sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

COCOTA, NOSSO ADMIRÁVEL VAGABUNDO!

















Um dos objetivos do BLOGDOROCHA é divulgar o trabalho das pessoas que contribuíram para o nosso desenvolvimento cultural, social e econômico, nada mais justo do que mostrar “para o mundo ver” um amazonense que fez história na nossa cidade – o famoso Euler Cocota.

No ano retrasado foi a última vez em que o vi, estava na Vila de Paricatuba, em Iranduba, promovendo uma bela Feijoada, para comemorar o seu niver.

Ele é citado no livro “Amor de Bica”, dos jornalistas Mário Adolfo e Orlando Farias, do escritor Simão Pessoa e do poeta Marcos Gomes. O texto é mais ou menos assim:

O ex-fora da lei Euler Silva, o popular “Cocota”, é uma lenda da Praça São Sebastião (hoje Largo) e de seus arredores, tendo se envolvido com tráfico de drogas e outros pequenos ilícitos. Aprontou tudo o que tinha direito. Foi morar na rua protegido por uma companhia lendária – a de uma cadela, cujo maior feito foi tê-lo esperado dois meses à porta do presídio Raimundo Vidal Pessoa. No dia em que de lá saiu, dois meses após um flagrante por levar consigo algumas trouxinhas de maconha, lá estava a cadela à sua espera.

Cocota jamais foi um homem perigoso à sociedade. Na verdade, naufragou sob o impacto das ondas ditadas pelas mazelas sociais e do banzeiro da mediocridade das estruturas do Estado, que não lhe permitiram, em detrimento da vida, ser um simples vagabundo.

A história de Cocota foi muito bem ilustrada pelo jornalista Inácio Oliveira, biqueiro, numa reportagem no jornal Amazonas em Tempo e legou um título inesquecível: “Admirável Vagabundo”. Mais recentemente, no ano de 2003, Cocota foi motivo novamente de uma reportagem levada a efeito pela assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Amazonas. Ele foi identificado com um dos muitos casos de pessoas que não viraram reféns do crime, após entrar em seus subterrâneos e deles sair intacto.

Cocota foi se retirando dos submundos pela ação assistencial da igreja capuchinha de frei Fulgêncio Monacelli e com a ajuda de muitos biqueiros, com destaque para o psiquiatra Rogelio Casado e o delegado aposentado Trindade.

Reabilitado socialmente, sem dever nada à Justiça ou à sociedade, Cocota cumpre uma missão pra lá de louvável a qualquer ser vivente que habite esse planetinha azul tão açoitado por impactos das guerras, das revoluções industriais e tecnológicas que se sucedem e das devastadoras perdas impostas pela exploração criminosa das matérias-primas. Cocota coordena no Paricatuba (margem direita do rio Negro, em frente da cidade de Manaus) um projeto de reprodução de mudas nativas da Amazônia para reflorestar áreas degradadas da floresta.

 
É isso ai, a história do meu amigo é pra lá de interessante; o Cocota continuou durante muitos anos nas suas idas e vindas de Paricatuba; lá era hóspede cativo do Paulo Mamulengo e da Dona Rosângela; aqui, em Manaus, gostava de ficar dormindo na Rua Marcílio Dias, em frente a Casa do Trabalhador! 

Fiquei sabendo ontem, através da Dona Rosângela e do Saléh, lamentavelmente, da sua morte, ele foi encontrado anteontem debaixo de uma ponte do centro, morreu como indigente, apesar de possuir irmãos estabilizados financeiramente. Valeu, Cocota!


Observação: Peço mil desculpas ao meu amigo Mitoso, sinceramente, tirei o título da postagem do livro "Amor de Bica", juro que não sabia que o jornalista copiou do seu livro "Contos Vagabundos" - para limpar a minha barra com o meu irmãozinho Mitoso, publico a homenagem que ele fez no blog:

Cocotão é personagem ficcional do conto Cocotão de la praça, do meu livro Contos Vagabundos. Cocotão, segundo o Saleh, também minha personagem do mesmo conto, apareceu morto. Não entendi porque o Rochinha, meu amigo do blog do Rocha, usou o título do meu livro de 1992 para a postagem da nota fúnebre, para o réquiem, e esqueceu de cita-lo.

Verdade que jornalistas e poetas usaram a vida do Cocotão como mote, mas a literatura de ficção é tão natural quanto a reportagem ou o poema. As hierarquias precisam acabar.


Creio que talvez meu amigo Rocha, como quase todo mundo, associe a vida marginal do Cocota à literatura do realismo cômico-fantástico, própria de autores rebeldes como eu. E isto talvez tenha levado meu amigo Rocha a achar que , assim como o Euler Cocotão foi excluído da vida social e assim como minha literatura é dos excluídos, nada mais natural que excluir-me da vida social e da notícia. Eu concordo.


De qualquer modo, no conto, Cocotão ri e debocha dos valores dos excludentes e dos opressores, e ainda faz amor com a mulher de um deles. No dia 17 de março de 1989 ou 1990. Dia do meu aniversário e dia da reinauguração do Teatro Amazonas, após uma reforma superfaturada. Enquanto todos os alienados faziam protesto por não terem sido convidados, eu, o Cocotão e alguns outros olhávamos a presepada de longe. E ainda sobrou mulher para o Cocotão acalmar. É um de meus melhores contos e o mais premiado!


Taí , Cocotão. Isto é que é ser imortal!
Grande Cocotão!


Hoje tem rock no céu!


E como disse o Cazuza: " Piedade , senhor, piedade, para esta gente careta e covarde. Piedade, senhor, piedade, lhes dê grandeza e também um pouco de coragem".

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2 comentários:

José Ribamar Mitoso de Souza disse...

Faz de conta que ele não é a personagem central do conto "Cocotão de la praça", do meu livro Contos Vagabundos. Os oputros são literatura de não-ficção que merecem nosso respeito. Mas você ficar me excluindo da literatura é algo inadimissível! Qual é , camarada?

dembsp disse...

Parabéns, pelo simbolismo espiritual.

Esta serviu como uma oração; aqui conheço o que não sabia.

Valeu Rocha, já compartilhei no Google Plus ou + como queira.