O Gilberto Mestrinho é um político de maior carisma no Amazonas; foi Prefeito, três vezes Governador e Senador pelo PMDB. Já passou da casa dos 80 e, encontra-se um pouco adoentado. Na minha infância, ia até o Palácio Rio Negro, sede do governo, para receber uns brinquedos, no dia o seu aniversário; esses presentes, apesar de singelos, marcaram muito a nossa geração. O Gilberto é conhecido pelos apelidos de “Professor” e “Boto Tucuxi” – ele é realmente “O Cara”!
O escritor e poeta Simão Pessoa, conhece muito bem os meandros da política do Estado do Amazonas, tanto que escreveu “O Folclore Político do Amazonas”; para falar um pouco sobre a trajetória do Governador, transcrevo o seguinte:
“Em 1950, aos 22 anos, Gilberto Mestrinho montou em Manaus o curso Eficiência, preparatório para os concursos dos empregos federais. Ele mesmo passou em quatro: datilógrafo do IAPC, escriturário e oficial administrativo do Ministério da Fazenda e fiscal de consumo da Delegacia do Imposto de Renda, por onde se aposentou. Nos anos seguintes, fez-se amigo e credor do deputado federal Plínio Coelho, a quem ajudou a eleger-se governador em 1954. A primeira tentativa de vida pública foi uma candidatura a vereador, em 1955, pelo PTB. Não se elegeu. Naquela época, os prefeitos eram indicados pelo governador. E lá estava ele, em 1956, aos 28 anos, prefeito de Manaus sem ter tido um único voto. Em 1958, na convenção do PTB, o presidente regional do partido, deputado estadual Edson Stanislaw Afonso – um médico bem conceituado na cidade e que tinha sido um dos deputados estaduais mais votados do Amazonas nas últimas três eleições -, recebeu um rasteira de Plínio Coelho. Pelo seu currículo nas eleições passadas, Stanislaw estava certo de que seria o candidato a governador pelo PTB e foi para a convenção de peito aberto. Na surdina, Plínio obrigou os convencionais a votarem em Gilberto, na época seu secretário estadual de Finanças. Quando o médico soube do resultado, ficou tão indignado que começou a passar mal ainda no local da convenção. Stanislaw faleceu no dia seguinte, de infarto agudo no miocárdio.Ungido pelo padrinho político, Mestrinho elegeu-se governador em 1958, derrotando Paulo Nery, oriundo de uma das famílias políticas mais tradicionais do Estado. A eleição foi uma das mais tumultuadas da história do Amazonas. Apenas um pequeno exemplo: candidato a deputado estadual pelo PTB, com reduto em Benjamim Constant, onde Paulo Nery era o candidato favorito, Nelsonez Noronha foi encarregado de trazer as urnas do município para serem apuradas no Tribunal Regional Eleitoral, em Manaus, mas ele chegou à cidade sem a preciosa carga. Segundo o candidato, houve um banzeiro muito forte no rio Solimões e as urnas caíram na água, perdendo-se para sempre.Para dramatizar ainda mais o acidente, Nelsonez disse que observou um cardume de botos-tucuxis pajeando o local onde as urnas naufragaram, mas que nada pôde fazer. Quando, dias depois, as urnas emergiram na sede do TRE dando a maioria absoluta de votos para Gilberto Mestrinho, a oposição não teve dúvidas: os botos-tucuxis do Nelsonez haviam “emprenhado” as urnas. Para Mestrinho ganhar o apelido de boto-tucuxi foi conta de multiplicar. Gilberto ganhou fama nacional alguns meses depois de assumir o governo, quando mandou prender o amigo, padrinho político e ex-governador Plínio Coelho, àquela altura dono do jornal O Trabalhista, de oposição ao governador.
Mestrinho teve os direitos políticos cassados na primeira lista de pós-golpe militar de 1964. Era Deputado Federal por Roraima, eleito em 1962 – no mesmo ano em que Plínio Coelho se elegeu governador do Amazonas pela segunda vez. Ele sofreu arbitrariedade calado, passou alguns meses escondido em São Paulo, fixou residência no Rio de Janeiro e recompôs sua vida como empresário bem-sucedido. Tinha banco e fábrica em Belém, fábricas de revestimento texturizado no Rio de Janeiro. A ditadura nunca o incomodou e nunca se ouviu dele, nos anos de chumbo, nenhuma declaração sua contra ou a favor dos militares. Dezoito anos se passaram até que mestrinho voltasse a colocar os pés em Manaus, ele voltou em 1982, a bordo do PMDB que resultara da fusão com o PP, e elegeu-se governador, mais uma vez com acusações não comprovadas de fraude eleitoral. Depois que tomou posse, nomeou o empresário Amazonino Mendes prefeito de Manaus. Em 1986, desafiando a ala autêntica do PMDB, indicou o ex-prefeito Amazonino Mendes com candidato a governador pelo partido, provocando a debandada dos deputados federais Arthur Neto e Mário Frota, os deputados estaduais Felix Valois e Beth Azize, e os vereadores Chico Marques e Ivanildo Cavalcante. Em fevereiro daquele mesmo ano, Gilberto Mestrinho sofreu um dos maiores golpes de sua vida, a perda de um filho de 18 anos, José Carlos Mestrinho. Entre os dois casamentos oficiais - com a Maria Antonieta, viveu 45 anos e teve cinco filhos – com a portuguesa Maria Emília, teve dois filhos – com uma roraimense teve três filhas – são dez rebentos, no total, com vários netos e bisnetos”.
