sábado, 13 de agosto de 2022

O ZÉ MUNDÃO UBERDRIVE

 José Rocha

Parte I

O Zé estava passando por momentos difíceis em sua vida, financeiramente, é claro! A solução foi partir para a nova onda, ser motora de aplicativos e espantar a fase para baixo “down”. A primeira exigência foi ir ao Detran-Am para incluir em sua habilitação o EAR (que exerce atividade remunerada). Após passar por este trâmite foi até o escritório da Uber, fazer o cadastro, baixar o aplicativo e contratar uma internet banda larga. O problema maior do Zé Mundão foi conseguir um carro simples! Por não dispor de tal veículo, o jeito foi conseguir um alugado na MOVIDA, uma empresa que disponibilizava, na época, um carro do ano por apenas cinquenta reais a diária. No entanto, o coitado teve de recorrer a um parente, pois a dita cuja exigia o pagamento no cartão da diária mensal, além de deixar certo valor como forma de garantia para eventuais problemas com o veículo. Tudo certo, o momento era de partir para a guerra e ganhar muita grana. O Zé para não dar bobeira, resolveu assistir a dezenas de vídeos no Youtube para entrar no mercado com o pé cheio! Depois de dois dias parado, resolveu entrar em campo no terceiro dia. O primeiro cliente foi um desastre total! Ficou tão nervoso que não conseguia manipular corretamente o aplicativo e fez uma corrida “grátis”. Ficou mais dois dias estudando a fera, além de conversar com alguns colegas uberdrives mais experientes. Nesta altura do campeonato, foram cinco dias “parado”, ou seja, duzentos e cinquenta pagos sem nenhum retorno! No sexto dia, lavou o carro, colocou revistas e balas de mangarataia para os clientes, som ambiente e a pedido do cliente, ar condicionado ou vento na cara a depender do pedido, muito gentileza e etecetera e tal. Depois de tudo isto, o Zé jamais iria imaginar que a grande maioria de seus clientes o achavam com cara de paizão, o tio, o velho, com cara de psicólogo, falavam e falavam de seus problemas e pediam conselhos. Cara, o Zé queria era mesmo faturar nas corridas, mas, tudo valia, inclusive ser conselheiro, motivador, deixar o passageiro falar de suas angustias, ideias e ensejos, depois, buscar no fundo do baú de seus conhecimentos acadêmicos e de suas leituras diárias, para deixar o cliente mais calmo, sereno e confiante no passo adiante. Foram dezenas de figuras e situações, no entanto a mais engraçadas foram as seguintes: 1. Jogador de Futebol Americano – o carro do Zé era um Nissan March (pronunciava “marte”), um pequeno por fora e grande por dentro. Ao atender a um pedido no bairro de São Francisco, entra um “monstro” e uma senhora de meia idade. O camarada colocou a sacola no porta mala e bateu com uma força descomunal, a senhora entrou pela porta traseira e foi logo pedindo desculpas. O grandão entrou ao lado do motora, colocou o banco mais para trás, e por incrível que pareça ficou folgado, sem forçar com as pernas contra o porta-luvas. O destino foi a Arena da Amazônia, onde um grupo de amigos gostavam de jogar o tal futebol americano, onde a força e a compleição física são levadas em conta. O grandão parecia uma criança mimada - a sua mãe “falava que nem a preta do leite” e dava ralhos e o cara somente respondia: - Poxa, mãe! Caramba, o Zé ficava ouvindo àquela situação engraçada, mas não podia rir, pois seguia à risca o manual do Uber. 2. O Filhinho da Vovó – Na “ZL” o Zé foi buscar um cliente no Hospital Platão Araújo – entra um jovem com a cara amarelada. Começou a falar: - O senhor não sabe da maior (sic) a minha avó acaba de falecer, não sei o que fazer, estou indo para casa para buscar ajuda dos meus vizinhos, pois moro com a minha avó desde que nasci, fui abandonado pelos meus pais. Ela possui dezenas de casas alugadas e um comércio de estivas e muita grana no banco. Estou meio tonto, não sei como tocar os seus negócios, pois sou o seu único herdeiro e apenas sou um estudante! O Zé pensou “Caralho, esse jovem está com a faca e o queijo na mão, herdeiro de uma grana preta, está que nem um cachorro que cai da mudança, enquanto isso, estou aqui na maior lisura, na busca de um troco – aí se eu fosse pai desse cara, estava numa boa! 3. O Paraense Indeciso – No centro da cidade o Zé foi buscar um cliente com destino ao Boulevard Amazonas. O cara só em falar “bom dia” o Zé pensou logo “É paraense!”. O camarada começou a falar: - Senhor, eu sou de Belém do Pará, tenho negócios lá na área de camarão e resolvi abrir uma filial em Manaus, estou progredindo muito, mas o problema maior é a minha noiva, ela não gosta nem um pouco de Manaus, acha uma cidade muito quente e insossa, voltou para Belém e tomou uma decisão, ou eu fecho a loja em Manaus e volta para a nossa cidade ou caso contrário adeus casamento? O que o senhor me aconselha? O Zé Mundão em sua sabedoria, falou-lhe: - Meu jovem, faz o seguinte: Continua em Manaus, progride, abre mais filiais, começa a frequentar o Bar da Loura “ETBAR”, pega umas primas no Remulo´s, come Jaraqui, curte o Bar do Armando e o Caldeira, toma banho na Ponta Negra e na Praia da Lua, vive a cidade de Manaus e ESQUEÇE A TUA NOIVA PARAENSE! 4. O Estudante de Auto Escola – O Zé foi buscar um cidadão na Redenção, era um jovem que entrou todo apressado, pois estava atrasado para sua aula. Começou a olhar como o Zé passava as marchas, as freadas, segurava o volante, dava sinais para a direta e esquerda, a velocidade nas vias, o uso da buzina etc. O camarada era um chato, sabia “de cor a salteado” as normas de trânsito, dando “picica” a cada cem metros! Antes de chegar no destino, o Zé perguntou: - O jovem deve ser instrutor de autoescola, não é mesmo? O camarada respondeu: - Não, sou apenas um aluno, conheço toda a legislação, mas ainda não sei dirigir! O Zé pensou “Vai te fuder sêo leproso, vá dá picica na casa caralho!” Não falou alto, pois tinha de obedecer aos manuais do Uber. 5. Zé Na Bocada - O Zé recebeu um pedido para uma rua paralela a "Estrada dos Franceses", o GPS o levou para uma rua errada - ao adentrar, notou algumas pessoas correndo, achou meio estranho, mas continuou até notar que estava num "beco sem saída", abaixou o vidro direito e falou com um senhor: - Estou perdido, me ajude! Ele respondeu: - Saia daqui agora, os traficantes pensam que é um carro disfarçado de polícia! O Zé deu uma ré feito um louco, voltando sã e salvo para as Estrada dos Franceses, depois dessa, nunca mais aceitou corrida para aquela área! Não foi a primeira nem a segunda vez, o GPS do Zé o levou para outras bocadas e locais barra pesada, saindo ileso de todas elas, mas com o forever sem caber um cabelo!