Segundo o meu amigo Jokka
Loureiro (um gozador da melhor qualidade), existem três coisas que não valem a
pena emprestar: CD, carro e mulher, pois, segundo ele, o CD volta todo
arranhado, o carro todo batido e, a mulher toda fodida! Com relação ao CD é
normal emprestar e ter decepções na devolução; quanto à mulher, dizem as más
línguas que existe muito neguinho por ai que gosta de ceder a sua mulher para
os outros – por último, o carro, poucos emprestam, agora, jogar o seu próprio
carro fora é muito difícil de acontecer, no entanto, esta eu presenciei, aliás,
participei da empreitada.
Na minha juventude, estudei o
ensino médio no Colégio Sólon de Lucena, tive um colega de sala chamado
Klinger, conhecido por todos por “Peninha”, um “figuraço”, ele tinha a fama de
cantor e de pegador das gatinhas, pois além do papo mole de derrubar avião,
tinha também um automóvel, coisa muito rara para os rapazes da plebe.
O compadre Klinger, ainda muito
jovem, foi trabalhar no setor de câmbio do London
Bank, o cara dominava fluentemente a língua inglesa e lecionava em escolas
de idiomas, isto o permitiu amealhar uma grana a mais e, comprar um carro
Gordini da última safra de 1968, na cor de vinho de buriti.
Este tipo de carro era apelidado
de “Teimoso”, uma versão popular do Renault, foi fabricado pela Willys–Overland
do Brasil S.A. – era considerado um dos carros mais ordinários produzidos em
terras brasileiras. O pessoal na gozação comentava “Compre um Gordini e leve grátis
uma caixa de Cibalena para curar a
sua dor de cabeça!
Pois bem, todos os finais de
semana saímos para caçar as cocotinhas do pedaço – eu não tinha papo e nem jabaculê,
era um típico peixe Surubim “liso, mas cheio de pinta”, no entanto, estava ao
lado do maior cara de pau da urbe, passeando de carona a bordo do respeitado
Teimoso, que não era aquele carrão, mas as famosas “Maria Gasolina” de Manaus davam
o maior valor.
O carro já tinha zerado várias
vezes a quilometragem, estava fora de linha fazia uns oito anos e, não era
fácil encontrar peças de reposição. O Teimoso já estava entrando na
terceira-idade e, começando a dar problemas, pegava somente no tranco e o motor
esquentava que não era brincadeira.
Numa bela sexta-feira caliente de Manaus, fomos ao aniversário
da namorada do Klinger, por sinal, foi a primeira das dez esposas que ele teve –
é mole ou quer mais! Depois das onze da noite, resolvemos dar um pulo no
puteiro “Saramandaia”, ficava nas imediações onde é hoje o Conjunto Santos
Dumont - foi com a gente o compadre
Kleber, o cara era cantor e tocador de guitarra.
O carro não quis dar partida de
jeito nenhum, empurramos ladeira abaixo e o bicho pegou no tranco, no trajeto, começou
a esquentar o motor, o Klinger parou num posto de gasolina, pediu um balde de
água e jogou na máquina quente, foi um santo remédio, deu para chegar até o lupanar.
Depois de passar a régua nas
primas, resolvemos voltar lá pelas quatro de manhã, fomos até o Parque Dez
deixar o compadre Kleber, na volta, na altura do Marreiro´s Bar (atual Habibs)
o Teimoso travou de vez por todas, não pegava nem com reza braba, jogamos
vários baldes de água no motor, mas ele não reagia, passamos mais de duas horas
emburrando ladeira acima e descendo ladeira abaixo e, nada!
O dia amanheceu, estávamos sentados
na sarjeta desconsolados, quando o Klinger tomou a decisão de jogar o carro
velho numa vala profunda: - Meu compadre Rochinha, vamos dar a última empurrada
no Teimoso, vou deixar os documentos dele e o toca-fitas Roadstar cabeça branca,
quem quiser ficar com ele, que fique! – falou com as lágrimas nos olhos.
Seja feita vossa vontade e, assim
foi feito! Voltamos de ônibus para as nossas casas. Durante algum tempo, acho que
uns três meses o Teimoso permaneceu jogado por lá, depois, alguém se apossou
dele e, levou para casa uma bela dor de cabeça!
O Kliger é o primeiro da direita na fotografia abaixo, ele está um pouco doente, mas uma vez e outra vai até o Bar da Loura e no Cipriano para jogar conversa fora e cantar, apesar de todas as dificuldades de locomoção.
Hoje, um Teimoso 1968, vale para os colecionadores a bagatela de vinte e oito mil reais, o preço de um carro Celta zero quilômetro. O compadre Klinger não sabe o que perdeu ao jogar o Teimoso fora! É isso ai.
Foto: J Martins Rocha - Delfim, Assante, Altamira e Klinger.
Hoje, um Teimoso 1968, vale para os colecionadores a bagatela de vinte e oito mil reais, o preço de um carro Celta zero quilômetro. O compadre Klinger não sabe o que perdeu ao jogar o Teimoso fora! É isso ai.
Foto: J Martins Rocha - Delfim, Assante, Altamira e Klinger.
2 comentários:
Rapaz, vc ja pensou em construir uma ponte entre o Amazonas e o Canada? Pois é, estou te propondo este projeto. Eu sou amiga da Ro, mae do Raul Perigo. Temos a mesma profissao e fomos muito ligadas. Ha 10 anos atras eu vim morar no Canada e me perdi dela. Me ajuda vai, me consegue o endereco, email, gps, qualquer coisa que me permita abracar a minha amiga novamente. Eu digitei Raul Perigo no Google pois achei que era bem singular, e apareceu o seu blog. Meu nome é Lilian Magalhaes e meu email é lilianm@gmail.com. Eu morava em Campinas, Sao Paulo. abraco carinhoso.
Ah Rochinhaaaa,eu ADORO o Klinger!!
Fui a Manaus e não encontrei com ele:(
Se vc encontrá-lo por favor diz que mandei um beijo e morro de saudades dele.
(ele deve conhecer muitas Cynaras..rs,então fala que é a do Conjunto Tocantins)
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