Vida longa e saúde ao governador Gilberto Mestrinho!
O escritor e poeta Simão Pessoa, conhece muito bem os meandros da política do Estado do Amazonas, tanto que escreveu “O Folclore Político do Amazonas”; para falar um pouco sobre a trajetória do Governador, transcrevo o seguinte:
“Em 1950, aos 22 anos, Gilberto Mestrinho montou em Manaus o curso Eficiência, preparatório para os concursos dos empregos federais. Ele mesmo passou em quatro: datilógrafo do IAPC, escriturário e oficial administrativo do Ministério da Fazenda e fiscal de consumo da Delegacia do Imposto de Renda, por onde se aposentou. Nos anos seguintes, fez-se amigo e credor do deputado federal Plínio Coelho, a quem ajudou a eleger-se governador em 1954. A primeira tentativa de vida pública foi uma candidatura a vereador, em 1955, pelo PTB. Não se elegeu. Naquela época, os prefeitos eram indicados pelo governador. E lá estava ele, em 1956, aos 28 anos, prefeito de Manaus sem ter tido um único voto. Em 1958, na convenção do PTB, o presidente regional do partido, deputado estadual Edson Stanislaw Afonso – um médico bem conceituado na cidade e que tinha sido um dos deputados estaduais mais votados do Amazonas nas últimas três eleições -, recebeu um rasteira de Plínio Coelho. Pelo seu currículo nas eleições passadas, Stanislaw estava certo de que seria o candidato a governador pelo PTB e foi para a convenção de peito aberto. Na surdina, Plínio obrigou os convencionais a votarem em Gilberto, na época seu secretário estadual de Finanças. Quando o médico soube do resultado, ficou tão indignado que começou a passar mal ainda no local da convenção. Stanislaw faleceu no dia seguinte, de infarto agudo no miocárdio.Ungido pelo padrinho político, Mestrinho elegeu-se governador em 1958, derrotando Paulo Nery, oriundo de uma das famílias políticas mais tradicionais do Estado. A eleição foi uma das mais tumultuadas da história do Amazonas. Apenas um pequeno exemplo: candidato a deputado estadual pelo PTB, com reduto em Benjamim Constant, onde Paulo Nery era o candidato favorito, Nelsonez Noronha foi encarregado de trazer as urnas do município para serem apuradas no Tribunal Regional Eleitoral, em Manaus, mas ele chegou à cidade sem a preciosa carga. Segundo o candidato, houve um banzeiro muito forte no rio Solimões e as urnas caíram na água, perdendo-se para sempre.Para dramatizar ainda mais o acidente, Nelsonez disse que observou um cardume de botos-tucuxis pajeando o local onde as urnas naufragaram, mas que nada pôde fazer. Quando, dias depois, as urnas emergiram na sede do TRE dando a maioria absoluta de votos para Gilberto Mestrinho, a oposição não teve dúvidas: os botos-tucuxis do Nelsonez haviam “emprenhado” as urnas. Para Mestrinho ganhar o apelido de boto-tucuxi foi conta de multiplicar. Gilberto ganhou fama nacional alguns meses depois de assumir o governo, quando mandou prender o amigo, padrinho político e ex-governador Plínio Coelho, àquela altura dono do jornal O Trabalhista, de oposição ao governador.
Mestrinho teve os direitos políticos cassados na primeira lista de pós-golpe militar de 1964. Era Deputado Federal por Roraima, eleito em 1962 – no mesmo ano em que Plínio Coelho se elegeu governador do Amazonas pela segunda vez. Ele sofreu arbitrariedade calado, passou alguns meses escondido em São Paulo, fixou residência no Rio de Janeiro e recompôs sua vida como empresário bem-sucedido. Tinha banco e fábrica em Belém, fábricas de revestimento texturizado no Rio de Janeiro. A ditadura nunca o incomodou e nunca se ouviu dele, nos anos de chumbo, nenhuma declaração sua contra ou a favor dos militares. Dezoito anos se passaram até que mestrinho voltasse a colocar os pés em Manaus, ele voltou em 1982, a bordo do PMDB que resultara da fusão com o PP, e elegeu-se governador, mais uma vez com acusações não comprovadas de fraude eleitoral. Depois que tomou posse, nomeou o empresário Amazonino Mendes prefeito de Manaus. Em 1986, desafiando a ala autêntica do PMDB, indicou o ex-prefeito Amazonino Mendes com candidato a governador pelo partido, provocando a debandada dos deputados federais Arthur Neto e Mário Frota, os deputados estaduais Felix Valois e Beth Azize, e os vereadores Chico Marques e Ivanildo Cavalcante. Em fevereiro daquele mesmo ano, Gilberto Mestrinho sofreu um dos maiores golpes de sua vida, a perda de um filho de 18 anos, José Carlos Mestrinho. Entre os dois casamentos oficiais - com a Maria Antonieta, viveu 45 anos e teve cinco filhos – com a portuguesa Maria Emília, teve dois filhos – com uma roraimense teve três filhas – são dez rebentos, no total, com vários netos e bisnetos”.
Vida longa e saúde ao governador Gilberto Mestrinho!
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Obs. Esta postagem é de uma semana atrás; no dia 19 de julho de 2009, falece o governador Gilberto Mestrinho.
O meu pesar à familia Mestrinho.
Os amazonenses estão orfãos!