Mais um ano terminando,
uma boa hora para fazer uma triagem nas roupas e quinquilharias guardadas ao
longo do tempo; aproveitei a ociosidade forçada e, comecei a separar o que não iria
mais usar, para dar um destino certo, pois sempre encontramos alguém mais
necessitado que faça, com certeza, um bom uso do que já foi usado – o problema
maior foi descartar o meu velho e surrado paletó, ele está puído com o tempo e
não fica nada bem alguém utilizar uma indumentária usada e rasgada – pensando
bem, vou ficar com ele até entrar no paletó de madeira, pois o danado tem muita
história.
Fiquei a olhar o meu velho
e surrado paletó, voltei ao túnel do tempo, lembrei muito bem do sufoco que
passei para adquiri-lo. Sabe com é um mancebo de vinte e poucos anos, o tesão
fica a mil por hora, não teve jeito, avancei o sinal vermelho, engravidei a
minha namorada e, ainda muito jovem tive que casar. E agora, José? Para casar
tem que ter um paletó!
Nem pensar em comprar um “paletot” nas lojas famosas da Avenida
Eduardo Ribeiro (Palácio da Moda, Casa Nova e Brumel) ou mandar um alfaiate
fazer um sob medida, estava fora das minhas parcas economias – pedi ajuda dos
amigos, dos colegas universitários, dos vizinhos, dos parentes e aderentes e,
nada! Ninguém tinha um paletó para me emprestar!
Duas semanas antes do meu
casório forçado, fui ao enlace matrimonial de um colega de rua, o enforcamento dele
foi na Igreja de São Sebastião, fiquei na expectativa, não do casamento, mas do
seu paletó, o tamanho dava certinho no meu figurino - no final da recepção, fui
salvo pelo gongo, consegui o empréstimo do paletó.
Uma semana após o meu
casamento, o paletó tinha acabado de voltar de uma lavadeira (lavanderia, nem
pensar!), quando foi requisitado por outro colega de rua, o caboco também
estava com a namorada prenhe de três meses, fui solidário com ele, emprestei o
paletó que estava emprestado de outro colega. O dito cujo já estava famoso, em menos
de um mês já tinha servido para três casamentos. É mole ou quer mais?
O meu colega embarcou com
o meu terno emprestado, o safado foi passar a lua de mel (ou de fel) em outra
cidade, fiquei no maior sufoco, pois o dono começou a cobrar a devolução. Como
não tinha avisado que ele estava emprestado para outra pessoa, inventei uma desculpa
esfarrapada, ele não engoliu, exigiu a entrega de imediato do paletó ou
pagamento do mesmo, não teve jeito, propus o pagamento em suaves prestações.
Depois de um ano do
ocorrido, conversando com o meu irmão do meio, comentei sobre a confusão do
paletó e o pagamento, foi quando tive a maior surpresa, ele falou que o paletó
era dele. Mas como é possível? O negócio
foi o seguinte: ele foi procurado pelo nosso colega de rua para comprar a prazo
(no carnê) o dito paletó na Loja Palácio da Moda, as parcelas venceram e não
foram pagas e, ele teve que assumir o débito, pagando com juros e correção,
dessa forma, o paletó não pertencia ao nossa colega, pois ele não pagou.
Caramba! O cara usou o credito do meu irmão, não pagou e ainda me fez pagar
novamente por ele.
Pois bem, o paletó ficou na
naftalina guardando por mais três anos, quando foi utilizado novamente para
receber o “meu canudo de papel” no Teatro Amazonas – voltou a brilhar e, posei
para as fotos do álbum de família. Depois, voltou para o armário, saindo de lá
somente para ocasiões formais.
Com o passar do tempo,
ficou no esquecimento, guardado para o todo e sempre, as traças deram em cima
dele - não tem como doa-lo, ele tem história e já falei para os meus filhos
que, quando eu for morar na cidade dos pés juntos, eles devem me vestir com o meu
velho e surrado paletó. É isso ai.
Um comentário:
Saudações, Rocha.
Estou lhe enviando esta mensagem, neste 24 de dezembro para desejar votos de um feliz natal e próspero 2012, com sucesso e muita saúde, para vc, familiares e amigos.
Que este blog prossiga inspirando os caboclos que seguem seus ensinamentos, como eu. O principal é amar a nossa terra sempre. Amém.
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