Numa bela tarde de agosto de 1977, com vinte e poucos anos de idade, sai pela primeira vez da minha aldeia, peguei um avião no Aeroporto Eduardo Gomes, de Manaus, num voo da Vasp, segui para o Rio de Janeiro, com escala em Brasília, era a minha primeira ida ao Rio, uma cidade querida e admirada pelos brasileiros e, em especial, pelos manauaras.
O Aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador, tinha acabado de ser inaugurado, estava zero bala, maravilha! Passei alguns dias no apartamento da família Bringel, no pé do Morro de Santa Tereza, tive a felicidade de rever os meus amigos amazonenses da gema, a Dona Antonina, Miroco, Titá e a Norma.
Fiz os primeiros passeios pela cidade, com a companhia do meu brother Miroco – conheci algumas ruas do centro, visitei a Central do Brasil; andei num trem, conhecido como “Trem Japonês”; visitei a Igreja da Penha, situada num penhasco, no Largo da Penha.
Depois, fui sozinho, conhecer o Cristo Redentor, no Morro do Corcovado – peguei bonde e ônibus, quando cheguei, a linha férrea do Cosme Velho estava em manutenção, não fiquei desanimado, me entrosei com um grupo de jovens e, seguimos a pé até o mirante da estátua.
Gostava de passear na barca Rio/Niterói, certa vez, fui até o Santuário Porto das Caixas, em Itaboraí - inda guardo de lembrança um grande crucifixo de madeira.
Depois de algum tempo, o meu irmão Henrique, veio de São Paulo, fomos morar no apartamento de outra família de amazonenses, na Rua Carlos de Carvalho, centro – o apê era que nem coração de mãe, sempre cabia mais um -, a família Carvalho, composto pelo Senhor Carlito, Dona Nazaré, os filhos Jourdan, Mário, Marcus, Carlinho, Dorinha e Júnior – adotaram ainda o Henrique e eu.
Na realidade, não fui ao Rio para fazer turismo, fui à procura de um tratamento para uma otite média perfurada – fiz uma consulta com por um médico otorrino, ele me aconselhou na maior cara de pau a voltar para a minha taba, pois, segundo ele, o meu caso não tinha jeito. Não desisti, procurei outro médico, o segundo, achou que o meu problema era em decorrência da inflamação da minha amídala, fui hospitalizado e detonaram a do lado esquerdo – não tinha nada ver!
Este problema somente foi sanado depois de muitos anos, voltei novamente ao Rio e, fui operado com sucesso na Clínica do Professor José Kós, no centro, passei por lá uns três meses, voltei totalmente curado.
A Rua Carlos de Carvalho, era considerada a rua do jogo do bicho, ficava olhando da janela toda aquela movimentação – fiz amizade com o “olheiro”, o cara ficava com um olho na banca e a outra na polícia, todo dia ele era preso e, solto no mesmo dia, a peso de muita grana.
Tinha um cara que morava dentro de uma Kombi velha, aos domingos reunia a rapaziada da rua para jogar “placa de carro”, o kombeiro ganhava todas! O outro morador de rua era um sujeito conhecido por “Galo”, o dito cujo tomava todas e, ao amanhecer começa a cantar bem alto, acordando todos os moradores com a sua poderosa voz.
Eu gostava de ficar olhando os aposentados jogarem carteado, na Praça da Cruz Vermelha, em frente ao Hospital do Câncer, certa vez, tentei apostar uma grana, não deu outra, alisei na hora.
Os meus conterrâneos falavam o carioquês, muita gíria, usavam roupas da moda carioca e, eu falava o amazonês e não estavam nem ai para a moda – os meus amigos me policiavam para não dar bobeira e nem vacililada, para não ser chamado de Zé Mané ou Paraíba, por ser um papagaio falante, não tinha jeito, era uma mancada atrás da outra!
Sempre respeitava o modo de ser do carioca, porém, não permitia que alguém tentasse mudar o meu comportamento de baré. Certa vez, fomos à praia – a onda era pegar o ônibus, descalços, de sunga, sem camisa, com uma toalha nos ombros, tô fora! Os meus colegas ficavam chateados comigo, pois eu não me trajava daquele jeito de forma alguma.
Com o passar do tempo, fui fazendo muitas amizades, comecei a assimilar o jeito carioca de ser, já estava perdendo o meu jeitão de caboclo da Amazônia e, aprendendo a falar o carioquês, gírias e me vestindo conforme a moda - estava chegando a hora de voltar para a minha terrinha.
Voltei com o coração partido, ainda lembro muito do Rio, dos lugares fantásticos, das praias e da sua gente. Não dou muita atenção ao noticiário que mostra somente a violência que acontece por lá – a mesma coisa é com relação à Amazônia, somente somos notícia na mídia nacional, quando um barco vai a pique, com dezenas mortes ou quando o assunto é queimadas e, grandes enchentes e vazantes. O que acontece de bom no Rio e em Manaus não é muito mostrado, pois não dá ibope.
Qualquer um dia desses irei dar um pulo até o Rio – para matar a saudade do Maracanã (apesar de estar em obras para 2014), da Igreja da Candelária, dos Arcos da Lapa e os Bondinhos, do Cine Odeon (não sei se ainda existe), da Biblioteca Nacional, do Teatro Municipal, da Quinta da Boavista, da Lagoa Rodrigo de Freitas, do Aterro do Flamengo, das praias de Ipanema, Prainha, Vermelha e de Copacabana, visitar o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar. Aproveitar também para visitar os meus amigos amazonenses que moram faz muitos anos por lá.
A foto acima mostra o cabocão aqui, ao centro, o meu irmão Henrique, à esquerda e, o Jourdan, à direita; estávamos passeando pelo Pão de Açúcar. É isso ai.
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