quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

SEVERIANO MÁRIO PORTO, UM ARQUITETO MODERNO.

   Segundo o professor de Arquitetura Marcos Paulo Cereto, da ULBRA e UNIP/Manaus, o nosso homenageado de hoje possui a seguinte biografia: “Mineiro de Uberlândia, Severiano Mario Vieira de Magalhães nasce em 19 de fevereiro de 1930, filho de Mário de Magalhães Porto e Maria de Lourdes Vieira Porto e com 5 cinco anos muda-se para Rio de Janeiro. Gradua-se em 1954 na Escola de Belas Artes da Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil.
  Trabalha inicialmente como diretor técnico da Ary C. R. de Britto realizando diversos projetos. Visita Manaus em 1963 em viagem de férias com a família e em 1965 é convidado por um amigo e antigo vizinho, Arthur Reis, então governador do Amazonas, a reformar o palácio Rio Negro e projetar a Assembléia Legislativa do Estado. Desses projetos parte para um protótipo de escola em madeira pré-fabricada apresentando sua disposição miesiana.: “na época, acharam que madeira era obra de pobre, o governo queria uma imagem de permanência” (PORTO,1986).
  De fato permanece até hoje devido às habitações ribeirinhas em palafitas a imagem de inferioridade da madeira, do ponto de vista social. Em 1965 transfere-se definitivamente para Manaus, mantendo o amigo Mario Ribeiro com o escritório no Rio de Janeiro. É importante frisar o momento que Severiano vai para Manaus. A cidade passa por uma efervescência devido à criação da SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus) e a criação da zona de isenção de impostos. Em dez anos a população triplica e o perímetro urbano duplica. O Distrito Industrial emprega aproximadamente 120.000 funcionários representando um em cada quatro habitantes. Os produtos importados transitam pela cidade atraindo os mais diversos comerciantes de todos os cantos do país. 
  O progresso necessita de um discurso intelectual e nesse momento aparece Severiano Porto como o arquiteto da Amazônia. Ao contrário do restante do Brasil, Manaus mergulha em um crescimento econômico necessitando de uma série de obras públicas, estabelecendo a parceria redentora para Severiano Porto, assim como acontecera anteriormente com Lucio e Oscar. O relacionamento público faz com que assuma a representação em entidades de classes. Inicialmente torna-se delegado regional do Amazonas do IAB no período de 1972 a 1976, conselheiro do CREA-AM/RR de 1976 a 1979, presidente do IAB–AM no período de 1977 a 1980 e, posteriormente conselheiro federal – CONFEA de 1980 a 1983. Recebe menção honrosa do IAB na categoria de edifícios para fins esportivos e recreativos em 1976 pelo estádio Vivaldo Lima.
    Em 1967, recebe o prêmio na categoria edifício para fins recreativos com o restaurante chapéu de palha. Em 1971 ganha na categoria Habitação Unifamiliar com a residência do arquiteto. Recebe o prêmio na categoria edifício para fins de abastecimento em 1972 com os Reservatórios Elevados da COSAMA. Em 1974 ganha o primeiro prêmio na categoria edifício para fins institucionais e administrativos o edifício-sede da SUFRAMA. Em 1978 recebe o prêmio na categoria habitação unifamiliar com a residência de Robert Schuster em Manaus e menção honrosa com a Residência João Luiz Osório em Cabo Frio no Rio de Janeiro.
   Em 1982 recebe o prêmio na categoria Arquitetura – obra construída pela pousada em Silves. Em 1985 é homenageado com o prêmio Universidad de Buenos Aires na Bienal de Buenos Aires. Recebe o prêmio de personalidade do ano em 1986 pelo IAB/RJ e menção honrosa pelo projeto do Centro de proteção de Balbina e também pelo projeto do campus da Universidade do Amazonas em 1987. O relato de premiações demonstra a importância do arquiteto no cenário nacional, transformando o arquiteto em um ícone da década de 70 e 80”.

