terça-feira, 11 de agosto de 2009

AVENIDA EDUARDO RIBEIRO - MANAUS

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Por: Abrahim Baze* em: 18 de abril de 2006
Ao discutir o urbanismo de Manaus, na última passagem do século, retoma-se mais uma vez a concepção de Haussmann, com seu modelo de cidade com largas avenidas, praças e a instalação de serviços de melhoramento urbanos que se difundiram nas cidades brasileiras comprometidas com a modernidade da última passagem do século. Ao iniciar o período republicano, a cidade de Manaus não tinha grandes avenidas; a maior parte de suas ruas eram acanhadas e irregulares. A rua Municipal, atual av. Sete de Setembro, era uma das artérias mais importantes da capital, talvez a mais extensa, mas tinha várias inconvenientes, era muito estreita, ondulada e cortada por vários igarapés. Faltava-lhe a monumentalidade requisitada pelo modelo das modernas avenidas. Logo nos primeiros anos da administração do governador Eduardo Ribeiro, procurou-se dotar a cidade com nova feição e, nesse sentido, foram tomadas algumas providências no sentido de melhorar o trânsito e embelezar as vias públicas. Assim, em 1892, foi autorizado o aterro de alguns igarapés, incluindo o Espírito Santo, que ocupava um espaço destacado no plano de embelezamento da cidade, planejado por Ribeiro, pois dependia desta obra o prolongamento da rua Comendador Clementino, que na época da construção do palácio é citada com freqüência nos relatos como avenida do Palácio e atualmente se denomina av. Eduardo Ribeiro. Uma das primeiras menções sobre o projeto da referida avenida foi feita pelo diretor de Obras Públicas, Armênio de Figueiredo, em junho de 1893, ao afirmar que a mesma teria trinta metros de largura e mil e sessenta de comprimento e se estendia entre a nova rampa e a fachada do novo Palácio, e transformaria as péssimas condições de trânsito que mantinha (FIGUEIREDO, 1893, p. 10). Em junho do mesmo ano, o governador dava maiores dados sobre a obra ao comunicar a desapropriação de vários terrenos daquela rua, justificando que com este ato estava transformando-a assim em uma Avenida de um belo aspecto (RIBEIRO, 1893, p. 12). Em junho de 1894, o governador Eduardo Ribeiro previa que as obras da avenida do Palácio estariam concluídas até os dois últimos meses daquele ano (RIBEIRO, 1894, p. 30); no entanto, em 1º de março de 1896, o governador lamentava que o serviço de aterro do igarapé onde deveria prolongar-se a referida avenida não tinha progredido tanto quanto se esperava, contudo esperava que dentro de noventa dias a obra estaria concluída (RIBEIRO, 1893, p.24). Apesar de todos os esforços empregados, é provável que esta obra não estivesse totalmente concluída até 1899, conforme uma fotografia de Arturo Luciane publicada em um álbum editado naquele ano; pode ser que estivessem concluído o aterro do igarapé, mas a avenida mantinha-se em obras, seu calçamento em paralelepípedo iniciava a partir do encontro com a rua Municipal (atual av. Sete de Setembro) e aparentava regularidade até o topo da avenida, onde se erguia a construção do palácio. O aspecto da avenida Eduardo Ribeiro era um tema freqüente nos relatórios e mensagens governamentais, também dos jornais e da população. Em 17 de fevereiro de 1900, o jornal A Federação apresenta um texto sem assinatura, que discorria sobre o embelezamento da cidade e sugeria que adotassem na avenida Eduardo Ribeiro uma adaptação do jardinamento da avenida Liberdade em Lisboa, prevendo que, com este melhoramento, Manaus ficaria com a rua mais pitoresca e aprazível de todas as cidades do Brasil, considerando que seria um melhoramento de primeira ordem e que não existia em nenhuma das capitais da União. Ao finalizar a nota, afirmava-se que o assunto merecia um estudo especial. Sem dúvida naquela época, a avenida já apresentava um aspecto mais cuidado, levando o governador Ramalho Júnior a afirmar, em julho daquele ano, que era nossa mais luxuosa Avenida (RAMALHO JÚNIOR, 1900, p.26). No Álbum do Amazonas, editado em 1902, publicou-se fotografias de Fidanza mostrando a avenida Eduardo Ribeiro inteiramente concluída. O fotógrafo responsável pelo álbum afirmava que, apesar de ser recente a sua construção, já estava quase totalmente edificada e nela ficavam localizados os principais estabelecimentos da capital, com certeza os mais elegantes, taes como armazéns de moda e de exposição e vendas de objetos de arte, ateliers de modistas e de alfaiates, inúmeros hotéis e restaurantes dos quais muitos eram espaçosos e montados com luxo verdadeiramente europeu. A importância assumida pela avenida Eduardo Ribeiro é confirmada em 1904 pelos médicos paulistas Godinho e Lindenberg (1906, p. 66), os quais diziam ser esta a avenida o coração da cidade. Nas suas vizinhanças ficam os mais ricos estabelecimentos comerciais, as casas de moda, os armarinhos e as redações dos jornais. Afirmavam ainda que na cidade existia, em profusão, botequins e mercearias muito freqüentados, notando, ainda, um habito muito europeu das mesinhas dispostas nos passeios dos boulevards ou avenidas, nos trottoirs, como se diria em Paris. Apesar de crise anunciada desde o inicio do século XX, em 1909, a aparência da cidade com sua efervescência parecia a mesma e o jornalística carioca Anibal Amorim (1917, p. 153-154) notava, também, que era na aveia Eduardo Ribeiro que se encontravam instaladas as principais casas comerciais e redações dos jornais. Destacando que, à noite, o movimento na avenida era enorme, quando os passeios ficavam cobertos de mesas, onde serviam sorvetes e toda sorte de bebidas que envenenam os organismos ainda não aclimatados naquela terra. O carioca impressionava-se com a intensa corrente de automóveis, carruagens descobertas e de tramways elétricos pela grande artéria e afirmava ter-se a impressão de um notável centro de vida como todo o conforto e requinte de mundo contemporâneo. Sem dúvida, a avenida Eduardo Ribeiro atendia ao modelo de espaço público requisitado pela burguesia, onde o consumo e o lazer assumiam importantes papéis, surpreendia ao viajante porque era como encontrar uma cópia fiel dos grandes centros civilizados em pleno coração da selva amazônica. Por muitas décadas, esta avenida manteve-se como a principal via da cidade, mesmo depois do advento da Zona Franca; com o crescimento acelerado da cidade e com a intensificação do trânsito, tornou-se proporcionalmente pequena. Permanece como uma avenida comercial de grande importância para a cidade, mas ultimamente foram-lhe impostas algumas modificações em função da facilitação do trânsito de veículos, não havendo, todavia, maior preocupação com o seu embelezamento; sua arborização encontra-se quase totalmente extinta e as fachadas de antigas construções camufladas por grandes placas de propaganda ou descaracterizadas por um verticalismo destituído de senso estético. Fontes: MESQUITA, Otoni. Manaus – História e Arquitetura (1852 – 1910). Editora Valer. 3º Edição.