Comento
sobre este assunto, em decorrência de um artigo que escrevi sobre o nosso
querido Mercado Adolpho Lisboa, pois basta eu sentir o cheiro de chicória, goma
ou tucupi, logo vem à mente a imagem do “Mercadão” da minha infância e adolescência.
Quem se envolveu em
acidentes ou presenciou fatos tristes em que houve derramamento de sangue, aquele
cheiro forte de plasma e glóbulos sanguíneos espalhados pelo corpo ou derramados
pelo chão, com certeza, ficou marcado para sempre, basta sentir novamente aquele
cheiro, para relembrar daqueles momentos ruins do passado.
Na minha infância, a feitura
do café por parte da minha avó, tinha todo um ritual: era torrado em casa, moído
no pilão e, feito num fogareiro à lenha, no momento da infusão e coação,
exalava um cheiro tão bom, gostoso, era um momento mágico de difícil explicação
– ficou na minha memória, nunca mais senti um cheiro igual aquele, mas, ao
passar próximo a uma fábrica de torrefação de café, no bairro de Educandos, ao
sentir aquele aroma, volto ao passado.
Na adolescência, tinha um
hábito de passar todos os finais de semana num sítio dos pais de um amigão do
peito, todas as refeições eram feitas num fogão à lenha, faz muito tempo que a
propriedade foi vendida, mas, não posso sentir um cheiro de gravetos queimando,
volta logo o pensamento daquele lugar. Tempo bom que não volta mais, somente no cheiro!
Os homens e as mulheres possuem
um cheiro natural, produzido por certas glândulas, quando os dois estão afim um
do outro, a produção de feromônio dispara, um passa a sentir o cheiro do outro
com maior intensidade, existindo toda aquela atração e excitação. Diz “Os Raízes:
o cheiro da minha caboca tem cheiro de mato, de peixe, de tucumã, tem cheiro de
tudo”. O tempo passa, o tempo voa, mas, jamais o sujeito vai esquecer o perfume
natural da sua amada.
Assim mesmo é com os
perfumes de produção caseira ou industrial, certa vez, uma pessoa estava usando
o manjado “Caiaque”, outra pessoa de mais idade ao sentir aquela fragrância, simplesmente
voltou ao passado, lembrou-se da primeira namorada, ela usava sempre o dito
cujo. Por que muitas mulheres gostam de perfumes masculinos? Algumas mulheres dizem
que não gostam de cheiro adocicado, preferem o cheiro forte, de macho!
Todas aquelas pessoas que
possuem o olfato bem desenvolvido, dizem que cada cidade tem o seu cheiro
característico, por exemplo, um francês, cozinheiro de forno e fogão, disse certa
vez na televisão que o cheiro do centro de Manaus é de banana frita. Égua, sai
pra lá cheiroso! Disse também que a Praia de Copacabana tem o cheiro de mar e de
caipirinha, assim como, o Ver o Peso, em Belém, tem cheiro de Maniçoba; a Praia
do Futuro, em Fortaleza, tem o cheiro de caranguejo na panela e, por ai vai. Agora,
em Brasília, cheira a quê? Ele disse que ela cheira a podridão, ele não pode
sentir um cheiro de carniça que lembra logo da capital federal. Eu, hein!
Um senhor de idade, separado
da mulher, certa vez me confidenciou que, ao sair com uma prima para um programa
“rala e rola”, ao dar uma cheirada na perseguida, ele sentiu um cheiro de
sabonete de patchuli, pediu gentilmente para ela dar várias voltas ao redor da
cama até suar, tudo para voltar a sentir aquele cheiro normal de xibíu parecido
com a da sua ex-patroa. É mole, mas sobe!
Pois é, mano velho, ao
parar de fumar, o meu olfato começou a funcionar perfeitamente, não pode ninguém
soltar um pum que sinto na hora, sem contar o cecê da negada dentro dos ônibus
lotados e de perfume forte me dá dor de cabeça de imediato, em compensação,
voltei a sentir o cheiro da comida, do perfume natural de mulher, das plantas e
da minha cidade, além dos cheiros guardados na minha memória! É isso ai.
2 comentários:
Marcel Proust já havia notado como o olfato é capaz de provocar memórias intensas e já esquecidas...
O um escritor do grupo Sirrose, cujo nome não cito por não tê-lo consultado, certa vez foi questionado por um idiota que não consegue entender a obra e busca explicação na vida do escritor. Questinou o idiota:
_ Fulano, você cheira?
Resposta do Sirrótico:
_ Por que? Você? Você fede?
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