Todo mercado público central é a cara de uma cidade, neste local é aonde poderemos comprar todos os ingredientes da culinária regional, se deleitar com as comidas típicas daquela região, adquirir os artesanatos e as obras dos artistas locais, bem como, é uma paragem onde poderemos encontrar as pessoas conversando, mostrando a sua verdadeira linguagem – mesmo com todo o luxo e comodidade dos atuais shoppings center, eles não espelham de forma alguma a cultura de um lugar – apesar de um mercado ser tão importante para uma cidade, por mostrar a sua verdadeira cultura, o governo municipal da cidade de Manaus não vê dessa forma, pois mantém fechado por muitos anos o Mercado Municipal Adolpho Lisboa.
O Mercado Municipal Adolpho Lisboa, conhecido carinhosamente pelos manauenses como “Mercadão”, constitui-se num dos mais importantes centros de comercialização de produtos regionais em Manaus, a sua construção iniciou em 1880, sendo inaugurada a parte central em 1883, foram construídos mais dois pavilhões em 1890 (peixe e carne) e, por volta de 1908, foi construído o último pavilhão, conhecido por “Tartaruga”; sendo um dos raros exemplares da arquitetura em ferro, sem similar no mundo, foi tombado em 1987 pelo IPHAN.
Na minha infância, o meu saudoso pai me levava para fazer as compras de domingo, era dia de festa para mim, gostava de ver toda aquela movimentação das pessoas nos pavilhões de peixe e de carne, adorava tomar mingau de banana com tapioca, além de apreciar os barcos que ficavam por detrás do mercado.
Na adolescência, era sempre escalado para fazer compras para a minha família e, tinha uma missão espinhosa de pegar entre as vísceras jogadas, os buchos de Tambaqui, um componente para fazer cola, uma matéria-prima importante para a colagem dos violões fabricados pelo meu pai, o Luthier Rochinha.
Com o passar do tempo, visitar o “Mercadão” sempre foi uma coisa prazerosa, era uma rotina para mim, passear e fazer compras, inclusive, fiz amizades com vários permissionários – lembro do Senhor Isaías e o seu filho Manoel, eles tinham uma loja de venda de material escolar, papel de seda, linhas de papagaio, sacolas e material de pescaria. O meu compadre Alberto Mattos trabalhava com o seu pai, o Antônio Macumbeiro (vendedor de artigos de umbanda e produtos naturais), que por sua vez era filho da Dona Maria Portuguesa, a mais antiga vendedora de ervas e plantas medicinais. Saudades de todos eles!
No ano de 2006 o mercado foi fechado para reformas, a principio fiquei feliz com a iniciativa, agora, virou pesadelo, pois fui barrado de visitar e passear pelo mercado que tanto me faz lembrar a minha infância e adolescência, uma vez e outra me dá uma nostalgia danada daquele lugar, sinto falta daquele cheiro forte da chicória, pimenta e do tucupi. Fazer o que?
Muitos milhões de reais já foram investidos na sua revitalização e, nada! Os feirantes foram os mais injustiçados com o fechamento do “Mercadão”, eles foram jogados para os fundos, em casebres improvisados, sem a mínima estrutura possível, houve um grande incêndio, todos tiveram perda total das suas mercadorias, ganharam uma migalha da Prefeitura de Manaus, passaram um tempão para receberem de volta os novos boxes.
Neste lugar apertado, ainda encontramos uma variedade enorme de artesanatos amazônicos, goma, tucupi, aves, carnes, peixes, ervas e plantas, lotéricas, banheiros públicos, lanchonetes e restaurantes – o movimento é pequeno, mesmo assim é um dos locais preferidos pelos turistas estrangeiros, para comprarem o nosso artesanato.
Pois é, meus amigos e amigas da nossa Manaus, estou com saudade do “Mercadão”, pena que nada posso fazer, somente lamentar neste pequeno espaço do nosso blog. É isso ai.
Um comentário:
Pois é. O Adolpho Lisboa é um dos pontos turísticos de Manaus mais importantes. Nos últimos 5 anos, por duas vêzes tentei visitá-lo e fotografá-lo. Em reforma eterna... É o que dá eleger políticos ignorantes e burros...
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