavam o trio da “CM & P10”, ou seja, cachaça, mulher e Parque 10 de Novembro. Todos os finais de semana reuniam na Oficina do Velho, na Rua Huascar de Figueiredo com a Rua Igarapé de Manaus; lá armavam as estratégias, faziam a cotização para comprar as ampolas de cervejas XPTO, a cachaça Cocal para a batida de limão e os “bributes”; depois rumavam em direção ao balneário do P10.

Fazia parte da nossa família, era considerado o meu tio mais velho – os seus filhos, o Bira e o Agostinho eram os meus amigos do peito, esse último casou com a minha vizinha da Rua Tapajós, a Mira, um descendente de sírios, tiverem vários filhos – sou ainda amigo dos seus netos, o Acrísio e a Cíntia

Tempos bons, vez e outra me lembro do Igarapé de Manaus, do Mercadão e do Abdias Bodó! É isso ai.  

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