sexta-feira, 20 de maio de 2011

O RATO DA VILA MARTINS

Na pia batismal recebeu o nome de Raimundo Nonato, porém, este nome não pegou nem um pouco, pois tinha uma constituição física nada avantajada, era franzino, baixa estatura, olhos amendoados, nariz alongado, não demorou muito para ser apelidado pela molecada da Rua Tapajós, pela alcunha de “Rato”, assim ficou conhecido nos quatros cantos da cidade, o que ele tinha de pequeno, compensava com a sua esperteza; era danado, moleque e brigão, a sua fama de traquino superava a dos gatos famosos da época - Jerry (amigo do gato Tom), Mickey Mouse (o símbolo da Disney) e do Topo Giggio (o rato com personalidade infantil), assim era o nosso safado “Rato da Vila Martins”, era pior do que um rato de esgoto. Ele morava na Rua Leonardo Malcher, num casarão de um antigo seringalista, os herdeiros dividiram-na em dezenas de kitinetes, a maiorias dos meus colegas moravam nesta vila; com o tempo, este prédio histórico foi ao chão, no lugar, construíram mais uma faculdade da “Uninorte”. Ele veio de uma família humilde, o seu pai era jornaleiro, era também um brincalhão e gozador, o seu irmão mais velho, o João Inácio, era muito centrado, estudioso e trabalhador, muito diferente do “Rato”, este não queria saber de nada com nada, tudo para ele era um “Circo de Diversões”; ela parecia com a marca “Coca-Cola”, sempre estava em todo lugar, em todo buraco, em festas, nos batizados, nas praças, nos “street fight” (briga de rua), nos eventos esportivos e, até em velórios! Cruz-credo! Na passagem para adolescência, começou a aprontar geral, colocava apelidos na meninada, gozava da cara de todo mundo, não podia ver uma pessoa de cor, chamava logo o cara de “louro”; certa vez, entrou num ônibus, viu um negro passando à pé, deu um grito para o cara: - Dá o pé, louro! O negão saiu correndo atrás do busão, na parada seguinte conseguiu alcançá-lo, entrou pela porta de saída, pegou o Rato e quebrou a cara do pilantra, ainda vez ele engolir dois dentes quebrados, depois dessa, nunca mais ele quis tirar graça com nenhum negão. Os jovens que moravam nas redondezas da Igreja de São Sebastião, gostavam de se reunir aos sábados no Teatro Juvenil, formavam a “Juventude Franciscana de Manaus – JUFRAMA”, o Rato fazia parte da ala da bagunça, não estava nem ai para os ideais franciscanos, o negócio dele era tirar saro de todo mundo, paquerar as meninas, participar dos eventos culturais e esportivos, além de encher o saco dos padres capuchinhos, gostava de devorar as hóstias e beber o vinho do padre, o cara era atentado, tudo de ruim que acontecia, a culpa era sempre dele! O tempo passou, depois de quarenta anos, num belo sábado, eu estava passeando com o meu saudoso pai, no Largo de São Sebastião, reencontro o meu velho amigo Rato, o cara estava dando um rolé com o seu netinho, o menino tinha a cara cuspida do avô, para a minha surpresa, o apelido do moleque era “Catitinha”, um presepeiro, gaiato, igualzinho ao velho Rato - sem tirar, nem por! O nosso amigo já está próximo de se aposentar, ainda faz o “jogo do bicho”, numa banquinha na Rua Leonardo Malcher, bem próximo ao prédio da Universidade do Amazonas-UEA. Qualquer um dia desses, irei visitá-lo, lembrar dos velhos e bons tempos. Viva o Rato da Tapajós! Viva!

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