sábado, 7 de abril de 2012

MALHAÇÃO DE JUDAS EM MANAUS


Sempre gostei da malhação de Judas, esta brincadeira vem desde a minha infância no Igarapé de Manaus, onde os adultos se reuniam a partir das dez horas da noite da sexta-feira santa e, faziam os ajustes finais nos bonecos, sendo pendurados somente na madrugada, ficando sempre alguém de vigia para evitar a malhação antes da hora.

O Judas sempre tinha o rosto parecido com alguém da rua, era uma forma de malhar algum morador que, durante o ano fez alguma coisa de ruim para com a comunidade – existia todo um ritual, com direito a leitura de um longo testamento, mas, o momento mais esperado era quando o Judas era queimado e arrastado pela rua.

Passando alguns anos, continuei curtindo a brincadeira na Rua Tapajós, entre as avenidas Ramos Ferreira e Leonardo Malcher – a turma se reunia no boteco da Tia Wanda, onde o Judas era confeccionado, o problema maior era um morador da Avenida Getúlio Vargas, o Felipe Viriato, o cara gostava de roubar o nosso boneco e coloca-lo numa árvore da sua rua – eu ficava possesso com ele, mas, tudo era brincadeira.

Nos últimos anos, passei a frequentar a malhação de Judas do Bar do Cipriano, conhecido também como a  “Confraria do Ferrão”, na Rua Ferreira Pena esquina com a Avenida Airão, onde a tradição é mantida por mais de trinta anos, com a coordenação do meu amigo Agenor Braga.  

Segundo antropólogo Ademir Ramos “A tradição vem de muito longe. Na antropologia cultural registra-se como um dos ritos das sociedades rurais do medievo, passando pela Península Ibérica e sendo reinventada por toda a América Latina. No Brasil, sua manifestação era marcante na antiga capital da República, no Rio de Janeiro, onde o Judas tinha a configuração diabólica e em seu interior depositavam fogos pirotécnicos, provocando explosões com luzes coloridas seguido de muita gritaria e manifestações populares. O fervor dos brincantes era tanto, que deixava a polícia desnorteada sem saber por onde começar a debelar o fogaréu. Resultando, dessa feita, na proibição da manifestação no centro urbano da antiga capital federal. Na verdade, não era o fogo que incomodava, mas a picardia dos brincantes que ironizavam os políticos de então, fazendo sua malhação em praça pública. Em Manaus, ainda se cultua essa prática, sobretudo no Bar do Cipriano, onde os políticos são malhados pelos justiceiros de plantão”.

Tudo que é bom, um dia acaba! Infelizmente, a tradição de malhar Judas está acabando – as novas gerações não valorizam esta brincadeira – dei um pulo até o Bar do Cipriano e, para minha surpresa, não fizeram a malhação de Judas este ano. Já era!


2 comentários:

Anônimo disse...

E o "serra-velha", que está em desuso...

Anônimo disse...

Bem lembrado o "serra-velha". A molecada fazia um boneco da mais velha da rua, a que já tinha idade para morrer :-). A última de que me lembro foi na Rua 10 de Julho, depois da praça São Sebastião, nos anos 1960.