  O citado professor fez um brilhante trabalho, disponível na internet, escreveu o seguinte: “A Arquitetura brasileira dos anos 70 e 80 são marcadas por dúvidas e incertezas. A crise econômica e a dívida externa contribuíram para o rompimento de uma parceria fundamental para a produção intelectual arquitetônica. Os projetos de excelência resultado da busca de uma imagem do estado moderno realizado em décadas anteriores são cada vez mais rarefeitas, dificultando o discurso arquitetônico de vanguarda. Manaus passa por um momento diferenciado necessitando de uma imagem de cidade – imagem de Estado em que a Arquitetura teria papel fundamental para o discurso ambiental lógico da região. Dessa forma surgem expoentes no interior do Brasil abrindo espaço para novos discursos reativos ao movimento moderno com um discurso enraizado e romântico despertando em alguns a solução para o novo caminho da arquitetura denominado pós-moderno. Sem dúvida Severiano Mário Porto representa um grande nome na produção arquitetônica do período pós-Brasília, representando também a imagem do Estado do Amazonas na busca de uma identidade através da Arquitetura.”

    O trabalho do ilustre arquiteto marcou toda a nossa geração – o nosso famoso Estádio Vivaldo Lima, inaugurado na década de 70, tive o privilégio de assistir ao jogo da seleção brasileira versus a seleção do Amazonas; infelizmente, iremos agora assistir a sua demolição, para construção de uma Arena, tendo em vista a Copa de 2014.
  O famoso Restaurante Chapéu de Palha, ficava no bairro de Adrianópolis, fez parte da nossa juventude, tive a oportunidade de saborear o mais pedido do pedaço: O Filé com Fritas, tudo a “La carte” – o progresso colocou ao chão o restaurante, virou um Posto de gasolina.
  A nossa Universidade do Amazonas, agora UFAM, foi uma obra fenomenal do Severiano, a idéia era receber toda a ventilação natural, mas acabaram desmatando em demasia o Campus, tiveram que fechar as portas e as janelas para a introdução do ar-condicionado.
   E o prédio da Suframa – é uma beleza, um cartão postal do Distrito Industrial.
   Vocês se lembram da residência do arquiteto, foi premiado em 1971, ficava na Rua Recife, era toda de madeira, desmontaram, no local construíram um edifício residencial; dizem que a casa está desmontada em um galpão da PMM, esperando a doação de um terreno da Prefeitura, para ser construída a sede do Instituto de Arquitetos do Brasil.
   O pessoal do judiciário e os operadores de Direito, devem ser orgulhar do prédio do atual  Tribunal de Justiça, uma beleza da arquitetura do Severiano Porto.
   Lembro do escritório do arquiteto, ficava na Rua Ramos Ferreira, bem ao lado da hoje Livraria Valer, era todo de madeira da região, uma beleza!

Para finalizar, o professor Macus Cereto faz o seguinte desabafo: “Quem sabe a arquitetura de Severiano Porto possa ser considerada como uma arquitetura de catálogo como o revival estilístico ou mais recentemente do mercado imobiliário para ser implantada em qualquer terreno, qualquer local. Será que estaremos preservando a casa do Arquiteto da Avenida Recife na Avenida Brasil? Ou quem sabe podemos levá-la para Inglaterra desmontada em barcos, fazendo uma referência aos áureos tempos da borracha...”. É isso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Severiano Porto, a quem conheci pessoalmente, é o criador da verdadeira "Arquitetura da Amazônia". Parabéns, caro Rocha, por sua lembrança e homenagem.

Anônimo disse...

Genio, grande homem, meu mestre e amigo. Belas discussões sobre cinema nas aulas de Arquitetura e Urbanismo, aulas estas que me poem por cima da carne seca quando digo que fui seu aluno. Jorge Spindola

Frank Chaves disse...

O arquiteto Severiano Porto, também projetou a construção da "Casa da Cultura" de Itacoatiara e de Manacapuru. Talvez julgadas de pouca importância. A casa da Cultura de Itacoatiara construída em madeira de lei, continua em sua forma original e sedia a Secretaria Municipal de cultura do município. A de Manacapuru, não teve a mesma sorte. Um ex-prefeito do município resolveu demolir e reconstruir o prédio em alvenaria, descaracterizando a sua originalidade.