terça-feira, 30 de agosto de 2022

PAI-AVÔ

 Jose Rocha

Dia desses fiquei a pensar sobre a vida e como ela se repete em muitas situações – lembrei do Rui, um economista que gostava de bebericar no Bar Janela (Afonso & Conceição Toscano), na esquina da Rua Huascar de Figueiredo com a Avenida Joaquim Nabuco, centro antigo de Manaus – ele era um cara muito inteligente e sempre era chamado para assessorar os governantes de nossa terra. No entanto, o que marcou a sua passagem naquele lugar foi a sua demonstração de amor e paixão pelo seu netinho, que o chamava carinhosamente de Neto. Certa vez, ele falou que, a sua filha única ficou prenhe do namorado, este não assumiu a paternidade e fugiu para o sul do país. O Rui e sua digníssima esposa não abandonaram a filha, pois apesar de ainda ser uma jovem estudante secundarista, dependente dos pais financeiramente e psicologicamente, deram-lhe todo o apoio possível e imaginável, levando aos médicos, fazendo todos os exames, compras do enxoval e tudo o que se pode imaginar para esperar a chegada de uma criança ao mundo. Desde os primeiros meses, o Rui e sua esposa cuidaram do Neto como fosse seu próprio filho. O tempo foi passando e o netinho foi crescendo e tendo como a figura do pai (ausente) o próprio avô. Os dois tornaram-se parceirinhos e depois parceiros. Eram unha e carne. O Rui teve de fazer o papel de marido, o pai da filha e pai do neto. Por serem católicos, levou o neto para ser batizado na Igreja de São Sebastião, escolheu parentes para serem padrinhos. Depois, o levou para fazer a Primeira Comunhão. Levava a trazia o filho-neto do colégio. Voltou a ser criança, brincando com o netinho nos parquinhos, tomando banho nas praias do Rio Negro, jogando futebol, pedalando bicicletas, fazendo festas de aniversários e muito mais. No Dia dos Pais, era ele que ia ao colégio do filho para ser homenageado como fosse o pai. Foi uma fase muito difícil em sua vida e de seu netinho, pois os amiguinhos, em sua maioria, possuíam papai, mamãe e irmãozinhos – não entendiam o que é um filho sem um pai e que o porquê do Netinho chamar o seu avô de pai! O Netinho cresceu, ficou um jovem culto, educado, mas, sempre junto com o seu avô e sua avó e mãe para o que der e vier. Sofreu preconceitos por ser filho de uma mãe sem marido, além de criado pelos avós. Já adulto, o Neto falou para o avô: - A partir de hoje não quero mais que o senhor me chame de neto, mas de filho, pois fizestes o papel de pai deste muito antes de eu nascer, foi o meu melhor amigo, companheiro, enfim, o meu pai! O Rui chorou, sentindo que tinha feito a coisa certa, pois avô é pai de segundo grau. Passados mais alguns anos depois, o Neto-Filho casou e presenteou o seu avô com o nome de seu primogênito, com o nome Rui. Esta história de vida está acontecendo comigo, também: Em dose dupla: Mateus & Duda, meus parceirinhos, agora, e, quem sabe, meus parceiros, num futuro próximo. Espero que um dia quando ficarem adultos, lembrem e homenagem os seus filhos primogênitos de Rocha, o seu Pai-Avô. É isso ai.